Mudar de vida

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Uma semana se passou, e Juliana não foi à aula nenhum dia. Ficou aproveitando a companhia de sua avó, que fora embora naquela manhã, e também pensando em como dizer a seu pai que queria ir embora. Isso seria uma tarefa extremamente difícil.

Mas à noite aquele dia, ela resolveu que tinha logo que falar com ele. Aquela situação já estava pendendo por tempo demais, e a cada dia que passava mais aulas ela perdia. Mudando para o Rio de Janeiro, isso acabaria porque ela voltaria a freqüentar a escola normalmente. Assim, depois do jantar, ela foi falar com o pai no escritório.

— Pai, posso entrar? – perguntou ela abrindo a porta.

— Claro, minha filha. Aproveita e deixa a porta aberta porque tá muito abafado aqui dentro.

— Tá bom.

Ela entrou e se sentou na cadeira de frente para ele. Por um minuto, hesitou, porque sabia como aquilo seria difícil para o pai. Mas não via outra saída para seu problema.

— Pai, eu preciso te pedir uma coisa.

— O quê?

— Pai, eu já não consigo ir na escola, já não consigo sair na rua... Não consigo fazer mais nada sem que as pessoas apontem pra mim!

— Juliana, aonde você quer chegar? – perguntou Seu Marcos preocupado, sabia que uma bomba estava vindo por aí.

— O fato – começou Juliana nervosa – é que eu não posso continuar aqui.

— O que você quer dizer?

— Eu quero dizer que não dá pra eu... pra eu... continuar morando aqui em Angra – disse ela de uma só vez. – Eu preciso mudar daqui.

Ele permaneceu calado, tentando digerir o que acabara de ouvir.

— Você quer ir embora? – perguntou ele lentamente.

—Quero – respondeu Juliana convicta. – Eu quero morar com a minha avó.

— No Rio de Janeiro? – perguntou ele parecendo muito surpreso – Juliana, você tá maluca?

— Não, pai – respondeu ela se levantando. – Você não entende? A minha vida aqui está um verdadeiro inferno! Eu não consigo mais ficar nessa casa!

— Por quê? – perguntou Seu Marcos nervoso – É por causa do Junior? Se for por causa dele, você sabe que eu mando ele ir embora agora!

— Pai, você sabe que o Junior não me afeta em mais nada. Por mim, ele pode continuar aqui, eu não me importo – respondeu ela com desprezo. - O problema é ir ao colégio e ninguém olhar na minha cara, é ir ao shopping e ser apontada por todos.

Seu Marcos não sabia mais o quê argumentar. A expressão da filha ao dizer aquilo cortou-lhe o coração. O pior era que no fundo ele sabia que ela tinha razão. E Juliana continuou:

— No Rio eu vou poder começar uma vida nova. Por favor, pai...

Juliana também não se sentia bem com aquela situação. Separar-se de seu pai seria um verdadeiro martírio, mas ela não via outra solução para conseguir colocar sua vida em ordem novamente, ou pelo menos tentar...

Seu Marcos tentou segurar o choro. Como ele poderia viver sem a filha? Mas o pior era que ele a compreendia perfeitamente, sabia que ela estava certa e sabia também que o Rio de Janeiro seria um bom lugar para ela dali para frente. O que ele não sabia era como seria a sua própria vida daquele momento em diante, sem sua única filha. Juliana era o tesouro mais precioso que ele tinha, e agora ele teria que ver esse tesouro ir embora. Relutante, respondeu:

Na Praia VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora