Apesar de eu saber que havia a possibilidade de não passar, dentro de mim havia uma certa expectativa de que eu conseguiria. Eu não sei nem o que pensar neste momento. Minha cabeça está confuso e eu só consigo imaginar que estou ficando para trás. Penso em toda minha turma cheia de planos pela frente, no Renato seguindo o sonho dele e o único sentimento que eu consigo ter neste momento é o de fracasso. E agora, o que eu faço?
- Filha, você está bem? – Só então me dou conta de que minha mãe e Leon ainda estão parados na minha frente.
- Estou. – Respondo de maneira automática.
- Camila, eu disse que pago a faculdade que você quiser. Existem muitas universidades particulares tão boas quanto as públicas. –Leon fala.
- Eu preciso ficar sozinha, gente. Por favor? – Falo.
- Tem certeza, filha? Não quer que eu fique aqui com você?
- Tenho mãe.
- Vamos deixar ela, Dora. Qualquer coisa é só chamar.
- Está, bem. Obrigada.
Assim que eles passam pela porta eu tranco a mesma. Quero ficar sozinha. Não quero ninguém olhando para mim com pena, isso só aumenta o sentimento de incapacidade que está tomando conta de mim.
A manhã passa rapidamente e já é quase hora do almoço. Não sinto fome, só quero ficar quieta na minha cama, no meu canto. Preciso pensar. Como esperado Renato me liga ao meio dia, mas não quero atender, não quero ter que contar isso para ele , não agora. Sei que ele vai exagerar nos cuidados e querer saber o que estou sentindo, o que pode fazer para me ajudar e eu não quero isso agora, com ele morando há alguns quilômetros de distancia de mim.
O telefone chama outra vez e eu continuo olhando para ele. Chama pela terceira e pela quarta vez e então acho que ele desiste de ficar me ligando. Deve achar que eu estou ocupada e é melhor assim.
Ouço uma batida na porta.
- Camila, é o Renato no telefone. Ele quer falar com você. – É minha mãe.
- Eu quero falar com ele agora.
- Filha, ele está preocupado com você. Nós estamos. Abre a porta, por favor?
- Mãe, eu preciso ficar sozinha. Respeitem isso!
- Tudo bem. Renato, mais tarde você liga. Ela quer ficar um tempo sozinha. – Escuto ela falar do lado de fora do quarto.
A tarde passa e eu ainda não saí do quarto. Escuto quando Leon chega do trabalho e passa pelo corredor falando com a minha mãe. Fico feliz que ele não venha aqui e respeite o meu momento. A noite quando percebo que eles estão dentro do quarto resolvo sair e comer alguma coisa. Desço as escadas e sigo para a cozinha. Acendo as luzes e sigo para a geladeira. Pego uma maçã e um copo de leite e volto para o quarto. Já na cama o choro finalmente me consome até que eu pegue no sono.
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Acordo e são nove da manhã. Eu dormi demais. Lembro que não tenho nada para fazer e continuo deitada. Tenho que decidir o que vou fazer a partir de agora não posso mais ficar me lamentando. Vou para o banheiro e tomo um banho bem demorado. Escolho um vestido leve e o visto. Quando saio do closet ouço baterem na porta.
- Filha, você tem visita. – Quem será.
- Estou indo. – Abro a porta e encontro Dani com minha mãe. – Dani?
- Eu mesma. Fui enviada em missão.
- Que missão? – Pergunto curiosa.
- Falar com você e dar o meu total apoio.
- Entra. – Dou espaço para ela entrar.
- Vou preparar um lanche. Vocês conversam e depois vão lanchar. – Minha mãe fala e sai.
- Como você está, amiga? – Dani me pergunta assim que fecho a porta.
- Não sei, Dani. Sinceramente, eu não sei.
- O Re está muito preocupado com você, Mila. Muito mesmo.
- Eu sei, Dani. Mas eu queria ficar sozinha. Eu preciso do meu tempo também. Não quero a pena de ninguém, só queria o meu momento. Eu vou falar com ele, mas precisava pensar.
- E como você está agora, depois de ter pensado o dia todo?
- Eu quero encontrar algo para fazer até conseguir entrar na faculdade. Não posso ficar me lamentando.
- Camila, você está esquecendo de um pequeno detalhe?
- Qual?
- Tem a segunda chamada. Você ainda pode entrar.
- Eu sei disso, mas as notas de corte das duas universidades são muito altas. Não tem como.
- Mas não existem só essa duas, não existe só São Paulo.
- Você está dizendo para eu ir estudar em outra cidade?
- Sim. Muita gente faz isso.
- Será? Não sei. Para onde eu iria?
- Quem sabe o Rio de Janeiro?- Ela diz com ironia e ri.
- Ai meu Deus! Será que eu consigo Dani?
- Não custa tentar. – Abraço ela.
- Obrigada, amiga. Só não sei se minha mãe vai aceitar isso.
- Tenta. Muita gente vai fazer faculdade em outra cidade. É a coisa mais comum do mundo.
- E você, conseguiu?
- Consegui. Vou fazer administração.
- Parabéns, você merece.- Falo e volto a abraçar ela.
Conversamos mais um tempo e depois seguimos para a cozinha. lanchamos com minha mãe conversamos em um clima leve. Esqueço um pouco de tudo. Perto da hora do almoço Dani vai embora, pois vai almoçar com sua mãe em um shopping que fica próximo à minha casa.
Mamãe preparou um almoço e ficamos esperando o Leon chegar em casa para almoçar. Só vou falar com Renato depois que resolver essa situação com mamãe e Leon. Ele chega e nós vamos almoçar. Jogamos conversa fora enquanto comemos. O almoço termina e eu decido falar.
- Gente, queria falar com vocês lá na sala.
- Aconteceu alguma coisa, filha?
- Não mãe. Só quero conversar.
- Vamos para a sala. – Leon fala.
Na sala eles sentam lado a lado no sofá. Eu fico de pé e decido começar a falar.
- Gente, vai haver a segunda chamada para as universidades.
- Que bom, então ainda há uma chance. – Leon fala.
- Sim, mas não nas universidades daqui. As notas de corte foram muito altas e eu não vou conseguir. Então decidi tentar em outra cidade.
- Tipo o interior? – Minha mãe pergunta.
- Tipo o Rio de janeiro.
- Você não vai. – Minha mãe fala.
- E eu posso saber por que?
- Você só está fazendo isso por causa do Renato. – Ela fala.
- É claro que não, eu ainda nem falei com ele.
- E o bebê, Camila? Você está esquecendo que eu estou grávida?! – Ela grita.
- E a minha vida? Eu não tenho o direito de escolher?!
- Calma vocês duas. Dora senta e se acalma. Camila senta também. – Eu obedeço e sento no sofá oposto a eles. – Dora, a Camila não tem nenhuma obrigação com o nosso filho. Eu vou estar aqui com você para cuidar dele. Ela é jovem e tem que viver a vida dela. Camila, você por acaso está pretendendo morar com o Renato?
- Claro que não, Leon. Nós estamos começando a vida agora. Ele está com tudo no lugar lá Rio. Se eu for, vou fazer meu próprio planejamento. Arrumar um lugar para morar, um emprego. Não vou viver com ele. Mas não posso negar que será bom ter um rosto amigo por perto.
- Isso não está certo.
- Meu bem, não há nada de errado. Muitas pessoas com a idade da Camila saem de casa para fazer faculdade. Ela não será a primeira nem a última.
- Me deixa ir, mãe. Por favor.
- Tudo bem, Camila. Se é o que você quer, ficar longe da sua mãe e do seu irmão.
- Mãe, eu não quero ficar longe de vocês. Só quero construir a minha vida.
- Tudo bem. Não falo mais nada.
- Ótimo, agora que estamos acertados vamos esperar o resultado sair. Depois vamos para o Rio procurar um lugar para você morar. Um lugar seguro, bem localizado.
- Obrigada, Leon! – Eu o abraço. Ele tem sido maravilhoso para mim.
Conto as novidades para Renato e ele fica eufórico com a possibilidade de eu morar no Rio. É como se eu não tivesse passado por todo o drama que passei. Está no passado. Duas semanas depois eu consigo a aprovação que eu tanto queria.
Viajo para o Rio com mamãe e Leon para fazer minha matrícula e ver onde vou morar. Leon acaba pedindo para que eu more com sua tia que é sozinha e vive em laranjeiras não muito longe de onde o Renato mora. Ela é super simpática e parecida com a mãe de Leon que eu conheci recentemente. Sua tia se chama Cristina e tem 55 anos.
Compramos alguns móveis para o meu quarto e mais algumas coisas para a faculdade. Queria procurar um emprego, mas Leon quer que eu me dedique aos estudos. Então combinamos que ele vai dar me uma boa mesada e quando chegar a hora eu irei estagiar.
Me despedir da minha mãe não foi fácil. Nós nunca ficamos tanto tempo longe. Foi difícil ver o táxi indo embora com os dois e meu irmãozinho na barriga da minha mãe. O que me conforta é saber que agora ela tem Leon e eu posso correr atrás dos meus sonhos sem medo.
A faculdade começa e eu vejo Renato todos os dias no intervalo. Estudamos na mesma universidade. Ficamos bastante tempo juntos aos finais de semana, sempre saímos para passear e vez ou outra eu acabo dormindo no apartamento dele. Temos um novo ciclo de amizade e sempre estou com Gabi, que também está trabalhando por aqui.
Essa é a minha nova vida e eu espero ansiosa pelo meu futuro. Para ver que rumo minha história vai tomar. O que será que vem por aí?
Olá, queridos!!!
Fim da primeira fase da história.
Estão preparados para uma Camila mais velha?
Eu estou louca para mostrar essa nova Camila para