Libertália: Raízes Piratas

By TssiaGomes

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🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Peque... More

☠ Personagens ☠
☠ Book Trailer ☠
☠ Prólogo ☠
☠ I - A taverna à beira-mar ☠
☠ II - Conhecendo o perigo ☠
☠ III - Uma sentença precipitada ☠
☠ IV - Sangue na Estrela da Morte ☠
☠ V - Trezentos anos ☠
☠ VI - Perigos e explicações ☠
☠ VII - Sombras do passado ☠
☠ VIII - O diário de Kidd ☠
☠ IX - Declaração de guerra ☠
☠ X - À meia-lua ☠
☠ XI - Laço quebrado ☠
☠ XII - O outro lado da luz ☠
☠ XIII - Aliança tortuosa ☠
☠ XIV - Caos e companhia ☠
☠ XV - Interlúdio ☠
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte I)
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte II)
☠ XVII - Convite inesperado ☠
☠ XVIII - Despedida ☠
☠ XX - Conferência ☠
☠ XXI - Má sorte ☠
☠ XXII - Traição ☠
☠ XXIII - Últimos ajustes ☠
☠ XXIV - O rato e a raposa ☠
☠ XXV - Um novo dia ☠
☠ XXVI - A batalha se inicia ☠
☠ XXVII - Abalo sísmico ☠
☠ XXVIII - Ruína ☠
☠ XXIX - A última esperança ☠
☠ XXX - Queda livre ☠
☠ XXXI - Vislumbre ☠
☠ XXXII - A profecia se cumpre ☠
☠ XXXIII - Santos ☠
☠ Epílogo ☠
☠ Notas finais ☠
☠ Prêmios ☠

☠ XIX - Resolução ☠

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By TssiaGomes

Elisa não poderia sentir-se pior. Seus olhos estavam inchados de chorar e as pálpebras pesavam como chumbo. Cada músculo do seu corpo doía, como se ela tivesse feito vinte e quatro horas de academia pesada. Seus pensamentos ainda eram uma confusão bizarra que ela tentava esquecer. Seu avô estava morto, apenas isso deveria importar. Rafael e Omar eram problemas pequenos, insignificantes diante de sua perda.

Como uma das últimas pessoas sãs, Nadine tinha preparado o café da manhã, e eles comeram em silêncio. O corpo deveria chegar logo ao velório, mas ainda tinham algum tempo para se recomporem. Elisa deu uma espiada em sua mãe, que parecia uma boneca de trapos, maltratada pelo tempo. Ela queria que houvesse algum jeito de diminuir a sua dor.

Em algum ponto, Beto e Oliver saíram para o quarto para se arrumarem. Eles pareciam quietos demais para dois pestinhas. Elisa arrastou-se para ajudar Nadine a tirar a mesa, mas a garota a segurou pelo braço, encarando-a seriamente.

— Elisa, sei que essa é a pior hora de todas, mas precisamos conversar.

O estômago de Elisa deu um nó. Seria pedir demais ser apenas uma garota normal no dia do enterro do seu avô?

— Se é sobre aquele assunto, eu não quero ouvir...

Ela começou a afastar-se, mas Nadine tomou a sua frente, bloqueando a passagem. Malditos piratas!

— Eu finalmente consegui contactar Zaki ontem à noite. As notícias não são boas.

Elisa sentiu a raiva apoderar-se dela.

— Eu não me importo!

— Por favor, me ouça! Seu avô está morto, mas você ainda pode salvar muitas vidas. Zaki disse que um grupo de piratas se rebelou contra Skyller e Fox, e eles estão vindo para cá nesse exato momento. Nós temos que impedi-los.

— Me inclua fora dessa. Não enfrentarei mais um único pirata. Sinto muito, mas isso é um problema seu...

— Elisa! — Nadine endureceu o tom. — Acha que esses serão os únicos que virão? Oliver está conosco, Skyller virá por ele também. Imagine o caos que será quando todos esses piratas começarem a invadir o seu mundo. Nós temos que levá-los de volta a Libertália.

Elisa fechou os punhos com raiva. O que Nadine estava pensando? Não é como se ela fosse algum tipo de heroína que salvaria o mundo daqueles piratas malvados.

— Você viu o estado da minha mãe. Acha mesmo que existe alguma possibilidade de eu abandoná-la para seguir você de volta para aquela ilha maldita, e acabar presa por mais um mês ou um ano talvez? E quando eu finalmente voltar, quem mais terá morrido? Não, obrigada.

Todo o semblante de Nadine escureceu em uma máscara de profundo desgosto. Provavelmente Elisa a tinha insultado com suas palavras, e ela estaria com medo se fosse em outra ocasião. Mas nas atuais circunstâncias, não ligava para a reação da garota. Nada poderia ser pior do que a dor que sentia.

— Elisa, estou tentando te dizer há algum tempo — disse ela com a respiração pesada. Pela sua expressão, devia estar fazendo um esforço enorme para controlar a raiva. — A profecia, pode ser sobre você. O tempo já se passou, você é uma descendente também, estava lá quando a chave destravou a fronteira. Assim como Henrique, também encontrou raízes profundas na ilha.

— Não. Não é sobre mim, não pode ser. Henrique tem o diário, é a missão dele, não a minha. Por favor, não insista mais.

Nesse momento, a campainha começou a tocar, desencorajando qualquer protesto de Nadine. Elisa estava pensando em quem poderia ser àquela hora da manhã, mas quando abriu a porta, sentiu-se desmoronar mais uma vez.

— Elisa, eu sinto muito pelo seu avô.

Era Henrique. Estava vestido com uma calça jeans preta e camiseta cinza simples. A velha jaqueta fora abandonada, deixando à mostra sua tatuagem. Seus olhos brilhavam intensamente quando ele a abraçou, envolvendo-a em seus braços.

Elisa não tinha forças para se desvencilhar daquele abraço, e nem queria. Deixou-se confortar por ele, afundando o rosto em seu ombro. Seus braços eram quentes e a afagavam com delicadeza.

— Obrigada — disse ela em voz abafada. Novas lágrimas rolaram por sua face.

— Já podemos ir? — sua mãe chamou de dentro.

Elisa afastou-se de Henrique, limpando apressadamente as lágrimas de seu rosto. Todos aguardavam no hall com expressões sérias, mas foi Nadine quem quebrou o silêncio primeiro.

— Oliver e eu estamos partindo com Henrique — ela disse, dirigindo-se à mãe ao invés de Elisa. — Eu sinto muito, mas não podemos ficar mais.

— Oh, que pena... Voltem mais vezes, iremos adorar tê-los aqui de novo.

Nadine conseguiu sorrir.

— Eu agradeço pela hospitalidade. Gostaria de poder retribuir, mas não há tempo. Vamos, Oliver...

O menino virou-se para o novo amigo com tristeza.

— Tchau então.

— Ei, quando você voltar aqui, vou acabar com a sua raça no Counter-Strike.

Oliver riu com desdém, mas a mãe de Elisa franziu a testa, preocupada.

— Não sei se esse jogo é indicado para crianças.

Após uma breve despedida desajeitada, Elisa levou os três para a área de fora do prédio. Henrique continuava a olhá-la com aquele olhar desconcertante de cachorro abandonado.

— Você não vem mesmo? Nós podíamos esperá-la...

— Não podemos — cortou Nadine friamente. — Não temos tempo, os piratas já começaram a chegar. Aliás, já estamos atrasados.

Elisa olhou para ela com raiva. Estava satisfeita em poder se concentrar em algo além do olhar suplicante de Henrique.

— Nadine está certa, vocês devem partir sem mim. A minha missão é aqui, com a minha família.

Nadine quase teve que arrastá-lo, mas no fim eles partiram. Elisa suspirou assim que se viu sozinha, o peito pesando como chumbo. Suas pernas bambearam, quase fazendo-a desmoronar ali mesmo, na rua. Então uma mão pousou em seu ombro.

— Eles são bons amigos — disse sua mãe, tentando soar reconfortante.

Os olhos de Elisa perderam-se no horizonte cinzento. Algumas gotas de chuva começavam a cair, o que era conveniente para disfarçar suas lágrimas.

— Eles não são meus amigos — sussurrou consigo mesma.


☠☠☠


— E então? O que estamos procurando? — disse Henrique pela quinta vez.

A chuva começava a engrossar, espantando os poucos banhistas que se aventuravam pela praia. O mar a sua frente parecia agitado e deserto, mas eles continuaram andando, as armas prontas para serem sacadas a qualquer instante. Nadine tinha sua velha espada de combate e Henrique arranjara uma também na coleção de bugigangas antigas de sua família. Apesar do tempo, sua lâmina estava bem conservada. Até Oliver levava uma adaga, que ganhara de seu pai. Naturalmente, armar crianças não era um problema para pais piratas.

— Um navio pirata, pronto para atacar — respondeu Nadine.

Henrique tirou uma mecha de cabelo molhada do rosto e apurou sua visão. Em algum ponto distante, um barco pesqueiro desafiava a tempestade que se formava. Mais à frente, um enorme cargueiro cruzava o horizonte. Não havia nenhum sinal de piratas.

— Não entendo porque não podemos voltar e tentar convencer Elisa a vir conosco.

— Porque seria uma tarefa inútil. Elisa tem um forte senso de responsabilidade com a mãe e o irmão, nada do que pudéssemos falar a convenceria a voltar para a ilha.

— Ainda assim, apenas deixá-la aqui não parece certo... — Henrique parou de falar por um momento, uma sombra de rancor passando por seu semblante. — Você acha que Rafael teve alguma influência sobre isso?

Nadine o olhou com simpatia.

— Tenho certeza que não. Elisa não seria tão superficial assim.

Henrique cerrou os punhos, sentindo um gosto amargo na boca.

— Mas se eles saíram juntos...

Ela tocou em seu braço delicadamente, fazendo-o encará-la, confuso. Henrique não sabia que a pirata-bruxa era capaz de gestos delicados.

— Fique calmo. Elisa não me contou nada sobre isso, mas tenho um palpite de que as coisas não saíram muito bem entre eles.

— Por que acha isso?

— Ora, Elisa estava sozinha no hospital quando o avô morreu. Não tenho experiência em encontros românticos, mas era de se esperar que ele a deixasse em casa depois disso. É muito estranho que ele a tenha deixado lá, sozinha. E depois, Elisa não tocou no nome dele uma única vez sequer, nem tentou avisá-lo do que aconteceu. É como se ela quisesse fingir que o encontro com Rafael nunca existiu.

As palavras de Nadine o tranquilizaram, mas qualquer resposta ficou perdida no ar. Oliver, que tinha se afastado para explorar o local, voltava correndo, de bochechas coradas.

— Ei, pessoal, vocês precisam ver isso!

Eles correram a tempo de ver um grande navio fincar suas tábuas nas areias molhadas da praia e dezenas de piratas muito bem armados começaram a descer, não se importando com a chuva que os encharcava. Tinham uma expressão faminta no rosto.

Àquela altura, a praia já estava quase que completamente vazia, mas uma família retardatária aproximou-se com curiosidade. Talvez pensassem que se tratava de algum tipo de atração turística. O pirata que parecia ser o líder deles deu um passo à frente, sacando sua pistola e atirando aos pés do pai para afastá-los. A mãe gritou em desespero, abraçando as crianças protetoramente.

— Cai fora! — demandou o pirata, encarando-os com selvageria.

A família apressou-se em sair dali aos tropeços, ainda muito assustados para registrar o que acabava de acontecer.

Henrique engoliu em seco, olhando com preocupação para as suas parcas armas.

— Eles são muitos. Nunca conseguiremos vencê-los com isso.


☠☠☠


O velório não durou muito. Como Elisa não tinha mais nenhuma família na cidade, poucas pessoas compareceram, a maioria conhecidos do seu avô e antigos colegas de trabalho. Estender demais seria apenas prolongar o sofrimento.

Um padre apareceu para rezar o terço e dizer as palavras finais para que a alma descansasse em paz, e logo após o corpo foi levado para o enterro. Elisa passou por tudo isso no piloto automático, como se tivesse tomado uma grande dose de anestesia. Sua mãe ainda parecia péssima, e até mesmo Beto estava pálido e abatido. Assim que chegaram ao cemitério e desceram do carro, o garoto cambaleou para frente, e Elisa teve que segurá-lo pelos ombros para que firmasse no chão.

— Elisa, eu tô vendo um monte de pontinhos pretos — disse ele em voz fraca.

Elisa o olhou com preocupação, guiando-o de volta para o banco de trás do carro. A chuva começava a engrossar, o que poderia piorar o seu estado.

— Você quer ficar aqui no carro?

— Eu... me sinto estranho... — Ele respirava com dificuldade. — Acho que...

Seus olhos reviraram e seu corpinho pendeu para frente, desfalecendo nos braços da irmã. Sua mãe gritou desesperada ao perceber o que estava acontecendo, empurrando Elisa de lado para alcançá-lo.

— Meu filho! O que houve? — Ela o segurava, tremendo.

Beto soltou um suspiro e seus olhos se abriram por um instante.

— Mãe... — sussurrou ele, suando frio e voltando a desmaiar em seguida.

— Vou levá-lo para o pronto socorro — decidiu sua mãe, limpando as lágrimas e pegando novamente a chave do carro.

— Eu vou junto!

— Não, Elisa. Fique, alguém precisa enterrar o seu avô. Depois vá para casa, eu mandarei notícias.

— Mas...

Elisa sentiu um bolo se formar em seu estômago, e as palavras ficaram entaladas na garganta. Desolada, viu a mãe arrancar com o carro, e então irrompeu em lágrimas. Sua dor era tão grande que imaginou que pudesse se desmanchar, misturando-se com a chuva. A perda do avô tinha sido um golpe duro demais para ela, se tivesse que lidar com a perda do irmão também...

Não, ela se recusava a pensar sobre isso. Beto tivera apenas um mal-estar passageiro, causado pela compreensão da morte do avô. O menino sempre tivera uma saúde de ferro e logo estaria jogando videogame outra vez.

Elisa fez o possível para se recompor e seguir em frente. A chuva tinha transformado a terra do cemitério em um campo lamacento e escorregadio, obrigando-a a diminuir o passo. Quatro homens levavam o caixão mais à frente, mal se abalando com o aguaceiro que caía. Já deviam estar acostumados a fazer enterros sob aquelas condições.

Apenas um pequeno grupo de cinco pessoas acompanhou o enterro até o fim. Somente os amigos mais próximos e Elisa. Com a chuva e as lágrimas que insistiam em cair, ela enxergava tudo embaçado, mal conseguindo distinguir as silhuetas a um palmo de distância. No entanto, quando se preparava para ir embora, uma movimentação suspeita por entre as folhagens das árvores chamou sua atenção. Ela pensou ter visto um vulto e caminhou entre os túmulos em sua direção. Era uma bobagem sem tamanho, mas a curiosidade venceu a razão. Além disso, durante todo o enterro não pôde abandonar a sensação desconfortável de que estava sendo observada.

Ela se aproximou devagar, e quando pensou ter perdido sua pista, o vulto deslocou-se por trás de outra árvore maior. Definitivamente, alguém a espreitava camuflado pelas folhagens. Elisa deu a volta pelo lado oposto, surpreendendo o sujeito antes que ele pudesse fugir. Sua mão agarrou a barra superior das costas de uma camisa de algodão, e quando ele se virou de olhos arregalados, ela não se surpreendeu ao deparar-se com o patife de seu tio-avô, Omar.

— Como você tem coragem de vir até aqui?

Debaixo de chuva ele parecia um frango ensopado, os cabelos espetados grudados no rosto de forma pegajosa.

— Eu... só queria vê-lo uma última vez — engasgou-se ele. — Ele era meu...

— Eu sei! Já sei quem você é! — cortou Elisa com voz rígida, espremendo-o contra o tronco da árvore. — O que foi? Surpreso por eu ter descoberto seu segredinho, seu Peter Pan de araque? Ou devo chamá-lo de tio?

Omar debatia-se nos braços de Elisa, lutando para desvencilhar-se de seu aperto.

— Elisa... sufocando...

Elisa afrouxou um pouco, dando espaço para que ele pudesse respirar. Omar tossiu teatralmente, mas Elisa continuou encarando-o como se ele fosse algum inseto desprezível.

— Como pode ter coragem de vir aqui depois de tudo? Como pôde abandonar sua família? Você tem alguma ideia do quanto eles sofreram esses anos todos pensando que estava morto?

Os olhos do garoto brilharam com uma frieza astuta, do modo que nenhum menino de doze anos poderia ser capaz.

— Você não entende. Se tivesse ficado, eu teria morrido de toda forma. Fugir era o único jeito de escapar. Eu não teria sobrevivido se não fizesse o que fiz.

Elisa o encarou com desconfiança. Tinha que lembrar a si mesma de que ele poderia estar apenas enrolando.

— Do que está falando? Escapar de que?

— Da maldição, é claro.

Ao longe, um trovão retumbou com grande estrondo. A chuva estava ficando mais forte, açoitando com violência tudo pela frente. Logo, permanecer ali seria perigoso, mas Elisa ainda precisava de algumas respostas.

— A maldição do tesouro? — ela franziu a testa, incrédula. — Isso não faz sentido.

— Não, não essa maldição — impacientou-se ele. — Existe uma outra maldição na nossa família. Você nunca estranhou o fato de ela ser tão pequena?

— Bem, ela é pequena porque meu avô só teve duas filhas, e uma delas morreu quando era pequena...

— Sim, porque é o que acontece com todos que tem o nosso sangue. Todos os segundos filhos sempre morrem — disse ele amargamente. — Mas eu fui mais esperto, fugi para Libertália e fiquei congelado no tempo. Escapei do meu destino...

— Espere... o que está dizendo?

A cabeça de Elisa girava como um bumerangue descontrolado. O que Omar lhe dizia não podia ser verdade, porque se fosse...

— Sim, é só pensar um pouco e verá que não estou mentindo — continuou ele sem se abalar. — Seu irmão ficou doente de repente, não foi? É a maldição cobrando o seu preço.

O coração de Elisa se fechou e ela sentiu como se estivesse sendo esmagada pela força de um rolo compressor. Seu irmão. Seu irmãozinho, tão alegre e cheio de vida...

O choque de sua compreensão era tão grande que ela quase deixou Omar escapar. Ele deslizou para baixo por entre seus dedos molhados e escorregadios, mas no último segundo Elisa recobrou sua consciência, agarrando-o com raiva.

— Seu mentiroso! — explodiu ela, espremendo-o novamente contra o tronco. — Por que está me dizendo essas coisas? Meu irmão não vai morrer!

Omar lançou-lhe um olhar que beirava à compaixão.

— Infelizmente, é verdade. Eu queria poder dizer o contrário, mas esta é uma maldição muito antiga, mais antiga que sua amiga Haya Venice. Eu fui o primeiro em séculos a conseguir escapar dela.

Elisa tentou raciocinar. Forçou sua mente o máximo que pôde, buscando seus antepassados mais antigos, e com horror, percebeu que Omar tinha razão. Não havia um único que ela se lembrava de que não houvesse perdido um filho mais novo. Até mesmo o distante Louis Venice, em sua carta em espanhol, contava sobre a dor da morte de seu segundo filho. Como ela nunca tinha percebido? Com uma pontada em seu peito, lembrou-se de Haya mencionando que havia perdido um bebê enquanto esteve presa.

— Mas... por que? — vacilou ela, abalada. — Por que com a nossa família?

Omar deu de ombros.

— Quem pode saber porque as maldições começam?

Ela o encarou com raiva, mas então uma ideia desesperada atravessou sua mente.

— Mas você escapou! Podemos só levar Beto para Libertália, como você fez, e ele estará a salvo!

— Isso não vai mais funcionar. Mesmo que ele fosse, agora a fronteira está totalmente aberta e o tempo voltou a correr. Expô-lo à magia da ilha só iria apressar mais ainda o processo.

— Tem que haver um jeito! — berrou ela, sua voz misturando-se ao barulho ensurdecedor da chuva.

Elisa não podia aceitar a morte precoce de Beto. Ele era só uma criança, uma vida inteira o esperava pela frente. Que tipo de maldição perversa matava crianças inocentes através dos séculos? Em choque, lembrou-se das palavras de Nadine antes de partir e o entendimento a atingiu como um raio. A maldição da profecia não era a maldição do tesouro.

— É isso, a profecia de Kidd tem que ser sobre mim — disse ela consigo mesma, com o ânimo revigorado. Beto não era como o seu avô, ele podia ser salvo e só dependia dela. — Eu vou voltar para Libertália, desfazer a maldição e salvar Beto.

— Bem, boa sorte então...

Omar começou a deslizar para o lado, pronto para desaparecer de vista como sempre fazia, mas desta vez Elisa estava preparada. Seus dedos fecharam-se contra os braços magricelas, segurando-o no lugar.

— Ah, não. Não tão cedo. Você vai me ajudar com isso e não vai escapar dessa vez, nem que eu tenha que te arrastar por todo o caminho de volta!

Ele engoliu em seco e assentiu de leve, como se o olhar determinado de Elisa o assustasse mais do que sua própria maldição.

Que grande reviravolta! Por essa segunda maldição Elisa não podia esperar... 

E o que acontecerá a seguir? Elisa conseguirá voltar a Libertália e salvar o irmão?

Nadine e Henrique conseguirão enfrentar os piratas? 

Como essa história toda irá se desenrolar?

Se está gostando da história, não deixe de votar e comentar, isso é muito importante para que ela tenha mais visibilidade dentro do site e eu continue postando.

Nos vemos no próximo capítulo!

Bons ventos e até breve ;)

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