Libertália: Raízes Piratas

By TssiaGomes

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🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Peque... More

☠ Personagens ☠
☠ Book Trailer ☠
☠ Prólogo ☠
☠ I - A taverna à beira-mar ☠
☠ II - Conhecendo o perigo ☠
☠ III - Uma sentença precipitada ☠
☠ IV - Sangue na Estrela da Morte ☠
☠ V - Trezentos anos ☠
☠ VI - Perigos e explicações ☠
☠ VII - Sombras do passado ☠
☠ IX - Declaração de guerra ☠
☠ X - À meia-lua ☠
☠ XI - Laço quebrado ☠
☠ XII - O outro lado da luz ☠
☠ XIII - Aliança tortuosa ☠
☠ XIV - Caos e companhia ☠
☠ XV - Interlúdio ☠
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte I)
☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte II)
☠ XVII - Convite inesperado ☠
☠ XVIII - Despedida ☠
☠ XIX - Resolução ☠
☠ XX - Conferência ☠
☠ XXI - Má sorte ☠
☠ XXII - Traição ☠
☠ XXIII - Últimos ajustes ☠
☠ XXIV - O rato e a raposa ☠
☠ XXV - Um novo dia ☠
☠ XXVI - A batalha se inicia ☠
☠ XXVII - Abalo sísmico ☠
☠ XXVIII - Ruína ☠
☠ XXIX - A última esperança ☠
☠ XXX - Queda livre ☠
☠ XXXI - Vislumbre ☠
☠ XXXII - A profecia se cumpre ☠
☠ XXXIII - Santos ☠
☠ Epílogo ☠
☠ Notas finais ☠
☠ Prêmios ☠

☠ VIII - O diário de Kidd ☠

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By TssiaGomes

Haya já tinha perdido a noção de quanto tempo estavam andando. A cada passo, a floresta parecia se fechar mais em torno deles. James ia na frente, abrindo o caminho, no entanto parecia tão perdido quanto ela. O calor era intenso.

— Vamos fazer uma pausa — Haya disse, ofegante. Definitivamente, o ar daquele lugar não lhe caía bem.

James virou-se em sua direção com um olhar preocupado.

— Você está bem?

Ela deu de ombros, encostando-se em um dos troncos e deixando-se escorregar até se sentar.

— Sim, só um pouco cansada — disse, cruzando os braços. Sua postura era rígida em relação a James, não queria dar a impressão que seria fácil obter seu perdão. — Quero aproveitar para fazer algumas perguntas antes de chegarmos até Fox. — Não era um pedido.

O ex-oficial franziu o cenho, lançando-lhe um sorriso morno. Esticou o braço até um galho baixo, puxando uma curiosa fruta arroxeada, de formato arredondado e com uma espécie de gomas pontudas saindo de seu interior. Haya não se lembrava de já ter visto aquela fruta antes. E quanto à expressão de James, seria medo?

— Terei o maior prazer em responder qualquer pergunta que me fizer.

Ele começou a puxar os gomos da fruta para baixo, revelando um interior esbranquiçado e gosmento. Sua aparência não era apetitosa.

— Aquela armadilha que me prendeu foi colocada por vocês?

Uma mordida e ele estendeu-lhe a fruta. Haviam vários pontinhos negros do lado de dentro, parecendo sementes. Apesar do estômago vazio e da fome que começava a perturbá-la, Haya a dispensou com um gesto, aguardando pela resposta.

— John é sempre muito cauteloso, não gosta de ser pego desprevenido.

Outra mordida. Haya o encarava de forma decidida enquanto ele saboreava a fruta desconhecida.

— Mas ele sabia que estaríamos aqui, enquanto nós ignorávamos sua presença. Ele não tinha motivos para ser cauteloso quanto a isso, a menos que sua vinda não fosse pacífica. — James abandonou a fruta, fixando as íris azuis nas castanhas de Haya. — O que me faz pensar: quais serão os verdadeiros planos de Fox? E sobretudo, quais serão os seus planos? Porque, ao que me parece, posso estar sendo conduzida para uma nova armadilha.

Ele sorriu descontraído, mas algo em seu tom denotava receio.

— Sempre tão perspicaz. Fico imaginando o que deve ter dito para o conde para convencê-lo a casar-se com você e assumir um filho ilegítimo.

O olhar de Haya assumiu um brilho selvagem, tornando sua expressão mais agressiva.

— Meu casamento diz respeito somente a mim. Está com medo de responder a pergunta, por isso se esquiva dela? Pensei ter dito que responderia a todas.

Ele deu um passo em sua direção, atirando fora a carcaça da fruta. O sorriso sumiu de seus lábios. O olhar estava fixo no dela.

— Não estou com medo e nem pretendo quebrar o que disse antes. Apenas tento poupá-la da resposta, porque talvez você possa não gostar do que vai ouvir.

— Quero apenas a verdade — devolveu ela em tom firme. — Não aceito menos do que isso.

James piscou, abaixando os olhos em derrota.

— Neste caso, eu direi — concedeu, passando uma mão pelos cabelos loiros. — Quando John descobriu que Skyller tinha partido para esta ilha sem lhe dizer nada, ele o considerou como um traidor.

Haya deixou os braços caírem, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Por que ele pensaria isso? Skyller sempre foi o seu braço direito, nunca deixou de estar ao lado dele, inclusive assumiu o seu lugar todas as vezes em que se ausentou.

James deu de ombros.

— Ele escondeu o segredo desta ilha, secretamente planejou tomar posse dela e de seu tesouro, construindo aqui a sociedade que John sempre sonhou. Se tivesse sido leal, teria lhe contado.

— Ele fez isso por Louise — protestou ela, a voz meio alterada. — Para salvá-la de Garret e proteger a ela e ao filho. Coisa que, aliás, você jamais faria.

— Como você é ingênua — ele sorriu de forma irônica. — Acha mesmo que "amor" é a única motivação para um homem como Skyller?

Trincando os dentes, Haya aproximou-se dele como uma fera selvagem pronta a atacar.

— E o que é que você entende de amor? Abandonou Louise, depois me abandonou, sempre tão egoísta para pensar em outra pessoa além de si próprio. Deve ter envenenado Fox contra Skyller esses anos todos, você sempre teve inveja da posição que ele ocupava na Confraria.

James fechou a distância que existia entre eles, segurando no braço direito superior de Haya. Ele pôde sentir o objeto irregular que a circundava por baixo de suas vestes enquanto encarava-a fixamente.

Ele sempre teve inveja de mim porque Louise me escolheu antes dele. Depois te levou para o lado dele porque sabia que isso me feriria. Com você era diferente, porque eu te amava.

Eles estavam muito próximos agora. Haya podia sentir a respiração quente de James sobre si. Em outra ocasião, poderia ter sucumbido a ele, mas não ali. Abaixou os olhos para o braço que ele agarrava, indignada com a ousadia do pirata e apreensiva por ele ter tocado no segredo que carregava no corpo, empurrando-o para longe.

— Não ouse me tocar! Skyller é um homem muito melhor que você, sua lealdade foi o que me levou até ele, nada mais. Ele me salvou da forca, coisa que você não teve coragem de fazer, nem mesmo depois de assistir ao meu sofrimento com a perda do meu bebê naquela cela imunda.

James trincou o maxilar, anuviando sua expressão em uma máscara agressiva.

— Acha que ele fez aquilo sozinho? É claro que ele não contaria a minha participação no seu salvamento. Posso não ser um santo, Haya, mas Skyller também não é tão bonzinho quanto pensa.

— Sua participação? — riu ela, balançando a cabeça. — Que delírio é esse?

— Não há delírio algum — ele disse devagar. — Skyller só sabia onde colocar as bombas porque eu entreguei a ele um mapa do presídio, com a indicação dos pontos mais vulneráveis.

Haya o encarava, perplexa.

— Não acredito nisso — disse, porém seu tom de voz indicava que as palavras de James a haviam abalado. — Está mentindo.

Ele suspirou, voltando a rebatê-la com paciência. Podia fazer aquilo o dia inteiro se ela estivesse a fim.

— Talvez você conheça um sujeito chamado Thomas. Ele era meu subordinado, eu o incumbi de entregar o mapa a Skyller, mas depois daquele dia ele desapareceu. No entanto, não acredito que o nosso amigo o tenha liquidado depois do presente que enviei.

— Thomas? — chocou-se ela. — Sim, eu o conheço, ele realmente era um oficial, mas nunca mencionou nada a seu respeito.

— Pois pergunte a ele. É claro, deve ter feito um trato com Skyller para continuar vivo, mas irá confirmar a história.

Haya desviou seu olhar para a floresta inóspita, tentando digerir a história.

— Não pode ser — disse em voz baixa para si mesma. — Skyller não me esconderia algo assim.

— Ele não a salvou por lealdade, como pensa. Skyller usou você para conseguir o que queria.

Aquilo já era demais. Skyller poderia até ter lhe omitido o auxílio de James, mas por tantas outras vezes Haya e Skyller se ajudaram mutuamente. Ela o salvou da forca certa vez, usando-se de sua posição privilegiada de condessa quando James o prendera já como oficial da marinha. Salvá-la de volta era o mínimo que ele poderia fazer.

— Isso é uma insanidade. Skyller poderia até me considerar um bom soldado para lutar a sua guerra, mas por que precisaria de mim quando já havia um exército inteiro ao seu dispor? Ele já tinha Sarah e tantos outros homens fortes e habilidosos. Eu não faria muita diferença.

James balançou a cabeça, afastando aquela linha de raciocínio.

— Você era muito mais importante do que qualquer outro soldado. Está se esquecendo disso que carrega no braço. Sua ligação com os malgaxe.

Ela abriu a boca, mas nenhum som saiu de lá.

— Skyller sabia que, além da força, precisaria também da lealdade do povo malgaxe, os detentores do conhecimento dos fenômenos da natureza e da magia, para conquistar o poder na ilha — continuou James. — Então ele usou a influência que você tinha sobre eles para trazê-los para o seu lado. Como vê, nunca se tratou de lealdade, tudo foi previamente calculado.

Haya não sabia o que pensar sobre aquilo. Há muito, os malgaxe a presentearam com o bracelete do qual jamais se separara desde então. Era um presente pelo que havia feito por eles no passado, mas também era um fardo. Aquele povo enxergava nela a sua salvadora. Coisa que Haya não podia ser.

— Escute bem — disse ela depois de um longo tempo, retomando o tom firme e decidido. — Mesmo que eu acredite nessa sua história, isso não muda em nada o que eu penso a seu respeito. Se é que entregou mesmo aquele mapa a Skyller, fez isso por peso na consciência antes de qualquer outra coisa. Agora me responda: quais são os seus planos e os planos de Fox?

Antes, porém, que ele pudesse lhe responder qualquer coisa, um farfalhar por entre as folhagens os assustou, fazendo Haya instintivamente levar a mão à adaga em sua cintura. No entanto, ao deparar-se com o sujeito que abria caminho pela vegetação, o choque a fez congelar no lugar, por pouco deixando a arma cair.

— Deixe-me dizer por mim mesmo, James — trovejou ele em sua voz potente, exatamente como Haya se lembrava. — Como vai, Condessa de Eglinton? Ou devo chamá-la de senhorita Venice, já que o casamento foi desfeito?

Haya fez uma careta ao ouvir o antigo tratamento. Depois de tudo, aquele nome ainda lhe dava arrepios.

— Isso já faz muito tempo. Chame-me de Haya, apenas, esse é o meu nome.

A gargalhada de John Fox espalhou-se pela floresta, o que a deixou desconfortável. Eles ainda estavam em uma região muito perigosa, embora a própria figura do capitão pirata emanasse um perigo constante. Suas vestes eram ainda mais imponentes que as de Skyller, com um sobretudo negro que ele fazia questão de deixar aberto para mostrar as armas em seu corpo. A agressividade em seus olhos negros eram destacadas por duas grossas linhas na parte inferior e, na pouca pele exposta do pescoço, podia-se vislumbrar uma ponta de uma tatuagem que seguia pelo corpo todo.

— Espirituosa como sempre, o que acha, James? — ele disse de bom humor, sem, no entanto, esperar pela resposta do parceiro. — Bem, vamos até o acampamento, poderemos conversar melhor por lá. Anseio por notícias de meu velho amigo Skyller.

Apesar do tom amigável, os olhos de Fox brilhavam em um tom que incomodava Haya, mas ela preferiu não dizer nada, apenas assentindo de forma calculada. Lidar com aquele pirata de seu passado exigia-lhe calma e frieza. Até onde se lembrava, John podia ser um homem leal e generoso, mas sabia ser ardiloso como ninguém, sempre com algum objetivo escuso por trás de sua máscara cortês.

— Era exatamente o que eu fazia, estava levando-a ao acampamento — reclamou James.

John apenas indicou o caminho à frente e, sem dizer mais nada, Haya deixou que ele e James a guiassem pelo resto do caminho.

— Era Simon, não era? — sussurrou James, de repente ao seu lado, tomando o cuidado para que somente ela o ouvisse.

— O que? — esgasgou-se ela, enquanto seu coração batia em descompasso. Uma série de lembranças dolorosas invadiram-lhe a mente antes que pudesse refreá-las.

— O verdadeiro pai de Louis, e também do filho que você perdeu na prisão — ele continuou em tom frio — Era ele, não era?

Haya o encarou com raiva. Ele não tinha o direito de fazer especulações sobre a sua vida íntima. Sem nada a lhe responder, ela apressou o passo em direção a John, acompanhando-o de perto, onde James não teria a coragem de perturbá-la novamente.


☠☠☠


O assobio de Eric ressoou floresta afora ao colocar os olhos no diário que Elisa segurava.

— Sinistro — ele comentou com assombro. — Então foi essa coisa que os trouxeram aqui, não foi? Não chegaram em Libertália por acaso, afinal. Talvez Sarah estivesse certa, eles são mais espertos do que pensávamos...

Nadine rangeu os dentes, arrancando o caderno das mãos de Elisa com violência. A garota virou-se para protestar, mas o olhar fulminante de Nadine a fez congelar no lugar.

— E-eu não tenho nada a ver com isso — desculpou-se ela, nervosa. — Jamais teria seguido Henrique se soubesse que o caminho levava...

— Calada — ordenou ela, em uma imitação perfeita se sua mãe Sarah. — E você comece a se explicar já!

Henrique remexeu-se, desconfortável, abaixando-se para pegar sua jaqueta esquecida ao chão, agora suja de sangue e terra.

— Esse diário está em minha família há anos. Eu sempre tive curiosidade para saber se o que estava escrito aí era mesmo verdade ou não, mas ninguém nunca soube me dizer. Minha tia dizia que era uma dessas velharias inúteis que já deveria ter se desfeito há muito, mas eu resolvi pegá-lo para mim e investigar eu mesmo.

— Então você embrenhou-se por aquela taverna sem saber no que isso ia dar? — indignou-se Elisa. — Brilhante, realmente...

Por sua vez, Nadine não se deixou abalar pela fala do garoto.

— Ainda não entendi como isso te trouxe aqui. Até onde sei, William Kidd encontrou a ilha pelo mar. Nunca ouvi falar de nenhum portal terrestre.

— Se você ler o diário, verá que ele menciona uma antiga profecia feita pelos malgaxe, que diz que em trezentos anos o descendente com a chave certa destravaria a fronteira da ilha. Kidd também tinha ligação com os malgaxe e sabia que em trezentos anos a magia da ilha estaria fragilizada pela Super Lua Azul de Sangue, e deixou as coordenadas com a localização para que alguém a encontrasse. Essas coordenadas são a chave da profecia. Eu apenas segui os passos de Kidd, mas como disse, não tinha ideia de que tudo isso fosse verdade até o momento em que entrei na taverna de Thomas.

Nadine ainda o olhava com desconfiança, mas resolveu investigar o conteúdo do misterioso diário. Apoiando-se em um galho baixo, começou a folhear pelas páginas, lendo em silêncio. Elisa aproximou-se o suficiente para ler por cima do ombro, enquanto Eric esticava o pescoço para a prima, a curiosidade vencendo o receio. No meio da página, estava a referida profecia:


"Trezentos anos terão se passado desde a fronteira se fechar

Até o descendente com a chave certa a destravar

Raízes profundas na ilha encontrará

E com seu poder único a maldição cessará

Uma decisão final, por salvação ou destruição se firmará."


A palavra "chave" estava sublinhada com uma flecha que puxava para o canto da página, onde uma letra espremida na vertical mostrava as coordenadas: 23° 43' 34" S; 45° 19' 02" O.

Elisa ficou chocada ao se dar conta de que aquelas letras e números eram as mesmas da tatuagem no pulso de Henrique.

— Você tatuou isso em você!

Henrique instintivamente levou a mão até o pulso, acariciando a tatuagem.

— Essa história sempre me fascinou. Eu fiz as contas e percebi que poderia ser o descendente mencionado na profecia, o que destravaria a fronteira da ilha e tal. Desde então, esperei pela Super Lua Azul de Sangue, o dia em que minha vida supostamente mudaria.

— Está certo — disse Nadine após algum tempo, ainda sem levantar os olhos. — Mas tudo isso é muito estranho. Eu nunca soube que Kidd tinha um diário, mas se isto é real e ele deixou a profecia com as coordenadas, quer dizer que queria que alguém encontrasse a ilha para desfazer a maldição do tesouro, mas por que? Que utilidade isso teria depois de tanto tempo de sua morte, mesmo que fosse para enriquecer um de seus descendentes, que supostamente seria você? Aliás, quem nos garante que o descendente da profecia seja mesmo você, se é que descende mesmo de Kidd?

Henrique mudou o peso do corpo com os pés, desconfortável as especulações de Nadine. Elisa não tinha ideia de onde a pirata pretendia chegar com aquele jogo.

— Eu não sei... há muito sobre essa história que não passa de especulação, mas assim como Elisa tem o sangue de Haya, pode ser que eu tenha o sangue de Kidd também. Isso explicaria o fato de termos conseguido romper a fronteira juntos.

— Pode ser... mas acontece que Kidd era um pirata mais antigo que Skyller. Quando chegou pela primeira vez na ilha, Kidd havia sido enforcado há anos, não tinha mais ligação alguma com Libertália. Se ele era mesmo o seu antepassado, você não tem ligações de sangue aqui na ilha.

— Mas ele sabia quando e onde a magia estaria fragilizada, e com a proximidade de Elisa, isso pode ter contribuído para a nossa passagem.

Nadine ponderou aquilo por um momento, mas sua expressão não estava nada convencida. Então voltou a folhear o diário, tentando encontrar alguma resposta em sua leitura.

— Realmente, o conteúdo dessas linhas é perturbador — disse, erguendo os olhos por fim ao tomar uma resolução. — Precisamos levá-lo para Skyller imediatamente.

— Ei, espere um pouco — tornou Henrique, tentando tomar o livro das mãos de Nadine, porém sem sucesso. — O diário pertence a mim, eu deveria decidir o que fazer com ele. Além do mais, não confio nada em Skyller.

— Skyller pode ter algumas atitudes pouco cristãs, mas é um bom líder. Sempre cuidou da segurança da ilha com mãos de ferro, e agora, se há alguma ameaça de destruição, como essas linhas fazem parecer, ele precisa saber disto para preparar a defesa da ilha.

— Além do mais... — disse Eric de repente, cortando o raciocínio de Nadine. — Tem algumas páginas faltando nesse diário.

— O que? — surpreendeu-se Nadine, voltando a folheá-lo com cuidado e chocando-se ao se dar conta de que Eric tinha razão. — Umas dez páginas, pelo menos... alguém as arrancou!

Henrique ergueu as mãos em protesto, porque Nadine o encarava de forma acusadora.

— Não está insinuando que fui eu, está? Porque se alguém arrancou mesmo essas páginas, isso foi muito antes de eu sequer pensar em existir. Eu sempre perguntava para alguém da minha família, e todos diziam que essas páginas sempre estiveram faltando. Então não me olhe com essa cara.

— Não percebeu ainda? Essas páginas faltantes podem ser ainda mais perturbadoras que o restante do diário. Esse é mais um motivo para entregá-lo a Skyller.

— Então temos um impasse, porque não vou aceitar que o entregue de jeito nenhum — rebelou-se ele de forma corajosa, virando-se de súbito para Elisa, que até o momento não havia se manifestado. — E você, também acha que devemos entregar o diário a Skyller? O homem que nos prendeu e até algumas horas atrás estava disposto a nos executar em praça pública?

— Eu? — Elisa olhou para Nadine, que a encarava de forma desafiadora. — Sinceramente, tudo o que eu queria agora era sair dessa floresta. Você não disse que íamos encontrar aquele seu amigo? Então porque não vamos até ele e depois resolvemos a questão do diário?

— Até que ela é sensata — inferiu Nadine, voltando a encarar Henrique, que revirava os olhos.

Ele fez menção de pegar o diário de volta, mas Nadine o afastou com a mão.

— Eu tomaria cuidado com isso se fosse vocês — manifestou-se uma quinta voz desconhecida, causando um sobressalto coletivo.

Um menino de cabelos desgrenhados e vestes esfarrapadas os observava atarracado no alto de um galho. Não devia ter mais do que doze anos, mas seus olhos eram espertos e o sorriso em seus lábios era malicioso demais para uma criança inocente.

— Quem é você? — exigiu Nadine, guardando instintivamente o diário no bolso da calça. — E o que faz aí em cima?

O menino saltou para o chão com a habilidade de um trapezista, e ao endireitar a coluna, fitou Nadine com uma expressão divertida na face.

— Este diário em mãos erradas pode causar um grande estrago — afirmou ele, ignorando as perguntas de propósito.

— Espere um pouco, você apareceu quando Nadine abriu o diário — especulou Eric, erguendo as mãos. — É algum tipo de espírito preso nas páginas do diário?

— Espírito? — assustou-se Elisa, mantendo uma distância segura do garoto atrás de Henrique. — Como uma memória jovem de William Kidd, tipo Tom Riddle?

— Esse Tom Riddle também era pirata? — estranhou Eric, franzindo o cenho.

Ao ouvir aquilo, a gargalhada do menino espalhou-se ao redor, um riso de pura satisfação. Ele estava se divertindo muito com aquele grupo atrapalhado.

— Estão pensando que sou o espírito jovem de Kidd? Sinto desapontá-los, mas ainda não sou tão velho assim.

Nadine grunhiu, impacientando-se com o joguinho bobo.

— Diga logo quem é e o que quer! — ordenou ela, pegando-o pelo colarinho e apertando-o de forma ameaçadora.

— Calma, moça — tornou ele, sem demonstrar qualquer traço de medo, apesar do aperto de Nadine estar provavelmente o machucando. — Pode me chamar de Omar, estou aqui para ajudá-los. Aliás, eu conheci o seu pai.

Em choque, Nadine soltou-o de chofre, fazendo-o cair aos seus pés. Não tinha a menor ideia de quem aquele garoto era ou se o que ele falava era verdade ou não, mas a menção de seu pai a desestabilizava totalmente.

— C-como?

— Venham comigo — disse ele, levantando-se de um pulo e esfregando as mãos em um tom confidencial. — Tenho algo a mostrar para vocês.

Ahoy, marujos, como estão passando nessa quarentena? Espero que estejam todos se cuidando direitinho.

Agora vamos ao que interessa, porque estou muito emocionada de finalmente poder voltar a postar Libertália pra vocês! Eu sei que fiz todo mundo esperar, que prometi voltar várias vezes e nunca saia nada, mas agora a espera acabou. A história voltou, e voltou pra ficar!

Nesse tempo todo eu consegui concluir a história e agora só preciso ir revisando os capítulos conforme vou postando, o que não vai mais gerar atrasos. Aliás, as postagens serão sempre nas quartas-feiras. Os capítulos anteriores já estão devidamente revisados, mas não mudei muito do contexto geral deles, então se quiserem continuar lendo a partir daqui, não terão grandes mudanças, apesar da releitura ser recomendada para relembrar alguns pontos importantes.

Enfim, espero que se divirtam lendo e, se gostarem, não se esqueçam de votar na história!

Bons ventos e até semana que vem ;)

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