62 - Um recomeço

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Acordo na casa nova do Apolo. São 8 da manhã, dormimos apenas duas horas, olho para o lado e percebo que ele não está no quarto, onde será que ele está? Resolvo me vestir e ir procura-lo. Sigo para o banheiro para tomar uma ducha rápida. É tudo tão lindo aqui, sonho com o dia em que vou poder viver esse amor inteiramente, mas sei que preciso ir com calma, tenho uma vida muito complicada.
- Morena! – Escuto ele me chamar de fora.
- Estou no banheiro, amor. Já vou.  – Grito.
- Eu trouxe comida, não demora, temos que correr. – Ele fala de fora.
- Já estou indo. – Falo pegando um roupão que estava pendurado do lado de fora box. Me enxugo um pouco e visto minha calcinha e o sutiã que usei na noite passada.  Saio e ele está ajeitando a comida na cama mesmo.
- Nossa. – Ele fala me encarando.
- O que foi? – Pergunto.
- Esse com certeza é o melhor café da manhã de todos.
- Para, Apolo, assim eu fico envergonhada. – Cubro o rosto com as mãos.
- Que besteira. – Ele diz vindo até mim e me abraçando. Ele veste apenas uma calça de moletom, as roupas dele já devem estar por aqui. – Vem comer, temos que ir para encontrar sua família.
- E a sua também. Ainda bem que eles vão estar lá, talvez o clima fique mais leve. Ou não. – Falo tomando suco.
- Vai dar tudo certo. O que acha de mais tarde irmos ao shopping escolher algumas coisas para cá? Pelo menos do quarto da Mimi. Tenho um amigo que é dono de uma loja de decoração ótima. – Ele fala enquanto come.
- Acho bom. Sorrio para ele.
- Também quero ir em uma loja de esportes, quero montar minha academia aqui em casa mesmo, para não precisar sair.
- Ótima ideia.
- Por falar nisso não treinei hoje, já me sinto menor.
- Menos, Apolo. Você é enorme, para perder tudo isso você vai precisar faltar bem mais que um dia de treino.
- Mas falando sério, com a academia aqui fica tudo bem mais prático.
- Sim, isso é verdade.
Terminamos de comer e ele só veste uma camiseta, pois vai trocar de roupa na casa dos pais. O maior impacto de ver ele sem os ternos é ver a tatuagens, ele fica ainda mais quente, se é que me entendem. Como estamos no mesmo bairro não demoramos a chegar. Seguimos direto para o quarto dele pois temos que ir encontrar meus avós. Mamãe me manda uma mensagem avisando que está de saída. Vamos lá, hora do show.
- Querido, vamos levar sua irmã no carro do seu pai, você vai com Camila no seu. – Consuelo fala quando estamos todos saindo.
- Está bem, mamãe. Nos vemos já.
Os três seguem para o carro de Heitor e eu sigo com Apolo para o carro dele. Meu coração começa a bater forte, estou nervosa. Apolo põem o carro em movimento , mas percebe minha tensão.
- O que foi, boneca? – Ele me pergunta.
- Sei lá, me  deu um medo de repente. – Falo.
- Calma, morena, vai dar tudo certo. Não tem o que temer, é só a sua cabeça te pregando peças. – Ele vira pra mim e sorri. – Calma, morena, você não precisa ter medo.
- É verdade. Você está certo.
Apolo dirige por mais um tempo e chegamos à casa dos meus avós. É um casarão bem antigo, em estilo colonial, combina bem com meu avô. Descemos do carro e minha mãe também chega ao local. Leon se põem ao lado dela e segura sua mão, Apolo faz o mesmo comigo. Mirella está com João e Lúcia, Alberto corre para a mãe.
- Vamos lá, pessoal, vai dar tudo certo. – Apolo fala e vai andando na frente me levando junto com ele. Toca a campainha e nós aguardamos. Uma funcionária atende.
- Bom dia, o senhor e a senhora Balman já estão aguardando. – Ela nos dá passagem. – Me sigam, por favor. – Nós a seguimos até a área externa. Quando passamos pela porta vejo meus avós de pé. Para a minha surpresa ela é idêntica a mim e à minha mãe.
- Oi, vovô. – Falo para quebrar o gelo. Minha avó chora.
- Oi, minha querida. – Ele responde.
- Onde está Dorotéia? – Minha avó pergunta quando não a vê.
- Estou aqui, mãe. – Minha mãe fala aparecendo.
Por alguns instantes fica tudo meio tenso. Minha mãe encara os pais e eles a encaram de volta. Ninguém diz nada, consigo até ouvir as nossas respirações, resolvo eu mesma fazer alguma coisa.
- VoVô, vão conversar em algum lugar mais tranquilo. Eu e o restante do pessoal ficamos aqui aguardando vocês, o que acha?
- Ótimo, vamos querida, vamos para sala. – Ele diz chamando minha avó.
- Vai, mamãe. Qualquer coisa estamos aqui. – Digo para a minha mãe que segue para dentro com os pais.
Dorotéia
Nunca pensei que esse dia aconteceria, o dia de reencontrar meus pais. Eles me magoaram muito, sei que tive minha parcela de culpa, mas eu era só uma garota imatura, achava que o Márcio era o homem da minha vida e que tinha que viver aquele amor de qualquer jeito. Ele poderiam ter entendido que eu era só uma menina, uma menina com uma criança no colo. Mas não vim aqui para brigar, quero por uma pedra em tudo isso e esquecer esse assunto. Entro na casa com eles e vamos até a sala.
- Senta, filha. – Meu pai me indica o sofá. Minha mãe e ele se sentam de frente para mim. – Antes de qualquer coisa, eu quero dizer que esperei muito por esse momento. Eu te procurei por muito tempo Dorotéia. É como se você tivesse sumido do mapa.
- De certa forma eu sumi, não uso mais o Balman há muito tempo. Mudei para Dorotéia Rocha, agora Dorotéia Santino.
- Filha, nós sofremos muito durante todos esses anos. Não queremos mais essa separação, cometemos erros e estamos dispostos a nos redimir com você. – Minha mãe finalmente fala.
- Eu não posso prometer que vou conseguir esquecer tudo por agora.
- Nós entendemos, mas nós podemos tentar. Temos netos que não conhecemos, queremos fazer parte das vidas deles, filha. – Meu pai fala.
- Podemos tentar, mas como disse, não esperem que a nossa relação melhore imediatamente. A vida foi muito dura comigo e alguns feridas ainda estão abertas. – Falo com a voz embargada.
- Nós sabemos. São quase 30 anos sem saber onde nossa filha estava, se tinha o que comer, se tinha onde dormir, sem saber estava doente. Os pais as vezes erram, Dorotéia, você já deve saber disso, não queremos mais ficar longe de vocês. – Meu pai fala e eu sinto verdade em sua voz.
- Isso é verdade, passei por tantas coisas que acabei sendo muito dura com a Camila, muitas vezes até injusta, mas sempre com intenção de que ela não cometesse os mesmos erros que eu. Mas sabe o que eu descobri como mãe? Tem coisas que não estão no meu controle, que nunca vão estar. A única coisa que posso fazer é estar ao lado dela quando ela precisar de mim.
- Isso é verdade. Filha, nos perdoe por tudo que nós te fizemos passar. Por tudo que nós fizemos vocês passarem. – Minha mãe fala.
- Vamos tentar, ok? Não posso prometer que vai ser tudo maravilhoso, mas prometo que vou tentar. – Falo
- Está bem. – Meu pai fala.
- Para nós já é muito. – Minha mãe fala. – Podemos chamar as crianças agora?
- Claro, vou chama-los. – Falo e pego meu celular para chamar Leon e as crianças. – Eles já estão vindo.
Pouco tempo depois  Leon entra com meus filhos e minha neta. É estranho falar isso, mas sim, eu já sou avó. Olho para eles e me orgulho, apesar de todas as dores eu construí uma família linda, mesmo com todas as dificuldade, eu venci. O sofrimento querendo ou não me trouxe eles.
- Esses são João, Lúcia e Camila, meus filhos. – Falo apontando para cada um. – Minha neta, Mirella. – Toco Mimi. – E meu marido Leon. Gente, esses são meus pais, Jorge e Doralice.
- Oi, biso, oi bisa, eu sou a Mirella, mas pode me chamar de Mimi. – Mirella fala com seriedade e todos riem.
- Olá, Mirella, é muito bom conhecer você. Aliás é maravilhoso conhecer cada um de vocês. – Meu pai fala pegando Mirella no colo.
Logo eles estão rodeados pelos netos que fazem muitas perguntas, que falam sobre si mesmos, eles não querem perder nada. Eu apenas os observo. Meus três filhos com os avós.  Quem diria que esse dia chegaria.
- Está tudo bem? - Meu marido pergunta enquanto me analisa.
- Está. Não me olha com essa cara, eu estou bem. - falo e sorrio.
- Tem certeza?
- Claro que tenho. Você estava certo, todo o sofrimento que passei me levou até você, até a vida que temos hoje. E quer saber? No final tudo valeu a pena.
- Isso me deixa muito feliz.
- Vocês me fazem feliz. - Falo e ele me abraça. Ficamos ali observando aquela cena que eu pensei que nunca iria acontecer.  No final das contas esse foi  um dos melhores finais de semanas da minha vida. Camila está bem, as crianças estão bem. Estamos todos bem, finalmente.

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