LibertĂĄlia: RaĂ­zes Piratas

By TssiaGomes

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đŸ„‡ 1° lugar em ficção cientĂ­fica e geral no concurso Trick or Treat đŸ„‡ 1Âș lugar em fantasia no concurso Peque... More

☠ Personagens ☠
☠ Book Trailer ☠
☠ Prólogo ☠
☠ I - A taverna à beira-mar ☠
☠ II - Conhecendo o perigo ☠
☠ III - Uma sentença precipitada ☠
☠ IV - Sangue na Estrela da Morte ☠
☠ V - Trezentos anos ☠
☠ VI - Perigos e explicaçÔes ☠
☠ VII - Sombras do passado ☠
☠ VIII - O diårio de Kidd ☠
☠ IX - Declaração de guerra ☠
☠ XI - Laço quebrado ☠
☠ XII - O outro lado da luz ☠
☠ XIII - Aliança tortuosa ☠
☠ XIV - Caos e companhia ☠
☠ XV - InterlĂșdio ☠
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte I)
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte II)
☠ XVII - Convite inesperado ☠
☠ XVIII - Despedida ☠
☠ XIX - Resolução ☠
☠ XX - ConferĂȘncia ☠
☠ XXI - Må sorte ☠
☠ XXII - Traição ☠
☠ XXIII - Últimos ajustes ☠
☠ XXIV - O rato e a raposa ☠
☠ XXV - Um novo dia ☠
☠ XXVI - A batalha se inicia ☠
☠ XXVII - Abalo sísmico ☠
☠ XXVIII - Ruína ☠
☠ XXIX - A Ășltima esperança ☠
☠ XXX - Queda livre ☠
☠ XXXI - Vislumbre ☠
☠ XXXII - A profecia se cumpre ☠
☠ XXXIII - Santos ☠
☠ Epílogo ☠
☠ Notas finais ☠
☠ PrĂȘmios ☠

☠ X - À meia-lua ☠

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By TssiaGomes

Quando Zaki disse que iriam ver a sua avó, Elisa imaginou que ela seria uma senhora idosa, gentil, bondosa e de vestes simples, uma espécie de anciã a quem todos consultavam quando precisavam de algum conselho. Jamais esperava encontrar o que via agora em sua frente: uma mulher negra de meia idade, altiva, com um rosto que emanava poder por onde passava. Ricamente adornada com pulseiras, braceletes e colares, suas roupas poderiam ser a de alguma rainha africana perdida no tempo.

— Vó? — chamou Zaki. — Temos visitas.

Ela virou-se para o grupo, os grandes olhos negros fixando-se aos de Elisa de forma perturbadora. Talvez fosse porque encarava a mulher com o choque estampado na face, ou talvez porque sua boca permanecia aberta, em uma involuntária expressão de fascínio.

— Você esperava que eu fosse feia.

Não era uma pergunta. Elisa contorceu-se em desconforto, forçando-se a sair de seu estado de torpor. Suas bochechas coraram de vergonha.

— Não esperava, não — mentiu ela, desviando o olhar.

Sem se abalar, Makanda sorriu para o grupo, indicando o interior da cabana em um gesto convidativo.

— Entrem! Sejam todos bem-vindos à minha casa.

Henrique e Elisa trocaram um olhar desconfiado, mas como Nadine e Eric já se adiantavam, não tiveram outra opção a não ser segui-los.

O interior da cabana era um cômodo simples, com apenas uma cadeira ao centro, onde a mulher sentou-se majestosamente. A luz do sol entrava pelas frestas de palha, projetando uma iluminação fantasmagórica, e o cheiro impregnado de ervas fortes completava a aura sobrenatural do ambiente. Um enorme tapete de pele de leopardo estava esticado à frente, onde Makanda os convidou a se sentarem. Apesar de improvável, Elisa forçou seu cérebro a acreditar que aquilo não era um animal morto de verdade. Só assim conseguiria se sentar ali.

— Bem... o que os trazem tão longe da vila?

— Makanda, coisas estranhas vem acontecendo na ilha desde que estes dois chegaram — disse Nadine em tom acusatório.

— O que não é culpa nossa — protestou Henrique.

— Talvez não diretamente — tornou ela. — Mas não podemos negar que a magia da ilha mudou quando conseguiram atravessar a fronteira. Algo de muito errado está acontecendo aqui.

Os olhos de Makanda faiscaram para a garota.

— Explique-se melhor. Há algo de estranho que presenciaram? Ou a sua magia tem se manifestado de maneira estranha?

— Não senti nada de diferente com a minha magia — disse ela um pouco decepcionada, como se o seu dom tivesse a obrigação de lhe dizer o que estava acontecendo. — Nós encontramos um garoto estranho no meio da floresta, ele nos levou até a gruta do tesouro.

— Um garoto? — Makanda franziu a sobrancelha.

— Sim, eu nunca o vi antes, mas ele disse que conheceu o meu pai, o que nos leva a acreditar que ele seja nativo da ilha e só agora se manifestou — agitou-se Nadine, encarando Makanda com mais intensidade. — Diga, Makanda: acha que o que ele disse é verdade?

Elisa não podia deixar de sentir-se desconfortável ao lembrar-se de Omar. Por que ele lhe parecia tão familiar quando ninguém mais na ilha parecia conhecê-lo? Fosse como fosse, ela resolveu guardar essa informação para si mesma até que estivesse certa sobre a sensação que tinha do garoto.

— Não faço ideia. Mesmo depois de tanto tempo, a magia da ilha ainda nos é estranha e o espírito de seu pai nunca se manifestou desde... desde muito tempo, mas acho que essa é uma boa oportunidade para tentar contactá-lo novamente. Se ele apareceu para esse garoto, pode se manifestar para você também, só assim poderemos obter algumas respostas.

— Pode ser que ele tenha vindo do mundo exterior também, não é? — opinou Eric. — Quer dizer, se Omar não é um espírito e ninguém o viu antes, ele pode ter passado pela fronteira também, já que a magia está enfraquecida. Talvez a passagem de Henrique e Elisa a tenha aberto definitivamente.

Henrique olhou para ele de cara feia. Estava farto das pessoas insinuarem que ele era o culpado de tudo.

— Ele não veio do mundo exterior — disse de mau humor. — Sua roupas não são modernas, ele não pertence ao nosso tempo.

Henrique tinha razão. Elisa sentiu-se um pouco mais aliviada ao perceber que aquela sensação de familiaridade não fazia o menor sentido.

— O que nos leva à próxima questão — falou Nadine, retomando o seu raciocínio. — Como ele sabia da gruta e do tesouro? E qual a sua intenção em nos mostrar a ampulheta danificada?

— Ela piorou, então? — Os olhos de Makanda encontraram-se com os de Zaki, que abaixou a cabeça em um pedido de desculpas silencioso.

— Eu a vi com meus próprios olhos. O vidro está todo trincado, a força com que a magia o está pressionando... não sei por quanto tempo conseguirá aguentar, talvez só mais alguns dias.

— Isso é ruim... muito ruim — sentenciou ela em tom sombrio.

— Makanda... — Nadine chamou em tom baixo, mexendo de forma hesitante em algo no bolso interno de seu casaco. — Tem mais uma coisa...

Ignorando por completo os protestos silenciosos de desespero de Henrique, Nadine puxou o diário para fora, estendendo-o com cuidado para a mulher malgaxe, como uma bomba prestes a explodir.

— O diário de William Kidd — Makanda suspirou em desgosto antes mesmo de pegá-lo. — Eu esperava não vê-lo nunca mais.

— Você sabia sobre ele? — espantou-se a garota.

— Lembro-me bem deste diário — disse, acomodando o caderno em seu colo enquanto os dedos passeavam pela capa de couro. — De quando o capitão Kidd o estava escrevendo...

— Mas então... ele a conhecia?

— William Kidd passou seus últimos dias na ilha de Madagascar, com o meu povo. Quando a marinha inglesa o levou, já não passava de uma sombra do homem que um dia havia sido. Muitos diziam que não teve sorte, mas a verdade é que ele foi avisado de que sua busca só lhe traria sofrimento, o que de fato aconteceu.

— Eu li a profecia... ela fala sobre Libertália, não é? O aviso era sobre isto? Ele sempre esteve atrás de meio de voltar à ilha.

— Ah, sim, a profecia — tornou Makanda em um tom ainda mais sombrio. Apesar do dia ainda estar claro, uma coruja passou guinchando, provocando arrepios aos presentes. — Foi revelada a Kidd por uma profetisa malgaxe, mas apesar de deixar claro que uma passagem no tempo de trezentos anos seria necessária para que a maldição fosse desfeita, ele estava determinado a encontrar a chave que destravaria a fronteira da ilha e por isso fez um pacto perigoso com os deuses malgaxes em troca da revelação. As coordenadas foram obtidas e ele não se importou com as consequências, mas no fim acabou pagando um preço muito alto por elas. Quando foi executado, a culpa o consumia por inteiro.

Henrique passou a mão pelo pulso da tatuagem, mas seu rosto era uma máscara impenetrável. Talvez Nadine estivesse certa em dizer que ele não estava revelando toda a verdade.

— Sim, as coordenadas realmente foram anotadas ao lado da profecia. Eu li um pouco dele, mas estão faltando algumas páginas no fim... a última viagem para Madagascar, seus últimos dias como prisioneiro antes da execução, nada disso está aí.

As palavras de Nadine pareceram despertar o interesse de Makanda pelo objeto. Ela o abriu lentamente, investigando suas páginas com a habilidade de uma perita. Passou os olhos pelas linhas em que narrava sua primeira expedição à misteriosa ilha de Libertália, suas descobertas, o tesouro, os perigos enfrentados. Nada ali era novidade para a malgaxe. No entanto, ao se aproximar de sua jornada final por Madagascar, sua história terminava incompleta. Alguém arrancara as páginas.

— Henrique disse que este diário é uma herança de família. Acha que podem tê-las arrancado para ocultar algum segredo de seus descendentes?

— Muito improvável. Pelo que vejo, estas páginas estão faltando há muito. A pessoa que fez isso não tinha ligações de sangue com Kidd, assim como a pessoa que o roubou de seu verdadeiro dono também não.

— "A pessoa que o roubou", hein? — repetiu Nadine, lançando um olhar de sarcasmo para Henrique. — Então não se trata de uma herança de família, está mais para um crime de família.

A face de Henrique contorceu-se em uma carranca.

— Serei condenado também por algo de que nem fazia ideia? Este diário está em minha família desde que me entendo por gente; se alguém o roubou, isso ficou enterrado no passado, não há como saber quem o fez ou porquê. Além do mais, se eu encontrei a ilha com ele, mereço permanecer com ele.

— Você só a encontrou porque a ilha queria ser encontrada. — tornou Makanda em tom de mistério.

— Mas... por que? — quis saber Nadine.

— Porque chegou a hora da profecia se cumprir, embora ainda haja muitas questões sem respostas — disse a mulher, levantando-se, ainda com o diário em mãos. Ela caminhou lentamente, parando para fixar os olhos nas pinturas rupestres que cobriam a parede. — As páginas faltantes do diário, o garoto Omar, o próprio tesouro e a existência desta ilha, quantos mistérios ainda estão por se revelar? A profecia é apenas o ponto de partida.

Por um momento o silêncio imperou no recinto. De certa forma, todos ali sabiam que estavam em um beco sem saída. A profecia apenas revelava que a maldição seria cessada, culminando na destruição ou salvação, o que podia significar qualquer coisa.

— Mas você disse que eu poderia tentar entrar em contato com o meu pai — falou Nadine, a voz falhando em incerteza. — Talvez ele possa...?

A garota foi incapaz de continuar o seu raciocínio. À sua frente, Makanda soltou um terrível grito de dor, o diário fechando-se ao cair ao chão enquanto as mãos fechavam-se contra a cabeça em um gesto de genuíno sofrimento.

— Makanda? — chocou-se ela.

Zaki correu para ajudar a avó, ajoelhando-se e passando os braços em torno dos ombros da feiticeira para apoiá-la.

— Uma grande batalha se aproxima... — Makanda disse com uma voz rouca que não se parecia em nada com a voz dela. — Os tempos de paz acabaram... uma guerra terrível selará o destino da ilha para sempre...

— Uma guerra? — espantou-se Eric. — A ilha será invadida?

— Não, a ameaça está entre nós...

A mulher jogou o corpo para frente, a garganta arranhando em um esgar horrível. Se Zaki não estivesse ali para ampará-la, Makanda teria ido ao chão.

O silêncio incômodo voltou a reinar. Henrique e Elisa entreolharam-se com medo, temendo que achassem que ambos seriam os responsáveis por causar a tal guerra. Ninguém ousou respirar enquanto Makanda se recuperava.

— Skyller precisa saber disto o quanto antes — decidiu Nadine quando Makanda enfim voltou a se sentar, rompendo o clima de suspense profético. — Temos que voltar à vila agora mesmo!

— Vocês não vão a lugar algum hoje — Makanda ordenou, já de volta à pose de majestosa imponência. — Está muito tarde e devem estar famintos.

Elisa não tinha percebido o quanto estava com fome até ela dizer aquilo e seu estômago roncar. No entanto, Nadine atirou os braços para cima, notadamente nervosa.

— Mas essa guerra... se não o avisarmos logo, estaremos todos perdidos.

— Ainda resta um pouco de tempo, fiquem conosco esta noite. Alimentem-se e descansem. Amanhã de manhã tudo estará mais claro.

Nadine duvidou daquilo, mas então seus olhos encontraram-se com os olhos gentis de Zaki e ela se acalmou no mesmo instante. Ficar ali com uma guerra em iminência não era de todo ruim.

☠☠☠

Os malgaxe eram um povo festeiro. Foi o que Elisa logo descobriu quando juntaram-se a eles em seu ritual noturno. Apesar de serem poucos, faziam questão de manter as tradições de Madagascar vivas, e naquela ocasião preparam uma enorme fogueira próxima ao mar, as labaredas subindo em potentes espirais alaranjadas, maculando o azul sóbrio das águas. Com os rostos pintados e vestindo nada além de uma túnica branca, alguns homens dançavam ao seu redor, entoando uma antiga canção em uma língua que provavelmente já estava extinta.

Elisa sentou-se na areia um pouco afastada, pensando em seu estranho destino, quando alguém sentou-se ao seu lado, passando-lhe um espeto assado.

— Coma. Não é tão ruim — incentivou Eric com um sorriso, mordendo o que levava logo em seguida.

Elisa estava tão faminta que não protestou a oferta. Ao mordê-lo, porém, o gosto a surpreendeu. Tratava-se de uma carne macia, saborosa, com um tempero agridoce acentuado, mas na medida.

— É muito bom! — elogiou ela, arrancando mais um pedaço. — O que é?

— Uma espécie de porco selvagem que vive nesta região. Os malgaxe são especialistas neste tipo de carne.

A garota assentiu precariamente, concentrando-se em devorar seu espeto. Seus olhos continuaram seguindo a dança hipnótica daquela gente, até que a figura de Zaki e Nadine ao longe, à beira-mar, chamou-lhe a atenção. A pirata ria de algo que o malgaxe acabava de lhe dizer, mas não da forma sarcástica e maliciosa que costumava ser. Era um riso de felicidade pura, sem qualquer pretensão, e seus olhos brilhavam, presos a ele. Observando-os à meia-lua, a compreensão a atingiu em um estalo.

— Ela gosta dele — Elisa disse em voz alta antes que pudesse se refrear, indicando-os com o cotovelo.

— Ah, você percebeu? — tornou Eric sem emoção, limpando a boca com as costas da mão e abaixando seu espeto para encará-la. — Nadine é apaixonada por Zaki desde que era pequena, embora não admita. Não deixe que ela saiba que você descobriu, seu humor pode ser imprevisível. Já era ruim antes, mas desde que meu pai nos obrigou a firmar compromisso, ficou ainda pior.

Elisa o encarou em choque, esquecendo-se completamente de seu espeto.

— Vocês dois? Mas vocês não são, tipo, primos? Por que o seu pai iria querer algo assim?

Eric suspirou longamente em desgosto.

— Ele diz que sou o seu legado, que tenho que substituir sua liderança em Libertália quando ele não puder mais, e para isso preciso me casar. Nadine é a noiva perfeita porque é filha de Sarah, sua cunhada e seu braço direito. Se nos casarmos, o poder de governar fica entre a família.

— Pois para alguém que se diz defensor da liberdade, ele está se mostrando um perfeito tirano.

Eric encolheu os ombros.

— Não posso fazer nada quanto a isso. Mas sempre que penso nesse casamento... Nadine e eu crescemos juntos, ela é como uma irmã mais velha pra mim... como posso me casar com uma irmã?

— Você não pode se casar, Eric — disse Elisa, segurando o braço do garoto. — Tem que enfrentar o seu pai, dizer a ele o que sente e o que quer.

Eric devolveu o gesto, pousando uma mão sobre a de Elisa e encarando-a com um misto de tristeza e desolação.

— Obrigado, mas você não sabe como ele é... o poderoso Skyller não pode ser contrariado.

Elisa não sabia mais o que dizer, mas sentia que não era necessário. Com apenas aquela rápida conversa, um laço entre eles havia se formado e a garota estava feliz em poder confortar o novo amigo. Apesar de não poder ajudá-lo mais, falar sobre relacionamentos e esquecer um pouco da guerra que estava por vir e das esquisitices mágicas de Libertália era um alívio para a sua mente.

— Atrapalho alguma coisa? — disse a voz mal-humorada de Henrique acima deles.

Antes que pudesse protestar, o garoto abriu espaço entre os dois com os cotovelos, espremendo-se para sentar-se no meio deles. Nem um pouco gentil.

— Espero que não esteja dando em cima da Elisa — ele continuou de forma azeda, sem se importar com a expressão indignada que a garota lhe dirigia. — Ela tem um crush em um cara chamado Rafael Hansen, então isso seria inútil.

— Um crush? — repetiu Eric, sem entender.

Elisa, porém, parecia ofendidíssima, uma vez que bateu no braço de Henrique com toda a força de que era capaz.

— Henrique! Como pode dizer algo assim?

Ele apenas massageou o braço, dando de ombros.

— Qual o problema? Todo mundo sabe que você tem uma queda pelo Rafael.

Elisa congelou no lugar, o coração apertando em seu peito, apenas olhando-o em choque. Abriu a boca para rebater a acusação, mas era como se um bolo seco estivesse entalado em sua garganta. Todo mundo sabia?

Para o seu desespero, seus olhos começaram a lacrimejar, e antes que chorasse na frente dos garotos, ela levantou-se e saiu correndo. Henrique tentou chamá-la de volta, em vão. Antes de perdê-los de vista, teve um vislumbre de Eric o recriminando com o olhar.

No entanto, Elisa não conseguiu ir muito longe. Quando seus pés alcançaram a água rasa do mar, os dedos afundando na areia fofa e molhada e ela parou para recuperar o fôlego, uma mão em seu ombro a impediu de prosseguir.

— Elisa, me desculpe. Não sei o que deu em mim. — A voz de Henrique estava totalmente mudada. A raiva tinha dado lugar para a culpa e o arrependimento. — Eu falei aquilo sem pensar, não era minha intenção ofendê-la.

Elisa limpou o rosto com as costas das mãos, respirando fundo para virar-se para ele de forma digna.

— Então todo mundo sabe? — disparou ela, encarando-o furiosamente. — Desde quando estou fazendo papel de idiota?

— Não, isso não é verdade... quer dizer, eu supus que fosse verdade porque sou observador e você olhava diferente para ele, mas não acho que mais alguém saiba. De qualquer forma, fique tranquila, eu nunca disse nada a ninguém.

Elisa suspirou longamente. Queria continuar com raiva de Henrique, mas ele parecia sincero em seu arrependimento e ela estava cansada demais para brigar. Além do mais, Henrique era o seu único elo com o mundo exterior.

— Tanto faz... — disse por fim, voltando os olhos para o mar. — De qualquer forma, acho que sou invisível para a maioria das pessoas.

— Isso também não é verdade...

— Henrique, você acha que vamos conseguir voltar para casa? — cortou ela de repente, ansiosa para mudar de assunto.

— Que espécie de pergunta é essa agora?

— Eu preciso voltar para casa, minha mãe precisa de mim para ajudá-la a cuidar do meu irmão e do meu avô.

Henrique a encarou longamente, sem saber o que dizer. Quando entrou na taverna de Thomas, não pensou nas consequências que seu ato poderia acarretar, e agora não havia saída. Apesar de ainda não ter concluído sua missão na ilha, ele não se importava consigo mesmo. Mas com Elisa era diferente. Ela era sua responsabilidade e ele não poderia deixar que nada de ruim lhe acontecesse.

— Eric disse que o tempo aqui é diferente do tempo lá fora — ela continuou, interrompendo seu fluxo de pensamentos. — Já faz um dia inteiro que estamos presos nesta ilha, e se já tiver passado muito tempo no nosso mundo? Meses ou até anos...?

— Elisa, escute: é culpa minha que estamos aqui, mas nós vamos dar um jeito nisso — ele disse, tentando parecer confiante ao apertar o ombro da garota e fazendo-a encará-lo nos olhos. — Eu prometo! Você viu a ampulheta, a magia está enfraquecendo, talvez não tenha se passado tanto tempo assim. Precisamos manter a fé.

E então Elisa fez algo de que ele jamais esperaria: envolveu-o com os braços, afundando o rosto em seu ombro.

— Eu confio em você.

Henrique precisou de um instante para vencer o choque inicial e retribuir o abraço. E ainda que não fosse digno de sua confiança, uma vez que ela ainda não sabia o seu real motivo de estar ali, tudo que Henrique conseguia pensar naquele momento era no corpo de Elisa junto ao seu, transmitindo-lhe medo e insegurança em pequenas ondas de tremor. Henrique apertou-a forte entre os braços para confortá-la, esperando que sua pulsação cardíaca não o traísse. Queria que aquele abraço durasse para sempre.

Bom dia, meu povo!

E então, o que acharam do capítulo de hoje? E essa aproximação de Elisa e Henrique? O que será esse segredo que ele ainda esconde?

Se gostaram, não deixem de votar e comentar, isso é muito importante para que eu continue postando a história!

Fiquem ligados que muuuita coisa ainda está por vir...

Bons ventos e até semana que vem ;) 

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