LibertĂĄlia: RaĂ­zes Piratas

By TssiaGomes

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đŸ„‡ 1° lugar em ficção cientĂ­fica e geral no concurso Trick or Treat đŸ„‡ 1Âș lugar em fantasia no concurso Peque... More

☠ Personagens ☠
☠ Book Trailer ☠
☠ Prólogo ☠
☠ I - A taverna à beira-mar ☠
☠ II - Conhecendo o perigo ☠
☠ III - Uma sentença precipitada ☠
☠ IV - Sangue na Estrela da Morte ☠
☠ V - Trezentos anos ☠
☠ VI - Perigos e explicaçÔes ☠
☠ VII - Sombras do passado ☠
☠ VIII - O diårio de Kidd ☠
☠ IX - Declaração de guerra ☠
☠ X - À meia-lua ☠
☠ XI - Laço quebrado ☠
☠ XII - O outro lado da luz ☠
☠ XIII - Aliança tortuosa ☠
☠ XIV - Caos e companhia ☠
☠ XV - InterlĂșdio ☠
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte I)
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte II)
☠ XVII - Convite inesperado ☠
☠ XVIII - Despedida ☠
☠ XIX - Resolução ☠
☠ XX - ConferĂȘncia ☠
☠ XXI - Må sorte ☠
☠ XXII - Traição ☠
☠ XXIII - Últimos ajustes ☠
☠ XXIV - O rato e a raposa ☠
☠ XXV - Um novo dia ☠
☠ XXVI - A batalha se inicia ☠
☠ XXVII - Abalo sísmico ☠
☠ XXVIII - Ruína ☠
☠ XXX - Queda livre ☠
☠ XXXI - Vislumbre ☠
☠ XXXII - A profecia se cumpre ☠
☠ XXXIII - Santos ☠
☠ Epílogo ☠
☠ Notas finais ☠
☠ PrĂȘmios ☠

☠ XXIX - A Ășltima esperança ☠

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By TssiaGomes

No Revenge, em meio ao mar de rostos assombrados, empurrando-se na tentativa de encontrarem um espaço seguro para se esconder e caindo uns sobre os outros na medida em que o mar real cuspia suas ondas furiosas contra o casco do navio, um dos tripulantes caminhava entre eles, oculto por uma manta surrada que lhe cobria a cabeça e os ombros. James conseguira subir a bordo sem ser notado, mas o surgimento repentino daquela entidade desconhecida no céu retardara seu plano de se aproximar furtivamente de Skyller para dar um fim definitivo ao duelo precocemente interrompido.

Assim como todos os outros, ele também olhava para aquilo, o espanto espelhado em sua face enquanto Zumé continuava o seu discurso, a voz reverberando com a potência de mil cachalotes:

— Há muito tempo, um de seus ancestrais cometeu um crime terrível: condenou todo um povo à miséria e à extinção ao roubar um tesouro de valor incalculável. Um tesouro que não era apenas um tesouro, mas um presente dos deuses, uma dádiva concedida como reconhecimento de sua devoção e dedicação. Por muito tempo, Sumé, um espírito bom e justo, protegeu esse povo contra toda a maldade humana, alimentado pela magia pura do tesouro de Eldorado. Mas isso acabou quando o pirata Henry Avery levou embora o tesouro, enganando o povo com suas mentiras e sua lábia sedutora. Isso causou um desequilíbrio terrível no plano espiritual e como consequência eu fui criado: a contrapartida impura de Sumé. Eu sou o seu lado maligno e impiedoso, que ganhou forma própria ao ser arrancado de forma arbitrária de seu lar natural.

Ele fez uma pausa dramática, dando tempo para que suas palavras penetrassem nas almas de cada um que lhe ouvia. O vento soprava ruidoso, açoitando os navios que flutuavam sobre as águas revoltas, lutando para permanecerem unidos como um cardume de sardinhas desesperado diante de seu predador.

Ainda na encosta da gruta, com os pés fincados na areia úmida diante da teimosia de Sarah, Nadine observava com tristeza aquela forma distorcida que o espírito de seu pai havia se transformado. Por mais que seu coração doesse contra uma vida inteira de silêncios e abandono, ela recusava-se a pensar que aquela era a sua forma verdadeira.

— Pai... — sussurrou ela em um fio de voz, como se ele a pudesse ouvir contra toda a barulheira infernal. Como se ele se importasse. — Por quê?

Sarah fitou a filha com olhos torturados. A expressão cheia de culpa por ter dado a ela um pai monstruoso como aquele.

Mas Nadine nunca a culpara de nada. Sempre julgou que o envolvimento da mãe com o espírito tinha se dado por vontade e capricho dele. Para mostrar que estava ao seu lado, Nadine estendeu as mãos para ela.

— Venha, vamos subir. Teremos uma chance no mar.

Nadine sentiu o peito se expandir quando Sarah finalmente aceitou a mão estendida, deixando-se puxar. O primeiro passo para o início de uma lenta reconciliação.

Elas sacudiram as pernas a fim de se livrarem da areia, então Henrique e Zaki as puxaram para cima, cada um agarrando um dos braços, ajudando-as a embarcarem. Somente quando Nadine finalmente pisou na segurança do convés, notou que os olhos de Henrique ainda estavam fixos na areia lá embaixo, o rosto franzido em uma expressão preocupada.

Elisa continuava parada no mesmo lugar, a camiseta cheia com a última remessa de moedas do tesouro roubado, alheia ao perigo que corria.

— O que está fazendo? Suba logo a bordo!

No entanto, Elisa não parecia escutar o chamado desesperado de Henrique. Sua atenção estava totalmente voltada para cima, hipnotizada pela forma do espírito de Zumé. Antes que ele pudesse chamá-la de novo, a bocarra serrilhada abriu-se novamente para despejar o fim de seu discurso, a voz metálica cortando o ar como uma navalha afiada:

— Avery pensou ter encontrado um lugar seguro para o tesouro quando encontrou esta ilha, mas o que ele não sabia é que a ilha não era uma formação natural. Ela era uma conjuração da própria magia do tesouro, uma prisão e uma maldição para todos os indignos que tentassem usufruir de suas benesses. Sumé foi obrigado a se exilar nesta ilha comigo e por todos esses anos vimos homem após homem cair em desgraça na vã tentativa de obtê-lo para si. Assistimos enquanto traziam uma magia nova para cá, de uma terra distante e um povo desconhecido, na tentativa de romper as barreiras da ilha, mas tudo o que conseguiram foi adiar o momento inevitável: o momento em que Libertália, como vocês a chamaram, seria destruída por completo. Por muito tempo Sumé tentou me convencer a dar uma chance a vocês. Ele acreditava que poderia existir algo de bom em um coração pirata, que haveria ao menos um que seria incorruptível, mas ele estava errado. A alma de vocês sempre esteve envenenada com a mesma ganância, o mesmo desejo de poder e riqueza que os levou a se matarem uns aos outros, ano após ano. Vocês nunca demonstraram respeito com esse solo sagrado. Nunca hesitaram em destruir a natureza, achando-se donos do mundo a da verdade. Falsos deuses. Então finalmente chegou o dia em que nem mesmo Sumé poderia negar isso, e hoje é esse dia! O dia em que mais uma guerra foi travada. O dia em que mais sangue impuro foi derramado, contaminando o solo sagrado da ilha. O dia em que o tesouro mais uma vez foi roubado. O dia em que não haverá mais clemência. O dia em que a ilha será consumida por inteiro e suas indignas almas serão ceifadas definitivamente, arrancando o mal pela raiz. O equilíbrio será, enfim, restabelecido.

Assim que terminou de dizer isso, sem dar tempo para que recuperassem de seu discurso agourento, a forma escura de Zumé começou a ser tragada por um gigantesco vórtice que parecia misturar céu, mar e terra em uma espiral fantasmagórica, fundindo o negro com os tons azulados e alaranjados. Um caleidoscópio mágico com uma força imensa.

O vento começou a açoitar as embarcações com mais selvageria, projetando ondas raivosas que castigavam os cascos e molhavam seus tripulantes. Marujos corriam pelos conveses apressados, puxando cordas e fechando velas, em uma tentativa inútil de manter os barcos estáveis. Olhando para tudo aquilo embasbacado, Skyller soube que estavam todos perdidos. Jamais teriam chances de vencer a força daquele vórtice assombrado, que mais cedo ou mais tarde os engoliria sem piedade.

Do outro lado da ilha, Elisa permanecia como uma estátua atolada na areia, a água açoitando suas canelas em ondas cada vez maiores. Henrique, que a essa altura desistira de chamá-la a bordo, pediu que Eric e Zaki segurassem suas pernas enquanto ele descia o suficiente para puxá-la casco acima. Nadine e Sarah observavam a operação, aflitas.

— Elisa, olhe pra mim! — ele gritava o máximo que seus pulmões podiam, os olhos ardendo pelo sal marinho que vinha com a ventania tempestuosa. — Segure minha mão!

Ele conseguiu roçar em seu ombro com os dedos e ela olhou para cima, os olhos vazios. Era um milagre ainda estar de pé com a agitação do mar.

— Henrique...?

— Sim, vamos! — disse ele com a voz mais enfática. — Me dê a sua mão!

Então, como em um lento despertar, os olhos dela brilharam em um reconhecimento tardio. Elisa ofegou, olhando para as moedas que ainda carregava, avaliando suas chances de transportar a última remessa do tesouro amaldiçoado. Logo ficou claro que ou ela salvava a si própria ou ao tesouro.

Em um gesto muito custoso e muito doloroso, soltou os dedos da bainha de sua camiseta, deixando o ouro aterrissar sobre as ondas revoltas, irreversivelmente. Então finalmente esticou os braços para Henrique, que suspirou de alívio, prendendo-a em seus antebraços.

No entanto, antes de começar a içá-la, uma silhueta mirrada veio correndo do interior da ilha, gritando para que o esperassem. Elisa olhou sem acreditar no que seus olhos viam: Omar correndo a plenos pulmões, o rosto vermelho e castigado pelo que quer que tivesse enfrentado na mata. Um cipó cercava seus tornozelos, tentando enredá-lo, mas o menino conseguiu livrar-se dele em uma dança perigosa em zigue-zague.

— Elisa, você não pode deixar nada do tesouro para trás! — atirou ele assim que conseguiu alcançá-la, as palavras embolando-se todas. — Não será o suficiente para desfazer a maldição se deixar algo para trás.

Elisa foi tomada por uma mistura de emoções ao vê-lo novamente: alívio, espanto, medo, raiva. Ela decidiu concentrar-se na raiva:

— Fico feliz por ter escolhido esse momento propício para reaparecer. — disse ela, a voz carregada de sarcasmo. Suas mãos fecharam-se contra o colarinho do garoto, como se ele fosse escapar-lhe de alguma forma. — Diga: não conseguiu encontrar um refúgio satisfatório na ilha? Ou resolveu apelar a nossos laços sanguíneos, que você fez questão de desprezar até agora, para eu ajudá-lo a salvar a própria pele?

— Você realmente tem uma visão muito benevolente sobre mim. Mas apesar do meu senso de sobrevivência, isso não muda o fato de que o que acabei de dizer é a mais pura verdade.

Os dedos de Omar puxavam os braços de Elisa, lutando para que ela o soltasse. Mas apesar de toda a sua fúria, ela podia ver nos olhos dele — os olhos de seu querido avô — que ele dizia a verdade.

— Elisa, não podemos esperar mais! — a voz de Henrique lhe veio abafada pelo uivo potente do vento. — Venham para o barco agora!

Ela lançou um olhar horrorizado para o barco, que dançava perigosamente ao sabor do vento, o corpo de Henrique pendurado de forma precária. Então olhou para os próprios pés, onde soltara as moedas momentos antes. O brilho dourado aparecia e sumia conforme as ondas se movimentavam sobre as areias, como conchas escorregadias. Elisa não sabia quantas delas conseguiria resgatar, ou mesmo se seu esforço faria alguma diferença. Olhou novamente de Omar para Henrique, vacilando em sua decisão. Então uma nova voz fez-se ouvir em meio a tempestade:

— Elisa, suba logo a bordo! Você morrerá se ficar!

O pânico na voz de Haya fez seu coração acelerar. O redemoinho criado por Zumé havia aproximado as embarcações, como um rebanho preparando-se para o abate, de forma que o galeão de Skyller agora praticamente emparelhava-se com a pequena escuna, dando aos tripulantes uma boa visão do que ocorria na praia.

Elisa teve apenas um segundo para agarrar-se a Henrique, puxando Omar junto de si com a mão livre, antes que a ilha partisse ao meio. Com a tempestade, o terremoto havia alcançado seu ápice. O abismo recém-aberto tragava tudo para o interior de suas entranhas, como uma besta gigantesca e faminta: terra, vegetação, animais, ruínas de construções.

O barco começou a afastar-se tão logo os dois foram içados para cima. Após uma manobra arriscada de braços sendo puxados e impulsos conseguidos da força bruta de pés contra o fluxo de água que lhes açoitava como uma chibata selvagem, finalmente caíram sobre as tábuas rígidas do convés, encharcados e tiritando de frio. Elisa rolou para a beira da amurada, lançando um último olhar para a mesma costa em que momentos antes havia despejado seu último fiapo de esperança. Não havia sinal de uma moeda sequer, apenas a areia movendo-se em direção ao abismo sem fim, em uma atração magnética irresistível. Sulcos iam se formando no solo à medida em que a vida era sugada da ilha, serpenteando o precipício como veios condutores envenenados.

Elisa sentiu o gosto de sal na boca, e nesse momento não sabia dizer se era do mar ou das lágrimas que agora derramava. Algo suave tocou em seu ombro e ela percebeu que uma mão pousava ali antes de se dar conta de quem se tratava.

— Elisa...

Ela mal podia suportar olhar para o rosto aflito de Henrique. A imagem do irmão estava pregada em sua mente, deitado em um leito incógnito, morrendo por culpa sua.

— Eu falhei...


☠☠☠


Enquanto isso, no Revenge, Haya ainda estava debruçada sobre a amurada do navio, de onde assistira com apreensão toda a operação de resgate de Elisa e Omar. Em algum momento, Skyller aproximara-se pelo lado esquerdo, ainda muito abalado para dizer algo. Haya ensaiava um pedido de desculpas, quando a lâmina de uma espada cortou o ar entre eles. Chocada, ela virou-se para a figura que os ameaçava: James, com o rosto totalmente transtornado, a manta caída sobre os ombros e os cabelos loiros desgrenhados balançando contra o vento.

— Nosso duelo não terminou — ele dirigia-se a Skyller, que em um impulso protetor, empurrou Oliver para Thomas. Não cometeria o mesmo erro com o filho.

— Deve estar muito fora de si para querer me desafiar em meio ao apocalipse — disse ele entre dentes, sacando a espada que por um milagre permanecia em sua bainha.

— Está com medo? — zombou ele em um riso de escárnio.

Skyller trincou o maxilar, remoendo a raiva dentro dele. Olhou bem para aqueles olhos desprezíveis, para o sorriso irritante de zombaria. Iria arrancar aquela expressão com as próprias mãos.

— De você? Nunca!

— Skyller, eu posso...

Haya começou a dizer, mas Skyller a cortou com um gesto ríspido:

— Não ouse! Não quero que ninguém interfira na luta. Ele é meu!

Skyller avançou e suas espadas se cruzaram no exato momento em que mais um trovão explodia no céu. Mesmo com o mundo inteiro desabando ao seu redor, Skyller ainda teria a sua vingança.

Ahoy marujos, como estão?

O que acharam do capítulo de hoje?

Estamos muito próximos do fim agora, pelas minhas contas termino de postar na primeira semana de janeiro. Espero que gostem de tudo que preparei para vocês.

Obrigada por lerem até aqui e não se esqueçam de votar e comentar na história!!

Bons ventos e até semana que vem ;)

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