Maratona (1/5)
Pov's Mirella
Mirella: Eu estou cansada, chega. - paro de empurrar o sofá e me sento no chão suando. - Eu posso já ter saído do repouso, mas ainda não posso pegar peso.
Vicente: Isso é desculpa para não ajudar na mudança. - reviro os olhos. - Anda, levanta. Essa kitnet não vai ficar arrumada sozinha.
Olho em volta, para a minha nova casa e bufo.
Tão pequena para dois.
Ela é composta por quatro cômodos, uma sala pequena, uma cozinha que é separada da sala por apenas uma divisória transparente. Um banheiro e um quarto.
Só.
Ela já veio mobiliada, o que facilitou muito.
Pra mim, é perfeita e fica quase do lado da casa do Vicente.
Mirella: Acho que precisamos de comida. - abro um sorriso de criança pidona.
Vicente: Acabamos de almoçar, aquieta aí. - faço birra gritando e batendo o pé no chão. - Você tá insuportável esse mês, é falta de macho, um mês sem dá. - fecho a cara.
Mirella: Já falei que não quero falar de homem. - me levanto do chão e vou para a cozinha.
Ele me segue.
Vicente: Sabe onde o pai do seu filho está? - lanço um olhar matador para ele. - Percorrendo o mundo, a um mês, não parou uma única vez no Brasil. A Mia falou, que o Ethan falou para ela que ele está se aperfeiçoando ainda mais, estudando a arquitetura de diversos países para trazer para seus clientes. - bufo fingindo o ignorar, mas ainda atenta, uma parte de mim estava curiosa para saber do Sebastian. Não o vejo dês do dia que eu dei um fora nele.
Mirella: Eu não ligo. Eu também estou me aperfeiçoando. Segunda começo minha faculdade, amanhã eu venho morar sozinha e mais tarde tenho uma consulta para ver como está meu bebê. - coloco a mão na barriga. - Ah, e também vou ver como está o restaurante da minha avó que agora eu sou dona. - levanto os braços. - Sou minha própria velha da lancha.
Vicente: Eu não te falo mais nada.
Mirella: Glória a Deus. - caminho até o som ligando o mesmo. - Cala essa boquinha e coloca alguma coisa para nós dançar. - pisco. - Vou fazer pipoca, tô com fome.
Vicente: Gorda.
Mirella: Teu rabo.
Vicente: Também é grande. - empina.
Mirella: Seu sonho. - gargalho. Ele mostra o dedo do meio ligando o som.
Começou a tocar "Wap - Cardi B" e já baixou o espírito sedutor em mim e já comecei a dançar, principalmente na parte que sei o passo.
O que me ocasionou uma dor na barriga que me fez sentar rapidamente.
Maldito Sebastian.
Vicente: Já cansou amiga? - rir da minha cara dançando outra música que havia começado.
Mirella: Só me recompondo, acabou meus dias que eu me acabava. - falo bufando.
Vicente: Vou fazer uma pipoca e depois assistimos a um filme. - fala e eu lanço um sorriso grato para ele.
Pego meu celular e abro o Instagram. Por ordem do destino, a primeira foto que aparece no feed é uma do Sebastian. Ele claramente não estava aqui no Brasil, o fundo esbranquiçado mostra um pouco de neve, e na localização da foto estava Madrid, Madri Espanha.
Fico observando a foto, mais especificamente o Sebastian. Parecia que a cada dia que passa ele estava mais lindo. Seus olhos azuis se destacavam na foto, e seu sorriso branquinho junto a covinha que se formava nas suas bochechas, me deixava com tanta vontade de o apertar que chega doía.
Curto a foto.
E tiro a curtida segundos depois.
Abro os comentários lendo os mesmos. Um monte de comentários eram em inglês, ou seja, não entendia nada. Só entendi mesmo o da Maju em que ela havia escrito "burguês safado", ri com isso.
Havia um perfil que eu reconheci na hora, Maddy_queen. Reviro os olhos com esse nome. Ela havia comentado algo que logo traduzi no Google.
Too beautiful, my little prince - Lindo demais, meu pequeno príncipe.
Aperto o celular na mão.
Seu teu rabo, rapariga.
Entro em seu perfil a stalkeando. A praga era linda, eu não podia a chamar de feia. Mas as fotos parecia das putas do C.D.A.
Resolvo ver seus stories, me arrependendo segundos depois.
O primeiro story mostrava ela no restaurante, era um boomerang. Porém do seu lado estava nada mais e nada menos que o merda do Sebastian.
Os próximos storys dava na cara que eles estavam viajando juntos.
Eram vários lugares diferentes, vários vídeos deles rindo e falando coisas que eu não entendia nada.
Em um dos story mostrava duas passagens aéreas e embaixo o nome de alguns países. Ela marcava o Sebastian.
Provavelmente são os países que eles já passaram ou vão passar.
Quando percebi, já estava chorando de raiva. Desligo o celular o deixando na mesinha de frente.
Vicente: Voltei. - me dá um susto se sentando do meu lado.
Um cheiro forte sobe até o meu nariz. Era a manteiga da pipoca que ele havia feito.
Meu estômago embrulha e só deu tempo de eu me levantar correndo e ir para o banheiro para depois deixar todo meu café da manhã e almoço no vaso.
Vicente: Amiga, cê tá bem?...
Mirella: Não. Eu não tô bem. - falo com a voz falha. - Eu tô aqui, lutando para manter um bebê em minha barriga, lutando para o manter saudável e morrendo de medo dele nascer com algum problema. Enquanto o desgraçado está rodando o mundo com uma vadia! - esbravejo.
Vicente: Amiga. Mas você mesma não contou a ele que seria pai e ainda terminou com ele. O galego não tem culpa de nada...
Mirella: Tem culpa sim! Culpa de ter colocado isso em mim! - aponto para minha barriga. - Minha vida estava tão boa sem ele. Eu estava tão bem. - fecho a tampa da privada e me apoio nela sentindo meu rosto molhado pelas lágrimas.
Vicente: Mirella. Cadê a auto confiança de minutos atrás? Não deixa um macho te abalar. - afaga minhas costas.
Mirella: Eu não consigo! Eu o amo!
Vicente: Então vá atrás dele!
Mirella: Não! Não quero mais correr atrás de homem. E nem tenho dinheiro para ir para Madri.
Vicente: Mas tem dinheiro para ir a consulta de sua filha ou filho. Então levanta a cabeça princesa e bora saber como esse bebê está. - me puxa para cima.
Faço uma careta.
Mirella: Quer ser o pai do meu filho? - falo enquanto seguia até o meu quarto.
Vicente: Quero. Pronto. Sou o pai do seu filho agora. - dou um sorriso fraco.
Mirella: Te amo. - falo fazendo ele transformar sua expressão em uma careta.
Vicente: Sai, eu sou gay. - gargalho alto. - Mas também te amo bitch. - lança um beijinho. - Vai tomar banho? - assinto. - Então vai logo. - me empurra.
[...]
Entrar em um consultório, cheia de outras mulheres grávidas, fez um frio subir até minha espinha.
Abaixo o olhar para minha barriga, ainda totalmente reta e faço uma careta.
Como o consultório era público, estava lotado. Tive que ficar em pé esperando a minha vez, o que foi um tanto cansativo.
Quando a médica chamou meu nome eu só falei dar glória ali, na frente de todo mundo.
Entramos eu e o Vicente na sala e logo a médica manda eu me sentar.
Médica: Olá Mirella, tudo bem? - sorrir simpática.
Mirella: Tudo sim doutora. - coloco a bolsa no colo.
Médica: Primeira consulta do bebê? - ela digita algumas coisas no computador antes de me olhar.
Mirella: Praticamente. A primeira foi quando eu descobri, fiz alguns exames no hospital mesmo. - falo.
Médica: Está com eles em mão? - nego lembrando que tenho que ir lá buscar. - Certo. Está com quantos meses?
Ela começa a fazer algumas perguntas do tipo, o que estou comendo, se estou tendo muito enjôo, se estou tomando alguma vitamina, enfim...no final ela me pediu para me deitar na maca.
Médica: O pai também pode vir. - acena para o Vicente que rir.
Vicente: Amada, nem da fruta eu gosto. Sou só o acompanhante mesmo. - ele se levanta vindo para o meu lado.
Mirella: Você não disse que ia assumir o bebê, viado? - digo e ele rir.
Vicente: Aé, verdade. Sou o pai mesmo. - a médica rir.
Médica: Certo. - ela pega um gel e levanta minha blusa. - Vamos ver como esse bebê está.
Fico ansiosa assim que ela coloca o gel em minha barriga e logo depois um aparelhozinho nele. Sinto vontade de chorar quando ela aumenta o volume nos fazendo ouvir o coraçãozinho dele.
Médica: Ele está menor que o normal. Vou te receitar algumas vitaminas para fazer ele crescer mais e saudável. - assinto. - Mas de resto, ele parece bem.
Mirella: O médico que me consultou pela primeira vez me falou que ele poderia nascer com algum problema, já que sofreu algumas coisas no começo da gestação. - falo engolindo em seco.
Médica: Eu não posso afirmar que ele vá nascer com algo já que ele ainda é muito pequeno. Porém, há uma possibilidade que sim. - respiro fundo. - Algumas mães preferem fazer um procedimento, bem rápido e eficaz, para descobrir logo se seu bebê irá nascer com alguma deficiência. Mas é um pouco caro. Mas recomendável para quem quer se preparar futuramente. - encaro o Vicente que segura minha mão me dando segurança.
Eu não tenho dinheiro pra fazer isso.
Mas uma pessoa tem...na verdade duas.
O Sebastian, e o meu pai.
Voltamos a prestar atenção na tela e de lá eu não tirei meu olhar até finalizar.
Assim que saímos do consultório, eu com a ultrassom na mão, fiquei com uma imensa vontade de mostrar ao Sebastian, fico imaginando como seria passar essa fase com ele do meu lado.
Vicente: Então, o que você vai fazer? - me pergunta.
Mirella: Vou ligar para ele, contar que estou grávida e pedir o dinheiro. - digo já pegando o celular.
Vicente: Tem certeza? - assinto.
Mirella: Preciso me preparar. Se o meu filho for nascer com algo, terei que me adaptar para o que seja. - disco seu número. - E para isso, preciso de uma grana rápida.
O celular toca algumas vezes. Bato o pé no chão ansiosa, até eu ouvir a voz rouca do outro lado da linha.
Ligação on:
Mirella: Oi...pai?
Humberto: Filha? Mirella?
Mirella: Sou eu. Preciso da sua ajuda.
Humberto: Você sumiu, aconteceu algo? Está bem?
Mirella: Estou bem. Mas preciso te contar algo.
Humberto: Quer marcar para nos encontramos? Estou livre na segunda, mas pela tarde e...
Mirella: Você vai ser avô.
(Mudo)
Mirella: E preciso de grana, para uma consulta. Mas não tenho.
Humberto: Quem é o pai?
Mirella: O Sebastian.
Humberto: Salvatore?
Mirella: Isso.
Humberto: Você deu um herdeiro aos Salvatore? Porque ele não te ajuda com o dinheiro?
Mirella: Ele não sabe que estou grávida. E nem vai saber...
Humberto: Por quê não?
Mirella: Motivos meus. E espero que o senhor não conte. Estou confiando no senhor e te pedindo um único favor depois de 20 anos. Preciso de dinheiro e não te pediria se não fosse algo importante.
(Mudo)
Mirella: Por favor.
Humberto: Certo. Me manda o número da sua conta. Irei depositar.
(...)
Pego o uber um pouco aliviada, mas ao mesmo tempo aflita.
Aliso a barriga orando para que meu bebê fosse saudável.
O Vicente me abraça de lado.
Vicente: Vai ficar tudo bem. - beija a lateral da minha cabeça.
Motorista: Para onde vamos, moça? - pergunta.
Mirella: Complexo do Alemão. - falo e o Vicente me olha estranho. - Preciso pegar as últimas coisas lá na minha antiga casa. E você vai comigo.
Vicente: Vou começar a cobrar pelo meus serviços. - rio.
Seguimos até o C.D.A
O motorista nos deixa uma esquina antes, por medo. Fomos andando até a entrada. Ninguém nos barrou por eu ser conhecida. Entrar novamente na minha comunidade me dava um ar de alegria e nostalgia, o que eu não daria para voltar a ser criança onde meu único problema era não deixar o Rafael quebrar minhas barbies.
Que não eram muitas.
Falando no Rafael. O encontro no caminho. Ele estava falando com alguns moradores quando me viu, ficou uns segundos me encarando, provavelmente sem acreditar que eu havia voltado. Logo depois percebi o receio dele em vir, já que deu um passo e logo voltou.
Eu paro, cruzando os braços. O incentivando a vir. Precisava mesmo conversar com ele.
Rafael entende o recado e se aproxima correndo.
Rafael: Morena... - levanto a mão o impedindo.
Mirella: Vim buscar minhas coisas em minha antiga casa. - falo.
Rafael: Você sabe que não precisa me pedir autorização para circular aqui. - dá um sorriso ladino.
Mirella: Tem outra coisa também. - respiro fundo. - Obrigada por não transar comigo no dia que fiquei bêbada. - ele faz uma careta.
Rafael: Não sou tão babaca assim. - levanta a bermuda, porém a mesma caia no segundo seguinte que ele a solta deixando a barra da sua cueca amostra. E sua arma também.
Mirell: Mesmo assim, valeu. - ele assente e o silêncio reina.
Rafael: Tu perdeu o bebê mesmo? - aponta para minha barriga. Mordo o lábio tentando pensar se contava ou não.
Mirella: Como é seu contato com o Sebastian?
Rafael: Não quero ver nem a cara dele. Porque?
Mirella: Eu perdi o bebê. Mas ainda estou grávida. - ele fica sem entender. - Eram gêmeos.
Rafael: Caralho...
Mirella: O Sebastian não sabe, e espero que não conte. - ele assente.
Rafael: Nem falo com o mauricinho. - assinto. - Pô véi, tu sendo mãe solteira, mó barra.
Mirella: Pois é.
Rafael: Qualquer coisa tô aqui pô.
Mesmo sabendo que não vou querer sua ajuda, agradeço.
Mirella: Tô indo então. - mudo o peso de um pé para o outro.
Rafael: Já é.
Dou alguns passos acompanhada do Vicente, até que paro lembrando de uma coisa.
Mirella: Rafael. - ele me olha. - Tira uma foto comigo? - ele fica sem entender.
Rafael: Aleatório, assim?
Mirella: Só preciso de uma foto. - falo já pegando o celular.
Para fazer ciúmes no Sebastian. - completo mentalmente.
♥️