A principal suspeita

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Fevereiro nunca tinha sido tão ruim. O clima que cercava a casa era mesmo tenso, pesado. Tinha dias em que Juliana tinha insônia e encontrava Junior também sem dormir pelos corredores ou na sala.

Era segunda-feira, mais um dia de aula tanto para Juliana quanto para Junior. Evitar as perguntas dos colegas seria impossível. E no colégio de Juliana, ninguém foi discreto, todos foram perguntando sobre o interrogatório, ansiosos para saber os detalhes. No final, Aline já foi logo respondendo as perguntas porque a amiga já estava exausta de tanto falar. Nem os professores a pouparam. Juliana estava começando a pensar seriamente em não ir mais à escola, principalmente porque todos sabiam das novidades do caso, já que estava sempre em meio às notícias do telejornal local.

Na hora do intervalo, Guilherme veio falar com ela:

— Oi Ju, tudo bem?

— Na medida do possível, sim – respondeu ela com um sorriso.

— O que você quer saber? O que o delegado perguntou pra ela? O que ela respondeu? –perguntou Aline já parecendo furiosa com o futuro interrogatório.

Guilherme ficou totalmente sem graça.

— Não, não é nada disso! – exclamou ele vermelho como um camarão – Eu sei que sua vida anda turbulenta Ju, mas o que você acha de marcarmos outro ensaio lá em casa? Aquele dia a gente acabou não marcando nada.

— Guilherme, isso seria ótimo! Eu estou mesmo precisando me distrair um pouco. É só marcar – respondeu ela aliviada.

— Vou falar com os outros agora mesmo pra que dessa vez a gente ensaie de verdade.

— Ótimo.

Ao término das aulas, Juliana foi para a casa de Aline. Quando chegou, Felipe já tinha voltado da faculdade e eles ficaram conversando na cozinha, enquanto a mãe deles preparava o almoço.

— Ju, como vai o Junior? – perguntou Felipe dando um abraço na amiga.

— Está bem, na medida do possível.

— Ah, não! – exclamou Aline revoltada – Não perguntem mais nada pra Ju porque ela já passou a manhã inteira respondendo perguntas sobre o maldito interrogatório.

— Eu nem falei nada – disse logo a mãe de Aline.

As duas beberam um copo de suco para refrescar um pouco o calor intenso de fevereiro e foram para o quarto de Aline. O quarto dela era bem menor que o de Juliana, é verdade, mas era mais fresco, e, de alguma maneira, mais aconchegante.

Aline estava louca para saber as novidades do namoro de Juliana e Junior e pôde, enfim, perguntar:

— E você e o Junior?

— Eu e o Junior? – perguntou Juliana um pouco desapontada – Nada.

— Como assim nada? Não é possível não ter acontecido mais nada!

Felipe decidiu chamar as duas para almoçar, pois a comida tinha acabado de ficar pronta. (O problema é que as paredes têm ouvidos.) Ele parou em frente a porta do quarto, e como as duas não sabiam falar baixo, ele ficou ouvindo a conversa.

— Eu gosto muito dele e sei que ele também gosta muito de mim, mas nós resolvemos não contar nada pro meu pai enquanto toda essa turbulência não passar. Acho que isso acabou esfriando um pouco as coisas. Só conseguimos namorar um pouco quando nos encontramos pelos corredores de madrugada, com insônia.

Na Praia VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora