Quatorze

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— Eu posso ao menos saber por que você adiou tanto essa conversa? — Bryce ainda estava bravo, Violet sabia disso. — Você quase me matou de preocupação, Violet! E depois chegou em casa pálida e com uma cara esquisita, e se recusou a falar comigo por dois dias.

— Eu precisava ficar um tempo sozinha — Violet admitiu, sentindo-se cada vez mais culpada.

— Você estava era com medo que eu não acreditasse em tudo isso quando me contasse — ele acusou. — Provavelmente deve ter imaginado que eu iria te internar num sanatório no dia seguinte — resmungou.

— Bryce, eu não pensei nada dis...

— Não minta pra mim — ele interrompeu, furioso. Em seguida, respirou fundo, e balançou a cabeça para tirar a franja loira que atrapalhava sua visão. — Violet, se um dia você for internada num sanatório, está cansada de saber que eu me interno junto só pra te fazer companhia. — ela tentou esconder um sorriso, ele parecia tão sério falando aquilo. — E se você está dizendo que é uma feiticeira que tem superpoderes e anda por aí enfrentando demônios, eu acredito. Você é como uma irmã pra mim... — ele terminou, a palavra 'irmã' soando incerta quando ele pronunciou.

Bryce a abraçou ternamente, e ela sentiu-se confortada com aquele gesto. Agora ela sentia-se mesmo culpada por ter ignorado Bryce por tanto tempo, mas ela realmente precisou de um tempo para si mesma, um tempo pra tentar digerir tudo o que havia acontecido no dia de seu aniversário.

— Mas eu ainda estou bravo com você — Bryce voltou a falar, mas agora ele estava sorrindo, e Violet sabia que já tinha sido perdoada.

Às vezes ela pensava que Bryce não existia. Ele sempre estava ali por ela, mesmo que ela parecesse mentalmente instável, como naquele momento. Estava grata por, pelo menos, o destino ter lhe presenteado com um irmão, ainda que não fosse de sangue.

— Agora — ele anunciou. — Eu quero ver.

— Ver o quê? — Violet indagou confusa.

— Seus poderes! — os olhos verdes de Bryce brilharam de animação, o assunto anterior já esquecido. — Eu quero ver — Violet adorava essa característica em Bryce, ele sempre mudava de assunto repentinamente, e isso, na maioria das vezes, evitava momentos de silêncio constrangedores.

— Mas eu não sei como usá-los — desabafou. — Eu mal sei o que consigo fazer.

— Sabemos que você consegue derrotar demônios — assinalou ele.

— Essa habilidade vai pro topo da lista, não é? — ela sorriu irônica.

— Além disso — Bryce continuou, fulminando-a com o olhar, querendo dizer que aquela era uma conversa pra ser levada a sério. — Quais outras inexplicáveis aconteceram?

Violet pensou por um instante enquanto entregava alguns dois livros para que Bryce colocasse em sua mochila. Ele havia passado em sua casa pra irem juntos para o colégio.

— O fogo na jaqueta do Ethan aquele dia da festa — era pra ser uma afirmação, mas soou como uma pergunta.

— Então foi mesmo você — Bryce a olhou abismado.

— Eu tive a sensação de que fui eu, sim — ela deu de ombros. — Tinha essa... voz na minha cabeça me dizendo que eu devia interferir.

— Essa frase realmente te levaria direto a um sanatório — brincou ele. — Então essa é sua segunda habilidade, e essa podemos testar agora mesmo — ele se levantou, deixando a mochila na cadeira onde estava sentado e examinando o quarto de Violet em busca de alguma coisa. Quando achou, entregou nas mãos dela. — Aqui, você pode acendê-la. Com seus poderes.

Supplicium [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora