Dez

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Já passava das seis horas da tarde. Violet estava sentada sobre os degraus que davam acesso à varanda de sua casa. O céu estava colorido de um laranja-avermelhado, com nuvens rosadas pairando aqui e ali. Ela sorriu, pensando no quanto gostava desse momento em particular. Mas mesmo parecendo serena, com os olhos perdidos no céu, sua cabeça zunia de pensamentos.

Ela meditava sobre tudo que havia acontecido nos últimos dias, ainda sem acreditar em algumas coisas. Nada parecia fazer sentido. Ela podia negar o quanto quisesse, mas sabia que algo muito estranho estava acontecendo. Não que ela acreditasse no que a irmã havia dito. Ela, uma bruxa? Até parece.

Mas ao menos explicava o fogo na jaqueta de Ethan Hairston. Explicava as visões sobre o rapaz enterrado vivo. Explicava as palavras em sangue no diário de Dierdre Montgomery.

A questão era se ela estava disposta a aceitar essa realidade. Talvez estivesse enlouquecendo, imaginando coisas. Talvez até já tivesse enlouquecido, e estivesse agora mesmo internada em uma clínica psiquiátrica, tendo devaneios sobre uma vida onde ela era bruxa.

Suspirou, e enterrou o rosto entre as mãos. Ela sempre havia se sentido deslocada, como se não pertencesse, como se precisasse encontrar algo que a fizesse se sentir completa. Mas acreditar que esse algo era magia, aí já era outra história.

Ergueu os olhos novamente para o céu, que agora já escurecera quase completamente, o laranja-avermelhado sendo substituído por um vermelho rubro, que logo se transformaria em azul escuro, e posteriormente, negro.

Violet sacudiu a cabeça, tentando colocar os pensamentos em ordem. Ela estava esperando por Bryce. Haviam combinado de saírem para comemorar seu aniversário em uma pizzaria ali perto, mas o amigo estava atrasado. A última mensagem que ele havia mandado no celular dizia "Estou quase aí", mas isso fora há quase meia hora.

Levantou-se devagar, os músculos protestando por ter ficado tanto tempo sentada de mau jeito. E então, sem mais nem menos, algo mudou. Algo no ar, uma súbita eletricidade que nada tinha a ver com os postes que começavam a se acender nas ruas. Violet sentia que precisava estar em um lugar, um outro lugar. E ela tinha a sensação de que seu corpo sabia exatamente aonde ir, embora ela mesma não tivesse ideia.

Seus pés formigavam, como as palmas de suas mãos quando em contato com as da irmã. Ela arriscou dois passos, e hesitou. Mas seus pés reclamaram, ansiosos pra continuarem caminhando, seja lá pra onde fosse. Violet não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que precisava fazer o que seus sentidos mandavam. Ela precisava sair dali, e precisava ser logo.

Cedeu ao impulso e se deixou ser guiada pelos seus pés. Ela tinha prometido à Bryce que não andaria mais sozinha à noite, mas isso foi quando ela ainda não sabia que a própria irmã era quem a perseguia. Não havia mal algum em dar uma voltinha enquanto o esperava. Ele nem iria saber, ela voltaria logo que aquele impulso esquisito passasse.

Depois disso, sua mente divagou para um estado de torpor. Ela não pensou em mais nada, apenas nos passos que estava dando. Era uma sensação maravilhosa, sentia como se estivesse flutuando. E ela queria que aquela sensação tão boa fosse prolongada, ela queria continuar andando, e andando, e não parar mais. Não se sentia cansada, a brisa da noite acariciava seu rosto, e o formigamento em seus pés fazia cócegas. O vento parecia emitir uma suave e melodiosa canção em seus ouvidos.

Só voltou a si quando seus pés pararam. A brisa tinha parado de soprar. Ela olhou para os lados, percebendo-se numa rua comprida, porém vazia. Um calafrio a fez passar as mãos pelos braços para tentar se esquentar. E quando o ar começou a congelar e sua respiração sair em forma de fumaça de seus lábios, ela sentiu outro impulso. Mas dessa vez, não era um impulso bom como o outro, dessa vez seus sentidos gritavam pra que ela corresse.

Supplicium [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora