Vinte e Quatro

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A lua se erguia imponente ao leste, espalhando seu brilho pálido no céu já quase negro. Estava escurecendo, e Violet apertava o casaco contra o corpo enquanto caminhava rapidamente para longe da biblioteca. Tinha sido difícil despistar Leon para conseguir escapar sem que ele visse. Estava cedo ainda, ela havia pedido à Sra. Hamblet para liberá-la antes do horário naquele dia, e a mulher — que estava mais interessada em Leon desde que ele lhe dera atenção — tinha dado permissão. Violet havia pegado suas coisas e saído de fininho pela entrada dos fundos, de modo que Leon ainda pensava que ela tinha ido ao banheiro.

Agora ela se sentia culpada. Não sabia por que havia omitido dele, ou mesmo de Bryce o encontro que teria com Nerissa aquela noite. Talvez ela só não quisesse mais um motivo para Nerissa odiá-la. Estava bem clara a animosidade que partia da irmã em direção a Leon ou Bryce. E além do mais, Violet estaria de volta à biblioteca antes do horário de sair, Leon nem perceberia que ela estivera fora. Seria uma conversa rápida. Um pedido de desculpas por parte dela, talvez um "eu te odeio" por parte de Nerissa. Claro que ela duvidava disso. No bilhete, a irmã havia escrito "com amor". Mas Violet não acreditava que o laço de sangue que as unia fosse o suficiente para que a irmã a amasse mesmo sem conhecê-la direito.

Parou e se encostou a um muro quando percebeu estar a uma distância segura da biblioteca. Ela não sabia para onde exatamente ir. No bilhete, a irmã deixava claro que iria guiá-la através de um feitiço. Violet lembrou-se do feitiço de compelimento que Norah havia usado para levá-la até Leon na noite em que enfrentara Dierdre Montgomery pela primeira vez.

Estremeceu, lembrando-se dos momentos de terror que passara. Sua magia havia salvado sua vida, mesmo que ela não se desse conta disso. Mas se acontecesse novamente... ela seria capaz de realizar o mesmo feito?

Balançou a cabeça, olhando para o céu enquanto esperava algum sinal de Nerissa. A lua brilhava agora num céu negro permeado de estrelas, mas algo lhe chamou a atenção. Aquele dia iria ocorrer um eclipse lunar, e a lua já começara a ganhar uma coloração avermelhada. Logo estaria completamente vermelha, uma lua de sangue.

Norah tinha comentado algo sobre isso. De acordo com ela, significava mau agouro. Violet, prática como era, estava tentada a ver apenas como um fenômeno astronômico. Mas considerando tudo pelo qual ela passara nos últimos tempos, não duvidava de mais nada. Se Norah havia dito que podia significar que coisas ruins estavam vindo, ela deveria ao menos considerar.

Seria isso um sinal de que o confronto com Dierdre estava próximo? Porque se fosse, ela lamentavelmente não se sentia forte o suficiente ainda, mesmo que Bryce tentasse convencê-la do contrário.

Respirou fundo, e finalmente pôde sentir. O perfume tão familiar de rosas lhe invadiu os sentidos, e ela sorriu deliciada. Por um momento, se esqueceu de tudo, o aroma adocicado nublando sua mente. Mas ela voltou ao mundo real tão logo abriu os olhos. Esse encanto era diferente, não fazia seus pés guiarem sozinhos. Ela continuava parada no mesmo lugar, o vento frio ainda castigando-lhe as bochechas. Como ela encontraria Nerissa então?

"Siga as rosas", estava escrito no bilhete. Talvez... talvez se ela caminhasse em direção ao delicioso perfume... Provavelmente era o que deveria fazer, e fez. À medida que avançava, a noite se instalava, as ruas ficando escuras, as luzes dos postes tremeluzindo ao serem ligadas. Violet acelerou o passo. Não queria correr o risco de topar outra vez com o espírito de Dierdre. O que ela faria então, se ainda não tinha total controle sobre seus poderes?

O caminho foi longo, e ela parou ao se dar conta de onde tinha sido levada. O cemitério da cidade. Hesitou antes de entrar no local. Por que raios Nerissa tinha que ter escolhido um lugar tão... mórbido? Era apenas uma conversa. Podiam tranquilamente ter conversado em uma lanchonete, ou um lugar mais público. Não estava muito certa se devia entrar, ou dar meia volta. Seus olhos foram parar inconscientemente na lua outra vez. Mau agouro, lembrou-se das palavras de Norah. Alguma coisa não estava certa ali.

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