Vinte e Três

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Violet desenhou com giz um pentagrama sobre a porta dos fundos da casa, logo em seguida colocando a mão sobre ele. Fechou os olhos, inspirou fundo, e logo depois sentiu o costumeiro formigamento na palma. O símbolo brilhou por uns segundos com uma forte luz azulada, para em seguida desaparecer como se não houvesse nada de incomum naquela porta.

Violet tinha repetido esse processo dezenas de vezes naquela noite. Tinha ido até a casa de Bryce e marcou-a por todos os lados: portas, janelas, chão. Ela precisava garantir que seu melhor amigo estaria a salvo, pelo menos enquanto estivesse dentro de casa. E agora, aproveitando-se da ausência de sua mãe adotiva, Violet estava marcando sua própria casa, com Bryce observando-a de perto.

— Incrível — balbuciou ele, passando os dedos pela porta vazia.

Violet se absteve de dar uma resposta, apenas caminhou até a sala, afundando-se no sofá e colocando as mãos sobre o rosto. Sentia-se cansada. Norah havia dito que ela se sentiria assim no começo sempre que usasse um pouco mais sua magia, mas que logo seu corpo começaria a ganhar certa resistência. Mas mais do que cansada fisicamente, sua mente estava em frangalhos. Ela já não conseguia suportar o peso de todas as coisas com as quais tinha que lidar ultimamente.

Sentiu o assento afundar a seu lado, e Bryce a puxando pra um abraço.

— Eu não sei o que fazer, Bryce — desabafou ela, sentindo as lágrimas quererem rolar outra vez pelo seu rosto.

Bryce não respondeu de imediato, apenas continuou abraçando-a ternamente.

— Uma vez alguém me disse que nunca lhe é dado algo que ela não pode aguentar — Violet recordou as palavras que ela mesma tinha dito quando Bryce havia perdido a irmã. — Você tem um dom, Violet. Um dom lindo, que vai te permitir fazer o bem de forma que uma pessoa comum não pode fazer. E se você foi escolhida para tê-lo, é porque você pode, e vai fazer coisas maravilhosas com ele. Eu sei disso.

Violet queria acreditar nele, mas não sabia se devia. O medo de falhar era maior do que qualquer certeza que Bryce pudesse lhe dar. Ela temia por todos a sua volta, temia não ser capaz de enfrentar Dierdre Montgomery. Temia o seu poder oculto, aquele que nem Norah sabia que ela tinha. Temia se tornar algo negro e cruel como a própria Dierdre. E temia, principalmente, não ser capaz de libertar Leon.

— Bryce... tem algo ruim dentro de mim, algo sombrio... Eu tenho medo que esse lado se sobreponha a todas as boas intenções que eu já tive na vida... Tenho medo de não saber controlar minha magia.

— Não diga bobagens — ele bufou. — Você não vai se tornar o que Dierdre Montgomery virou, Violet. Se eu tenho alguma certeza na vida, é essa. Eu acredito em você, suas mães acreditam em você, todos acreditam... Menos você mesma, pelo jeito — Bryce a apertou mais em seus braços.

— E se eu falhar? E se eu não puder ajudar Leon? E se acontecer algo ruim com você, ou...

— Já disse pra parar de dizer bobagens — interrompeu ele.

Violet apenas fungou, sentindo-se cansada demais pra rebater. Seu estado de espírito estava o pior possível depois do que presenciara nas memórias de Samia. Bem que Norah havia dito que ela não estava preparada. Violet desconfiava que nunca estaria preparada para ver o que viu, mas sabia que precisava ver. Ela precisava ter ideia da maldade real de sua inimiga, para que não a subestimasse e acabasse cometendo algum erro que ocasionaria em uma desgraça. E agora ela tinha. Ela sabia exatamente com o que estava lidando, e por isso o sentimento de insegurança havia se enraizado em seu coração.

— Ninguém deveria sofrer tanto assim, Violet. — Bryce voltou a falar. — Levanta esse rostinho lindo que você tem e pare de se lamentar. — ele pousou a mão sobre seu rosto e o levantou, limpando as poucas lágrimas que ela havia deixado cair sem perceber. — Chorar não vai adiantar nada, e você ouviu bem Samia. Precisa ser forte.

Supplicium [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora