viva la revolución

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Mark não saberia dizer se era bom ou ruim ver o rosto de Jeno ali em vez das feições vazias dos seguranças ou dos cabelos rosados de Lee Taeyong.
Ele não parecia irritado nem nada, tinha uma expressão indiferente no rosto, então não achou que seria um grande problema.
– É melhor vocês se apressarem – ele disse, dando espaço para os dois saírem – O turno dos seguranças troca em cinco minutos.
– Como você nos achou? – Donghyuck perguntou surpreso, saindo do armário logo atrás de Mark – O que está fazendo aqui, hyung?
– Eu sabia que você não largaria dele tão fácil – Jeno lançou um olhar ferino para Mark que sorriu de canto – Segui você até aqui. Então... vamos levar essas bombas logo.
– Parece que alguém resolveu ajudar… – Mark cantarolou divertido enquanto pegava uma das bombas.
– Eu estou fazendo isso por Minhyung – Jeno encarou o outro Lee, com raiva estampada nos olhos – Não por você.
O sorriso de Mark morreu assim que ouviu o nome do irmão e ele engoliu em seco. Não sabia ao certo o que pensar sobre o que Donghyuck falara, mas tinha cada vez mais certeza de que havia sido um babaca com Minhyung. Talvez não quisesse confessar para si mesmo que o irmão falava a verdade, mas doía admitir que era o culpado quando não podia voltar atrás e pedir desculpas. Não podia nem tentar fazê-lo.
Tentou expulsar os pensamentos, engolindo as lágrimas que embolavam sua garganta cada vez mais e seguindo para fora com os outros dois logo atrás de si.
Jeno foi posicionar a bomba no andar de cima enquanto Mark e Donghyuck esperavam escondidos os guardas trocarem de turno para deixarem a bomba no corredor principal.
Pelos cálculos do mais velho teriam uns cinco minutos disponíveis para deixar a bomba e sair, pois os guardas passavam pelo bar da esquina antes de comunicar o próximo turno e isso dava tempo o suficiente.
Caso fossem mais rápidos, os garotos do lado de fora estavam treinados para gastar todo o estoque de bombas de fumaça para distrai-los no bar.
– Dói muito, Hyuck – Mark falou em um sussurro cansado quando já estavam abaixados atrás de um armário, esperando os guardas saírem.
– O que? – perguntou confuso, não entendendo a sentença do outro.
– Ainda dói quando eu ouço o nome dele e… Dói saber que ele nunca, nunca mais vai voltar – Mark sentiu os olhos queimarem e chacoalhou a cabeça em negação – E que eu não posso voltar atrás para mudar.
– Você não pode viver com essa culpa, Mark – Donghyuck pousou a mão no ombro largo do outro, acariciando por cima do moletom – Isso vai acabar com você.
– Eu já estou acabado, Hyuck, não tem volta pra mim – Mark sorriu triste, sentindo uma lágrima solitária escorrer pela face – Esse é meu último ato. Por ele.
– Não fale bobogens – Donghyuck o encarou assustado, secando delicadamente a lágrima com as costas da mão – Eu... Eu tô aqui com você, Mark. Pra tudo que precisar, você sabe, não é? Eu vou sempre estar aqui.
Mark encarou o mais novo e sorriu triste. Donghyuck sentiu o coração apertar e se aproximou em um impulso, colando os lábios aos de Mark em um beijo forte, cheio de paixão, empatia e amor. Donghyuck amava aquela luta, amava estar com Mark e queria continuar durante um longo tempo.
Mark afastou os lábios e apoiou o queixo no ombro do outro, fechou os olhos e suspirou profundamente. Donghyuck o abraçou e fez carinho nas costas, reconfortado o garoto que pela primeira vez pareceu relaxar. Mark sorriu. Queria rir. Era tão raro se sentir daquela forma. Aquecido. Reconfortado. Amado.
– Você faz eu me sentir mais vivo, Hyuck – sussurrou antes de se afastar.
Ouviu-se o som da porta se abrindo e os dois garotos se sobressaltaram.
Mark se inclinou, levantando ao ver que o guarda havia finalmente saído. Pegou a bomba e seguiu para o centro do corredor, com Donghyuck logo atrás de si.
– A revolução está chegando, Hyuck – sorriu, os olhos faiscando – É hoje que nos vingamos dessa escola maldita.
Posicionou a bomba e ligou o contador que estava programado para cinco minutos.
Donghyuck achou um pouco estranho a forma como Mark estava animado. Quase feliz demais, mas ao mesmo tempo com uma aura melancólica a sua volta. Era uma pena.
Logo Jeno desceu as escadas e se juntou aos dois.
– Já liguei a bomba – falou, virando-se, pronto para sair – Vamos?
Donghyuck concordou e seguiu o irmão, mas sentiu a mão de Mark em volta de seu pulso antes que pudesse dar o segundo passo.
Mark o rodeou pela cintura e deixou um último selar em sua boca, envolvendo delicadamente seus lábios em um beijo sereno que fez o coração de Donghyuck remexer no peito.
– Adeus, Hyuck – sussurrou contra os lábios do mais novo antes de se afastar, sendo seguido pelo olhar agressivo de Jeno diante a cena.
– Como assim adeus? – questionou, desviando o olhar para o temporizador e notando que restavam três minutos.
– Eu vou ficar aqui, Hyuck – Mark explicou, baixando o olhar diante a expressão assustada do outro.
– Não vai, não – contestou, a voz trêmula, sentindo um nó começar a se formar na garganta – Você vem comigo.
Mark sorriu e negou, sussurrando um desculpe quase inaudível.
- Eu não vou sem você – Donghyuck falou firme, se aproximando mais do outro e o puxando pelo braço, mas Mark continuou no mesmo lugar, imóvel.
– Temos que ir, Donghyuck – ouviu a voz de Jeno dizer atrás de si.
– Eu não vou sem ele! – exclamou, sentindo os olhos encherem de lágrimas e a voz sair estridente, arranhada.
– Temos que ir agora, Donghyuck – Jeno falou preocupado, envolvendo o irmão pelo braço e olhando de soslaio para o temporizador que diminuía cada vez mais – Vamos logo!
Jeno puxou o outro Lee e andou em direção a saída. Donghyuck puxou o braço de volta, sentindo as lágrimas começarem a escorrer pelos olhos que já embaçavam, lhe proporcionando um visão turva. Correu de volta em direção a Mark e o abraçou com força, soluçando sem controle e inundando o moletom com suas lágrimas.
– Vamos lá, Mark – pediu, apertando os braços cada vez mais ao redor do outro, tentando demonstrar o quanto queria continuar junto consigo, sentindo o calor daquele abraço – Por favor.
– Eu não posso, Hyuck. É difícil viver com o peso de ter causado a morte de alguém – Mark se afastou e afagou o rosto do mais novo, limpando as lágrimas espessas que caíam como uma cachoeira – Acabou aqui pra mim.
Donghyuck olhou desesperado nos olhos de Mark, abrindo a boca para implorar mais uma vez, mas não sabendo o que dizer. Sentia a respiração pesada e o coração bater forte. Segurou o rosto do outro com as duas mãos e beijou seus lábios uma última vez antes de sentir a mão de Jeno segurar seu braço e o puxar em direção a saída. Donghyuck se deixou levar, vendo Mark se afastar cada vez mais. Na verdade era ele quem se afastava, mas a sensação era totalmente contrária.
– Até mais, Hyuck.
Mark virou de costas e olhou para o temporizador, mãos nos bolsos e lágrimas nos olhos.
Agora já corriam desesperados para a saída. Jeno puxava o irmão e dava longas passadas, como se suas vidas dependessem daquilo, o que não era mentira.
Quando chegaram lá fora, correram para o outro lado da rua onde os outros garotos esperavam o show debaixo de uma árvore enquanto bebiam cerveja, provavelmente roubada de alguma loja ali perto.
Donghyuck apoiou as mão nos joelhos, sentindo as lágrimas caírem cada vez mais, inundando o rosto e as roupas sujas.
– Jeno? Onde está Mark? – Renjun perguntou confuso, olhando em volta em busca do líder.
Antes que alguém pudesse responder, se ouviu o som alto e retumbante da explosão.
Todos olharam em direção a escola, vendo a construção desmoronar parcialmente, tomada por labaredas de fogo, ainda assim um estrago e tanto.
– Isso é tão legal – Chenle falou, os olhos brilhantes e um sorriso divertido no rosto.
Aquilo só fez com que Donghyuck chorasse mais. Jeno se aproximou e o abraçou com força, afagando as costas do irmão com carinho.
Os outros olhavam a cena sem entender, se perguntando porque o garoto estava chorando tanto e onde diabos estava Mark.
Donghyuck sentia doer. Doía demais. Não sabia ao certo onde, mas era uma dor horrível e nauseante.
Ouviu-se um som estridente de sirene e todos os garotos tiveram sua atenção voltada para o caminhão de bombeiros e duas viaturas da polícia que vinham no alto da rua, ao longe.
– Fodeu – Jaemin falou antes de sair correndo, logo seguido dos outros.
Donghyuck mais tropeçava do que corria, sendo guiado por Jeno que segurava firme sua mão.
Em determinado momento olhou para trás, vendo que eram seguidos por uma das viaturas, esta que se aproximava cada vez mais.
Correram até a ponte. Todos os garotos pularam em direção a água sem pensar duas vezes. Só restou a Donghyuck fazer o mesmo, saltando sem medo naquele mar escuro e denso de água fria que cortava a pele. Afundou por um momento e até pensou em ficar daquele jeito, naufragando na imensidão, sentido ao lágrimas se misturarem com a água suja. Mas teve seus pensamentos interrompidos por um braço que envolveu sua cintura e o puxou para cima.
Donghyuck se apoiou na costa, tossindo a água que entrara nos pulmões e cravando as unhas no barro escorregadio do leito para se firmar. Olhou para o lado, vendo que seu salvador saía com facilidade da água.
Quase afundou novamente quando reconheceu o garoto que agora lhe estendia a mão.
– Mark – falou com a voz falha, segurando a mão e descansando a cabeça na terra molhada, sem forças para levanta-la novamente.
- Agora eu posso dormir, Mark – sussurrou ainda com a cabeça baixa, sentindo o calor vir da mão que segurava a sua.
- Crianças legais nunca dormem, Hyuck.
A água preencheu cada centímetro do corpo do Lee enquanto ele afundava. Apenas ouvia a voz de Mark ecoar em sua cabeça, repetindo incessantemente enquanto se perdia na escuridão.

Crianças legais nunca dormem, Hyuck

Não durma

Volte

Respire

Crianças legais nunca dormem, Hyuck

E continuou o ouvindo até submergir em um sono profundo, acalentado apenas pela infinidade da água ao seu redor.

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número de palavras: 1707

cool kids | markhyuckWhere stories live. Discover now