Quando chegaram a Devon,Agata simplesmente agradeceu a Magnus e foi para casa; não dirigiu uma palavra a Kit,sequer olhou para ele. Ótimo,algo a mais para pesar em seu lado de dor da balança. Ele se sentia arrasado,falhara com Ty e falhara com Agata; com seus amigos e se continuasse próximo de Jem e Tessa,suspeitava que também os decepcionaria. Será que nunca iria acertar?
Ele jogou a mochila no sofá e se virou para agradecer Magnus,Jem e Tessa já desciam as escadas para recebê-los; ambos pararam ao lado dele com expectativa e vê-los apenas piorou seu estado,eles eram todo o significado de amor e cuidado, símbolo de acolhimento e aquilo era tudo o que ele precisava agora,tomar consciência disso foi doloroso. Kit não tinha mais pais a quem pudesse recorrer em momentos como aquele,a morte de sua mãe era um eterno lembrete de que sua linhagem sempre seria perseguida até que se extinguisse da terra.
Tessa e Jem abriram os braços para ele quando ele mais precisou,quando perdera seu pai e corria perigo se prosseguisse sozinho; eles lhe deram um teto e muito amor e compreensão,lhe deram tempo para se curar e ajudaram a cicatrizar as feridas em seu coração. Kit seria eternamente grato por isso e ele não podia permitir que eles continuassem carregando seu fardo, não; isso tinha que acabar. Jem contara a ele sua história e Kit achava que ele merecia tudo que havia conquistado agora,ele merecia aquela família com Tessa e Kit jamais se perdoaria se alguma coisa ligada a ele desfizesse isso.
-Você está bem? -Perguntou Jem,uma mão firme no pescoço dele.
Kit percebeu que ele já havia perguntado aquilo,mas ele se distraíra com os próprios pensamentos.
-Estou bem. -Respondeu,procurando soar o mais convincente possível.
Ele olhou para Tessa e tentou um sorriso e ela o devolveu com um misto de alívio e preocupação; mas aqueles olhos cinza,ele sabia, ninguém enganaria.
-Onde está Mina? -Kit perguntou.
-Como toda criança que gasta muita energia,ela se cansou e dormiu. -Jem deu de ombros com um sorriso.
-Bem,preciso levar isso para o meu quarto e...talvez um banho e descanso caíriam bem. -Kit falou.
Ele pegou a mochila do sofá e se retirou, não ousou olhar para qualquer um dos três presentes ali, principalmente para Tessa.
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Ty já deveria estar na cama, descansando para no dia seguinte preparar as coisas e partir de volta para a Scholomance,mas Dru o encontrou na cozinha com um copo d'água na mão; seus olhos vidrados e expressão pensativa.
-Você deveria ter acendido a luz. -Disse Dru ao se aproximar do irmão.
Apenas ao ouví-la e vê-la, Ty saiu do transe em que parecia ter entrado.
-Eu não pretendia ficar muito tempo -Respondeu ele -Vim apenas porque senti sede.
Ao acender a luz ela viu que ele parecia mais cansado do que ela poderia ter imaginado, não era fácil o trabalho de um centurião,eles forçavam a mente diariamente; mas não era apenas aquele cansaço que ela via no rosto de Ty,algo o estava chateando.
-Livvy está aqui agora? -Dru perguntou.
Ele olhou para ela e bebeu o último gole de água,pousou o copo na pia.
-Não. Nem sempre sei onde ela está -Ty falou -Mas consigo sentí-la pelo vínculo necromântico,ela está bem e está por perto.
-E com você, está tudo bem? -Indagou Dru.
Ty baixou os olhos e apoiou as mãos na pia atrás dele.
-Não teremos tempo para pesquisar uma forma para que eu possa ver Livvy... você vai partir com os centuriões e Kit...
-Kit já partiu para Cirenworth. -Contou Ty.
Ah.
-Ele não me avisou que partiria...
-Ele não avisou ninguém. -Ty levantou os olhos para ela,estavam magoados.
O coração de Dru se apertou,ela chegou mais perto do irmão.
-Ele não avisou você também...-Concluiu -Vocês tiveram alguma discussão?
-Não. -Respondeu Ty.
-Outra vez ele foi embora sem dar satisfações, talvez Kit não seja alguém que devamos querer como amigo. -Falou Dru,reflexiva.
-Foi diferente dessa vez, há outras coisas em jogo. Não o julgo. -Disse Ty.
Aquilo surpreendeu Dru.
-Não está zangado com ele?
Ty respirou fundo.
-Talvez apenas um pouco chateado. -Ele se afastou da pia. -Boa noite, Dru.
Ao entrar novamente em seu quarto, Ty encontrou Livvy flutuando de costas próximo á janela,ela se virou quando o ouviu chegar.
-Teve outro pesadelo? -Indagou.
-Sede.-Ty respondeu,subindo em sua cama.
Livvy cruzou os braços.
-Você não está bem, Ty. -Ela disse,com expressão pesarosa. -E o pior é que sempre se fecha e não me permite ajudá-lo.
Ty puxou a coberta contra o corpo.
-Não há forma de me ajudar, Livvy.
Ela se encolheu e Ty suspirou.
-Não,eu não quis dizer isso,apenas... ninguém pode me ajudar a não ser eu mesmo e no momento não consigo pensar direito. Eu quis ajudar Kit,mas ele não... não me permite.
Livvy se aproximou.
-Vá atrás dele. -Disse ela,de repente.
-O quê?
-Vai perdê-lo de novo? Outra vez por uma bobagem?
Ty desviou os olhos irritado e se recostou nos travesseiros.
-Não é uma bobagem,Liv,nosso último afastamento também não foi e você sabe bem.
-Duas pessoas podem mais que uma. -Continuou Livvy -Já está na hora de vocês dois abrirem espaço para a maturidade entrar e resolverem as coisas com clareza, não podem continuar desta maneira.
Ty ficou em silêncio e após um minuto Livvy continuou com voz branda:
-Você sabe que pode contar comigo -Disse ela -Sei que não como antes,mas estou aqui Ty. Ainda posso te ouvir e aconselhar quando precisar, você pode se abrir comigo.
O rosto irritado de Ty suavizou,dando lugar á tristeza; ele olhou para ela.
-Kit disse que me ama. -Soltou muito rapidamente, talvez com receio de que se esperasse mais pudesse não ter coragem para falar.
Quando ele não ouviu a voz de Livvy,ergueu os olhos acinzentados para ela; mas o rosto dela estava neutro.
-Não da maneira como...
-Eu entendi, Ty, não há necessidade de me explicar. -Interrompeu Livvy -Eu já sabia.
Ty ficou surpreso.
-Sabia?
Ela suspirou e cruzou os braços novamente.
-Homens são tão atrasados em certos assuntos...-Resmungou para si mesma,revirando os olhos -É claro que sabia, entretanto não quis me intrometer antes da hora,pensei que vocês não fossem fazer isso perdurar tanto. Kit me contou o que disse a você antes de ir embora, não que eu não soubesse antes.
Ty baixou os olhos e seus ombros caíram.
-Não é tão simples -Disse ele -Tudo isso ainda é muito novo,eu não sei como reagir.
-É recíproco? -Livvy quis saber.
-Estou confuso, Liv, muito confuso. -Respondeu Ty.
Livvy pousou a mão sobre o ombro do irmão, não podia tocá-lo como outrora,mas o calor de seu conforto sempre era sentido e bem recebido por ele.
-Está tudo bem, Ty. -Ela tranquilizou -Não há algo errado como aparenta.
As vezes Ty ainda se surpreendia com a maneira como Livvy sempre fora mais madura que a idade dizia,sempre conseguira resolver as coisas com a mesma paciência de Julian.
-Apenas pare de negar o que sente e vá atrás dele. -Concluiu Livvy.
Ty olhou alarmado para a irmã.
-Ir atrás dele? Ir para Devon?
Ela deslizou no ar até estar diante dele.
-Kit vai precisar de ajuda,ele acha que consegue resolver as coisas sozinho,mas não conseguirá. -Falou Livvy -Ele vai afastar todos, até mesmo Jem e Tessa para seguir sozinho com essa história de sua linhagem e vai caminhar para o abismo da morte. E isso é tudo o que não queremos, não é?
Ty havia se encolhido,ele engoliu seco.
-É a sua vez agora, Ty -Insistiu Livvy -Ele vai ouvir apenas você.
Ty balançou a cabeça.
-Ele não vai me ouvir. -Ele jogou o cobertor de lado e se levantou,caminhando até a janela -Se quisesse fazer as coisas como eu disse,ele não teria ido embora sem me avisar.
-Kit fez isso porque acredita que vai proteger você,ele acha que se souberem que vocês dois têm qualquer tipo de vínculo podem usar você para atingí-lo; assim como a família de Jem.
Não devemos continuar tão próximos,ou nunca vou ficar bem. Não posso mais sufocar que...que eu te amo. Dissera Kit pouco antes de partir. Se Ty fosse atrás dele complicaria sua vida,o atrapalharia; mas a últimas palavras de Kit pesavam em seu coração e o fazia palpitar: Eu te amo.
Ty não podia deixá-lo diante de todo aquela caos sozinho,ele vira o descontrole de Kit na praia, e se isso ocorresse novamente? E se as fadas que perseguiam sua família já o tivessem rastreado? Ty não conseguia pensar no que fariam com Kit e no que ele seria capaz de fazer se alguém ousasse ferí-lo,se o tirassem do mundo. Raiva cresceu dentro dele ao mesmo tempo que um sentimento de cuidado. Eu te amo,as palavras queimavam em seu coração e uma certeza se assentava ali; Ty levantou os olhos para o céu estrelado.
-Ty? -Chamou Livvy atrás dele.
-Nós vamos para Devon amanhã.
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-Ele não está bem, não é?
Perguntou Tessa a Magnus meia hora depois de Kit ter se retirado para o próprio quarto; Eles haviam ficado conversando no sofá da sala de visitas.
-Bem, não houve tempo para que ele se abrisse. -Respondeu Magnus,dando de ombros.
-Não é a primeira vez que ele retorna de Los Angeles cabisbaixo,mas desta vez me pareceu pior. -Comentou Jem.
-Vou falar com ele. -Tessa se levantou.
-Acho que não...-Começou Jem.
-Eu devo. -Insistiu Tessa.
Ela agradeceu a Magnus e deixou a sala. Sentia-se na obrigação de conversar com Kit e fazê-lo desabafar com ela,se sentir melhor. Ela vira a devastão bastante nítida no rosto dele,ainda que ele tivesse tentado ocultá-la. Não se tratava apenas de cuidar dele por Will ou por Rosemary,mas porque ela havia criado um vínculo forte com Kit durante o tempo que ele passara ali,ela o tinha como filho. Kit era tão seu filho quanto Mina era ou como James e Lucie haviam sido em uma época muito distante; sempre seriam.
Ela bateu na porta e ouviu a voz dele autorizando sua entrada,não se surpreendeu ao ver Mina com os bracinhos esticados sobre a cama dele em uma tentativa de subir. Ele estava próximo á escrivaninha e ao se virar e ver a dificuldade da menina que já começava a resmungar,foi até ela e a ergueu; colocando-a sobre a cama. Mina agitou satisfeita as perninhas.
-Não faz tanto tempo que ela acordou e veio direto para cá. -Disse Kit com um sorriso.
-Vim ver se precisa de alguma coisa. -Falou Tessa,retribuindo o sorriso.
Kit olhou brevemente para ela antes de pegar uma peça de roupa sobre a cama e levá-la até a cômoda do outro lado.
-Estou bem, obrigado. -Respondeu apenas.
Kit estava relutando em se abrir, Tessa percebeu.
-Bem... então,se precisar conversar ou seja o que for,basta me chamar. -Disse ela e se virou de volta para a porta.
Ela ouviu o respirar fundo e trêmulo de Kit,antes dele dizer:
-Tudo está fora do lugar,parece que o caos se instalou de novo em minha vida.
Após um momento digerindo o que ele havia acabado de dizer, Tessa se virou devagar e o fitou.
-O que houve em Los Angeles? -Ela perguntou.
Kit abriu a boca para falar,mas ao ver Mina colocar as pernas curtas para fora da cama e tentar descer de bruços,ele deu dois passos largos até a garotinha e a colocou no chão; ela correu para fora do quarto.
Kit se sentou na cama,parecia muito cansado.
-As coisas vão ficar bem para os Blackthorn agora...mas acho que apenas pioraram para mim.
Tessa se sentou ao lado dele e esperou.
-Agata e eu terminamos.
-Vocês chegaram a um acordo ou se desentenderam? -Indagou Tessa, cautelosamente.
-Terminamos por duas razões -Disse Kit -A primeira é que não quero que ela fique comigo quando ainda há risco de meus perseguidores,os perseguidores de minha mãe me encontrarem. Não quero que eles tenham conhecimento das pessoas que importam para mim -Ele olhou nos olhos de Tessa -Você sabe o porquê. E a segunda razão...
-A segunda razão...-Instigou Tessa com a sobrancelha erguida.
Kit suspirou e baixou o olhar.
-Não posso continuar com Agata quando existe outra pessoa em meu coração. -Disse ele.
Tessa colocou a mão sobre a dele e aguardou que ele continuasse.
-Da última vez...da última vez que estive em Los Angeles eu...-Ele engoliu seco.
-Você amou alguém e essa pessoa partiu seu coração. -Completou Tessa.
Kit olhou para ela surpreso.
-Jem e eu imaginamos. -Disse ela.
-Não é....-Ele se sentou de frente para Tessa -Eu preciso dividir com alguém e confio em você,sei que não irá me julgar.
Tessa sorriu solidariamente e apertou a mão dele,seus dedos muitos finos quase sumiam na mão de Kit; ele se tornara um homem e aquilo assustava algumas vezes,ele envelheceria assim como Jamie e Lucie e logo...
-A pessoa pela qual me apaixonei não é uma moça. -Soltou Kit.
Ela abriu a boca para dizer algo,mas ele foi ágil:
-Não foi uma escolha,eu apenas...gostei dele desde o momento em que o vi. Não precisou trocarmos palavras, é claro que isso fortaleceu o sentimento com o passar do tempo -Kit falou -Não pode ser um erro amar.
Tessa pousou a mão no ombro de Kit.
-Não temos controle sobre o coração, Kit -Disse ela, suavemente -O amor não escolhe,ele apenas habita.
Kit desviou os olhos,estava extremamente magoado,observou Tessa; ainda mais que o último retorno do Instituto de Los Angeles.
-Não podemos ficar juntos e eu não sei se o que ele sente é recíproco -Kit falou -Acredito que nunca saberei,pois não vamos voltar a ter contato.
-Isso é uma pena, gostaria de conhecê-la-Ela limpou a garganta- Conhecê-lo.
-Acabei magoando Agata -Prosseguiu Kit.
-Há muitas coisas que você só vai entender sobre o amor com o tempo. -Disse Tessa. -Conheci muitas histórias Kit,de pessoas que se entregaram a alguém amando outra pessoa e sofreram até compreenderem que nunca estariam completos se continuassem negando seus sentimentos.
Ele olhou para ela.
-Mas existem casos onde as pessoas já compreenderam isso e continuam sofrendo porque a circunstâncias não as permitem ficarem juntas. -falou Kit.
Tessa o estudou,sopesando suas palavras e se lembrando da época em que ela e Jem estavam noivos e de repente tudo fora por água abaixo e ele fora levado dela; a doença o fizera seguir por um caminho escuro e frio. Foram anos de tortura,anos de uma espera que ela não tinha certeza se seria recompensada. Não desejava que Kit sofresse como ela e Jem sofreram,mas ela entendia o amor Herondale e sabia que quando eles amavam alguém,seria apenas aquela pessoa; poderiam vir outras e ocupar seus corações,mas aquela pessoa sempre estaria ali enraizada até que eles fechassem os olhos pela última vez.
Sem conseguir dizer algo,ela o puxou de encontro a seu peito e o abraçou,acariciou as ondas douradas de seu cabelo.
-Você sempre poderá contar comigo. -Tessa sussurrou.
Ela sentiu Kit respirar tremulamente. Ela não citou Jem,ele não viveria mais para sempre e era doloroso pensar nisso; mas ele não ficaria quando Kit fosse mais velho,ele iria primeiro se a vida seguisse sua ordem e ela seria quem o acolheria todas as vezes que ele precisasse.
Kit se afastou.
-Eu tomei uma decisão. -Disse ele. -Depois do treinamento com Magnus,vou embora daqui. Será necessário, vocês devem ficar o quão longe puderem de mim até que tudo esteja seguro.
Foi como uma facada no peito de Tessa.
-Jem e eu prometemos ajudá-lo e vamos.
Kit se levantou.
-Se isso é por Will,a dívida já está paga. -Disse Kit -Vocês me acolheram e cuidaram de mim quando eu não podia me virar sozinho,mas agora posso. Ele está em paz.
Tessa ficou de pé e alisou o vestido.
-Não, não está. Você não ficará seguro se tentar resolver seus problemas sozinho.
-Você não é minha mãe para me dizer o que acha que seria melhor para mim! -Soltou Kit.
Ele viu os olhos de Tessa dilatarem levemente e percebeu com dor que a havia magoado,era tarde,as palavras já haviam saído e ele nunca poderia sugá-las de volta. Ela engoliu seco e entrelaçou as mãos diante do corpo.
-Jamais quis ocupar o lugar de sua mãe -Disse ela, muito baixo. -Apenas tentei ser uma boa amiga para você,eu o tenho como filho,mas entendo que não me veja como uma figura materna. Jamais ousaria pedir-lhe isso, só tentei ajudá-lo.
Kit desmoronou,ele se sentiu um lixo,queria desaparecer. Jamais quisera magoar Tessa ou Jem,eles foram gentis com ele e lhe deram amor quando ele acabara de sair de uma estrada repleta de espinhos que machucara sua alma; Kit devia muito aos Carstairs.
-Eu não quis...
Mas Tessa já estava abrindo a porta,ela saiu sem dizer mais alguma palavra e ele xingou a si mesmo,sentindo-se a pior pessoa do mundo. Foi até a janela e se debruçou no parapeito,os olhos azuis procuraram o céu.
-Nunca vou esquecê-lo, Ty -Sussurrou -Mas jamais poderemos ficar juntos,eu só destruíria sua vida como faço com as pessoas que amo. Eu atrasei a vida de meu pai,minha mãe morreu tentando me proteger e agora não posso trazer desgraça para os Carstairs ou para qualquer outra pessoa que eu ame, não posso.
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-Seu pedido de encontro com sua mãe,a rainha foi negado -Anunciou Janus -Mas ela enviará um servo para falar com você.
Ash cerrou os dentes. Fora necessário enviar uma mensagem a sua mãe antes de partirem para o reino Seelie,eram as regras de segurança que ela impusera para ele.
—Não quero falar com servo algum! —Esbravejou e chutou a poltrona solitária ao seu lado. —É com minha mãe,"a rainha",com quem preciso falar! Um servo não resolverá meus problemas,problemas esses que foi ela quem me colocou.
Janus apenas se sentou encarando-o,ele ainda estava sob feitiço e Ash se ressentia disso todas as vezes que se lembrava,mas ainda não podia libertá-lo dele. Ele andou de um lado ao outro, pensando.
A rainha Seelie costumava fazer as coisas quando e como queria,ela manipulava e brincava com a mente das pessoas; era uma exímia jogadora. Ash estava cansado daquilo,sua mãe passara a achar que sua corte não era mais segura para ele e o mandara para os penhascos; mas Ash não queria viver se escondendo, não queria mais fazer parte do grande tabuleiro de jogo da rainha,onde ela movia as peças como achava melhor. Era assim que ele e sentia: uma marionete. Havia um mundo lá fora esperando por ele e Janus e ele desejava explorá-lo,devia haver alguma forma de sua mãe ajudá-los a fazer isso,a parecerem pessoas normais ao invés de viverem como homens das cavernas.
Mas ela recebera sua mensagem e negara seu pedido,avisando que mandaria um de seus servos e talvez até mesmo amante para falar com ele; aquilo o enfureceu. Ele se aproximou de Janus.
—Me desculpe por isso.
Com o toque de seus dois dedos na testa, Janus adormeceu e Ash seguiu para fora para libertar suas asas negras e desaparecer no céu.