imãs e geladeiras

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Donghyuck acordou com o despertador do celular cantando baixo perto do ouvido. Abriu os olhos lentamente, enxergando tudo embaçado ao tentar se acostumar com a claridade presente no quarto.

Desligou o aparelho barulhento e sentou na cama, esfregando os olhos e colocando o cabelo para longe da visão.

Pôs os pés para fora da cama e acabou por tropeçar em algo ao se levantar, cambaleando para frente e caindo de bunda no chão maciço de madeira.

Ouviu um grunhido vir de baixo da cama e só então percebeu que havia tropeçado no que parecia ser um braço humano. Donghyuck rastejou para trás assustado, vendo a criatura desconhecida se remexer na escuridão e grunhir de dor.

O coração estava a mil, nunca acreditara em monstros embaixo da cama e coisas do gênero, mas estava começando a repensar seus conceitos.

Viu uma cabeleira negra começar a aparecer e cobriu os olhos, se encolhendo contra a parede em uma tentativa nada inteligente de se proteger.

Donghyuck sentiu a coisa se aproximar aos poucos de si, ouvindo a respiração pesada e os movimentos lentos com atenção.

– Hyuck – ouviu uma voz conhecida, sentindo um toque leve e frio em seu joelho – Sou eu.

Donghyuck abriu os olhos e encarou a coisa, que na verdade se tratava de Mark o tempo todo.

Só então se lembrou da noite anterior.

– Desculpe… eu pensei que era… – Hyuck balbuciou, limpando algumas poucas lágrimas que se acumularam nos cantos dos olhos durante a onda de medo – Deixa pra lá.

– Você tá bem? – perguntou, se levantando e estendendo a mão para que o outro também se levantasse.

– Sim – içou-se para cima rapidamente.

– Por que dormiu embaixo da cama? – o mais novo perguntou enquanto Mark vestia a jaqueta preta, a única peça que havia tirado.

– É difícil dormir com você, Donghyuck – Mark se aproximou, sorrindo ladino da forma que fazia o outro Lee se derreter todo por dentro.

– Por que diz isso? – murmurou, os olhos fixos na boca alheia que ainda sorria.

– Você é espaçoso e… – Mark se aproximou mais, sussurrando em seu ouvido – É difícil conseguir dormir com você tão pertinho. Difícil controlar minhas mãos – Mark levou os dedos até o queixo do mais novo enquanto falava, descendo-os lentamente e acariciando a pele até chegar no quadril.

– Mãos? – Donghyuck já nem sabia o que falava, estava perdido no olhar penetrante do Lee.

– É. Como se você fosse uma geladeira e minhas mãos fossem imãs.

– Não acredito que você acabou de me comparar com uma geladeira – Donghyuck riu alto até demais, a voz fina ecoando pelo quarto.

– Por que você tá rindo a essa hora da manhã seu muleque insuportá… – Jeno adentrou o quarto, cerrando os olhos e interrompendo a fala ao ver Mark ali, próximo até demais de Donghyuck.

– O que ele tá fazendo aqui? – Jeno perguntou ao irmão que se apressou em dar um passo para trás.

– Ele…

– Eu dormi aqui – Mark respondeu diante a falta de palavras do Lee mais novo.

– O que? – Jeno perguntou, unindo as sobrancelhas – Por que?

– Nós-

– Mark tava passando e ficamos conversando na janela – Donghyuck o interrompeu antes que contasse a verdade. Jeno não poderia saber de jeito nenhum que havia saído de casa – Começou a chover e eu falei pra ele entrar. Pegamos no sono antes da chuva parar.

– Ele te fez alguma coisa, Hyuck? – Jeno perguntou, analisando o corpo do irmão com os olhos de forma preocupada.

– O que? Claro que não-

– Por que você acha que eu faria algum mal a ele? – Mark cortou o mais novo, cruzando os braços e encarando Jeno.

– Por que é isso que você faz, Mark Lee. Você machuca as pessoas sem perceber. E quando percebe, ou não liga, ou já é tarde demais.

– Você sabe que não é muito diferente de mim. Minhyung também soube – Mark revidou, causando certa surpresa no outro ao ouvir aquele nome.

– Você fala como se fosse eu o culpado da morte dele, quando sabe que foi você.

– Sim, eu sou um dos culpados, eu confesso isso. Mas não fui eu quem se disse amigo e no fim destruiu ele como todos os outros.

– Você diz isso Mark, mas sabe que poderia ter o impedido.

Donghyuck apenas observava enquanto os dois falavam alto, como se soltassem farpas um para o outro, ambos os rostos vermelhos pela raiva.

– Tem coisas que não podemos impedir Jeno, você sabe disso. Certas coisas são como bolas de neve. Só vão aumentando de proporção até se tornarem incontroláveis.

– Exatamente como essa sua raiva interna e sede de vingança. Sabe que no fim vai acabar causando algo de proporções inimagináveis, mas está poudo se fodendo.

– Voce fala como um adulto – Mark sorriu – Vai se foder, Jeno.

– Acho que já terminamos essa conversa – Jeno puxou Donghyuck pelo braço, aproximando o corpo menor do seu – Eu e Donghyuck estamos fora do clube.

Mark ficou em silêncio durante alguns segundos, olhando fixamente para Jeno. Então desviou sua visão para Donghyuck, inexpressivo.

– Pode sair se quiser, mas Dongyuck não se pronunciou.

– Ele não precisa. Ele sai.

– Você não pode decidir por ele.

– Posso sim

– Não pode

– Parem com isso – o mais novo pediu, já cansado da discussão – A vida é minha, não de vocês.

– Então faça sua escolha, Hyuck – Mark falou, cruzando os braços e olhando fixamente para o garoto.

Donghyuck fitou o chão por um momento, pensando no que deveria fazer. Não havia entendido nem metade da discussão estranha que os dois tiveram, mas sabia que para o irmão agir daquela maneira deveria ser algo sério. Aquela história com Minhyung ficava cada vez mais estranha e o garoto só queria respostas.

– E-eu…eu – Donghyuck olhava para as mãos, pesando a opções em uma balança mental – Eu não sei...

– Já que não sabe o que quer, eu escolho por você Hyuck – Jeno falou, olhando para o mais novo e logo voltando-se para Mark – Ele sai. E você também, já pode ir saindo daqui.

Mark encarou Jeno por alguns segundos como se o desafiasse, então deu as costas e pulou a janela. Logo os dois irmãos encaravam o vazio, como se nada houvesse estado lá antes.

– Pode me explicar do que diabos vocês estavam falando?! – o mais novo perguntou, virando-se para o outro com uma expressão confusa no rosto.

– Estamos atrasados – Jeno falou como se nem houvesse escutado a indagação do mais novo – Vamos tomar café.

Donghyuck suspirou pesado e seguiu o irmão para a cozinha, a cabeça tamborilando de dúvidas.

Abriu a geladeira com força, fazendo alguns dos poucos imãs caírem para baixo do eletrodoméstico e se perderem na escuridão poeirenta.

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número de palavras: 1095

cool kids | markhyuckWhere stories live. Discover now