Eu e Renato decidimos ir para São Paulo contar a novidade para as nossas famílias. Confesso que estou um pouco nervosa só por imaginar qual vai ser a reação da minha mãe. Ela já não está muito feliz por nós estarmos morando juntos, imagina quando ela souber que muito em breve será avó. A única pessoa que sabe até agora é a Gabi, que por sinal amou a novidade, ela está muito empenhada no papel de tia favorita.
Marcamos o vôo para o final da tarde. Vamos aproveitar que hoje sexta e passar o final de semana em Campinas com a nossa família. O Renato tinha umas fotos para fazer hoje e vem me buscar em casa para irmos para o aeroporto juntos. Já arrumamos nossas coisas e eu fico sem ter o que fazer até a hora em que o Renato voltar.
Fico pensando em tudo que vivemos até aqui.Esses cinco anos ao lado dele forma muito especiais. Tivemos nosso altos e baixos, como todos os casais, brigamos, fizemos as pazes e estamos aqui firmes e fortes. Agora o nosso amor deu frutos e eu já amo tanto essa criaturinha que mora dentro de mim. O Renato está todo bobo, completamente apaixonado.
- Cheguei! – Ouço ele gritar da sala.
- Estou aqui no quarto! – Grito para que ele possa me ouvir.
- Oi, amor. Que saudade. – Ele deita na cama para me abraçar. – Vocês estão bem? – Ele pergunta passando a mão na minha barriga, seu novo lugar favorito.
- Estamos. E você papai, como está. – Falo e sei que ele adora.
- Estou bem louco para irmos logo. Quero contar para todo mundo.
- Eu estou preocupada. Como será que ele vão reagir.
- Meu amor, não são eles que vão ter esse bebê. Somo nós, eu você. Nós cuidamos das nossas vidas desde que saímos de casa. Não somos adolescentes irresponsáveis. Nós somos casados. Não vou te largar. Não tem o que temer.
- Amor, nós não somos casados.
- Eu me sinto casado desde o momento em que você veio morar aqui.
- Eu também me sinto casada, mas perante a sociedade não somos.
- Isso para mim não importa. Agora relaxa e vamos. Quero comer alguma coisa no aeroporto antes do vôo.
Ele pega nossas malas e saímos do apartamento. Chamamos um táxi que já está nos esperando do lado de fora. Chegamos ao aeroporto e seguimos para a cafeteria. Comemos um pão de queijo maravilhoso, mas que logo em seguida é rejeitado pelo bebê. Bebo água antes de entrar no avião e quando decolamos eu já me sinto melhor. É um vôo rápido e logo estamos pousando em capinas. Não avisamos a ninguém por isso vamos direto para a minha casa.
Quando chegamos ao prédio a tensão volta a tomar conta de mim. Renato paga o táxi e retira as malas. A entrada é liberada, pois o porteiro já me conhece, o que é bom pois eu não queria que eles soubessem que estamos aqui. Saímos do elevador e retiro minha chave da bolsa. Quando vejo a sala percebo como eu estava com saudades de tudo por aqui.
Vejo uma garotinha loira de três e meu coração se derrete. É minha irmãzinha Lúcia que está cada vez mais parecida com Leon. Ela consegue tudo o que quer com ele, aliás todos nós conseguimos. Ele não consegue dizer não para nenhum de nós três o que deixa a mamãe muito brava. É ela que põem limites.
- Mila! –Ela me nota e corre para os meus braços. Me agacho para ergue-la, mas paro ao lembrar do bebê. Renato percebe a minha reação e pega Lúcia no colo. – Eu quero a Mila, Renato. –Ela diz de maneira fofa
- Calma, vamos sentar no sofá e vocês se abraçam. – Ele fala e nós vamos para o sofá. Lúcia vem para o meu colo e me abraça.
- Que saudades, pequena. –Falo e a abraço com força.
- Eu também. O que acha de me levar com vocês? – Ela pergunta.
- Eu levo, mas você não vai sentir saudades da mamãe?
- A gente leva ela.
- E o papai?
- Ele vai também.
- E João?
- Ele pode vir se quiser, mas ele implica muito comigo.
- Então você quer levar todo mundo para morar na minha casa?
- Sim.
- Por que você não pergunta para o seu pai o que ele acha? – Jogo a bomba para o Leon e não quero nem saber.
- Vou perguntar. É uma ótima idéia. – Ela diz com seriedade e Renato ri.
- Lulu, cadê você? – Escuto a voz de Leon.
- Aqui na sala com a Mila e o Renato.
- Camila, Renato, que surpresa.- Leon fala se aproximando para nos abraçar.
- Tudo bem, Leon? – Pergunto.
- Com a gente sim. Mas e vocês? Aconteceu alguma coisa? – Ele nos encara.
- Está tudo ótimo. – Digo.
- Maravilhoso! – Renato completa.
- Que bom então. Subam, tomem um banho, descansem um pouco. Vou pedir o jantar especial para comemorar a chegada de vocês.
- E a mamãe? – Pergunto.
- Está na loja. Chega daqui a mais ou menos uma hora. Vão lá, eu chamo quando o jantar estiver pronto.
- Obrigado. – Falamos eu e Renato ao mesmo tempo.
Entramos no meu quarto, que está sempre limpo. É uma das coisas que minha mãe e Leon sempre fazem questão. Manter esse espaço para mim aqui na casa deles, para que eu saiba que aqui também é minha casa, meu lar, e é assim que eu me sinto.
- Eu vou logo tomar banho. Você descansa um pouquinha está bem? – Renato diz levando as malas para o closet.
- Está bem, vou descansar um pouquinho.
- Ótimo. – Ele beija meu nariz e segue para o banho.
Acabo fechando os olhos e caindo sono. Acordo com Renato me chamando. Olho para o relógio de cabeceira e vejo que estou dormindo há mais de uma hora.
- Amor, você precisa tomar banho. Sua mãe já chegou e eles já estão pondo a mesa do jantar.
- Está bem. Vou tomar banho rapindinho.
- Quer que eu te espere?
- Não, pode ir na frente, eu já te encontro.
- Está bem.
Ele sai do quarto e eu sigo para o banheiro. Começo a tomar banho e não posso evitar acariciar a minha barriga enquanto me banho. Fico pensando no meu bebê, no quanto eu já o amo, no quanto ele ou ela vai ser especial para mim. Apesar de ser nova, de ainda não ter feito tudo que eu gostaria de fazer antes de ser mãe, não posso evitar ficar feliz ao pensar nessa criança. Eu já amo tanto.
Saio do banho e escolho um vestido longo. Não passo maquiagem, pois estou em casa e não é necessário para esta noite. Começo a ficar nervosa. Estou com um pouco de medo da reação da minha mãe. Eu entendo os traumas dela, mas ela precisa entender que somos pessoas diferentes.
Resolvo descer logo e encontrar com ela de uma vez. Vou esperar as crianças irem para a cama e depois conto. Dependendo da reação da minha mãe é o melhor a se fazer. Entro na sala e Renato, minha mãe e Leon estão rindo de algo que meus irmãos disseram.
- Boa noite. – Cumprimento todos.
- Filha, que saudade. – Ela diz vindo me abraçar.
- Eu também, mãe.
- Está tudo bem? Estou te achando diferente.
- Está sim. Nunca estive melhor.
- Que bom, então. Vamos jantar?
- Vamos. O que vocês pediram?
- Uma massa maravilhosa daquele restaurante que você ama.
- Ai que bom! Já estou com água na boca.
Sentamos à mesa e começamos a nos servir. Quando sinto o cheiro do molho começo a ficar enjoada. Faço o possível para disfarçar, mas é impossível, saio correndo do mesa. Sigo para o lavabo, me ajoelho em frente ao vaso e ponho tudo para fora. Logo o Renato está atrás de mim segurando meus cabelos e esfregando minhas costas. Vomito até ficar sem forças. Me sento no chão e o Renato senta junto comigo. Na porta minha mãe e Leon ficam estão me encarando e pelo olhar deles acho que já entenderam o que está acontecendo.
- Eu acho que nós precisamos conversar. Vou pôr as crianças na cama e já desço para termos essa conversa. – Minha mãe fala e se retira.
Quando volto para a sala Leon está me esperando com chá e biscoitos. Ele é realmente muito especial.
- Era o que sua mãe comia quando estava grávida das crianças. É isso que está acontecendo não é?
- Sim, eu estou grávida.
- Conte comigo está bem? – Ele diz me abraçando.
- Obrigada, Leon. Isso é muito especial
- E você rapaz, cuide delas.
- Não se preocupe, eu vou cuidar bem. Delas? – Renato indaga.
- Sim, delas. Eu tenho certeza que uma menininha vem por aí. – Sorrio ao imaginar uma filha minha e do Renato.
Algum tempo depois minha mãe desce as escadas e senta ao lado de Leon. Eu e Renato estamos sentados de frente para ele.
- Então, Camila, foi por isso que você veio? – Ela pergunta.
- Sim, mamãe. Vim contar a vocês que vão ser avós em breve. – Leon não esconde o sorriso.
- Onde é que você estava com a cabeça, Camila. – Ela fala e me assusta. – Filho não é brinquedo, é coisa séria.
- Eu sei disso, mamãe. Em nenhum momento eu pensei que fosse uma brincadeira.
- Você acabou de fazer 21 anos. Ainda nem saiu da faculdade, não tem um emprego certo.
- Dona Dora, eu trabalho, ganho muito bem, mais que o suficiente para cuidar da minha família. – Renato fala.
- Família?! Pelo amor de Deus, Renato, vocês não são nem casados!
- Mas nós somos uma família, quer a senhora queira ou não, a Camila está grávida e nós vamos ter o nosso filho. O fato de sermos casados não muda o fato de que eu amo sua filha e que não vou abandona – la.
- Meu Deus, Camila. O que você foi fazer. – ela fala com decepção e chora. Fico arrasada e choro também.
- Dora, calma. Não é o fim do mundo. A Camila é uma mulher, já tem 21 anos a faculdade está perto do fim e o Renato está com ela. Tudo bem, ela poderia ter esperado mais, mas aconteceu. Sua filha está grávida e sensível, precisa agora de todo o nosso amor e compreensão. Você já esteve nessa situação e sabe como é ruim precisar de apoio e não ter. – Leon fala.
- Eu sinto muito, mãe, mas eu estou tão feliz e já amo tanto o meu bebê. Por favor, não me faça querer ficar longe. Porque se a senhora não for me apoiar eu vou ter que distanciar de vocês e eu não quero isso. – Falo chorando.
- Ei, calma. – Leon vem para perto de mim.- Vai descansar, vai. Amanhã vocês conversam direitinho. Você não pode ficar nervosa, não é bom para a nossa princesinha. Renato leva ela para descansar. – Renato se levanta e me ajuda ficar de pé.
- Espera! –Minha mãe fala. – Me desculpem. Eu me arrependo da maneira que reagi. Me perdoem. Eu sei que estou sendo irracional.
Corro até ela e nos abraçamos. Era tudo o que eu queria desde que descobri que estava grávida, um abraço da minha mãe.