Timer after time [lwt+hes]

By TommoTops91

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[EM ANDAMENTO] Do ventre do universo, surgiu tudo. Cada átomo, em sua partícula mais indivisível, tem um próp... More

.| Epígrafe
pt.1 do amor, [não ser]
pt.2 da tragédia, [não querer]
pt.3 da quebra [expectativa]
pt.4 do verbo correr [de você]
pt.5 do passado, [im]perfeito.
pt.7 do ouvir, [encontrar]
pt.8 do estar, [com você]
pt.9 do mesmo [nada]
pt.10 do estar, [tão sozinho]
pt.11 do coração, [partir]
pt.12 do amor, [precisar]

pt.6 do desespero, [bagunça]

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By TommoTops91

Louis Tomlinson parou.

Com as mãos recobertas por luvas de procedimento, posicionou uma sobre a outra em seu próprio peito. O corpo pesado de cansaço apoiado de maneira comedida na madeira da porta dupla que separava o ambulatório de uma saída lateral do hospital. Vestia todos os paramentos necessários para isolamento de contato e aerossol, a máscara N-95 ferindo a ponte de seu nariz com o aperto. Foi solicitado à paciente com Fibrose Cística contaminado por uma bactéria específica que estava sob os cuidados de outro enfermeiro, uma consulta interprofissional sobre um curativo para lesão por pressão na região lombossacral, e Louis preferiu além de dar a consulta e a prescrição, executar o curativo.

O que lhe custou um tempo considerável, já que a gravidade do assistente havia assustado alguns profissionais e Louis precisou prestar quase toda a assistência de enfermagem sozinho - dando banho, trocando acesso venoso pois havia sujidade, executando o curativo, conferindo a administração de medicações e as prescrições das mesmas, no caso de algum estagiário ter deixado passar uma dosagem errada. Por sorte, as evoluções de enfermagem estavam legíveis e completas, bem como as anotações. Apenas um técnico realizou os procedimentos que cabiam junto a ele, pois não queria expor membros mais novos da equipe à risco.

Parado, perto do banheiro para retirar os equipamentos, sentiu-se desacelerar aos poucos. O trabalho era o melhor escapismo para não permitir certos pensamentos atravessarem sua mente. Ao retirar seus equipamentos de proteção individuais e lavar as mãos, a imagem que ele viu de si mesmo era exatamente essa: desordem, bagunça, tragédia. Não só haviam manchas ao redor de seus olhos, como também toda a região estava inchada - uma conjunção óbvia de suas noites mal dormidas e do estresse que passava com o trabalho e a especialização. Ele estava tão acabado, que as maçãs de seu rosto poderiam ser usadas para cortar uma salada, as bochechas começavam a afundar e sem a barba parecia que ele era um dos walkers de the walking dead.

Às vezes, Louis sentia as solas de seus pés tão desgastadas que o simples ato de manter-se em pé era demasiado doloroso. Um esbarrão de uma de suas colegas quase fizera com que ele fosse lançado ao chão, de tão débil e enfraquecida que se encontrava a casca que apelidou de corpo. seu cabelo permanecia desgrenhado apontado para tantas direções que os fios estavam fragilizados após tantos puxões que Louis dera como forma de aliviar a tensão de um plantão agitado - e como alívio para todos os pensamentos corrosivos entorno do rumo que o Destino parecia estar traçando pelo caminho que ainda havia para percorrer.

- Louis, você tá horrível - Niall disse assim que entrou na sala de descanso com dois copos de 400 ml de café puro, um deles destinado enfermeiro, que tinha deitado de bruços.

Há dias Louis carregava um sentimento estranho em seu peito, que ele sabia ser em partes pela consolidação de Harry enquanto sua alma gêmea e também pelo resfriamento súbito de seu relacionamento. Parecia, as vezes, que parte de si mesmo tinha se transformado em uma matéria incompatível com seu corpo, como se água e óleo coexistissem na mesma pessoa, e tal como na natureza fossem impossibilitados de se misturar. Densidades de si mesmo interagindo e repelindo uma à outra.

