O almoço

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O ano era 2003.

Juliana chegou ao colégio atrasada, quase não pôde entrar mais na primeira aula.

— Achei que você não viesse à aula hoje – disse Aline baixinho, para não atrapalhar a aula do professor.

— Meu pai me chamou era quase seis e meia, tive que me arrumar correndo e nem deu tempo de tomar café – justificou-se ela sentando em sua carteira ao lado da amiga.

— Seu pai perdeu a hora? – perguntou Aline surpresa – Que milagre!

— Não foi bem um "perder a hora",– começou ela copiando a matéria de matemática – ele chegou tarde em casa ontem, então ele apenas acordou de acordo com o horário em que foi dormir.

Juliana tinha que acordar bem cedo para ir à escola porque ela morava do outro lado da cidade, bem afastado do centro de Angra dos Reis, no condomínio da Praia Vermelha. Todos os dias, acordava às cinco e meia da manhã e chegar ainda a tempo de pegar a primeira aula naquele dia foi mesmo um milagre da velocidade.

O condomínio onde morava era um lugar realmente privilegiado, na beira de uma praia maravilhosa, de onde se via cardumes de golfinhos passando e também outros animais marinhos. A areia avermelhada dava o nome da praia.

Quando ainda tinha quatro anos, Juliana perdeu a mãe, Margareth, que teve um aneurisma cerebral e não resistiu. Desde então ela e o pai vivem sozinhos numa casa enorme neste condomínio em Angra, onde a mãe sempre quis morar.

Mesmo tendo perdido a mãe quando pequena, Juliana era uma garota alegre e sorridente. Sua beleza sempre se destacava nos lugares aonde ia. Tinha a pele branca e os cabelos longos, castanhos e ondulados, seu corpo era bonito, não era muito magra e seus olhos eram sua marca registrada. Seus olhos negros eram marcantes.

O pai, seu Marcos, tem uma pequena e lucrativa empresa de transportes que está crescendo e prosperando, e trabalha dia e noite nela. Desde que a esposa morreu nunca mais se envolveu com outras mulheres, sempre atencioso com a educação da filha, mas Juliana era louca para ver o pai arrumar uma namorada; achava que ele seria mais feliz assim e se preocuparia menos com o trabalho.

Ela chegou em casa morta de fome e foi direto para a cozinha ver o que tinha para o almoço.

— Ué, Edith, por que tanta panela no fogo? – perguntou curiosa.

— Seu pai me pediu que fizesse uma coisa especial hoje.– respondeu Edith atarefada – Parece que uma amiga vem almoçar aqui.

— Sério? – perguntou a garota interessada – Será que é alguma namorada?

— Não sei, mas parece ser alguém importante – respondeu Edith pegando os pratos – Vamos arrumar a mesa. Venha, me ajude.

As duas arrumaram a mesa da melhor maneira possível. Colocaram uma toalha azul turquesa com detalhes pequenos em azul marinho na borda, que deixou a mesa retangular, que era para oito pessoas, da sala de jantar simplesmente maravilhosa. Juliana não pensou duas vezes em colocar os talheres de prata que seus pais tinham ganhado de casamento para o uso naquele dia, pois sabia que era um dia especial. Queria impressionar quem quer que fosse.

Assim que Seu Marcos chegou, ela foi correndo falar com ele, não aguentou a curiosidade.

— Pai, quem vem almoçar aqui hoje? Quem?

— Uma amiga – respondeu ele com seu mesmo jeito calmo de sempre.

— Amiga? – perguntou ela desapontada.

Na Praia VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora