A despedida

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 — Marcos, nós precisamos conversar uma coisa séria – disse Junior sem rodeios, sentando-se na cadeira em frente ao padrasto.

— O que foi, Junior? – perguntou ele entretido em seu laptop.

Junior suspirou. Teria que falar tudo de uma vez, teria que contar ao padrasto que Juliana queria ir embora. Só que não sabia como ele iria reagir.

— Você sabia que a Juliana quer ir embora? – perguntou ele de uma vez só.

Seu Marcos demorou uns segundos para responder, segundos que pareceram uma eternidade para o garoto.

— Sim, nós já conversamos sobre isso.

— Como assim já conversaram sobre isso? – perguntou Junior indignado – Quer dizer que você deixou?

Seu Marcos respirou fundo. Parecia que Junior não iria entender sua posição.

— E o que você quer que eu faça? Esta é a decisão dela.

— Diz pra ela que eu vou embora, diz que ela pode ficar porque eu não estarei mais aqui para perturbá-la.

— Junior, você acha mesmo que o problema é você? – perguntou Seu Marcos taxativo.

— Claro que sim! Ela disse isso pro Felipe hoje, eu ouvi.

— Ela pode até ter dito isso, mas nós dois sabemos que é mentira. Ela vai embora porque... ela não consegue mais morar aqui.

Junior ficou em silêncio. Ele estava um pouco incrédulo diante da atitude passiva do padrasto. Por fim, perguntou:

— Quando ela vai?

— Dia trinta – respondeu Seu Marcos. – Para quando está marcada a sua viagem? Quando você combinou com o seu pai?

— Dia vinte e cinco – respondeu ele cabisbaixo, sentindo uma dor no peito, como se uma faca entrasse em seu coração.

— Então marque uma outra data. Você deve se despedir dela antes que ela se despeça de você.

— Ela não se despediria de mim.

— É exatamente o que eu quero dizer.

Junior saiu do escritório arrasado. Tudo estava acabado, e a culpa era dele. Ele sabia muito bem disso. Lidar com este fardo era que estava sendo difícil demais. Se ele pudesse voltar no tempo, não pensaria duas vezes. Perder sua mãe já estava sendo ruim demais, perder Juliana também ele não iria aguentar.

Depois da praia, Juliana foi para o seu quarto. Ela estava pensativa, sem nem imaginar o que os dois conversaram no escritório algumas horas antes. Estava lembrando que há exatamente um ano atrás ela, seu pai, Junior e Lucia estavam em Campos do Jordão. Era incrível como tudo tinha mudado em apenas um ano! E também era muito triste ver como sua vida tinha se transformado num inferno.

Um clima muito ruim tomou conta da casa, e assim a semana passou. Juliana e Junior não conversavam, sequer trocavam olhares. Ele estava certo de que não adiantava fazer nada, falar mais nada, que era tarde demais para que ela o perdoasse. E a prova disso veio à tarde, quando eles, junto com Seu Marcos e o Dr. Perez, tiveram que ir à delegacia assinar alguns papéis e pegar o documento que alegava a inocência de Juliana.

Junior foi o primeiro a assinar os papéis, e depois foi para fora da delegacia, pois aquele ambiente lhe sufocava demais. Seu Marcos e Juliana também assinaram e o delegado entregou ao Dr. Perez a cópia do documento da confissão de Edith, que alegava a inocência de Juliana.

Na Praia VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora