Medo: Contos de Terror

Por WilliamDaRocha

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Assombrações, demônios, vampiros, lobisomens, zumbis e mais. Cada capítulo de Medo é um novo e aterrorizante... Más

1. Home Office Macabro
2. A Casa da Rua 2
3. Dia de Sorte
4. Criaturas da Lua Cheia
6. A Caçada
7 - Sozinha

5. O Mal Observa Enquanto Você Dorme

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Por WilliamDaRocha

Desde que se mudara - para um apartamento pequeno em uma cidade chata -, Julia não sabia ao certo quando as coisas estranhas haviam começado. Nos primeiros dias, acordava-se com a sensação de que alguém a chamava.

Julia... Julia... JULIA!
Despertava, olhava para todo o seu quarto. Levantava-se, espiava pela janela (como se do nono andar fosse capaz de ouvir alguém a chamando da rua!), depois ia até o quarto da mãe (que "dormia feito uma pedra" devido aos efeitos dos remédios que ela tomava sabe-se lá para o quê) e, sem ter nenhuma explicação para o que acabara de acontecer, contentava-se com "foi mais um pesadelo"; uma versão sonora de pesadelo que continuava mesmo quando os olhos de Julia já estavam abertos.

Aliás, o pesadelo (de verdade) iniciou quando soube, através de sua mãe, sobre a mudança.
(Por que você não me consultou antes?)
(Não tenho que consultá-la, estamos sem dinheiro!).
Trocar para aquela cidade já seria terrível por si só, mas Julia fora obrigada a abandonar muitas coisas importantes no processo.
(Não, mãe! Não vamos doar o Tobby!)
(Ele terá um grande espaço para correr na casa do Seu Rodolfo. Nós não podemos continuar tendo um cão!)
Ana, a mãe de Julia, acreditava que a maior parte do comportamento da filha era rebeldia adolescente, o ônus dos 14 anos.
(Mãe, tive um pressentimento ruim no momento em que entrei neste apartamento.)
(Ah, claro que você teve!)
Mas tudo aquilo estava sendo verdadeiramente muito duro para a garota.

Em seguida, veio o frio. Julia não entendia porque acordava com lençol e cobertores no chão durante algumas noites. Já vira algo assim em um filme, mas preferiu não pensar muito a respeito quando aquilo começou; era melhor simplesmente prendê-los debaixo do colchão.

Julia... Julia... JULIA!
Os pesadelos continuavam.
"Mãe, estão acontecendo coisas estranhas..."
"Sim, você não me ajuda! Deixou as revistas espalhadas pela sala..."
"Do que você está falando?"
"Eu estou cansada do seu comportamento, Julia! Não poderá sair até o final da semana!"
"Ótimo, muito que eu saio nesta cidade de me***!"
"Você não valoriza tudo o que faço por você! Agora, só sairá do quarto quando eu permitir!"

O relacionamento entre Julia e sua mãe já vinha piorando nos últimos 3 anos, desde que papai saiu para procurar emprego e nunca mais voltou.
(Julia, ele não quer mais viver conosco. Agora somos apenas nós duas...)
Mas, enquanto viviam na antiga casa, os desentendimentos tinham um fim, pois terminavam com uma reconciliação até que a próxima discussão surgisse. No apartamento, no entanto, eles apenas acumulavam, juntavam-se com toda a mágoa e rancor gerado a cada novo atrito entre mãe e filha.

Julia... Julia... JULIA!
"Malditos pesadelos!"
Naquela noite, Julia levantou-se de sua cama e caminhou até a cozinha, pois estava com sede. Abriu o armário, pegou um copo e começou a enchê-lo com água da torneira; ouviu passos no corredor. Preparava-se para fazer algum comentário com a sua mãe sobre também não estar conseguindo dormir, mas ninguém apareceu. Ainda dando alguns goles na água que acabara de servir, caminhou até o local onde achava que o som viera: ele estava vazio.
(Apartamento de bo***!)
Voltou para a cozinha e surpreendeu-se ao encontrar a porta do armário aberta. Fechando-a, logo em seguida.
(Eu podia jurar que já tinha fechado!)
Lavou superficialmente o copo que acabara de usar e o deixou em cima da pia. Sentia como se estivesse sendo observada e, na sala - que era separada da cozinha por um balcão -, olhou ao seu redor; mesmo estando sozinha, era como se soubesse que alguém estava em algum canto daquela sala, parado, escondido nas trevas e vendo cada movimento que Julia fazia.
(Apartamento de bo***!)

No outro dia, ao preparar as suas torradas para o café da manhã, Julia foi interpelada pela mãe.
"Você encontrou o que tanto procurava na cozinha?"
"Do que você está falando?"
"Ótimo! O que você vai inventar agora? Sonambulismo?"
"Acho que aqueles remédios estão te deixando maluca!"
Ana agarrou Julia com força pelo braço.
"Eu sei que não está fácil para você, mas também não está para mim! Então, se você quer chamar a minha atenção, começa me ajudando! Deixar todas as portas dos armários abertas durante a noite não melhora a situação entre a gente!"
"Eu não fiz isso! Me solta, está me machucando!"
Não demorou muito para os hematomas dos dedos da poderosa mão de Ana aparecerem no braço de Julia.
(Deixar as portas dos armários da cozinha abertas? O que eu ganharia com isso?)

Na escola, em que acabara de entrar, a situação não era muito diferente. Julia não era o tipo de garota que fazia amigos de maneira fácil e, para melhorar ainda mais, parecia que tinha virado o alvo de algumas brincadeiras duvidosas: terra dentro de sua mochila, chiclete grudado no cabelo e um papel escrito FEIOSA colado nas suas costas (e essas foram apenas as mais marcantes das primeiras semanas). E, quando chegava em casa, sua mãe parecia ter se tornado tão ruim quanto aqueles colegas que a maltratavam. Em um sábado à tarde, Julia estava em seu quarto, sentada à escrivaninha, e fazendo algumas tarefas de português; já havia terminado 80% da redação que precisava escrever, quando foi até o banheiro. Ao voltar, encontrou suas folhas completamente riscadas, como se alguém com raiva tivesse pressionado a ponta da caneta indo e voltando, várias e várias vezes sobre o texto em que trabalhara por duas horas. Só havia mais uma pessoa em casa: sua mãe, que estava assistindo TV na sala.

"Por que você fez aquilo?!"
"Julia, por que você está chorando? O que está dizendo?"
"Você está ficando completamente louca e quer me deixar também!"
"Garota, eu não sei o que aconteceu, mas me respeite!"
"Você riscou minha folhas!"
"Julia, eu não fiz nada disso!"

Novamente, não houve reconciliação após a discussão, apenas um acúmulo de sentimentos ruins entre mãe e filha. A raiva e a tristeza estavam sendo despejadas dentro da existência de Ana e Julia, distribuídas por um mal que existia antes mesmo delas se mudarem para aquele lugar; um mal que Ana nem cogitava que pudesse existir.
(Oi, encontrei o anúncio do apartamento na internet... O valor do aluguel me agrada bastante... A antiga moradora fez o quê? ...Olha, realmente imagino que eu não encontre nada mais barato e tão bem localizado... )

"Mãe, eu vi alguém dentro do meu quarto!"
"Filha, eu passei a noite toda vendo TV na sala, posso te garantir que ninguém foi até o seu quarto. Nem mesmo eu."
"Tem algo ruim acontecendo! Eu estava lendo na internet..."
"Sim, você soube da moradora anterior que se matou neste apartamento."
"Não foi isso! Espera... a moradora anterior se matou?"
"Sim, e por isso que conseguimos pagar o aluguel."
"Talvez seja isso, eu estava lendo que demônios podem..."
"Julia, para! Demônios ou fantasmas não existem! Para de inventar coisas para irmos embora daqui. Não temos mais dinheiro, eu estou prestes a ser demitida do emprego que recém consegui! Para! PARA!!"

Naquela noite, Julia estava proibida de sair de seu quarto - e sem celular ou computador - até que deixasse de inventar coisas. Iria dormir com a luz acesa, mas sua mãe mandou desligá-la.
(Estamos com pouco dinheiro para você ficar gastando sem necessidade! Já disse que fantasmas não existem...Para, Julia! PARA!!)
A garota estava exausta, mas a sua cabeça estava a mil, pensando em alternativas para resolver aquela situação que parecia insolucionável. Ela estava convencida de que algum tipo de entidade maléfica era a responsável por tudo de estranho que estava acontecendo; o vulto, a observando ao pé da cama, tinha sido o último sinal para confirmar a teoria que amadurecia em seus pensamentos. Mesmo com todo o cansaço que sentia, passou das 22 horas, 23, 00, 01, 02, até às 3 da madrugada e ainda estava acordada, pensando sobre como sair daquele terrível círculo do inferno que ela e a mãe entraram.

"Aquela sensação novamente..."
Julia sentia-se sendo observada mais uma vez; sua reação imediata foi se tapar até a cabeça. Mas, logo em seguida, notava que, vagarosamente, seu edredom estava sendo puxado. Tentou segurá-lo com força, enquanto seu corpo já começava a tremer involuntariamente devido ao terror da situação.
(Vai embora, vai embora...)
A garota pensava enquanto sentia a força oposta puxando o seu "escudo" até que, em determinado momento, parou. Julia não queria olhar para fora da coberta.
Julia... Julia... JULIA!
Com uma força descomunal, o edredom que cobria a garota foi jogado para longe de sua cama. Aos seus pés, estava uma velha - pálida, calva e de dentes podres - dando um sorriso sinistro e observando Julia fixamente através de seus olhos vazios.
"AAAAAHHHHHH! SOCORRO! SOCORRO..."
Julia berrava incessantemente de seu quarto, enquanto que sua mãe, do lado de fora, controlava-se para não entrar e ceder à suposta rebeldia da filha.
Silêncio...

No outro dia pela manhã, Ana esperava na bancada da cozinha pela filha. Passara a noite pensando em como ter uma conversa madura; buscava um jeito de Julia finalmente se tornar uma parceira e juntas superarem a complicada situação financeira e emocional que enfrentavam.
(Se não vai ajudar, não atrapalha ainda mais, Julia!)
A garota apareceu e correu para abraçar a mãe.
"Me desculpe por tudo que fiz você passar até agora, mãe!"
Ana, sem entender o que estava acontecendo, apenas limitou-se a retribuir o abraço. Prontamente, Julia dirigiu-se até o balcão onde ficava a cafeteira.
"Deixa que hoje eu faço o seu café da manhã."
"Obrigada! Eu estava esperando para conversar com você sobre o seu comportamento..."
"Mãe, eu sei, mas eu tive uma noite pra refletir bastante sobre ele, eu sei que tenho sido péssima."
"Espero que daqui para frente as coisas entre nós mudem."
"Mãe, pode ter certeza de que elas vão mudar para muito melhor!"
Virada para a janela que ficava acima do balcão, Julia esboçava um sorriso sinistro enquanto que o rosto de uma velha, de pele pálida e dentes podres, sorria de volta pelo reflexo do vidro.

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Comentários do autor:

E voltamos para mais um conto sobre assombrações em casas (neste caso, foi um apartamento). Ah! Não deixe de votar e comentar.

Qual será o tema do próximo?

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