UPRISING

martafz द्वारा

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Num futuro não muito distante, uma nova estirpe viral ameaça exterminar a espécie humana da Terra. O estado m... अधिक

Uprising
0. Prólogo
1. América
2. É bom ter-vos de volta
3. HCC K42
4. Virgem outra vez
5. Achas que ela respira?
6. Kim
7. Sobrevivência
8. Quem és tu?
9. Voltar para casa
10. Lasanha vegetariana
11. Porque raio te injetas?
12. Dói-me a barriga
13. Porrada de um velho gordo
14. Gémea?
15. Não me podes proteger disto
16. Despe-te
17. Dói-me só a cabeça
18. Invictus
19. Impotência
20. Eu não quero que chores
21. Não queria que te doesse
22. Eu não sei mentir
23. Vamos embora
24. Não saltes!
25. Com a Kim seria esquisito
26. A melhor pessoa que eu conheço
27. Parece que viste um morto
28. Eu prefiro dormir no carro
29. Deixa-me ficar contigo
30. Eu estou a sangrar!
31. Pedi-lhe tanto para não me tocar
32. Ela estava a gostar!
33. Memórias
34. Faz-me esquecer, por favor
35. Temos que sair daqui!
36. Eu prometi, lembras-te?
37. O que é que eu fui fazer?
38. Aidan Nolan
39. Irmã
40. Canadá
41. Só por uma noite
42. Diz-me se vai doer
43. Quero-te
44. És tão giro
45. Afinal que merda és tu?
46. Vocês vão todos morrer
47. Tu... gostas dela?
48. Nós somos a tua família
49. Conspiração
50. Defectus
51. Não deixes de gostar de mim
52. Eu estou bem
53. Eu cumpro as promessas que faço
54. Não quero ser uma necessidade para ti
56. Gráim thú
57. Vai correr tudo bem
58. Duvida quando te parecer óbvio
59. Berra, deficiente
60. Por um bem maior
61. Nem sempre os heróis têm um final feliz
62. Homo invictus
A Up ganhou um Watty!
63. Humana
64. Eles já não aguentam mais
65. David Brody
66. Amanhã será mais fácil
67. Onde tu estiveres
68. Casa
Notas finais

55. Plano B

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martafz द्वारा

Kim não conhecia definições genéricas dos sentimentos. Para ela tudo se resumia a sentir e sempre fora o bastante. Jake declarara-se apaixonado por si e ela reconheceu o carinho romântico que lhe dedicava como positivo, como algo que ela gostaria de retribuir. Contando que ele nunca mais a desprezasse, que a abraçasse com força e pudesse sentir-se protegida nos braços da melhor pessoa que conhecia; que ele a beijasse com meiguice, que a beijasse como se quisesse fundir-se nela a qualquer momento. Ela gostava de tudo o que sentia perto de Jake e sempre seria o bastante. Tê-lo por perto.

Ela não soube quanto tempo ele a manteve contra o corpo dele, uma mão irrequieta sobre a cintura fina e a outra num carinho constante pelos traços do rosto feminino, enquanto os lábios se moviam suaves e cândidos, num beijo morno que só terminou quando ele se apercebeu de que fora para o bosque com um propósito e que Kim não estava incluída nele.

A morena ainda protestou quando ele a soltou, insistindo que deveriam ficar para sempre na calmaria da floresta, onde ela poderia ser apenas ela e ele apenas ele. Jake depressa a demoveu das suas lamúrias infantis e concentrou-se em procurar alguns galhos prontos para serem queimados. Kim ajudou-o, verdadeiramente feliz com a tarefa que ele lhe incumbira e com a novidade.

A rapariga apanhou todas as pequenas pinhas caídas dos abetos frondosos e aceitou o desafio de colocá-las a todas no colo do seu vestido, dobrando o tecido contra o peito, numa clara competição acriançada para reter o máximo de volume mais rapidamente do que Jake.

Ele acabou por rir, dizendo-lhe que não poderia levar todas as pinhas, a não ser que quisesse criar uma fogueira para assar um animal inteiro, e que não podia simplesmente expôr o seu corpo daquela forma para o grupo. Apenas a ele, acrescentou toda a parte possessiva do seu cérebro. A parte que muito a queria.

Ela anuiu e concordou apenas em levar as suficientes e que conseguia segurar contra o peito. Durante o caminho de volta a rapariga questionou-o várias vezes acerca da ética inerente à queima dos órgãos mais puros daquelas árvores resistentes. Ela sabia que cada um daqueles recetáculos rugosos e empoeirados continha sementes que dariam origem a novas árvores, e não lhe parecia bem interromper uma vida para aquecer latas de comida.

Jake apenas sorriu, embevecido, ao deparar-se uma vez mais com a autenticidade da rapariga que tinha ao seu lado e a bondade que lhe fluía do coração.

Kim rapidamente esqueceu o destino das pinhas quando chegaram ao parque de merendas e todos os olhos se fixaram no casal. Kim abrandou o passo, incerta da reação do grupo e da razão real para os perscrutarem daquela forma. Teria feito alguma coisa de mal? Além de ter escapado de perto deles antes, para acompanhar Jake?

Jake notou os olhares atentos e o silêncio repentino que se formou entre o grupo, mais ainda a apreensão de Kim. Num movimento impensado, a sua mão livre voltou à cintura da rapariga e as expressões de todos eles se modificou. Rachel sorriu abertamente para ambos, demonstrando uma felicidade verdadeira pelos amigos, no entanto Jake apenas se surpreendeu com o irmão, que partilhava um meio sorriso com a namorada. Que ostentava uma expressão de aprovação quando o mais velho não a esperava nem a queria. Ele não a queria, mas aceitou-a com agrado, por mais que não o expressasse.

O almoço fora tardio e o céu encoberto pelo arvoredo encorpado revelava tons alaranjados que anunciavam a tarde de final de Verão. O Outono começaria na próxima semana e os tons estivais já tomavam conta de algumas espécies vegetais rodeadas pelas demais, perenes.

Tudo parecia perfeito enquanto eles desfrutavam de uma refeição simples e sensaborona num parque de merendas rodeado pelo maior esplendor da natureza, a brisa a acariciar-lhes os rostos fechados e receosos com o que aquela noite traria. 

– Estamos à espera, April – ordenou Jake, depois de algum tempo de todos terem terminado de comer.

– Eu acho que és bem sexy, Jack, mas és chato como a merda! – comentou a loira, revelando novamente todas as nuances do seu feitio impossível enquanto esticava as longas pernas no banco de jardim, seguida pela sombra de Brian. – Eu disse que vos levava lá, e é tudo o que eu vou fazer.

Jake revirou os olhos face ao arrojo descomedido com que ela se dirigia a si.

– Eu acho que aconteceu alguma coisa com a tua memória também... Não me provoques – avisou, curvando-se sobre a mesa emadeirada para que ela sentisse a ameaça como um sopro na pele.

– Mas eu gosto de te provocar – insistiu a rapariga, inclinando-se igualmente sobre a mesa e tornando o tom de voz mais suave. – E se não estivesse aqui tanta gente eu ainda ia gostar mais. Aposto que fazes um melhor trabalho que ali o nerd. Conto pelos dedos de uma mão as vezes que ele se veio, como se eu não fosse boa o suficiente para...

Jake não chegou a perceber quem reagiu primeiro. Antes que April finalizasse o seu discurso dissimulado ele sentiu uma mão delicada apertar-lhe a coxa sob a mesa, procurando a sua mão. Kim fitava April com altivez, todo o ciúme pelas afirmações a transformar-lhe as feições bonitas.

Depois, ele notou a expressão de Brian modificar-se enquanto a loira referia os abusos sexuais e a humilhação de que fora alvo, e rapidamente insurgir-se contra a rapariga, puxando-lhe os cabelos platinados com força.

– Ainda não percebeste que só vives porque lhe estou a fazer um favor? – vociferou o moreno contra os cabelos revoltos pela falta de cuidados e higiene. – Porque eu tenho todo o gosto em depois disto tratar dessa boca porca e fazer-te regressar para a tua irmãzinha. Agora se queres adiar a merda do reencontro, com menos um dedo ou dois para contares melhor, é bom que comeces por dizer onde fica a porcaria da fábrica! – ameaçou, pegando na pequena navalha de bolso que utilizara para abrir os enlatados do almoço.  

– Mas eu digo-vos onde é a porcaria da fábrica! – concordou April, afastando-se do sufoco das mãos grandes e da pequena faca que ela não queria sentir sobre a pele perfeita. – Quando tiver a certeza de que saio disto ilesa como ele prometeu. – apontou para Jake. – Tudo o que eu quero é que morram, e tudo o que vão conseguir com isto é fazer-me a vontade! Sinceramente vocês realmente pensam que vão conseguir fazer seja o que for? O que vocês descobrirem hoje não vai servir nem para arranhar a superfície! Idiotas...

April continuou a divagar sobre o quão repulsiva a humanidade era para ela e todos os seus desejos de morte em relação ao grupo, mas Kim perdeu-se na expressão que a loira utilizara sem ser aperceber.

Era a sua hipótese de ser realmente útil e ajudá-los a cumprir uma missão que ela mesmo iniciara, e que nunca conseguiria sequer cogitar se o fizesse sozinha. Kim estivera lá, ela lembrava-se do local, inclusive de onde fora criada.

– Superfície – murmurou a morena, sem se aperceber de que raciocinava em voz alta. Quando todos se silenciaram para a fitar, ela percebeu que teria de partilhar com todos o que pensava da afirmação de April. – Sim, é isso! Eles têm uma incubadora enorme. – Kim gesticulou as dimensões do local, como se fosse possível fazê-lo à escala que a sua mão permitia. – É como se fosse um útero em cimento, sem janelas e muitas ventoinhas. Não há janelas e eu lembro-me de um tom de luz estranho. Eu...

Apercebendo-se de que insinuara que se lembrava de estar na incubadora, engoliu em seco e rapidamente procurou o olhar do rapaz ao seu lado. Jake não sabia que ela acordara ainda no leito gelatinoso que a alimentara durante semanas de desenvolvimento e ela temia que uma nova confissão abalasse tudo o que fora dito na floresta.

– Eu lembro-me de acordar quando ainda estava lá – justificou, como se ele fosse o único presente. – Eu simplesmente acordei mais cedo do que todas as outras e acho que não era suposto porque um alarme começou a tocar e um grupo de homens de bata veio buscar-me. Eu lembro-me de eles me colocarem numa... – Ela tentou uma vez mais valer-se das mãos para descrever o leito envidraçado onde a colocaram.

Jake deve ter notado o tom de voz dela quebrar, como sempre acontecia quando ela tinha que falar em frente a todos, e acariciou-lhe distraidamente as costas arqueadas.

– Era de vidro, com uns tubos novos, com um líquido estranho e eu não me lembro de mais nada a partir daí. Depois disso eu ouvi-os. Eles falaram em defeitos para eliminar e disseram o meu nome.

A morena ergueu o pulso tatuado para que todos o vissem pela primeira vez, inclusive April que demonstrava uma atenção incomum no que ela descrevia. A loira não se lembrava da incubadora e a curiosidade acerca da descrição do local onde nascera era demasiado evidente. Ela nunca conhecera alguém que tivesse acordado na incubadora e vivesse o suficiente para se lembrar do local. Todos os erros eram eliminados antes que essa ameaça surgisse. Porque não fora Kim eliminada com a mesma facilidade?

– Depois eu acordei noutra sala onde... – Kim interrompeu imediatamente o discurso tremido para aclarar a voz e se apoiar no corpo forte sentado ao seu lado. Sem se aperceber fitou-o, assustada, e ele apenas acenou negativamente, forçando-a a debater-se com as memórias e com o que significaria verbalizá-las. – O-Onde havia muitas raparigas mortas. – decidiu-se pelo caminho que não comprometeria a sua sanidade mental. Não estava preparada para descrever novamente a violência daquele dia e não sabia se alguma vez estaria. – Chamava-se incineradora e eu fugi de lá. Eles têm códigos nas portas, e... – A rapariga fitou distraidamente uma falha da tinta verde que escurecia a madeira da mesa, enquanto as memórias iniciais iam e vinham, como se fosse um sonho. Quando tudo se tornou confuso, ela concluiu:

– Mas eu saí de lá e vi uma estrada. Aqui perto – informou. – Por isso a fábrica tem que ser mais do que o que vemos à superfície como ela disse. A incubadora é tão grande que nem estas árvores a conseguiriam cobrir.

– O que significa que o edifício foi construído por baixo – comentou Brian, bebendo de toda a informação preciosa que Kim dispunha.

– Como um bunker – acrescentou Rachel, que entretanto se sentara no banco dianteiro do carro estacionado juntamente com David, depois de almoço, e agora voltava, pronta para se reunir a eles. Apesar de o rapaz ter adormecido pouco depois de um momento cúmplice entre ambos, Rachel ficou desperta e rapidamente tomou atenção à conversa dos outros.  

– Ou talvez ele já existisse e por isso tenha sido tão fácil... – Brian levantou-se do banco e aproveitou a porta aberta da viatura para aceder ao computador de bordo e trazer o pequeno touchscreen portátil do mesmo.

– Estação de filtração de águas, British Columbia, Seymour – transmitiu para o speaker do aparelho assim que regressou à mesa e se sentou perto de Rachel.

Rapidamente surgiu uma descrição detalhada do local no pequeno ecrã e ele utilizou a projeção de hologramas para que todos pudessem visualizar o resultado da pesquisa.

Estação de filtração Seymour-Capilano. 1,4 quilómetros da localização atual. Maior sistema de filtração de águas e de desinfeção através de luz ultravioleta da América do Norte. Durante mais de três décadas operacional, o projeto inovador abasteceu cerca de 40% da população de Vancouver.

Perto de seiscentos quilómetros quadrados de montanha fazem parte do terreno fechado ao público para proteger os grandes reservatórios de chuva e neve derretida. Uma das fontes de água a ser filtrada na estação vem diretamente do Lago Capilano, do outro lado da Serra, através da conduta pelos túneis gémeos, escavados sob o solo rochoso da cadeia montanhosa.

A descrição do projeto ambicioso no início do século continuou. No entanto, Brian ouvira o essencial para corroborar a sua teoria. Tudo o que bastava era aceder à planta das instalações e confirmar as suas suspeitas.

– Quantos meses tens, April? – questionou Jake, quando a voz feminina do software deixou de ser ouvida.

– Desculpa?

– Tu tens a letra A no pulso, por isso tu foste das primeiras... Há quanto tempo estão a criar pessoas? – insistiu o rapaz, apontando para os pulsos feridos da loira.

– Eu sei lá! – guinchou April, escondendo os braços sob a mesa como se isso pudesse apagar a submissão dos dias anteriores, em que ela se subjugara a ele sem conseguir ripostar. Revelando fraqueza, a característica humana que mais abominava. – Pensas mesmo que nós temos alguma coisa a ver com isso? Credo, acho que preferia morrer a ter de passar os dias naquela coisa escura – declarou, fugindo rapidamente ao olhar masculino. Quando percebeu que Jake apenas a fitava, à espera da resposta certa, ela revirou os olhos em exasperação e acrescentou: – Oh está bem, talvez eu tenha um ano, talvez mais... O que é que isso interessa? A ti levou-te quase trinta para teres esse corpinho! – atacou, abrindo o sorriso sensual logo de seguida para o provocar. – A minha definição de tempo não é a mesma que a tua, fofo. E ainda bem.

– Faz sentido – notou Brian, retendo novamente a atenção de todos em si e no aparelho sobre a mesa que projetava o grafismo da maquete da estação de filtração. – Ela não nos enganou, estamos mesmo perto da fábrica. Se realmente for um edifício subterrâneo então a nossa hipótese mais óbvia, sem ser abrir a boca dessa menina, é mesmo isto – ampliou a imagem no espaço físico que os satélites ofereciam da imagem da Terra e aproximou o dispositivo da loira, que depressa retesou a sua postura. – Acertámos na mouche, querida?

– És lindo... – comentou ela num sussurro que revelava desistência, com o toque sublime de uma sensualidade falsa que não lhe queria dirigir.  

– És ridícula – devolveu o mais velho. – Esta estação de tratamento de águas esteve operativa até o lago lá em baixo ter água suficiente para abastecer a parte norte da cidade. E isso deixou de acontecer há coisa de dois ou três anos – informou, relembrando tudo o que ouvira aquando o cancelamento da filtração no lago. – Foram construídos túneis com mais de sete quilómetros a duzentos metros de profundidade, ao longo de toda a serra. Isto foi um projeto do caraças na altura! – continuou, entusiasmado, enquanto mostrava aos presentes os grandes túneis gémeos escavados paralelamente um ao outro na rocha profunda, para que ambos fizessem fluir as diferentes águas ao longo de uma dezena de quilómetros.

Rachel atentou no moreno que parecia estimulado com a nova informação, e que partilhava tudo o que sabia para os levar à única conclusão possível, e que ela rapidamente percebeu. Se a fábrica utilizasse a infraestrutura da estação devoluta, incluindo os grandes túneis agora vazios pela paragem da drenagem das águas, toda uma nova realidade se abria para eles e para a noite que se avizinhava.

– Oh meu Deus, mas isso é... – exclamou ela, cobrindo o espanto da boca com as mãos.

– A vossa morte – completou April, com um sorriso vitorioso no rosto.

– É aqui, não é? – insistiu Brian num tom quase retórico, quando ele já confirmara as suas suspeitas apenas pela postura da rapariga ao seu lado. – A HCC ocupa a montanha inteira e por isso só íamos arranhar a superfície, certo?

April apenas o olhou com desdém e abriu mais o sorriso, o que o fez cerrar os maxilares proeminentes e fitar o vazio, acalmando o tumulto interior sempre que estava na presença dela.

– Talvez não exista apenas aqui, em Vancouver – acrescentou Jake, num tom grave.

– Isso quer dizer que há mais como eu espalhadas pelo mundo inteiro? – questionou Kim, com todo o assombro da afirmação de Jake espelhado no rosto bonito. Ela nunca pensara naquela hipótese, e tê-la como certa iria fazer com que aquela noite fosse totalmente errada. Ela dissera que queria perceber de onde vinha, e talvez, no seu âmago, quisesse apenas parar com toda a perversidade que acontecia naquela fábrica.

– Como eu, fofinha – corrigiu April de imediato. – Por favor, eu julgava-vos dotados da mínima inteligência. Como se fosse possível repovoar... Oh esqueçam! Eu só quero que vocês despachem esta porcaria e acabem com esta coisa de somos todos amigos e viajamos numa caravana porque paz e amor é tão século passado que me dá vómitos. E tu prometeste, Jack, para além do óbvio...

Kim retesou-se de imediato ao ouvir o verbo que a atormentou durante o último dia. O que Jake lhe teria prometido para que a loira de repente tivesse recuado na decisão desumana de a matar, porque era um erro? De os matar a todos, porque não mereciam viver seres que não tocassem a perfeição física? Talvez fosse a apreensão e ainda o habitual medo a tomarem conta dela, no entanto Kim não gostava da forma com que April se dirigia a Jake.

– Basta falares, April – ordenou o rapaz, num tom assertivo mas calmo, e então Kim decidiu que também não gostava da forma com que ele lhe respondia.

A mão dele ainda vagueava pelas costas da morena, numa longa carícia que a reconfortava, e apesar de tudo não podia deixar de sentir algo por ele ser capaz de honrar promessas feitas à pior dos clones fabricados. Não quando ele destruíra todas as que lhe fizera, precisamente por ela também ser diferente.

– Vocês não vão conseguir entrar de maneira nenhuma, mas aqui está. – Sem qualquer tipo de aviso, April pegou no dispositivo e arrastou-o para perto de si, para aceder ao software que Brian abrira antes. – Eu não conheço a estação, nunca lá estive. – Todos os olhares se moveram instantaneamente para o rosto perfeito, e ela revirou os olhos de novo. – Sim, está bem eu estive, mas só depois! – admitiu. – Não é suposto cá voltarmos a não ser que... – a interrupção abruta não passou despercebida, contudo ninguém a interrompeu e ela continuou: – Mas não é por lá que os invictus saem... Do outro lado – apontou para o holograma do lago, desta vez numa versão gráfica sem água. – A água do lago foi drenada totalmente para o segundo túnel paralelo a este e por isso aqui é a nossa saída – concluiu, referindo-se à grande cratera que o lago drenado deixara à vista.

April continuou a breve explicação, de repente dirigindo-se a eles num tom de voz que não fazia ninguém querer coser-lhe os lábios. A rapariga ainda acrescentou a localização da incineradora, deslizando o dedo ao longo do extenso túnel até alcançar a superfície novamente, apontando diretamente para o edifício térreo das piscinas de tratamento que apenas ficavam a pouco menos de dois quilómetros de onde se encontravam. – Eu não faço ideia de como essa maluca saiu de lá, porque é impossível, mas é a vossa melhor hipótese. Ou a minha, já não quero saber!

– Se a Kim saiu, nós também conseguimos entrar pela incineradora – comentou Rachel, ainda surpresa com a cooperação da rapariga.

– Não! – gritou, Kim. Quando se apercebeu do seu gesto impulsivo, as mãos trémulas foram de imediato para a boca e sentiu o rubor tomar conta do seu rosto. – Hum... p-por lá é perigoso.

– Sim, mas é a nossa melhor hipótese, Kim – perseverou Jake, apertando-lhe a cintura estreita quando percebeu a reação da rapariga, e antes que devolvesse a sua atenção ao mapa tridimensional que tinha em frente. – Como é a segurança?

– Para além de centenas de cientistas que te odeiam tanto quanto eu? – realçou April, a ironia em todo o seu esplendor. – Bem, eles usam sistemas de identificação para aceder a tudo. Por isso não me parece que passem sequer do parque de estacionamento.

– Os pulsos – tentou Rachel, pegando no braço da rapariga lamurienta e erguendo-o para o observar pela primeira vez. – As tatuagens nos pulsos delas. Elas devem estar no sistema e talvez isso não seja apenas uma tatuagem. Um chip, identificação extra, não sei...

– Eu posso... ajudar – prontificou Kim, tocando distraidamente no seu próprio pulso, como se a tatuagem mencionada lhe queimasse a pele.  

– Ok, rapazes. Isso é tudo muito giro e muito à filme – interrompeu uma voz ensonada, vinda do carro estacionado a poucos metros. – Dá sempre resultado. Mas voltando à vida real, onde fabricam pessoas como elas, o que raio vai ser o plano B? Alguém pensou nisso? Alguém está sequer a pensar no que vai fazer quando lá entrar? E para quê? – questionou David, finalmente se arrastando do banco da viatura e aproximando-se deles com passos vagarosos, o olhar enfim desperto. – Sabem, nos filmes os heróis normalmente entram armados até aos dentes na toca do lobo mau. Matam toda a gente e chegam ao responsável pelo fim do mundo para um chit-chat antes de o salvar da destruição. A nossa versão é ligeiramente mais real e low cost, antes que fiquem deslumbrados pelo heroísmo.

David estava apenas a ser David, e pela primeira vez Jake admitiu que talvez o irmão tivesse razão. Toda aquela missão em que se alistaram sem pensar era imprudente e perigosa. Apenas April sabia o que esperar da Corporação e até ela era uma inimiga controlada.

Apesar de tudo, Jake não estava deslumbrado e reconhecia os riscos. Já convivera de perto com a morte, mas nunca com as pessoas que mais amava lutando ao seu lado. Ele não sabia se estava preparado para os levar a todos a correr riscos quando prometera que mais ninguém morreria por sua causa. E prometera a Kim que descobriria tudo sobre ela e que a deixaria em segurança até o fazer. E até onde sabia, ela não podia viver enquanto aquele sítio existisse. Nem ele.  

– Nós temos armas – disse apenas, testando aquela realidade.

– Ninguém sabe disparar, Jake!

– Eu sei – confirmou Brian, colocando a arma que descobrira na casa das gémeas sobre a mesa, contudo longe das mãos traiçoeiras de April.  

– Eu posso aprender... – acrescentou Kim e no entanto a ideia depressa de desvaneceu, porque Jake encarou-a prontamente, com toda a negação prometida no olhar.

– Temos que pensar mais à frente, não percebem? – insistiu David, debruçando-se sobre a mesa. – E pensar que talvez a nossa entrada já não sirva como saída.

Durante algum tempo, que pareceu uma eternidade, todos se entreolharam, a confusão mascarada pelo medo e tensão entre eles a adensar o ambiente. Então uma voz fez-se ouvir entre o grupo, para alívio egoísta de todos:

– Oh... e eu acho que tenho o plano B perfeito – rematou Brian, com um sorriso que batalhava com os que April costumava dedicar, e rapidamente lhe retirou o touchscreen para se debruçar novamente sobre os túneis subterrâneos.  

***

NOTA DE AUTORA

Eu não sei bem o que dizer sobre este capítulo, apenas que me deu o trabalho da minha vida porque aquela estação de filtração de água existe MESMO e eu também andei a ver mapas e planos de construção de túneis e outras tantas coisas dementes... Eu sempre disse que era maníaca com o pormenor, mas acho que nunca ninguém me levou muito a sério.

Quanto ao plano B do Brian... Eu só espero conseguir descrever tudo como está na minha cabeça ou vou chorar para sempre. Os próximos capítulos são muito descritivos e também peço desculpa por isso, mas é imperativo que o sejam por razões óbvias...

Ah... e quem gosta da April que levante a mão .o/ E quem gosta da infantilidade da Kim, das pinhas e do vestido da Kim que levante a mão .o/ E quem gosta do Brian aka Capitão América que levante a mão .o/

Pronto, já chega... Espero que não morram de tédio e os corações mais românticos que se preparem ;) 

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