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N/A: Sigo dizendo: bom d+ ser caprichete com pitanda. A gente diz 'pai tenho fome' e lá vão elas nos alimentar na boca.

Sem mais delongas, boa leitura!

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Foi no início de março que as coisas começaram a dar errado.

Elas haviam saído quase todas as noites da semana, jantando em restaurantes diversos, assistindo filmes, dançando em boates e bebendo em bares. Quase em todos os lugares que iam, alguém as agradecia como aquela primeira garota no restaurante japonês, e algumas pessoas até pediam para tirar fotos com elas, que faziam sem incômodo algum, inclusive, eram elogiadas pela simpatia ao encontrar com fãs.

Mas hoje era o dia de folga das duas de ter de lidar com todo esse circo, então Pitel estava de maiô pegando um pouco de sol na varanda do seu quarto e Fernanda, impressionantemente, conseguiu não fazer nada durante toda a manhã até se sentir culpada por desperdiçar o dia e enfim se levantar para ir checar a caixa de correios.

Ela deu um leve chute na porta do apartamento para fechar assim que voltou, os olhos focados na pilha de correspondências em suas mãos. Ela sorriu com o primeiro item.

"Pitel" ela chamou divertida, o tom de zoação em sua voz "o seu poesia acústica chegou!"

"Não fala assim do álbum do Emicida, Nanda!"

O tom de repreensão da resposta de Pitel foi suavizado pela distância do seu quarto, mas Fernanda riu ainda assim. Ela parou na sala de estar, folheando distraída toda a correspondência até chegar em algo no meio da pilha.

O resto da correspondência caiu com tudo no chão, com contas, revistas e jornais se espalhando pelo tapete.

Ela ouviu Pitel dizer algo, mas era como se o som estivesse viajando através de algodão dentro de seus ouvidos. As palavras não faziam sentido. Parecia que o mundo ao seu redor havia encolhido até caber no cartão-postal que estava nas mãos trêmulas de Fernanda.

Seus olhos percorreram em alta velocidade as palavras que estavam no cartão, mas ela não parecia absorvê-las. Seus sentidos foram inundados pelo pânico, seu coração batia rapidamente em seus ouvidos, sua respiração era rápida e superficial. Ela ouviu a voz de Pitel novamente. Estava longe. Tudo estava longe. Ela estava debaixo d'água e estava escuro e tudo estava girando porque o cartão-postal em seus dedos começava com "Querida Nanda" e terminava com "Com amor, mamãe."

Isso sempre acontecia. Sempre.

"Nanda."

A cabeça de Fernanda se ergueu ao ouvir aquele som, seus olhos estavam arregalados e fixados em Pitel, que estava bem na sua frente. Quando foi que ela saiu do quarto? Quando colocou uma roupa? Há quanto tempo ela estava ali parada?

"Olhe para mim", Pitel disse, sua voz calma e firme. Fernanda assentiu, agarrando-se ao som da voz de Pitel e aos seus olhos emoldurados no rosto por cachos cor de caramelo. Ela fazia sentido. Pitel fazia sentido. Pitel podia fazer sua cabeça parar de girar e seu coração parar de doer. Ela sempre conseguia isso.

As mãos suaves de Pitel estavam em seu rosto, mantendo-a no lugar enquanto ela se aproximava. Fernanda esperou pelo seu aroma reconfortante, mas ele não veio.

"Respire, linda", Pitel sussurrou, os polegares limpando as lágrimas das maçãs do rosto que ela nem se lembrava de ter derramado. "Você tem que respirar pra mim."

Fernanda soltou um suspiro fundo e ofegante. O aroma do corpo quente e reconfortante de Pitel finalmente se fez presente, como flores, tangerina e casa. Por Deus, ela amava aquele cheiro. Ela fechou os olhos.

Amanhã, outro diaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora