O filho perfeito

By RobertaDragneel

11.1K 1.7K 23.8K

Dinesh Yamir é o filho de um grande empresário, por isso as expectativas sobre o seu futuro são altas. Então... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Especial [+18]
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27 (Parte I)
Capítulo 27 (Parte II)
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35 (Parte I)
Capítulo 35 (Parte II)
Bônus: "A Carta"
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38 (Parte I)
Capítulo 38 (Parte II)
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 4

478 99 1.1K
By RobertaDragneel

"A traição supõe uma covardia e uma depravação detestável." - Paul Henri Holbach


Dinesh parou de se importar com a própria família e começou a andar com a pequena "gangue" do colégio. Eles batiam em falsos valentões e também cobravam o dinheiro do lanche de alunos dedicados, como uma gorjeta pelo serviço que faziam. O diretor não desconfiava dos quatro alunos pois o Dinesh usava a sua inteligência acima da média para formular planos infalíveis, além de os isentarem de qualquer culpa. Em pouco tempo, todos os estudantes respeitavam o grupo e o índice de bullying diminuiu consideravelmente.

Conforme se tornavam mais próximos, decidiram se encontrar fora da escola e começaram a se reunir na praça da cidade ou em um galpão abandonado. Arjun se comportava como o líder do grupo, sempre sendo o primeiro a falar e comandando os outros três, mas os demais sabiam que o Dinesh era o "cabeça" de tudo.

Segundo as concepções do Yamir, Rehan não parecia ser alguém confiável pois andava pelos cantos desconfiado, como um rato pronto para roubar o queijo. Além do mais, ele possuía o péssimo hábito de puxar saco de quem obtivesse vantagem, independentemente do lado em que essa pessoa estivesse. E, por final, Niyati agia por contra própria e só obedecia as ordens do Dinesh, lançando um olhar de canto em sua direção a cada oportunidade dada. No fundo, o garoto sabia que ela tinha uma leve queda por ele, porém deixou de lado porque não tinha interesse em relacionamentos.

Os quatro se reuniam no galpão ao final da aula para debater assuntos aleatórios ou apenas assistir algo no celular do Arjun. Às vezes, Rehan aparecia com alguns doces, roubados da mercearia do tio dele. Pela primeira vez, Dinesh não sentiu a pressão de ser alguém "perfeito" pois todos ali presentes tinham mais defeitos do que se podia imaginar. Por isso, esse ambiente tornou-se aconchegante e ele chegou a considerar os seus amigos como uma segunda família.

Por sorte, os seus pais não notaram a demora do filho para voltar para casa. Na verdade, eles estavam preocupados demais em ensinar o Kiran as primeiras palavras, mesmo o bebê ainda sendo novo demais para conseguir dizê-las, mas a sua risada desajeitada era o principal motivo da insistência deles.

E, nesse ritmo, um ano havia se passado rapidamente.

Em um dia ensolarado, os quatro estavam sentados no interior do galpão abandonado jogando conversa fora, após o celular de Arjun ter descarregado.

— Que dia chato!

— Nem me fale.

— O que podemos fazer? — comenta Niyati encarando os buracos no teto do galpão.

— Podíamos ir à feira.

— Sai fora, Rehan. Nós já fazemos isso quase todos os dias, deve haver algo melhor para fazer.

— Então dê uma ideia, Arjun!

— Sem briga, meninos.

— Podíamos invadir a piscina do vizinho do Arjun. Se não me engano, ele está viajando.

— Boa ideia, Dinesh! — concorda Niyati, o que não surpreende ninguém do grupo pois ela nunca discordava do garoto.

Porém, nesse caso, a ideia realmente havia sido boa.

— É tão bom ter um gênio no grupo!

— Menos, Rehan.

— Então, vamos? — pergunta Arjun.

— Vamos! — os outros três respondem em uníssono.

O grupo não seguia regras, gostavam de causar confusão por onde passavam mas, acima de tudo, eram unidos. Mesmo que um seja pego, não delatava os demais pois essa era uma das promessas deles. Os quatro pularam o muro do vizinho de Arjun, tomando o maior cuidado possível para não serem vistos. Logo após adentrarem no quintal, correram para a piscina tirando o excesso de roupas e pulando na água.

A sensação de liberdade aliviava o estresse do Yamir, principalmente porque compartilhava momentos assim com seus amigos.

Quando chegou em casa, avistou a sua mãe na sala observando o pequeno Kiran andar de forma desajeitada, ora caindo sentado e ora rindo bobo. Por esse curto período de tempo, Dinesh observou a cena sentindo-se deslocado em sua própria família. Ele não se encaixava nesse clima agradável, não mais. Então, seguiria para o quarto o mais rápido possível, se a voz da sua mãe não o fizesse parar no meio do trajeto.

— Dinesh?

Ele respirou fundo, recuando alguns passos até estar no campo de vista da mulher.

Mamadi.

— O que houve contigo? Você está molhado!

— Ah, isso... Bem, eu...

— Parabéns, Kiran! Dando os primeiros passos! — exclama Mahara abrindo um largo sorriso.

Em seguida, Raj chegava do trabalho e já corria para pegar o Kiran nos braços, ignorando o outro garoto completamente molhado. Após soltar um longo suspiro de frustação, Dinesh seguiu para o seu quarto.

No outro dia, o clima no café da manhã estava pesado e o garoto os fitava curioso, dando uma mordida na sua torrada com banana.

— O que houve?

— Não é algo que você entenderia, Dinesh...

— Claro que eu entenderia, esqueceu que sou inteli-...

— É sobre o Kiran. — Mahara o cortava antes de experimentar as batatas assadas. — Ele nasceu com a marca do escolhido.

— E o que isso significa?

— Significa que ele é a reencarnação do Rei Demônio.

Dinesh desvia a atenção para o pequeno Kiran que se sujava com a comida no prato e a sua única reação foi rir alto.

— O Kiran, um demônio? Vocês só podem estar malucos!

— É sério, Dinesh!

— É só uma lenda, baldi. Por que todos nessa família precisam ser atrasados ao ponto de dar importância a uma simples lenda urbana?

— Você é novo demais para entender.

— Que seja... Oh, ontem eu tive teste de matemática e tirei a maior not-...

— Como vamos proteger o nosso bebê? — questiona Mahara preocupada.

— Daremos um jeito, iadala. Por enquanto, nada aconteceu então estamos bem. — Raj dizia segurando a mão da esposa e sorrindo para confortá-la. — Eu vou proteger a minha família, eu prometo.

Ei, eu também sou sua família, Dinesh pensava cabisbaixo.

Ele perdeu o apetite mas sabia que não receberia uma bronca por deixar a comida no prato, afinal os seus pais estavam focados demais em ver o Kiran se sujar com a própria comida. Por isso, apenas pegou a sua mochila e seguiu em direção à escola com um semblante neutro. Atualmente, tinha certeza de que ser o filho perfeito já havia se tornado um sonho utópico e idiota.

(...)

Três anos haviam se passado e a relação do Dinesh com a família tornava-se cada vez mais distante. Eles mal dialogavam e Raj percebeu o erro de não dar atenção ao filho, mas parecia ser tarde demais. Mahara, à noite, buscava algum assunto para comentar com o garoto mas ele se recusava. Em contrapartida, o seu grupo continuava unido e, às vezes, Rehan trazia cerveja para beberem escondido. Porém, a ideia não perdurou por muito tempo porque nenhum deles gostou da bebida.

Então, decidiram passear pela cidade na madrugada saindo escondido de seus pais. Arjun sempre tomava à frente nas caminhadas, ditando o caminho onde os demais deveriam seguir. Rehan alternava a bajulação entre os dois garotos da equipe, porque tanto a liderança de um quanto a inteligência do outro mereciam destaque. Niyati andava ao lado do Dinesh, tentando chamar a sua atenção. O corpo dela havia desenvolvido muito bem mas, ainda assim, não conseguia a atenção desejada.

— Deveria dar uma chance para ela. — murmura Rehan no ouvido dele.

O grupo parou em um beco escuro, onde Arjun adentrou no local para falar com um dos seguranças ao lado da porta velha. Niyati, à contragosto, o acompanhou. O líder deles decidiu que a equipe iria assistir uma luta ilegal, muito frequente naquele horário. Mesmo sendo menores de idade, Arjun assegurou que usaria a influência da sua família para conseguir entrar, ocultando o fato de ter roubado dinheiro do pai para subornar os seguranças. Enquanto isso, Rehan tirou o tempo livre para convencer o Yamir à sair com Niyati. Particularmente, ele não gostava de trabalhar como cupido mas pensou ganhar reconhecimento do garoto se fizesse tal ato "nobre".

— O Arjun gosta dela, isso é óbvio. — dizia Dinesh de forma neutra, colocando as mãos dentro dos bolsos da jaqueta de couro. — E eu não tenho interesse na Niyati.

— Por que não? Ela é linda, todos os meninos do colégio caem aos seus pés.

— E...?

— E ela tem um cabelo bonito.

— E...?

— Ora, Dinesh! Eu não virei nenhum avaliador de garotas.

— Eu só quero te mostrar que você só conseguiu elencar pontos físicos sobre a Niyati, nada mais. Por que eu iria me apaixonar por alguém que tem apenas isso a oferecer? Eu sei muito bem que ela briga com a mãe e é uma péssima filha.

— Você também não é diferente. Na verdade, ninguém aqui é.

Dinesh engolia seco relembrando dos olhares de reprovação do seu pai, mas teve tal pensamentos disperso quando Niyati segurou sua mão puxando-o para o interior do local. Por sorte, Arjun conseguiu subornar os seguranças e os quatro entraram sem problemas. O interior da arena parecia uma boate pouca iluminada com um jogo de luzes vermelhas e azuis. As garçonetes com roupas curtas passavam entre os garotos chamando a atenção, principalmente, de Rehan. Em contrapartida, Dinesh não parecia tão interessado nas mulheres e sim, na arena no centro do ambiente.

O apresentador surgia, fazendo o discurso inicial enquanto o grupo sentava em uma mesa próxima ao ringue. Arjun pedia uma bebida qualquer enquanto Dinesh optava pela água. Niyati não perdeu tempo em sentar ao seu lado, segurando o braço do garoto.

— Aposto que dá para ver o sangue jorrando daqui, Dinesh! Será incrível!

— Sim, mal vejo a hora.

Niyati sorria vitoriosa pois sabia como o garoto não se controlava quando o assunto era relacionado às lutas.

O fato de ver duas pessoas lutando de perto captou toda a atenção do Dinesh. Ele gostava de ver as técnicas e queria muito aprender, mas não tinha coragem de pedir aos seus pais. Afinal, eles já o achavam violento sem fazer nenhuma arte marcial, então não queria dar mais motivos para instigarem essa ideia. A cada soco, o garoto se segurava firme na cadeira sem esconder o largo sorriso.

Nesse meio tempo, Arjun trouxe algumas drogas que distribuíam ilegalmente na boate. Os demais se encaram apreensivos mas o líder gesticula com desdém.

— Agora estamos no mundo adulto, queridos. Então, precisamos nos enturmar!

Dessa forma, quatro meses se passaram onde eles frequentavam essa boate todos os finais de semana para assistir às lutas. Certo dia, Dinesh foi chamado para lutar também – ideia vinda dos demais integrantes do grupo – pois o oponente era pequeno demais, além de ter um porte físico parecido. Sem conter a animação, o garoto entrou no ringue já adotando uma postura de batalha, mesmo que sendo desajeitada porque não sabia exatamente o que fazer.

Porém, a polícia invadiu o local e as pessoas corriam desesperadas. Niyati conseguiu escapar devido à sua habilidade furtiva e tentou levar Dinesh consigo, mas o garoto estava sendo empurrado por uma multidão. Então, a pessoa que segurou sua mão foi Arjun e ambos seguiram pela saída dos fundos. Do outro lado, Rehan correu em direção aos policiais aproveitando ser o mais novo do grupo para tentar se safar. Ele fez uma carinha inocente dizendo ter sido coagido por uma determinada pessoa e apontou para o Dinesh, afinal era o único restante da "gangue".

Alguns policiais tentaram pegar o Yamir, mas ele afastou as pessoas com empurrões e conseguiu se esconder agilmente debaixo da mesa. Quando a multidão diminuiu, aproveitou para escapar pela saída dos fundos junto com outros. Por causa da bagunça e euforia, não o reconheceram mas Rehan foi levado diretamente para a casa dos seus pais, onde precisaria se explicar.

Dinesh correu o mais rápido que suas pernas aguentaram, entrando em um beco escuro até esbarrar em um grupo de jovens. Eles o encaram friamente e o garoto dá alguns passos para trás.

— Desculpa, eu...

— Está querendo briga, moleque?

— Não, eu só quero passar.

— Então, peça desculpas adequadamente. Fique de joelhos, como os lixos devem ficar!

Os demais riem com o comentário do líder deles e Dinesh abaixa o olhar em direção ao chão sujo, onde deveria se ajoelhar. Porém, apenas uma frase escapou de seus lábios e estava longe de ser uma desculpa.

— Vão se foder!

E foi assim que ele se meteu em outra briga, mas desta vez apanhou para valer. O primeiro soco já o fez cair no chão e os demais serviram para fazer o sangue jorrar pelo seu rosto.

(...)

Dinesh não podia ir para casa nesse estado, cheio de machucados e sangue em sua roupa, por isso sentou no banco da praça admirando a Lua. Ele pensava em alguma forma de esconder as marcas da última briga mas, no fundo, sabia que a maior bronca da sua vida viria a seguir, além de ter que lidar com o sentimento de ser uma decepção para a sua família.

Em meio aos seus pensamentos, duas pessoas se aproximam conversando. A garota parecia ter a mesma idade do Dinesh, possuidora de belos olhos castanhos escuros e um curto cabelo negro quase tocando seus ombros, já o rapaz ao seu lado deveria ser cinco anos mais velho e tinha os mesmos traços dela.

— Você está bem? — dizia a garota preocupada aproximando-se do Dinesh.

— Ah... Sim, sim...

— Vamos voltar logo, bahan. — advertia o rapaz.

— Nada disso, precisamos cuidar dele primeiro. Ravi, vá na farmácia do outro lado para comprar soro fisiológico e curativos.

— Mas...

— Rápido, por favor!

Revirando os olhos, o irmão caminhava em direção à farmácia enquanto a garota sentava-se ao lado do Dinesh.

— Não se preocupe, o Ravi voltará logo.

— Por que está me ajudando? Eu nem te conheço.

Após ser traído por seu próprio grupo, ele não acreditava em bondade vinda de outras pessoas, principalmente estranhos. Porém, ao invés de ficar ofendida com seu comentário, ela apenas abriu um largo sorriso.

— Eu não preciso conhecer alguém para ajudar.

— E se eu for uma pessoa ruim?

— Você não é.

— Por que tem tanta certeza?

— Porque, se fosse, já teria feito algo comigo e eu não acho que vilões apanham tanto.

Ele deixa escapar uma risada anasalada.

— Apanham sim e como apanham. Ei, eu não sou um vilão!

— Então, é um herói?

— Com certeza não, eu estou mais para coadjuvante.

— Hum... Um coadjuvante que apanha, interessante.

Dinesh virava o olhar em sua direção, surpreendendo-se com o belo sorriso que essa garota tinha e a áurea agradável vinda dela. Mesmo machucado, ele não pôde deixar de sorrir também.

— Digamos que eu sou diferente.

— Eu percebi. Então, qual o seu nome?

— Dinesh Yamir e o seu?

— Shanti Rahaman.

Apesar de não compreender muito bem, Dinesh sabia que guardaria esse nome por toda a sua vida. 




*Bahan: Irmã

Continue Reading

You'll Also Like

53.2K 4.5K 19
* Concluído MINHAS OBRAS SÓ SÃO PUBLICADAS AQUI NO WATTPAD, NÃO LEIA EM OUTRO Samuel Gonçalves é um garoto tímido apaixonado pela confeitaria e pel...
989 230 18
Anastacia uma jovem doce e humilde, sonhava em encontrar seu verdadeiro amor. Ela conhece alguém que a faz pensar que é o cara certo mas na verdade...
2.1K 279 22
- Você é uma garota estranha, e eu gostaria de te virar do aveso - ele sussurra no meu ouvido, tão perto que sinto sua pele queimar. Meus nervos cr...
16.7K 640 5
Ele me disse que meu beijo e toque soavam como uma facada, ficar ao meu lado o fazia sangrar...