O filho perfeito

By RobertaDragneel

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Dinesh Yamir é o filho de um grande empresário, por isso as expectativas sobre o seu futuro são altas. Então... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Especial [+18]
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27 (Parte II)
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35 (Parte I)
Capítulo 35 (Parte II)
Bônus: "A Carta"
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38 (Parte I)
Capítulo 38 (Parte II)
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 27 (Parte I)

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By RobertaDragneel

"Aqueles que estão livres de pensamentos rancorosos certamente encontram a paz." - Buda


Dinesh encarava o templo budista, cercado por uma vasta mata, localizado em São Paulo, uma cidade do Brasil. O local possuía uma grande estrutura oriental com uma passarela de pedras alvas até a entrada. As cercas brancas possuíam esferas vermelhas no topo de cada estaca e as pilastras pintadas de preto tornavam o ambiente mais belo. Alguns monges circulavam o local usando roupas laranjas, servindo como uma espécie de quimono.

Mesmo tendo avisado algumas horas antes sobre a sua chegava, o tio-avô de Dinesh, Manu Hari, já se encontrava o esperando no arco da entrada. O homem possuía a cabeça raspada, a mesma roupa dos demais e uma barba por fazer.

Manu é o irmão da mãe de Mahara, Deva Hari, que dedicou sua vida aos estudos do budismo. Ao completar vinte anos, o homem se mudou para o Brasil onde, atualmente, administra o templo budista da cidade de São Paulo. Em seus setenta e cinco anos, essa era a primeira vez que se encontrava com o neto da sua falecida irmã.

— É bom vê-lo aqui, meu querido Dinesh.

— Olá, Manu. — comenta com uma reverência. — Desculpe-me por chegar sem avisar, eu só...

— ...precisava de um tempo do mundo, eu sei. Você escolheu o melhor lugar para esquecer das preocupações mundanas. Agora, acompanhe-me.

O Yamir acena com a cabeça, iniciando uma caminhada pelo templo e analisando a simplicidade do local. A brisa fresca do país tropical trazia uma sensação inexplicável de paz e aconchego.

— Então, quando eu atingirei o nirvana ou algo do tipo?

— Nós não começamos assim, essa é uma jornada de vários anos.

— Puta que pariu.

O mais velho o encarava incrédulo.

— Desculpa, eu preciso controlar a minha língua. Poderia me explicar o que iremos aprender?

— Bem, você me avisou por telefonema que desejava encontrar à si mesmo e pedir perdão para todos que machucou, não é?

— Isso mesmo.

— Nesse templo, nós trabalhamos com o Budismo Humanista, onde você aprenderá mais sobre os ensinamentos do nosso mestre Buda, voltados para a compaixão e a sabedoria.

— E isso irá me ajudar?

— É claro. A compaixão te ensinará à perdoar o próximo e a sabedoria será o seu guia, mostrando-lhe o melhor caminho para o perdão.

— Entendo...

Isso está com cara de que vai demorar mais do que eu imaginei, pensava.

— Não tem como agilizar esses ensinamentos, Manu? É que eu não tenho muito tempo.

O monge ria baixo e passava por um corredor pouco iluminado, onde se localizava os dormitórios dos demais.

— Eu te ensinarei cinco ensinamentos do budismo e, com eles, encontrará um pouco de paz.

Dinesh entrava no dormitório cumprimentando os monges com um aceno, pois não sabia falar português. Então, deixava a sua mala em cima de uma cama velha com um lençol desgastado pelo tempo. Mesmo vivendo uma vida de luxo e conforto, o homem não se importava em estar em meio à simplicidade. Pelo contrário, sentia como essa mudança brusca era precisa em sua vida.

— Troque de roupa para começarmos o nosso treinamento.

— Tudo bem.

O Yamir ia para o simples banheiro no dormitório, retirando o seu terno e vestindo uma casmeia branca tocando o seu calcanhar. Ele prendeu o cabelo em um rabo de cavalo baixo e, em seguida, foi conduzido por Manu para uma pequena sala onde havia um largo tapete cobrindo o chão.

— Nós vamos dormir? Bem que eu estava preci-...

— Não, Dinesh. Nós iremos meditar.

Ele franze o cenho em sinal de reprovação.

— Meditar?

— Sim, estaremos em busca de paz espiritual acima de tudo.

— Isso me lembra Karatê Kid. Eu sairei batendo em alguém?

Manu o fuzila com o olhar e o Yamir ergue os braços em sinal de rendição.

— Como quiser...

Então, Dinesh sentava no macio tapete ficando frente à frente com Manu que cruzava as pernas, fechando os olhos. Após imitar a sua postura, o Yamir tentava desligar a sua mente de distrações externas.

— O meu primeiro ensinamento é ter controle da sua própria mente. A dor, a alegria, a tristeza, a raiva e os outros sentimentos não são provocados por fatos alheios; nós só sentimos essas sensações porque nos permitimos sentir. Então, se quer encontrar à si mesmo, precisa ter controle sobre a sua mente.

— Tudo bem, mas como eu faço isso?

— Meditando de mente e corações abertos.

— Eu nunca meditei na vida...

— É simples, mas requer sua total atenção. Inspire e expire lentamente, sinta o ar entrando e saindo do seu corpo. — Manu dizia com uma voz suave. — Esqueça o mundo e apenas se concentre no vazio da sua mente. Domine-a.

Em meio ao silêncio, Manu pôde ouvir a respiração pesada do Yamir em sincronia com o ambiente.

— Você está indo bem, Dine-...

Ao abrir os olhos, o monge encontrava Dinesh dormindo no tapete e solta um suspiro.

— Serão longas semanas...

(...)

No outro dia, após regular o sono, Dinesh se encontrava novamente na sala sobre o tapete macio. Ele estava com as pernas cruzadas e as mãos apoiadas sobre os joelhos, tocando a ponta do dedo indicador e do polegar uma na outra. Depois da pequena bronca de Manu, o Yamir decidiu levar mais à sério a meditação e, por isso, já se passava cinco horas que permanecia na mesma posição. Manu o acompanhou em seu processo de catarse, surpreendendo-se com a súbita evolução do sobrinho.

— Qual o sentimento mais profundo em seu coração, Dinesh Yamir?

O rapaz inspirava profundamente, relembrando de todos os seus momentos desde a infância até a atual época. Ele recordou do olhar triste e rancoroso do Kiran ao ser afastado, de como Mahara o encarava com decepção e as broncas do seu pai.

— Arrependimento...

— De que?

Dinesh franzia o cenho, apertando as pálpebras como se forçasse a sua mente a dar uma resposta.

— De ter... Machucado quem eu amo...

Naquele momento, ele abria os olhos após sentir um aperto inexplicável no peito. Manu o encarou de forma terna, abrindo um leve sorriso.

— Você aprendeu a dominar um pouco da sua mente. Muito bem, Dinesh.

— É... Eu sinto como se um pequeno peso fosse tirado de mim.

— Que bom, significa que estamos no caminho certo. Então, se você se arrepende de machucar quem ama, já sabe o que deve saber?

— Sim! Eu preciso me desculpar com a minha família, a Shanti, a Miyuki e os meus amigos no trabalho.

— Só eles?

Dinesh o fitava confuso.

— Há mais pessoas? Porra, eu não fazia ideia disso.

— A língua, Dinesh.

— Desculpa.

— Bem, se há outra pessoa que precisa pedir perdão, essa resposta somente você a terá. Agora, vamos. É hora do almoço.

— Tudo bem.

Ele o seguiu ainda com suas palavras ressoando em sua mente.

Ao se sentar com os demais monges, comeu em silêncio por não entender uma palavra sequer em português. Às vezes, Manu traduzia alguns diálogos mas Dinesh ainda optou por permanecer calado, sozinho com seus próprios pensamentos. A comida simples e a falta de temperos, de fato, causou um estranhamento interno. Porém, não ousou questionar com ninguém e se limitou, apenas, a ficar em seu canto.

Será que todos estão bem? O Kiran está indo bem na escola?

No outro dia, Dinesh meditou novamente junto com Manu e conseguiu controlar um pouco a sua raiva. O monge o obrigou a reviver seus momentos de fúria e tentar senti-los novamente, em sua mente. Contudo, diferente daquela época, o rapaz soube lidar com a sua raiva e impulsividade, respirando fundo. Ao final, havia entendido que o ódio apenas o levaria mais fundo do ponto onde se encontrava.

Dessa forma, passou-se uma longa semana.

Os dois caminhavam pelo vasto jardim nos fundos do templo, onde belas flores silvestres compunham o cenário.

— O segundo ensinamento é "olhar tudo que o rodeia com amor".

— Amor?

— Sim. Tudo ao seu redor, desde a natureza até os objetos criados pelo homem estão aí para te servir de alguma forma. Você já foi grato pelo ar que respira? Pelo jardineiro do seu quintal? Pela cadeira à qual se senta todos os dias em seu escritório? Já agradeceu a sua cama que alivia a sua tensão após um longo dia de trabalho?

Dinesh abaixava a cabeça.

— Não...

— Então, comece a ver o amor em tudo que o rodeia.

— É um pouco complicado para mim... Eu passei tanto tempo ocupado com a empresa e em destruir meus inimigos que nunca pensei sobre a gratidão.

— Reconheça o esforço de todos ao seu redor, ao invés de olhar apenas para o que te trouxe dor. A gratidão é a única dívida que consigo enxergar com beleza.

O Yamir concordava parando de andar, ajoelhando-se diante de uma bela flor. Então, passou a ponta dos dedos sobre as pétalas e um sorriso bobo surgiu em seus lábios.

— Obrigado por dar beleza a esse mundo, flor. 

Manu observava a cena com orgulho.

Ele aprende rápido, pensava.

— E quanto a sua família, Dinesh?

— Eu quero agradecer à eles por terem me apoiado em minhas escolhas. — comenta ficando de pé. — E por verem esperança em mim... Exceto o meu bhai.

— Por que o seu irmão te veria de forma diferente?

— Porque ele me odeia depois de ser humilhado e manipulado por mim.

— Pelo visto, você terá um longo caminho em busca do perdão dele.

— Sim...

— Mas você o ama?

— Muito. Não há um dia sequer em que não me preocupe com o Kiran, querendo saber se ele ainda sofre ou tem pensamentos negativos. — dizia com os olhos marejados. — Eu não me afastei dele por opção, mas no final acabei me acostumando e sinto como se fosse impossível voltar ao normal.

— Seria impossível se a morte interferisse, o que não é caso. — comenta Manu retomando a caminhada e Dinesh o segue. — Nunca é tarde para perdoar e ser perdoado.

— O senhor está certo. Provavelmente, o perdão do Kiran é o mais importante.

— Será?

Dinesh lança um olhar confuso em direção ao monge que apenas dava nos ombros, concentrado na beleza das árvores ao redor.

— Você passará a semana listando tudo que é grato, Dinesh. Eu quero que coloque em prática quando voltar para a Índia.

— Certo!

Dinesh seguiu estritamente as regras do monge, passando a maior parte do tempo na floresta ao redor do templo com um caderno em mãos, onde listava todos os elementos da natureza junto com agradecimentos. Ele começou a observar o ambiente com um olhar mais humano, via as pessoas como seres com sentimentos e não peças de um jogo de xadrez. No fundo, reconhecia que manipulá-las apenas corrompia mais ainda a sua essência e o fazia se sentir péssimo.

Ele também tentava interagir com os demais monges, fazendo gestos ou apenas sorrindo. Segundo Manu, um sorriso era a melhor forma de comunicação e Dinesh treinou diversas vezes na frente do espelho já que havia esquecido como sorrir.

À noite, ele sentava em um banco na entrada do templo e lia um livro sobre meditação. Mesmo passando a maior parte do tempo acordado, colocando em prática os ensinamentos de Manu ou somente ajudando os monges em atividades diárias, não se sentia cansado. Para ele, o que realmente sugava sua energia era o ambiente sufocante da empresa.

Quando Dinesh chegou na área da cozinha, começou a listar todos os utensílios e os alimentos em seu caderno, escrevendo palavras de gratidão em seguida. Após anotar tudo o que seus olhos captavam, abriu um leve sorriso e se dirigiu à Manu que terminava uma de suas orações.

— Manu.

— Sim?

— Eu posso trabalhar na cozinha?

O monge franzia o cenho confuso.

— Pode, mas por que?

— Porque eu acho que essa é a melhor forma de mostrar gratidão à vocês que me acolheram. Eu quero cozinhar todos os dias para agradecer toda essa ajuda.

Um sorriso de orgulho surgia nos lábios de Manu que, lentamente, se aproximava de Dinesh.

— Você está indo tão bem. Eu estou feliz em acompanhar essa evolução, só falta você raspar a cabeça como a gente.

— Não é para tanto. — comenta nervoso. — Deixe-me manter o cabelo assim, por favor.

— Como quiser. Ele deve ter algum significado para você.

— Sim. Desde pequeno, os meus pais me deram a escolha sobre o cabelo e eu interpretei como um sinal de que eu sou livre, diferente dos outros filhos do meu país que só vivem em prol da vontade dos pais.

— É uma das amarras da nossa cultura. — admite Manu. — Mas é bom ver como essa parte da família foi construída de forma diferente.

— A mamadi sempre optou pela cultura ocidental enquanto o bhai queria manter algumas tradições, então a família é uma mistura completa.

— Entendo. A diversidade é boa para instigar o amor e o respeito. Bem, já que você irá ajudar na cozinha, eu sinto como se estivesse realmente aprendido o segundo ensinamento do budismo. — dizia virando-se para o rapaz. — Vamos para o próximo, "Esteja perto de pessoas que te fazem bem".

— Hum... Isso significa que eu devo selecionar meus amigos?

— Sim mas não somente amigos, como também qualquer pessoa em seu ciclo social. Eu quero que, através da meditação e reflexão, pense em quem você quer manter por perto e quem deseja afastar quando retornar para a Índia.

— Tudo bem!

— Agora, ajude no almoço.

Dinesh abria um largo sorriso em resposta e corria em direção à cozinha. Manu o observava se afastar, mantendo sua feição terna sobre o rapaz.

Ele tem um bom coração, pensava.

O cozinheiro surpreendeu-se com a presença do Yamir na cozinha, mas agradeceu singelamente a ajuda ofertada, mesmo ambos não se comunicando com palavras. Dinesh o auxiliou no preparo do almoço e do jantar, dando algumas dicas – através de sinais ou simples gestos – para tornar os pratos mais deliciosos. Por entender muito bem sobre temperos, sabia as melhores combinações para agradar o paladar.

Em determinado instante, Manu apareceu para observá-lo cozinhando. Naquele momento, Dinesh não possuía uma expressão vazia como na maior parte do tempo, pelo contrário, ele sorria abertamente misturando os temperos em uma panela.

— Cozinhar te faz bem, pelo visto.

— Eu não te vi chegando, Manu — comenta desviando o olhar em sua direção. — Sim! Eu amo cozinhar! Na verdade, desde criança sempre amei.

— Sério?

— Sim, o meu sonho era se tornar um grande chefe de cozinha. Eu até cursei Gastronomia e fui aprovado no mestrado na França.

— E você fez?

— Não... Eu precisei parar por causa da empresa.

O monge lançava um olhar de compreensão, caminhando até Dinesh e apoiando a mão em seu ombro.

— Não é tarde para reviver esse sonho.

— Eu não posso, não mais. A empresa e a minha família precisam de mim.

— Dinesh, você precisa olhar com mais amor para si mesmo também.

— Como assim?

Manu soltava um longo suspiro, sentando-se em um banquinho de madeira alta enquanto Dinesh colocava uma tampa sobre a panela.

— Permita-se ser feliz também. Você merece a felicidade como qualquer outra pessoa.

— Depois de ter machucado tantas pessoas? Não serei hipócrita, Manu! — exclama recuando, desviando o olhar. — Eu fiz algo imperdoável. Bem, é o que eu acho ter feito... Eu não consigo lembrar.

— Você precisa ter certeza do que houve para saber se merece ser feliz ou não.

— Independente do que tenha acontecido, eu não mereço ser feliz!

O monge soltava um longo suspiro, descendo do banquinho e o encarando com um semblante triste.

— Essa é uma escolha sua, mas nunca é tarde para mudar de ideia. Pois bem, eu quero que foque as próximas duas semanas em meditação.

— Como quiser.

Antes de sair da cozinha, Manu olhava para Dinesh por cima dos ombros e murmurava:

— Você ainda precisa perdoar a pessoa mais importante.

(...)

Dinesh deitava o seu corpo sobre a grama, admirando a beleza das nuvens no céu e as suas variedades de formas. Ele pensava em como a família fazia falta em sua vida e apoiou a mão sobre o peito, sentindo um aperto no coração. Após longas horas de meditação, ainda se sentia confuso por dentro e esse sentimento vazio o consumia. Então, decidiu fechar os olhos apoiando as mãos sobre o tórax, retornando à meditação naquela posição mais "relaxada".

Em sua mente, lembrou das palavras do seu pai quando era uma mera criança.

"Eu estou decepcionado com você".

Essa simples frase o afetou naquela época, pressionando-o mais ainda a ser um filho digno de orgulho. Dinesh também recordou de como o diretor da sua antiga escola, no fundamental, disse que seu comportamento agressivo decepcionaria os seus pais. As palavras duras de Aseem de que o rapaz havia decepcionado o seu avô, Maxwell, o fizeram apertar os olhos com força.

Todas essas lembranças o consumiam, puxando sua alma mais fundo no abismo em que se encontrava.

No final, Dinesh sabia que encontraria a resposta para o seu vazio existencial se respondesse uma única pergunta.

— Quem eu mais decepcionei...?

O olhar decepcionado do seu pai foi o primeiro a surgir em sua mente, junto com a imagem do nome dele gravado em uma lápide fria no cemitério. Desde pequeno, as suas expectativas foram criadas sobre a figura imponente e responsável do seu pai. Por isso, o rapaz se cobrou durante a sua vida inteira para ser uma imagem melhorada do seu genitor mas, diferente do planejado, havia se tornado alguém que Raj sequer olharia com compaixão.

De forma brusca, Dinesh abriu os olhos deixando uma lágrima escorrer do canto do rosto. Ele apoiou as mãos na grama, olhando para baixo com um semblante pensativo.

Baldi...

Em seguida, ele ficou de pé retornando para o interior do templo onde Manu e os outros monges faziam suas orações diárias. Dinesh andou de um lado para o outro no corredor, sem esconder o largo sorriso de satisfação misturada com ansiedade.

Quando Manu saiu da sala, apoiou a mão no coração tendo um espasmo surpreso ao encontrar o Yamir o esperando na porta.

— Nossa, Dinesh! Eu não pretendo reencarnar agora, sabia? Então, não me assuste desse jeito.

O rapaz ria baixo.

— Manu, eu encontrei a resposta que tanto procuro!

— Sério?

— Sim! Eu meditei muito e pensei em quem saiu mais machucado durante todo esse tempo. Então, cheguei a uma conclusão!

O monge abria um largo sorriso, fitando Dinesh com brilho no olhar.

— Que bom! Qual a sua conclusão?

— A pessoa que eu devo buscar o perdão é o meu baldi! — exclama sorrindo mais abertamente. — Mesmo sendo impossível depois da sua morte, eu ainda posso manter um contato espiritual com ele através das orações!

Nesse exato momento, o sorriso do homem mais velho sumia e ele soltava um longo suspiro. Logo, Dinesh o encarava confuso e um pouco preocupado.

— O que houve, Manu?

— Essa não é a conclusão certa, Dinesh.

— Como não?! Eu meditei e senti que os momentos onde ouvi as cobranças das pessoas, principalmente do meu baldi, me deixaram desse jeito.

— Ainda assim, não é perdão dele que você deve buscar com todas as forças. Continue meditando e refletindo, Dinesh. Enquanto isso, permanecerá aqui no Brasil.

Então, Manu seguia caminhada com os demais monges para a área aberta enquanto Dinesh permanecia imóvel, fitando um ponto qualquer da parede de madeira.

Ao final das contas, quem eu devo perdoar?



*Casmeia: Roupa sacerdotal, geralmente usada pelos praticantes do budismo.

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