Capítulo V

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A fumaça cinzenta cobre os céus de Tarla, assim como a fuligem proveniente das chaminés das grandes fábricas cobrem o chão, uma clara representação do progresso, mas também uma representação da insalubridade

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A fumaça cinzenta cobre os céus de Tarla, assim como a fuligem proveniente das chaminés das grandes fábricas cobrem o chão, uma clara representação do progresso, mas também uma representação da insalubridade.

Com a industrialização, os rios pouco a pouco foram contaminados pelos esgotos das indústrias. Mosquitos, ratos, pulgas, bactérias e doenças foram se proliferando e se alojando nas cidades, nas casas dos trabalhadores e com isso pestes foram surgindo de uma maneira alarmante.

Do interior da carruagem de sua família, Maeve Gibbons observa a paisagem que a cerca com desgosto. Era um dia chuvoso, o que era comum na cidade e as ruas haviam virado um completo lamaçal. Se fosse apenas isso estava tudo bem, porém a situação era bem pior. A  lama se misturava com os dejetos e com a urina dos milhares de cavalos que habitavam a capital inglesa e o odor era insuportável ao seu olfato, dessa forma não evita cobrir o próprio nariz com a mão coberta por uma luva branca.
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— Posso saber o que lhe aflige, irmã? — a voz de Grace soa ao seu lado em tom preocupado, claramente observando as feições de descontentamento da irmã mais velha.

Um suspiro provém de Maeve, que abre seu leque, começando a se abanar com o objetivo de espantar o mau odor para longe.

— Estou preocupada, Grace! — Expõe de modo sério, ainda observando a paisagem externa à carruagem. As nuvens escuras e densas tomam todo céu de Londres, o que não era nada de novo para ela.

— Isso eu já percebi, irmã. O que quero saber é o motivo de sua preocupação. — A mais nova explica, enquanto coloca um cacho rebelde, que havia se soltado de sua presilha, atrás de sua orelha.

Os cabelos de Maeve chacoalham quando uma rajada de vento forte e cortante alcançam a fresta do seu lado da carruagem e ela pragueja baixinho, antes de fechar a pequena passagem e se virar para a irmã, que a observa com seus grandes e atentos olhos castanhos, à espera da revelação do motivo que a está deixando aflita.

— Já é o último dia do desafio das caçadas de dote, Grace e até agora nenhum dos rapazes que foram até a nossa casa conseguiram acertar a bendita garrafa no telhado. Como isso é possível? É apenas mirar e acertar. — Resmunga.

Em Tarla era tradição colocar garrafas vazias no telhado das residências, pois aquele era um sinal de que naquela casa havia meninas na idade de casar. Durante o evento das caçadas de dote aqueles rapazes que se interessaram por alguma moça deveria ir até a residência desta, acompanhado por um jurado oficial do evento e acertar a garrafa no telhado e somente assim conseguiria casar-se com ela. Desde que se iniciou os dias para que o desafio fosse concretizado, muitos rapazes de boa família foram até a residência dos Gibbons e tentaram a sorte, porém nenhum deles conseguiu acertar a garrafa, o que a estava deixando com raiva e preocupada.

— Achei que não queria se casar, minha irmã. — Grace diz com a voz em tom humorado.

— E não quero no momento, porém você sabe que só se pode participar desse evento uma vez. Não quero ser a única que participou e não conseguiu pretendente algum, as pessoas irão começar a falar. — resmunga. — Nossos pais já estão preocupados também.

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