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Fernanda tinha dezesseis anos quando conheceu uma garota chamada Alane. Embora, talvez ela fosse menos uma garota e mais um furacão em forma de gente.

Alane era a filha caçula de cinco irmãos de um casal abastado na indústria do cinema nacional. A joia da familia. Ela era linda com seus cabelos longos, corpo curvilíneo e acostumada a ter tudo o que sempre queria, e o que ela queria aos dezesseis anos era fumar, roubar e quebrar regras.

Ela também queria Fernanda.

Então ela e Fernanda começaram a namorar, e Fernanda se juntou ao círculo de amigos dela, e logo estava fumando, roubando e quebrando regras com os piores deles.

Pitel não gostava disso. Ela nunca disse isso a Fernanda, mas Fernanda podia perceber. Ela não gostava dos novos amigos de Fernanda e não gostava do que faziam e, principalmente, ela não gostava nem um pouco de Alane. E isso fez Fernanda se sentir mais culpada do que qualquer castigo ou punição que seu pai pudesse lhe impor.

As coisas pioraram quando Pitel começou a namorar Isabelle. Isabelle era tão diferente de Alane quanto água e óleo juntos. Ela era bonita, bem mais reservada e inteligentíssima; e era uma namorada tão boa para Pitel que Fernanda nem conseguia odiá-la. Então ela descontou todas suas frustrações da mesma maneira que seus novos amigos faziam, tornando-se mais fechada e autodestrutiva do que nunca. E no final, ela e Alane conseguiram partir os corações uma da outra da maneira mais dolorosa possível antes mesmo de chegarem ao seu primeiro aniversário de namoro.

Fernanda fingiu não ligar para aquilo, considerando que agora tinha uma reputação de durona para manter, mas Pitel conseguia enxergar como ela era de verdade. Tanto que Pitel cancelou um encontro com Isabelle para ficar sentada no chão do quarto de Fernanda com ela, bebendo refrigerante e cantando karaokê juntas até altas horas da noite.

Às duas da manhã, enquanto estavam sentadas de costas uma para a outra e Pitel ria performando e cantando com a voz direcionada para Fernanda "essa barra que é gostar de você" do Raça Negra, Fernanda percebeu que nunca havia amado Alane. Antes ela achava que sim, mas não era amor. E ela soube disso porque percebeu naquele momento que estava perdidamente apaixonada por Pitel.

Giovanna Marinho, sua melhor amiga desde os onze anos e a única pessoa no planeta que Fernanda nunca permitiria machucar.

Seus dedos se atrapalharam no microfone improvisado que segurava e Pitel continuou cantando. Quando terminou o verso, ela encostou a cabeça no ombro de Fernanda, felizmente incapaz de ver a expressão no rosto de Fernanda daquele ângulo que estava. Porque sua expressão provavelmente alternava entre o choque e a tristeza.

Choque, porque ela mal tinha dezesseis anos e estava apaixonada por sua melhor amiga. E quanto mais ela pensava nisso, mais percebia que a amava por todos aqueles anos desde que se conheceram.

E tristeza, porque Pitel merecia muito mais do que alguém como ela.

Ela merecia um autor prestigiado ou um atleta olímpico ou uma rainha. Ou pelo menos alguém como Isabelle, alguém tão altruísta e inteligente quanto ela, alguém que fosse tão dedicado à ela.

Quase um ano com Alane e tudo o que Fernanda realmente havia aprendido sobre si mesma era que ela quebrava tudo que era bonito. E Pitel era a coisa mais bonita que ela já tinha visto.

Fernanda não percebeu que estava chorando até sentir Pitel se virar atrás dela, sentir os braços dela se enroscarem em sua cintura e puxá-la para trás, para ficar com suas costas na frente de Pitel. Ela sentiu Pitel dar um beijo em seu ombro e ouviu ela murmurar baixinho.

"Tá tudo bem", ela sussurrou, e por um momento Fernanda pensou que Pitel estivesse lendo sua mente. Pensou que Pitel estava dizendo que estava tudo bem que ela a amava. Mas então ela se lembrou que ela e Alane tinham terminado ontem. Era por isso que ela deveria estar chorando. Era por isso que Pitel estava ali a consolando.

Amanhã, outro diaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora