68 - Ao abrir os olhos

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O domingo amanhece e eu já estou cheia de saudade da minha filha. Apolo não sai do meu lado. Estamos na casa dele, só vou voltar para casa com a Mirella, por enquanto vou ficando por aqui. A academia já está pronta. Enquanto ele  está na esteira eu estou sentada tentando ler um livro, mas não consegui me conectar com a história ainda, meus pensamentos sempre me carregam para a minha filha naquela UTI. Eu sei que ela vai ficar bem, ela tem que ficar, mas eu queria tanto escutar a voz dela, responder suas perguntas mirabolantes... tenho que pensar que logo logo ela estará aqui conosco.
- Você está bem, meu amor? – Apolo pergunta enquanto corre.
- Estou tentando me concentrar mas não consigo.
- Fico pensando na Mirella. Estou com tanta saudade da minha filha. – Falo e uma lágrima escorre no canto do meu olho. Ele para a esteira e caminha até onde eu estou.
- Vai ficar tudo bem, meu amor. O pior já passou, agora ela só precisa se recuperar. Olha, eu te garanto que logo logo ela vai estar tagarelando por aqui e te deixando constrangida. – Ele fala e sorri.
- Esse é bem o jeitinho dela, né? – Sorrio entre lágrimas.
- É sim, foi o que mais me encantou nela. Essa falta de freio para falar as coisas.
- Ela te adora por isso, pela atenção que você dá à ela, por sempre escutar o que ela tem para dizer.
- Não fica triste, amor. Deus está cuidando dela. Você sabe que o pior já passou, agora é só esperar ela acordar. Posso  te fazer uma pergunta?
- Claro.
- O que você e o Renato conversaram ontem?
- Bem, ele se desculpou e disse que iria me devolver tudo. Eu disse que não queria nada, que o que sempre quis foi o que a Mirella tinha direito. Falei também que ainda não estava pronta para perdoa-lo, mas que quem sabe um dia eu pudesse fazer isso.
- Você acha que ele já entendeu que eu estou na vida de vocês em definitivo, que não vou embora por nada?
- Sim, ele entendeu. – Falo e o beijo.
- Isso é bom. Vamos almoçar com meus pais e depois vamos para o hospital visitar aquela garotinha tagarela.
Vamos para a casa dos pais dele. Percebo que Ari está um pouco fora do ar, o fato de reencontrar o pai do Beto não fez nada bem para ela. Apolo detesta ver a irmã assim, é por isso que ele não quer que o Alberto nunca tenha nenhum tipo de contato com o pai, ele suportaria tudo, menos ver o sobrinho magoado por causa do pai.
Consigo me distrair um pouco com eles. Alberto perguntou por Mirella e eu disse que ela havia viajado com o pai, achei que não seria bom contar para ele que a amiguinha estava doente. O que não esperava era a pergunta que ele fez à mãe.
- Mamãe, por que o meu pai não me levou para viajar com ele, assim como o pai da Mimi? – Percebi que isso quebrou Ariella por dentro.
- Beto, seu pai está trabalhando não tem como te levar. – Consuelo fala, ficamos todos calados.
- Nas férias nós todos iremos viajar, Beto. Eu, você, Mimi e Camila. Que tal?  - Apolo fala.
- Vai ser legal. – Ele fala sem muito interesse, ele só tem 6 anos, seus sentimentos são evidentes. 
Querendo ou não, o clima fica muito pesado e isso deixa Apolo extremamente chateado. Apolo simplesmente odeia o pai do Beto por isso. Essa situação não é nada boa, pode machucar ainda mais a todos eles.
Perto da hora da visita resolvo sair logo, estou ansiosa para ver a minha filha. Fazemos o caminho todo em silêncio. Quando estamos chegando ao hospital vejo Renato e Marta descendo do carro. Apolo abre a porta para que eu desça e segura a minha mão. Caminhamos todos juntos até à entrada da UTI.
- Dormiu bem, querida? – Marta me pergunta enquanto esperamos a autorização para entrar.
- Eu tentei, né? Estou com muita saudade da minha filha. – Falo.
- Eu imagino. Cada canto de casa lembra ela. – Renato fala.
- Não voltei  para casa, só vou voltar com ela. – Me encosto em Apolo que me abraça e beija a minha cabeça. – Percebo que Apolo nos observa, mas deixo para lá.
- Familiares de Mirella Rocha. – Uma enfermeira chama.
- Somos nós.- Falo me aproximando dela.
- Nós começamos a tirar os sedativos dela. Ela pode acordar a qualquer momento, então caso ela acorde tentem não cansa-la muito, tudo bem. – A enfermeira fala.
- Tudo bem. – Eu e Renato falamos.
- Vocês podem entrar de dois em dois. – A Enfermeira fala.
- Entrem logo vocês, nós vamos depois. – Apolo fala.
- Está bem. – Respondo e entro com Renato.
- Seu namorado é bem corajoso. – Renato tenta brincar comigo.
- Ele é maduro, isso sim. Ele entende a seriedade desse momento e confia em mim, assim como eu confio nele.
- É, eu percebi.
Passamos por todo o processo de entrar em uma UTI e seguimos para o leito de Mirella. A aparência dela está muito melhor, graças a deus. Nos aproximamos da cama e ficamos cada um de um lado.  Renato puxa um banquinho e se senta próximo à ela. Enquanto eu acaricio seus cabelos ele segura sua mãozinha e beija.
- Acorda, minha bonequinha, nós estamos com saudade. – Ele fala.
- Deixa eu ver esses olhinhos lindos, meu amor. – Falo suavemente.
- Mamãe. – Ela fala baixinho e abre os olhinhos lentamente.
- Oi, meu amor. – Falo chorando.
- Onde eu estou? – Ela pergunta.
- Você está no hospital filha. Você estava doente, não lembra? – Eu pergunto.
- Não. Eu só lembro que estava sentindo uma dor na minha barriga. – Ela fala e percebe Renato. – Oi, papai, a minha barriga estava doendo de verdade.
- Eu sei, princesa. Desculpa o papai? – Ele pergunta com os olhos cheios de lágrimas.
- Desculpo, papai. – Ela fala. – Mamãe, cadê o tio Apolo?
- Está lá fora, ele vai entrar daqui a pouco para te ver. – Respondo.
- Papai, cadê os meninos, hein? – Ela pergunta para Renato.
- Estão em casa, princesa. – Renato responde.
- Eles não vão vir me ver? – Ela pergunta.
- Eles não podem entrar aqui, filha. Hospital não é lugar de criança. – Renato fala.
- Só de criança doente. – Ela fala.
- Só quando estão doentes, exatamente. – Renato acha graça.
- Vocês são amigos de novo? – Ela pergunta nos olhando.
- Somos, filha. Nós sempre vamos ser amigos, sabe por que? – Pergunto e ela balança a cabeça em negação. – Porque nós te amamos e sempre vamos fazer o melhor para você. – Falo.
- Exatamente. – Renato concorda. – Não se preocupe, filha, nós sempre estaremos juntos por você.
- E eu posso ter uma aniversário com todo mundo? Mamãe, papai, todos os meus avós, os meus irmão, tio Apolo, tio Thiago, tia Laura, Beto, tia Gabi. Todo mundo que eu gosto?
- Pode, filha, do jeito que você quiser, com quem você quiser.- Respondo, pois realmente farei isso por ela.
- Combinado, então.  Quando eu vou sair daqui? – Ela pergunta.
- Ainda não sabemos, mas até lá você vai ficar bem quietinha e comportada para ficar boa logo. – Renato fala.
- Está bem. – Ela diz meio triste.
- Agora nós temos que ir, filha. – Falo.
- E eu vou ficar aqui sozinha? – Ela pergunta.
- Não, aqui tem muitos médicos e enfermeiras. Por enquanto você tem que ficar aqui para ficar boa logo. – Falo.
- E depois? – Ela pergunta.
- Quando você estiver melhor vai para o quarto e aí eu vou ficar com você até você poder ir pra casa. – Falo.
- Vamos para o apartamento ou para a casa do Tio Apolo? – Ela pergunta e Renato fica tendo.
- Para onde você quiser. – Falo para ele entender que não deve se meter.
- Nós temos que ir, princesa. A vovó Marta quer te ver também. – Renato fala.
- Está bem.
-Te amo, filha. – Falo.
- Eu também, mamãe.
- Eu também te amo, princesa.
- Eu também te amo, papai.

Renato

Depois que as visitas acabam sigo com a minha mãe para casa. Ainda não falei nem com meu pai nem com meu irmão. Tatiana foi com as crianças para a casa dos pais, é melhor assim, não sei se vou conseguir conviver normalmente com eles outra vez.
- Você está bem, querido? – Minha mãe pergunta.
- Estou tentando, mãe, mas está difícil. Está sendo muito complicado assimilar tudo o que houve, me sinto envolvido em uma trama diabólica.  Eu confiei naquelas pessoas.
- Também não está sendo fácil para mim, meu filho. Eu não consigo acreditar no que o seu pai e seu irmão fizeram. Da Tatiana nunca esperei nada de bom, afinal ela sabia que você era casado.
- Eu perdi tudo, mãe.
- Filho, eu te amo, mas você sabe que também tem sua parcela de culpa.
- Eu sei. Tenho que me conformar e tentar viver o mais normal possível com a Camila. É difícil ver esse cara ocupando um lugar que é meu.
- Temos que dar graças a Deus por ele ser uma boa pessoa. Se o você visse o carinho que a Mimi tem por ele, ela ficou tão feliz quando viu que ele também estava lá.
- É, eu sei. – Falo meio chateado.
- Ele é tão gentil e educado.
- Mãe, você está do lado de quem? – Falo ofendido.
- Da minha neta. Do que for melhor para ela.
- Me sinto sem rumo.
- Filho, com todos os problemas, temos que ser gratos porque sua filha está viva!
- É verdade, mãe. Você está certo.
- Quanto ao resto, só o tempo vai dizer.

Falta pouco para chegarmos ao fim dessa história que amei escrever.

Dona de MimWhere stories live. Discover now