Dezenove

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(15 de novembro de 1712)


Ele estava em casa novamente. Depois de anos longe, peregrinando por terras distantes na intenção de esquecer tudo o que vivera ali, ele voltara ao lugar onde tudo tinha começado. Não por vontade própria. Ele estava ali porque sabia que era o único lugar onde encontraria uma pessoa que o ajudaria sem hesitar.

A casa estava cheia de convidados, ele observou de longe. Mas não tinha escolha. Não conseguiu chegar mais cedo, e se esperasse mais uns dias, logo seria tarde demais. Ele precisava daquela informação. Ele precisava saber.

— Sr. Hawthorne? — ele ouviu uma voz feminina e doce atrás de si.

A moça usava um belo vestido azul veludo, os cabelos cor de fogo arrumados elegantemente contrastando com a pele clara e os olhos verdes e brilhantes como ele se recordava bem.

— Mildred! — admirou-se. — Como a senhorita cresceu! — Leon sorriu.

Ela fez uma reverência, um sorriso brincando em seus lábios rosados.

— Mamãe disse que o senhor retornaria — ela alisou o vestido.

— Vim em má hora? — hesitou.

— É apenas um jantar para anunciarmos o noivado perante a sociedade — ela explicou.

— Ouvi os rumores de que a senhorita iria se casar — Leon admitiu. — Meus parabéns.

A moça sorriu radiante.

— O senhor deveria ficar para o casamento — ela convidou.

— Não acho prudente — ele declinou o convite, tristemente. — Ainda há pessoas na cidade que podem me reconhecer.

— Então está se arriscando muito vindo aqui esta noite — ela olhou para os lados, mas ninguém parecia olhar naquela direção.

— Temo que sim — ele murmurou. — Mas preciso ver a senhora sua mãe.

— Então o senhor não soube — foi mais como uma afirmação.

— O que eu não soube, senhorita?

— Minha mãe, ela... — os olhos da moça encheram-se de pequenas lágrimas nos cantos. — Ela não está mais entre nós.

— C-como? — Leon gaguejou, o desespero ameaçando voltar a inundar seu coração.

Desde que encontrara Aileen McKenzie, ele passara a acreditar que um dia seria um homem livre daquela maldição. Mas agora, com ela morta, ele só podia pensar em como iria conseguir outra feiticeira que o ajudasse a encontrar as descendentes de Dierdre Montgomery. Todas sabiam o que ele fora, um caçador de bruxas cruel e impiedoso. Elas jamais o ajudariam. Ele não sabia nem como ou por que Aileen o havia ajudado em primeiro lugar.

— Padeceu de um mal que não pôde ser revertido — Mildred seguia falando tristemente.

Leon já se sentia derrotado. Sem Aileen, ele não ousava mais ter esperanças. Deveria se conformar com seu destino, afinal, estava pagando por todo mal que causou ao assassinar inocentes.

— Sinto muito por sua perda, senhorita Mildred — e ele realmente sentia.

— Mas ela deixou-lhe uma mensagem, senhor — Mildred cochichou. — Mandou que eu lhe dissesse para não perder as esperanças, porque a família McKenzie jamais abandona um amigo. — a moça sorriu cúmplice.

Leon franziu a testa, pensando no que Aileen quisera dizer com aquilo. Mas não fora preciso questionar muito. A resposta estava bem à sua frente, os olhos verdes mais brilhantes que o usual devido às lágrimas, mas o mesmo sorriso que ele conhecia desde que a moça era criança, em evidência.

Supplicium [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora