Gisele
Vesti-me com um vestido decotado, preto. Os cabelos ondulados, maquiagem pra noite e saltos delicados da mesma cor do vestido. Meu ruivo, usava um terno preto, sem gravata. Relógio no pulso, sorriso no rosto e o coração apertado pela exposição que ele estava sendo obrigado a aceitar. Ele não era mais aquele menino que um dia conheci. Nem eu mesma, era a mesma. O Nícolas de antes iria adorar isso tudo, e se possível iria fazer questão de deixar explícito que ele era o dono do mundo, só por causa da sua conta bancária. Ele mudou. A Pérola o fez mudar. A frieza da Fernanda o fez rever seus conceitos. A crueldade do pai dele, o fez perceber que a vida é mais que isso. Aquele mochilão que ele fez, a algum tempo atrás o fez enxergar o mundo do jeito que ele é. A falta de grana o fez perceber que ele consegue viver sem dinheiro. Ele amadureceu,não porque quis, mais porque foi forçado. Por causa dele eu também mudei. Eu entendo o elo que ele e o Artur tem. Eles se moldaram. Os dois são iguais, farinha do mesmo saco, mas os dois se protegem. E eu acho isso tão lindo, e invejo. Mas é uma inveja branca. O Bouer já nos aguardava. Avisamos que iriamos levar alguns amigos, e os vinhos. Ele se encarregou de preparar o jantar. Subimos todos, pelo elevador até a área vip do hotel. Um andar a disposição do cara mais famoso que conhecíamos. Os meninos estavam nervosos. O Júlio não parava de se olhar no espelho do andar. O Davi sorria, e a Lorena estava apreensiva. De mãos dadas ao meu marido, o Artur tocou a campanhia. O Bauer veio nos recepcionar. Um sorriso no rosto, e um pano de prato nos ombros. Roupas caras, e com um pouco de farinha nos cabelos.
— Finalmente chegaram.
— Cumprimentou um a um, e deu-nos passagem para entrar. Entramos, e o Júlio fechou a porta. — Preparei um menu digno dos deuses. — Todos rimos.
— O cheiro está maravilhoso.
— Comentei.
— Eu fiquei sabendo que vocês dois foram convidados para uma entrevista. — O Bauer, abria uma das garrafas que trouxemos dentro de uma das sacolas que o Artur o entregou.
— Fomos. — O Nícolas encarou o Artur,que sorria. Ele não conseguia se segurar. — A gravação vai ser em breve.
— Vocês merecem. — Ele entregou-nos, algumas taças. — E vocês quem são?
— Haviamos nos esquecido de apresenta-los.
— Esse é o Júlio, um dos advogados da Renome,e um grande amigo. — O Júlio sorriu. — Esse aqui, é o meu sócio Davi e essa linda moça, sua esposa.
— São todos bem vindos. E espero que se sintam em casa.
— Já estou me sentindo. — Comentou o Júlio. Eu peguei uma taça do vinho, e na hora que tomei um gole senti um forte enjoou.
— O que foi Gi? — O Nícolas Sussurrou em meu ouvido.
— Eu só preciso ir no banheiro.
— Comentei.
— Bauer, onde fica o toalete? — Deixei a taça na mesa de centro da sala onde estavamos.
— Naquele corredor,na segunda porta.
— Eu sorri agradecida,e fui com pressa. Eu nem percebi que fui seguida. Abri a porta do banheiro, e levantei a tampa da privada e vomitei.
— Gi,o que foi? Tá se sentindo mal?
— Era o Davi.
— Só tô enjoada. — Ele me entregou um pedaço de papel higiênico e eu limpei a minha boca. — Deve ter sido alguma coisa que comi mais cedo. A gente almoçou, depois comemos um monte de coisas no Gregos. — Fechei a tampa do vaso e sentei-me. Ele me olhava.
— Eu já estou me sentido melhor.
— Gi, tem certeza? — Eu assenti.
— Volta pra sala, sua esposa vai sentir a sua falta. — Ele riu.
— Ela que me mandou vim atrás de você. — Eu sorri.— A gente conversou bastante, quando eu fui busca-la. Ela entendeu que a gente é irmão, e que nosso laço é maior que tudo. — É, eu também tinha alguém como o Artur,e não tinha me dado conta até agora. Minha outra metade era o Davi.
— Me dar um abraço? — Levantei e ele veio me abraçar. E eu me aconcheguei em seu ombro.
Nícolas
Ríamos das piadas do Artur, e das histórias que ele fez ressurgir do tempo em que éramos dois "ninguéns" na Itália. A Gisele voltou pra junto de nós, o rostinho abatido e se sentou ao meu lado. Eu nem tinha dado conta de que o Davi também tinha se retirado,até que o vi se juntar a esposa em um dos sofás.
— Você está bem? — Ela assentiu.
— Tem certeza? Se quiser eu posso te levar pra casa? — Ela sorriu, e entrelaçou uma das mãos sobre a minha.
— Eu tenho. A noite está tão linda, e todos tão felizes. Eu não quero estragar isso. — Sussurrou de volta.
— Você não vai estragar. Somos um casal. — Acariciei seu rosto, e beijei seus lábios.
— Por isso eu te amo. — Murmurou,entre risos.
— Pensei que fosse porque eu sou lindo. — Brinquei e ela riu.
— Também é. Você é irresistível.
— Nick , o Artur me disse que o produtor sugeriu que vocês lançassem um livro de auto biografia. — Todos me olharam.
— É, ele sugeriu. — Peguei a taça e tomei um gole da bebida.
— Se quiser posso conversar com o meu editor. — Sugeriu.
— Adoraríamos. — Se adiantou o Artur.
— Vou marcar uma reunião pra ele bater um papo com vocês. — O Artur quis até fazer um brinde, mas não deu muito certo. Eu estava feliz por ele,e por suas conquistas, mas aquilo fugia de tudo que um dia eu sequer imaginei.
— Vamos jantar. — Levantamos todos. Seguimos até uma mesa enorme, em uma outra sala. A comida posta na mesa, com a ajuda das meninas, as garrafas de vinhos no meio daquilo tudo, que ele tinha preparado com tanto carinho. O cheiro expandindo pelo apartamento, e meu estômago ganhando vida. — Bon appetit. — Disse-nos, ao nos sentarmos.
— E o seu livro? — Ele sorriu sem jeito.
— Atrasou um pouco, mais do que esperávamos. Pura burocracia. — Eu assenti. — Mais o meu convite em tê-los no lançamento continua de pé.
— É Só nos avisar. — Comentou o Artur.
— E eu vou. — Afirmou-nos. — Agora, espero que gostem do Tartare,que preparei. — Cada um foi se servindo,com o que ele nos indicava.
— O que seria isso? — Perguntou o Davi ao chefe. Ele riu.
— É um picadinho de carne crua temperada com azeite, mostarda cebola e alcaparras, é servido com uma gema de ovo fresca ou curada e torradas.
— Minha boca encheu de água. Eu vi que a Lorena fez careta, e o chefe percebeu. — Não se sinta obrigada a comer, se não quiser.
— Ele disse a ela. — Mas, experimente. No começo, até o nosso paladar acostumar é difícil. — Ela assentiu, e pegou o garfo para cortar um pedaço. Todos fizemos o mesmo.
— Isso é muito bom.— Comentou o Júlio.
Algum tempo depois
Gisele
Passamos para o prato pirncipal, cassoulet. Parecia uma feijoada com tanta semelhança. Mais ao invés das nossas carnes típicas, tinha carne de Ganso, miúdos suínos, linguiça e pato. Estava maravilhoso, a Lorena mal tocava no prato,mas tentava não fazer desfeita. Ela comia pouco, e tentava se entrosar na conversa. As risadas já estavam mais constantes na mesa. O Bouer era um anfitrião impecável. Sempre solicito, prestativo, explicando cada coisa aos demais, e deixando claro que todos tinham liberdade para não comer o que não gostasse. Ele notou que a Lorena, não se sentia a vontade com o que ele servia. Então ele pediu um menu do hotel, especialmente pra ela. Foi naquele momento que ela se soltou de verdade. Comeu tudo, e eu me apaixonei ainda mais pelo bouer.
— Estava tudo maravilhoso.
— Comentou o Artur.
— Eu diria que estava divino.
— Comentou o Júlio.
— Vamos fazer outra reunião dessas, no Gregos. — Sugeriu o Davi e todos rimos.
— Outra de tantas,não é? — Comentei. Eu ainda me sentia enjoada, mas consegui comer um pouco de tudo o que foi servido. Só deixei os vinhos de lado porque a Lorena me cutucou, e sugeriu que eu o fizesse.
— Meu amigo, obrigado pela noite agradável que tivemos. Mas já está na hora de irmos. — O Bauer, assentiu. Já passava das uma da manhã. Nos despedimos, um a um. Descemos todos juntos pelo elevador, mas cada um foi no seu carro. O Nícolas dirigia,e não parava de falar. Eu mal conseguia entender tudo o que ele me dizia. Eu voltava a me sentir mal, mas estava conseguindo controlar a ânsia. — Gi? Tá me ouvindo? — Eu o olhei.
— Eu não tô me sentindo... — E antes que eu pudesse terminar de falar, enjoei mais uma vez. E dessa vez foi impossível de segurar e acabei vomitando, ali mesmo no chão do carro. Ao lado dele,no banco do passageiro. Ele parou o carro, e veio cheio de cuidados tentar me ajudar. Mas não fazia idéia de como iria fazer isso.
— Quer que eu te leve pro hospital? — Eu neguei. E ele puxou do porta luvas uma caixinha com alguns guardanapos e me entregou.
— Eu vou ficar bem. Alguma coisa que eu comi, me fez mal. — Comentei, e ele pegou uma bala do painel e me entregou.
— Isso não te lembra nada? — E riu.
— Você tá igual a sua versão vida louca de anos atrás. — E eu ri.
— E você continua o mesmo babaca,só que mais gostoso. — Ele sorriu.
— Tem certeza de que não quer ir pro hospital? — Eu neguei.
— Amanhã eu tô nova denovo. — Ele fingiu acreditar, e eu em um lapso, me enchi de esperanças. Aquilo só podia ser uma única coisa: O Céus finalmente resolveu me agraciar com o que eu mais sonhei na vida. E era naquilo que eu me agarrei, mas no fundo vinha o gosto amargo do medo de me frustrar mais uma vez, e não ser. Mas até lá, porque não sonhar? E minha mão foi involuntáriamente na minha barriga, e o Nícolas nem se deu conta,apenas dirigia e prestava atenção na estrada. Enquanto eu, viajava em minhas suposições e sorria olhando pro céu e pedindo a Deus para que aquilo se tornar-se verdade.