Dezesseis

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As folhas nas árvores balançavam, mas Violet não conseguia sentir o vento. O dia estava chegando ao fim, bem naquele momento que ela costumava gostar, quando o sol já havia sumido no horizonte e a lua começava a surgir em meio a um céu azulado, mas não totalmente negro ainda.

Ela olhou ao redor, apenas para se descobrir em uma floresta que ela não lembrava de ter estado antes. As árvores lançavam sombras distorcidas, e ela não conseguia enxergar direito. Tudo estava estranhamente silencioso, como se à espera de alguma coisa muito importante acontecer.

E ela sabia que tinha algo a ver com a sombra de um homem caminhando floresta adentro. Ela o seguiu, conseguindo chegar perto o suficiente para reconhecê-lo.

Leon.

Mas ele estava diferente. Parecia mais... jovem. Os cabelos estavam um pouco mais compridos, ela notou. Ele parou de caminhar por uns instantes, se concentrando em ouvir alguma coisa. Ela aproveitou para observá-lo mais. Leon tinha uma expressão estranha no rosto, uma que ela nunca havia visto. Ele parecia quase feroz. Usava um casaco negro, muito parecido com o sobretudo que ela sempre o via usando. Mas quando ela desceu os olhos por suas mãos, sentiu-se subitamente enjoada ao vê-lo segurando uma comprida arma de fogo.

Ele franzia a testa, como quando estava nervoso ou se concentrando em algo. Ela apostava na segunda opção. Leon recomeçou a andar, determinado, e Violet seguiu atrás. Ela não tinha ideia do que ele estava procurando, mas não tinha uma boa sensação sobre aquilo. Com aquela arma em mãos e aquele olhar determinado, Leon quase parecia um caçador.

É isso, ela concluiu. Ele estava caçando alguma coisa. Mas ela não teve que esperar muito para descobrir o que ele estava caçando.

Quando um outro homem surgiu das sombras, ela teve a certeza de que era por ele quem Leon procurava. Mas ela mal teve tempo de chegar a qualquer conclusão sobre o porquê daquela perseguição. Porque a próxima coisa que ouviu, foi um tiro sendo disparado, e uma bala atravessando o peito do homem desconhecido.

Ela levou a mão à boca, horrorizada, e olhou para Leon. Ele estava com aquela mesma expressão de antes, mas ela também viu algo diferente. Culpa. Apesar de parecer ter atirado naquele homem a sangue frio, Leon estava sentindo culpa. Por que ele o teria matado?

Mas ela foi interrompida de suas divagações por um grito agudo que surgiu do outro lado da clareira onde estavam. Ela reconheceu a mulher quem gritava. Era a mesma que havia aparecido como demônio pra ela no dia de seu aniversário. Os mesmos cabelos negros e olhos cruéis. Porém ela também foi capaz de reconhecer dor naqueles olhos.

Leon foi atrás da mulher, e Violet sentia-se tão nervosa que não foi capaz de segui-los. A cena girava em sua mente, e ela não conseguia parar de pensar em como Leon podia ter feito aquilo. Ela não entendia.

Ele mereceu ser punido — uma voz soou, e ela olhou em volta, mas continuava sozinha. — Ele mereceu a maldição. Viu como ele é perigoso, Violet? — ela ouvia a voz sussurrando em seu ouvido, mas não havia ninguém ao seu lado. — Ele destruiu o meu filho. Ele vai destruí-la também. — Violet colocou as mãos sobre os ouvidos, ela não queria ouvir. — Ele vai acabar com a sua vida como fez agora. Num piscar de olhos — Violet balançava a cabeça, negando. — Ele é perigoso. Leon Hawthorne é perigoso e merece pagar pelo que fez. — ela fechou os olhos, a voz ainda sussurrando coisas sobre Leon, coisas que ela não queria mais ouvir.

Quando abriu os olhos novamente, os sussurros pararam e ela se viu em outro lugar. Ela viu aquela mesma mulher dentro de um círculo rodeado por velas negras que pairavam no ar. Leon estava caído no chão, sentado ao pé de uma árvore, desarmado e indefeso, enquanto a mulher parecia entoar palavras que Violet não foi capaz de compreender.

Supplicium [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora