O Gêmeo, o Robô e o Grifo

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16 de agosto de 2015, 01:27 da manhã
Cidade de Ravena, Vale do Ninho

O vômito era verde como a bebida que o provocara. Daniel já tinha perdido a conta de quantas vezes regurgitara, mas a garota continuava ali com ele, afagando-lhe os cabelos negros. O mais velho, sem apoio ou consolo, estancava o sangue que teimava em sair de seu lábio cortado com o pulso torcido que latejava. Sentado sobre o paralelepípedo na entrada da Taverna, ele escutava Marcus praguejar sobre o ocorrido.

Foi quando o amigo albino abriu a porta, jogando o colete de Jake sobre os ombros cansados do nova-iorquino e murmurou algo como "não vai dar", antes de levar o outro para longe pelo braço. Conversava com Marcus, tentando acalmar seus ânimos, quando a porta se abriu mais uma vez. E dela saía o professor Günter e o homem de barba disforme, rindo alto como bons amigos. Isto é, antes de perceberem a presença dos meninos.

— Ei. E a sua cabeça, Dawson? Boa? — O orc não soava sarcástico, apenas bastante intoxicado. — Estávamos nos divertindo lá dentro, não é mesmo? Não o Frederico... É claro. Frederico falava sério, bem sério. Mas você e eu, estamos bem, ce... Hick! Mas você ainda me deve, tá bom? Não vou me esque... Hick!

O homem o guiava para longe da taverna, despedindo-se com uma longa risada. Virava o olhar divertido para os demais e confessava, menos bêbado que o parceiro, mas ainda sim longe da sobriedade:

— Por Gorus. Orcs e bira... Sempre uma combinação divertida.

— Quis dizer perigosa?

Jake levantou o olhar duro para o homem. Sua semelhança com Falcon era realmente impressionante.

— E não é a mesma coisa? — Ele ria, já não se parecendo nada com o doutor. — Ah, não me olhe assim. Quer culpar alguém? Culpe a si mesmo e seu irmão estúpido.

Por um momento, o garoto fez menção de se levantar. Quase impelido a continuar com a violência. A forma como olhava para o homem não era nada amigável. Parou o riso.

— Ei, calma aí! Falo de aleijado para aleijado, tá bom? — Direcionava o olhar para Daniel, que parava de vomitar para encará-lo bem como o irmão. O homem levantou a barra da calça até o joelho, revelando sua perna metálica em bronze. — Vocês ao menos sabem o que aconteceu lá dentro?

Nem Caroline, nem Noah, nem Marcus, e muito menos os irmãos - ninguém pareceu entender qualquer coisa.

— Mas é claro que não — ele respondia a própria pergunta, voltando a abaixar a barra da calça. — Permita-me esclarecer.

Ao passo que explicava, era possível imaginar a cena. Daniel, já na terceira dose de um drink orianês chamado Duende Verde, deixou o bar com Caroline para explorar o resto da taverna. Foi até a roda de homens que jogavam cartas e percebeu que apostavam. O jogo era simples e facilmente explorado por alguém com memória hábil, tal como o caçula dos irmãos. Algumas rodadas dentro e os homens, que tão gentilmente abriram a roda para o colono, não demoraram a perceber a trapaça. Mas foi quando Primo Frederico, o adorado fornecedor de bebidas, chegou para apaziguar a disputa...

Queee bonitinhooo! É seu? — Daniel perguntava ao jovem ruivo de barba e cabelos longos. Ele era, por acaso, o filho mais velho dos Reznov. Irmão de Nikita e herdeiro da taverna.

— Não vamos dormir com você essa noite, né? — Logo caiu a ficha do mais velho. Perguntava a Noah, que fazia uma careta sem jeito; como quem se sente mal, mas ainda sim precisa dizer não.

— Não tem onde ficar? — O homem juntava as peças, coçando o que chamava de barba. — Sabe, eu tenho algum espaço na minha pocilga. Quer dizer, eu... Devo a vocês mesmo.

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