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"Mãe"

Aquela palavra escapou da boca de Fernanda sem permissão, soando rouca, quebrada e estranha. Há quanto tempo ela não a usava? Seus olhos se voltaram para Pitel pela primeira vez desde que ela havia entrado na sala.

Pitel encarava intensamente a mulher na entrada. Fernanda podia ver sua mandíbula travar e seus dedos apertarem a maçaneta da porta, uma reação incomum para Pitel, mas Fernanda tentava manter sua expressão neutra. Seus olhos se encontraram de repente e seu olhar falou mais alto do que palavras poderiam expressar.

Fernanda nunca falava sobre sua mãe. Nem se tocasse no assunto. Tudo o que Pitel sabia era que ela havia abandonado a família quando Nanda tinha nove anos e isso a tinha destruído. E a cada tantos anos ela enviava um cartão postal de onde quer que estivesse na época, nunca mais do que um "estou por aqui visitando" e "isso é o que estou fazendo" junto de um "espero que você esteja bem". Era como se estivesse escrevendo para um parente distante ou um amigo qualquer. E sempre que um desses malditos cartões postais aparecia, Fernanda desmoronava por completo.

Mas a mãe de Fernanda não sabia disso. Ela não sabia nada sobre ela. Porque ela não tinha visto ou ouvido falar de Fernanda em quinze anos, desde o dia em que saiu pela porta e nunca mais voltou.

Pitel de repente ficou tensa e Fernanda voltou seu olhar para sua mãe. Ela estava se aproximando com as mãos estendidas. Fernanda deu um passo para trás.

"Não", Fernanda desabafou e sua mãe parou, vários passos ainda entre elas. "Por favor... não."

"Você tá tão linda", ela disse, sua voz tremendo enquanto suas mãos caíam para os lados. "Tão crescida."

"Eu tenho vinte e quatro anos", Fernanda respondeu, com o olhar agora para o chão. "Já se passaram quinze anos, é claro que eu cresci."

De repente, Fernanda sentiu um braço se envolver em volta de sua cintura, uma mão se acomodava calorosamente em seu quadril, mas ela não recuou. Ela sabia como era o toque de Pitel. Um beijo foi pressionado em sua têmpora e ela imediatamente se sentiu mais calma.

"Você está brava", disse sua mãe e Fernanda olhou para cima para encará-la nos olhos. Sua mãe parecia decepcionada, talvez, até um pouco surpresa. Isso deixou Fernanda ainda mais irritada.

"Por que você trouxe uma mala?" Fernanda perguntou. Ela apontou para a bolsa de viagem que Pitel havia colocado para o lado de dentro da porta. "O que você veio fazer aqui?"

"Minha única filha mulher está se casando", disse sua mãe com um sorriso. "Claro que tive que vir te ver." Ela fez uma pausa, olhando de volta para a bolsa. "E eu queria... poder ficar com vocês, só até eu encontrar um lugar para ficar..."

Fernanda começou a balançar a cabeça imediatamente, recuando novamente, mas Pitel apertou sua cintura e se colocou entre as duas mulheres.

"Por que você não vai esperar na cozinha por um momento, Sra. Villa... é..." Pitel começou, deixando a frase inacabada com um levantar de sobrancelha.

"Sônia", a mãe de Fernanda completou, o seu olhar nunca deixando Fernanda.

"Isso, dona Sônia, espera um momento na cozinha, por favor", disse Pitel calmamente, fazendo um gesto para a entrada da cozinha. Sônia assentiu e desapareceu até a cozinha.

Pitel imediatamente virou-se para encarar Fernanda frente a frente, erguendo as mãos e segurando o rosto dela. Fernanda segurou os cotovelos de Pitel e apertou, segurando-a como um colete salva-vidas em uma tempestade em alto-mar.

"Vá para o seu quarto e ligue para seu pai", Pitel falou lentamente, sua voz baixa e suave, trazendo Fernanda para perto até que suas testas se tocassem. "E só para garantir, pegue o que for preciso do seu quarto e deixe no meu, tá bem?" Fernanda assentiu, fechando os olhos. "Apenas foque nisso. Foque em uma coisa de cada vez."

Amanhã, outro diaWhere stories live. Discover now