Pov's Mirella
Mirella: Você tem que conhecer minha avó. Quando ela te ver vai dizer, "Nossa, que menino prendado" - tento imitar a voz dela e acabo rindo.
Sebastian: Onde você disse que ela está agora, mesmo? - pergunta.
Mirella: Em um centro de repouso. Ela está bem velhinha. - apoio o queixo na mão. - Acabou?
Sebastian: Pronto, aqui está. - ele me entrega o copo com o suco que ele fez. - Vou tomar um banho rápido, me espera?
Mirella: Uhum. Vou aproveitar sua Netflix. - ele rir e sai em direção ao quarto.
Me jogo no sofá ligando a TV, coloco em um filme aleatório e assim que dou play batem na porta.
Bufo.
Me levanto preguiçosamente indo até o corredor
Mirella: Sebastian, tem alguém na porta! - falo alto mas o mesmo não responde. - Sebastian?!
Ele morreu no chuveiro foi?
A pessoa atrás da porta batia cada vez mais rápido.
Foda-se, vou atender.
Coloco o copo em que bebi o suco em cima da bancada e vou até lá. Giro a maçaneta e assim que abro meu sorriso murcha.
Mirella: Ops.
Dilyan: Você? - ele me olha estreitando os olhos, passa por mim entrando sem educação. - Cadê meu filho?
Mirella: Está no banho. - fecho a porta cruzando os braços.
Dilyan: Te deixou sozinha na casa? - levanto uma sobrancelha. - O que faz aqui?
Mirella: Bom, vim visitar o Sebastian. - dou de ombros seguindo de volta para o sofá.
Me sento no mesmo e dou play novamente no filme.
Não quero me estressar com o pai do Sebastian, então, o ignorar é a melhor opção.
Dilyan: Garota. - ele me chama, conto até três antes de olhá-lo. - O que você quer com meu filho?
Mirella: Hã? - fico sem entender.
Dilyan: É dinheiro? Eu lhe dou, só me falar o quanto. - arregalo os olhos começando a sentir a raiva dentro de mim. - Sei o que garotas como vocês querem, meu filho é bobo mas eu não. Se quer dinheiro, eu lhe dou para que saia da vida dele.
Respiro fundo me levantando, fecho os punhos olhando para esse velho preconceituoso do caralho.
Mirella: É isso que o senhor pensa de mim? Por eu vir de uma comunidade pobre acha que quero roubar o dinheiro de vocês? Que estou aqui por pura ganância?
Dilyan: Conheço garotas como você, ou é isso ou está planejando dar o golpe da barriga nele.
Nesse exato momento lembro que minha mãe fez exatamente isso, e meu sangue ferve ao pensar que alguém pensa que eu faria igual a ela.
Mirella: Saiba, seu velho preconceituoso. - aponto em seu rosto. - Que eu nem sabia sobre a condição financeira do seu filho quando o conheci, e estou pouco me fudendo para quantos zeros ele tem na poupança dele e da sua família. - já sentia lágrimas em meu rosto.
Ele me encara por uns segundos e depois ajeita o terno.
Dilyan: Eu vi você no escritório do Sebastian a umas semanas atrás. - fodeu. - Acha que ia se esconder de mim atrás de um sofá? Vocês são tão ingênuos.
Mirella: Tá, você me viu, mas idaí? - levanto uma sobrancelha.
Dilyan: Você não acha que, você estando em uma posição que precisa se esconder do pai de um homem, provavelmente essa relação não vai a lugar nenhum? - minha pose de durona estava quase se rompendo. - As vezes, temos que achar nosso lugar, e o seu não é do lado dos Salvatores.
Mirella: Isso é o que o senhor diz. - falo ainda firme.
Ficamos um na frente do outro, parecia aquela brincadeira de quem pisca primeiro, e nenhum dos dois queria perder.
Sebastian: Pai? - o olhar do senhor Salvatore passa de mim para o Sebastian. - O que faz aqui?
Viro o rosto vendo o Sebastian já de banho tomado. Ele vestia uma calça cinza e uma blusa da mesma cor. Seu cabelo ainda pingava um pouco e eu sentia o ótimo cheiro de sabonete.
Dilyan: Vim avisar que estou voltando para o nosso país, filho.
Aleluia!
Sebastian: Que bom, desejo boa viajem ao senhor. - sinto o mesmo ao meu lado, ele me olha sem expressão mas depois volta a encarar o seu pai. - Quando o senhor irá?
Dilyan: Amanhã. Mesmo que eu perceba que você ainda precise de ajuda aqui. - seu olhar foca em mim por alguns segundos. - Tenho o meu trabalho para cuidar também, e sua mãe me quer lá.
Sebastian: Eu entendo. - eu sentia que o Sebastian estava feliz com a notícia.
Dilyan: Esperamos você para o Natal? - pergunta.
Sebastian: Estarei lá. - ele sai do meu lado e vai até o pai. - Diga a minha mãe que estou com saudades. - o pai dá uns tapinhas nas costas do filho e o puxa para um abraço.
Dilyan: Son, watch out for the people next to you. Do not trust women you have just met and who have not had the same education as you. Know that I will support you in everything, but don't be stupid. - fala baixo para o Sebastian para que eu não entendesse. ("Filho, cuidado com as pessoas ao seu lado. Não confie em mulheres que acabou de conhecer e que não teve a mesma educação que você. Saiba que te apoiarei em tudo, mas não seja burro").
Sebastian: Good bye, father. - ("Adeus, pai").
Eles se afastam, o Senhor Salvatore me encara e eu aceno dando um sorriso cínico.
Assim que ele passa pela porta posso soltar o ar que eu prendia e respirar aliviada.
Sebastian: O que falavam antes de eu chegar? - pergunta fechando a porta.
Mirella: Nada demais. - dou de ombros.
Sebastian: Tem certeza? Vocês pareciam tensos. - se aproxima.
Mirella: Seu pai me odeia, esse é o resultado de estarmos perto. - dou um riso forçado.
Sebastian: Ele não te odeia.
Mirella: Tem certeza? - ele assente. - Pois não parece.
Sebastian: Ele só tem medo. De acontecer igual a minha tia Alana.
Mirella: Que correu atrás do pai da Maju e foi viver no morro? - dou uma risada. - Você nesse sobe a favela, como vou te arrastar para morar lá? - ele gargalha.
Sebastian: Eu não entendo a mente do meu pai, mas também, aprendi a ignorar.
Assinto pensativa.
Se com o pai do Sebastian é assim, imagina a família inteira dele? Eu não devia tá pensando nisso, já que não temos nada, mas tipo...nem uma amizade seria aprovada por eles.
Sebastian: Ei, ei. Nada de pensar demais. - chama minha atenção. - Sei que quando você para assim, só tá pensando em coisas ruins.
Mirella: Só estou pensando na vida. - dou um sorriso fraco.
Depois do almoço, eu fui para casa.
O Sebastian me trouxe até a entrada do morro, nos despedimos e eu saio em direção ao C.D.A.
Michel: Mirella! - ouço me chamar assim que piso na comunidade.
Mirella: Oi Michel, como tá? - falo educada.
Michel: Bem. - ele passa a mão na nuca como se estivesse incomodado com algo. - Olha, o chefe está te esperando lá na lojinha.
Fico sem entender.
Mirella: O Rafael? - ele assente. - O que ele quer?
Michel: Sei não pô, só mandou eu te guiar até lá quando chegasse. - reviro os olhos.
Mirella: Fala para o seu chefe, que eu mandei ele se fuder, bem fundo, até formar uma broca. - me viro para sair dali mas sou segurada pelo braço. - Michel, me deixa!
Michel: É as ordens. - seu olhar pedia que eu o seguisse.
Mirella: Meu cu viu, bora logo. - solto meu braço e sigo batendo pé até a lojinha.
Assim que chego, passo por todos aqueles homens soltando piadinhas e entro sem bater mesmo.
O Rafael estava conversando com o Muralha quando me viu.
Mirella: Cheguei. O que tu quer ein? - cruzo os braços e ele se levanta.
Rafael: Fala direito comigo, porra. - ele fala tentando parecer calmo.
Mirella: Eu falo como eu quiser. O que você quer? Fala logo que eu tenho roupa para lavar.
Rafael: Tava até agora aonde? - se aproxima cruzando os braços em minha frente.
Mirella: Na casa do Sebastian, eu te falei...
Rafael: Tu falou isso ontem.
Mirella: Eu dormi lá, não é óbvio? - o olho debochada e seu semblante está fechado. - O que tu quer, ein Rafael?
Rafael: Ele é muito trouxa né, mesmo você dormindo comigo em vez de sair com ele...pera, já sei, você deu um chá de buceta nele, só pode. - ele gargalha.
Em um segundo eu estava com o sangue fervendo e no outro minha mão ardia depois de ter batido em sua cara.
Mirella: Você me respeita! - grito.
Rafael: Filha da puta, tá achando que é o quem para me bater? - ele me empurra ainda com a mão no rosto atingido.
Mas seu empurrão foi tão forte que se não tivesse um sofá atrás de mim, eu teria me estabacado no chão.
Arregalo os olhos.
Muralha: Cara, relaxa. - ele segura os ombros do Rafael.
Mirella: O que aconteceu com você, Rafa? - falo baixo segurando as lágrimas. - Você não é assim.
Rafael: Eu sou assim. Só que com você, eu tentei ser bonzinho. E como tu me retribui? Dando para o meu primo. - fala rangendo os dentes.
Mirella: Eu não dei para ninguém! E mesmo se eu desse, a vida é minha. - me levanto. - E eu não sou sua.
Rafael: Quer que eu te bote no meu nome? Eu boto. - meu coração erra uma batida me fazendo paralisar.
Oi?
Mirella: Tá maluco?
Rafael: Faço isso só para tu não ficar com aquele lá.
Mirella: Você é doente. - cuspo o olhando de baixo para cima.
Rafael: Mirella, tô falando sério. Quero te proteger.
Mirella: Acho que eu devo me proteger de você. - ele nega se aproximando.
Rafael: De mim não! Sempre cuidei de você, morena. Só que tu sabe que eu não gosto de dividir minhas coisas, e você é uma delas. Você sempre foi minha dês dos 5 anos. - nego com a cabeça me afastando.
Mirella: Eu nunca fui sua. Você me rejeitou, só que agora que a Tina foi embora, acha que sou um tapa buraco. - o acuso. - Você está sendo um macho escroto do caralho.
Rafael: Tu não é um tapa buraco. Eu posso te mostrar, se quiser.
Mirella: Rafael... - Eu respiro fundo. - Eu estou gostando do Sebastian. - sou direta.
Ele fica parado por uns segundos me encarando, depois da um riso nervoso e nega.
Rafael: Sai daqui. - se vira pegando um cigarro em cima da mesa.
Mirella: Vai me expulsar agora?
Rafael: Tu já tirou essa sua cara da minha frente? - manda ainda de costas.
Mirella: Babaca. - me viro pelos calcanhares e saio batendo os pés.
Pov's Rafael
Muralha: O que foi isso moleque? - retira agressivamente o cigarro da minha mão. - Tá gostando da mina?
Rafael: Não! - esbravejo.
Não mesmo.
Muralha: E que porra é essa de colocar ela no teu nome? Quer encarcerá ela? Logo tu que não gosta dessas coisas.
Rafael: Se for para ela não ser do Sebastian. Sim. - ele me olha sem entender, me jogo na cadeira. - Aquele babaca já tem tudo, e agora quer tirar a Mirella de mim? Não vou deixar. Não quero compromisso com ela, mas dividir a Mirella eu não faço.
Muralha: Olha o que tu tá falando seu egoísta de merda! - o olho irritado.
Rafael: Fala direito comigo, tu pode ser meu amigo e meu cunhado, mas quero respeito. - ele revira os olhos.
Muralha: O mesmo respeito que tu tá dando para a Mirella? A vida é dela!
Rafael: Foda-se! - bato na mesa.
Muralha: Tu precisa relaxar, mano. E deixar esse assunto para lá. Tem outras garotas aqui no morro que abririam as pernas em uma piscada sua. - ele se vira para sair mas parece lembrar de algo e volta. - Eu acho que tu deveria ligar para a Tina, pedir para ela voltar. Tu precisa de uma mulher...
Rafael: Não preciso de mulher nenhuma. - lanço um olhar raivoso para ele.
Muralha: Precisa sim. - fala e depois sai.
Filho da puta.
Que porra de mulher o quê, mulher só faz acabar com a vida da gente.
Ah, mas o Sebastian não vai ficar com a Mirella mesmo.
Se o boa noite Cinderela não funcionou, talvez eu deva piorar mais as coisas.
❤