Vinte e Cinco

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Violet não conseguia encará-la nos olhos. Vermelhos como sangue, encará-los era como olhar para um poço fundo e sombrio, onde a única coisa que se podia enxergar era podridão e maldade. Encarar os olhos de um demônio era uma das coisas mais horripilantes que Violet já tinha feito na vida. Especialmente aquele demônio, que ela sabia, estava faminto por tirar sua vida.

— O que foi, Violet? O gato comeu a sua língua? — Dierdre riu, a mesma risada assustadora que ela tinha ouvido antes. Era impossível tirar aquele som terrível da cabeça.

— O que você fez com Nerissa? — tremendo, Violet encontrou sua voz, embora tivesse soado baixa demais.

— O que foi? — Dierdre, no corpo de Nerissa, provocou. — Não consigo ouvi-la. Por acaso está com medo, Violet?

— O que você fez com Nerissa? — Violet repetiu, dessa vez mais alto, tentando transparecer uma firmeza que ela não sentia.

— Oh, sua tola irmã? — Dierdre andava de um lado para o outro, mas sem se aproximar. — Fiz muitas coisas. Como é que vocês dizem hoje em dia mesmo? Ah, ela caiu como um patinho. — e riu escandalosamente outra vez.

Violet cerrou os punhos, observando sua figura, mas evitando seus olhos demoníacos. Ela não tinha ideia do que fazer. Estava frente a frente com Dierdre Montgomery, o demônio que matara seu pai biológico, enganara sua irmã, amaldiçoara Leon e que agora tentava se livrar dela para que não quebrasse a maldição. Violet sabia que, cedo ou tarde esse momento chegaria, mas não sentia-se pronta para esse confronto. Porém, não havia nada a fazer. Chegara a hora. Ela tinha que encarar aquilo com toda a força a qual Bryce garantiu que ela tinha. Não podia decepcioná-lo. Morreria tentando, mas tentaria.

— Também dizem que quem ri por último, ri melhor — Violet, reunindo toda coragem que nem sabia ter, retrucou.

A risada de Dierdre parou abruptamente. Ela entrecerrou os olhos e os fixou em Violet. E apesar de ser extremamente terrificante encará-la de volta, Violet o fez. Não desviou, nem sequer se moveu. Precisava mostrar ao demônio que não tinha medo dele. De fato, ela acabou percebendo que não tinha mesmo.

— Bem, eu estou rindo por último. — Dierdre sorriu novamente. — Mesmo com todos os poderes da sua pobre mamãezinha, você não pode me vencer, tolinha. Tanto poder, e tão pouco controle... As maiores feiticeiras da história morreram por excesso de poder, sabia?

Dierdre deu uns passos em direção à Violet, e ela instintivamente recuou. Dierdre parou depois de observar seu movimento, jogou a cabeça para trás e deixou escapar mais uma risada.

— Ora Violet, não seja tão retraída! — falou alegremente. — Solte-se mais! Aproveite seus últimos minutos de vida! Não vê como a noite está bela? Eu, particularmente, adoro noites de lua de sangue. Elas são ótimas para jogar maldições. — suspirou dramaticamente.

Violet não conseguia articular frases. Tentava fazer sua mente funcionar rápido, se lembrando dos poucos feitiços que Norah a havia ensinado, imaginando quais seriam úteis para se defender de Dierdre. Mas defender não era o ideal, e sim atacar. Ela fora muito irresponsável ao não pedir aulas de feitiços de ataque. Deslumbrara-se com a magia em si, mas esquecera-se do que era importante. Tarde demais pra retificar o erro.

— Você sabe bastante sobre maldições, não é? — Violet se obrigou a dizer.

Se sua mente estava funcionando estupidamente devagar, ela faria o que estava cansada de ver em filmes: manter o vilão falando. Isso a retardaria e talvez, por algum milagre divino, Violet conseguisse pensar em algo para sair daquela situação, salvando Nerissa, é claro. A irmã não tinha culpa. Tinha sido manipulada cruelmente pelo demônio.

Supplicium [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora