▕ B l a i r▕
Catherine havia ficado sozinha na sala de aula com Zayn e estaria a mentir se encobrisse a inquietação e curiosidade que estou a sentir neste exato momento. Samantha ia falando comigo mas eram poucas as palavras que saiam por entre os meus lábios. Não fazia nada para além de assentir, negar e fingir que a ouvia.
Enquanto a minha companheira de quarto, não tão divertida como é usual, me encaminhava até o sítio que tinha em mente, a pouca felicidade que adquirira nos dias que estivera fora parecia estar a ser arrancada de forma bruta, demasiado violenta. Não fora ninguém além de mim que fizera com que eu me colocasse nesta posição. Eu própria havia arruinado a minha vida quando me apaixonara por Zayn e após o meu contacto com ele acabei por concluir ser masoquista, apreciar o sofrimento.
Ou então sou simplesmente uma rapariga lunática, habitante do planeta Terra, por estar nesta situação tão complicada, completamente enclausurada pelos meus próprios erros.
Questiono-me onde está a Blair que considerava o homem atraente e de cabelos negros um verdadeiro monstro?
Quando o meu olhar se levanta, reconhece o espaço como o pequeno e acolhedor jardim que ficava perto dos dormitórios. Não prestara grande atenção ao caminho, devido a ter mantido o meu olhar no pavimento negro e cimentado. Apenas me limitara a seguir Samantha que, segundo pude concluir, queria conversar comigo num sítio mais calmo, onde nos pudéssemos sentir mais à vontade.
O jardim estava quase vazio, apenas tendo um pequeno grupo de universitários que estudava em conjunto. Observo a rapariga de cabelos loiros e imito a sua ação, sento-me, por isso, a seu lado. Os bancos e as mesas de pedra estavam um pouco humedecidos, provavelmente devido à chuva que caíra na noite passada. Não há nada que eu odeie mais neste país do que a baixa temperatura da qual sou obrigada a suportar.
"Ele convidou-me para sair esta noite, depois do jantar. Dá mesmo para acreditar? Ele é um amor de rapaz tal como tu me descreveste. Custa-me admiti-lo, Twinkle Twinkle, mas tu tinhas razão."
Sorrio ligeiramente ao ouvir a forma como Samantha descrevia os sentimentos de euforia que estava a sentir. Segundo consegui perceber, Louis convidara a minha colega de quarto para sair e é caso para exclamar um 'já não era sem tempo!'. Desde o meu aniversário que percebi que eles se deram muito bem e, já estava a começar a estranhar esta desconhecida faceta tímida de Louis. Contudo não tinha grandes motivos para celebrar, não conseguindo demonstrar muito bem a minha felicidade pela sua situação.
"Desculpa, eu estou a ser muito insensível. Tu estás assim por causa de um rapaz e eu estou aqui a falar de mim mesma. Oh, Blair, a sério, desculpa-me."
O nervosismo de Samantha fizera-me compreender que ela não estava a fazer de prepósito ao falar de Louis. Acho normal, Samantha estar a desabafar sobre este tipo de assuntos visto que ela se trata de uma rapariga pouco experiente relativamente a estes campos.
Encolho os ombros perante os seus perdões, na tentativa de afirmar que não havia problema em ela falar comigo. Eu compreendo que ela tenha muito para me dizer pois estive fora quase uma semana inteira. Muitas coisas se devem ter passado durante a minha ausência ainda que prefira ficar na ignorância do que saber a maior parte delas.
Deliberei para mim mesma finalmente contar-lhe a verdade, caso ela me perguntasse alguma coisa sobre o sucedido da semana passada. Sei que os meus muros ainda não estão completamente estáveis logo sinto necessitar de uma ajuda suplementar para além da da minha doce meia-irmã.
Talvez sim. Talvez finalmente lhe conte toda a verdade.
"Não tem mal, Samantha. Podes continuar pois eu fico mesmo feliz em te ouvir." Eu digo-lhe não querendo, de modo algum, que ela perdesse toda a animação pelo seu encontro.
"Para! Esta não é a Blair que eu conheço!"
Samantha exclama, virando o seu tronco de modo a ficar de frente para mim. Mordo o meu lábio inferior perante a sua observação e fico de ouvidos atentos ao que ela continua a dizer.
"A antiga Blair estaria aqui, animadíssima, pela minha saída e iria gozar comigo por eu não ter coragem de lhe chamar de encontro. A antiga Blair iria-me aconselhar e, talvez, humilhar-me como eu fizera com ela nos seus anos. Provavelmente, iria-me dar um preservativo e rir-se na minha cara."
"Desculpa mas não estou mesmo com disposição para isso. Acredita quando eu digo que estou feliz mas não está a ser fácil lidar com isto tudo.
"Eu acredito que estejas feliz por mim, além disso porque somos amigas, mas, a sério, eu estou insegura agora pois tenho medo que, caso esta amizade que tenho com Louis evolua, eu acabe no mesmo estado que tu."
"Isso não vai acontecer! Tu nunca irás passar por uma situação tão má como a minha, Sam!" Eu exclamo ao mesmo tempo que raspo as minhas grandes unhas nas minhas calças de ganga, como forma de distração. O meu olhar está colocado nas mesmas pois só assim iria ter coragem suficiente de prosseguir com o que estava a dizer. "O Louis é muito bom rapaz, acredita. Não há nada que tenhas que temer."
"Eu quero saber o que te aconteceu, Blair. Eu quero saber o que é que esse rapaz te fez para te deixar nesse estado." Ela declara decidida, agarrando nas minhas mãos e impedindo-me de continuar com a minha pequena forma alternativa de distração.
"Não há muito a dizer, Samantha."
"Blair, tu faltaste à universidade durante uma semana e, ainda por cima, em épocas de frequências e de exames."
"Eu sei..."
"O que é que esse rapaz te fez? Sabes que podes confiar em mim..."
"Ele não é um rapaz."
"É uma rapariga?"
"Não, Samantha. Ele é um homem."
Engulo em seco, sentindo o meu batimento cardíaco aumentar com a simples revelação. Samantha separa, lentamente, o contacto que mantinha comigo mostrando-se um pouco reticente com a minha chocante constatação.
"Como é tu que mantinhas uma relação com um homem aqui, na universidade?" Samantha questiona, sem se conseguir expressar muito bem. O meu rosto, provavelmente rosado, estava baixo impedindo-me, com isso, de saber qual a sua reação. Pela sua voz parecia estar incrédula, perplexa.
"Eu conseguia porque ele também está aqui na universidade."
"Blair, isso é tecnicamente impossível. Quero dizer, eu conheço os todos os teus amigos e o mais velho que tens é aquele do quarto ano, o Evan, ou lá qual é o seu nome."
"Não, Samantha, não estás a entender. Ele não é um jovem mais velho... Ele é um adulto." Eu murmuro, finalmente olhando o seu rosto. A jovem loira tentava fazer cálculos de cabeça e parecia estar a esforçar-se ao máximo para conseguir juntar as peças que eu lhe ia dando deste difícil puzzle. Contudo, e eu estou bem ciente disso, eu não estava a querer abrir muito o jogo devido ao meu grande receio.
Samantha processe com o seu raciocínio.
"Blair, os únicos adultos que aqui existem são os professores e, tirando o Mr. Malik, são todos eles velhos." Samantha, que ia a acrescentar algo mais, cala-se na tentativa de compreender o que ela própria havia dito. Sim, ela havia chegado lá. "Não. Não. Não. Não. Blair, tu não fizeste isso!"
"Sim, eu fiz." Afirmo com uma certa vergonha dos meus atos.
"Era com ele que estavas nas noites em que não ias para o nosso dormitório? Blair, tu dormiste com o nosso professor?"
"Sim, eu dormi com o Zayn."
Samantha está completamente boquiaberta, fazendo-me arrepender de lhe estar a contar isto agora. Elaine reagira de forma diferente mas isso também pode estar relacionado com o facto de ela ter acompanhado a história de outra forma e em outras circunstâncias. Contudo, iria ser difícil uma aceitação positiva provinda de Samantha pois, para não falar do choque em que ela se encontra neste preciso momento, eu ainda não chegara à pior parte da história.
"Há quanto tempo é que vocês estão juntos?"
"Estávamos." Eu corrijo-a cheia de mágoa e amargura. "Há cerca de três meses, ou seja, desde o início do ano."
"Pois... Desculpa."
Samantha endireita a sua postura e, após olhar para a frente, abana a cabeça tentando acordar para a realidade e tentando aceitar os factos que eu lhe dera.
"A tua mãe sabe?"
"Claro que sabe. Ela está ansiosa para ter netos. A sério, ela mal cabe de contente."
Eu comento cheia de humor devido à irracionalidade da sua pergunta. Felizmente, ou infelizmente, o sarcasmo é uma vertente minha que raramente perco. Se a minha mãe soubesse que eu tive relações sexuais com o docente que ela contratara este ano não sei quem é que ela decapitava primeiro, se eu, se Zayn.
"Ok, agora que já conseguiste ser honesta comigo queres contar-me o que se passou?"
"Sim, eu vou tentar."
"Okay." Samantha afirma com um assentir de cabeça.
"O Zayn tem alguns problemas, dos quais eu não posso revelar pois não me dizem respeito. Bem, para além do seu pequeno grande problema nós tivemos momentos agradáveis, momentos mélicos e carinhosos. Eu sentia-me bem ao lado dele, entendes?"
"Sim..."
"Bem, nós vivíamos algo muito intenso e devido às inúmeras horas que passávamos juntos acabámos por admitir os nossos sentimentos muito cedo. Ainda que antes e após essa revelação tenhamos tido uma ou outra discussão nunca chegara a ser nada de mais."
"Vocês estavam bem?"
"Sim, nós estávamos muito bem. Muito bem mesmo."
"Então o que acontecera para ele te deixar nesse estado? Ele agredira-te ou algo do género?" Olho-a um pouco chocada mas compreendo a sua posição. Se eu estivesse a ouvir uma história como esta, provavelmente, também estaria a supor coisas. "Desculpa mas é que agora só consigo pensar em situações terríveis."
"E foi uma situação terrível, Sam." Eu comento com o meu puxo fechado, obrigando-me a mim mesma a conter as lágrimas. "O facto de eu não ser a única fora algo muito terrível."
"Espera... Estás a dizer que o Mr. Malik tem relações com mais alunas da universidade?"
"Tem e estou quase certa de que a tua amiga 'pãozinho sem sal' também teve relações com ele."
"Quem?"
"A Catherine."
"Não, Blair. Isso não é possível. A Catherine é uma rapariga impecável e inocente. Ela nunca se iria envolver com um professor."
"Ela foi falar com o Zayn ainda há pouco."
"A Catherine é uma rapariga estudiosa, por isso, só lhe deve ter ido pedir ajuda. Ela é muito inteligente e uma excelente aluna logo não deve ter sido nada." Samantha comenta. "A sério, eu metia a minhas mãos no fogo por ela"
Dou de ombros, e escondo o meu rosto com a palma das minhas mãos. Existe tanta coisa a passar-se na minha cabeça neste preciso momento que acho que a única solução possível é entrar na máquina do tempo e regressar à minha boa e feliz época de infância, Nessa altura tudo me parecia ser fácil e divertindo não tendo, por isso, que enfrentar nenhuns problemas.
Samantha sugere darmos uma volta pois, pelos olhares semicerrados e cheios de irritação, a nossa conversa estava a incomodar os universitários bem vestidos e sem aparente vida pessoal. Reviro os olhos quando a minha colega de quarto se desculpa, coisa que não parava de fazer hoje, e tomo a iniciativa de sair do jardim.
Enquanto caminhávamos em direção à entrada da universidade pedira a Samantha para guardar segredo pois ela era a única pessoa que sabia de toda esta situação aqui, na universidade. Ela jurara-me que não iria dizer nada e eu, devido à confiança que tenho vindo a depositar na rapariga, acreditara, obviamente.
Algo chocara o meu olhar e derrubara o meu coração assim que nos aproximávamos no extenso pátio em frente à instituição. A figura do homem de cabelo negro e da rapariga de longos cabelos acastanhados fizera o ciúme dominar todo o meu corpo, como se eu me tratasse de um simples fantoche. Os dois sorriam um para o outro e fora-me impossível ignorar aquele cenário tão enjoativo e repugnante. Após chamar a atenção da minha iludida colega, com um simples toque no braço, digo-lhe com um pequeno sorriso vitorioso e com uma grande raiva ascendente em mim.
"Parece que as tuas mãos vão ficar bem queimadas do fogo."