- Eu quero morrer - respondeu, sentando a contra gosto e franzindo o nariz. Niall engoliu em seco, estendendo o café fumegante que mantinha em mãos.

Uma coisa era certa, apesar dos inúmeros acontecimentos que faziam Louis odiar o Destino e suas nuances, Niall era uma que quase o fazia amá-lo. Ao longo dos anos de amizade, Niall continuava sendo a mesma figura sólida e permanente em sua vida, mesmo após conflitos vorazes o suficiente para mandar duas pessoas para pólos opostos do planeta, ele continuava ali, firme, presente.

Louis levantou os olhos do tecido acolchoado, para mirar os olhos igualmente cansados de Niall. A semana não estava perdoando ninguém no aspecto trabalho, visto que Niall tinha o cabelo espetado e o rosto com várias espinhas ameaçando saltar em sua bochecha direita, como resultado do estresse. E mesmo imerso em tantas obrigações, ele conseguia algum tempo para ouvir Louis e suas lamentações sobre o Destino, suas angústias e inseguranças sobre coisas as quais ele não possuia controle algum.

- Tá acontecendo alguma coisa? Nem na época que você publicou aquele A1 e a revista demorou para aceitar a submissão você parecia tão mal - Niall perguntou, como alívio cômico, gestionando com uma sobrancelha arqueada para o café em mãos. O sorriso malicioso e amigável de quem diz "tá precisando, cara".

Niall subiu na cama - que era minúscula para duas pessoas - ignorando a cara feia de Louis e abrindo as pernas do enfermeiro para sentar-se com as costas no peito dele, o café quente em mãos e a nuca apoiada no ombro magro de Louis. Simples assim, com as escápulas expandindo contra o tórax de Louis, a colônia fraca dissipando pelo ar entrelaçada ao cheiro de café, e a pele irradiando um calor fraternal.

- Ugh, Niall. Você não é pequeno - Louis reclamou, fechando a cara ainda mais, mas passou uma mão ao redor do ombro do amigo e encostou as bochechas, suspirando. Ele estava tão cansado que quase queimou a língua ao bebericar seu café.

Poderia ser uma cômica releitura das pinturas à óleo mais clássicas: Louis, consumido por si mesmo, com o corpo cada vez mais ósseo e manchas púrpuras ao redor dos olhos, segurando Niall entre os braços como um náufrago ansiando um último suspiro. O fisioterapeuta loiro com certeza tinha o perfil necessário para representar a vida, ou, no caso de Louis um último suspiro antes de morrer.

- Eu sei - Niall respondeu com um olhar malicioso e um arquear presunçoso de suas sobrancelhas, fazendo Louis gastar o pouco de energia que tinha revirando os olhos e beliscando a gordurinha do quadril dele em resposta - Ouch, Louis. Você já foi mais carinhoso comigo

Louis abriu a boca para dar uma resposta bem malcriada, mas a maçaneta girando chamou a atenção deles antes disso.

- Sério, a gente deveria marcar um threesome de uma vez - Zayn disse ao entrar e ver os dois juntos na cama. Niall era tão grudado em Louis desde sempre que ele nem se incomodava em sentir ciúme. Ele também parecia acabado, com um copo de café de 700ml em mãos, era seu plantão de 36 horas.

Louis imediatamente relaxou os ombros, permitindo aos lábios afrouxar-se em um sorriso ladino com os lábios sanguíneos pela bebida quente, comprimentando Zayn com um aceno de cabeça antes de virar-se para incomodar Niall:

- Eu disse que ele me deseja secretamente, Niall - Louis provocou, mandando um beijo para o médico que piscou de volta.

- Eu já disse que daria pra vocês dois - Niall deu de ombros, tomando o conteúdo de seu copo de uma vez só. Louis nem se impressionava mais sobre como o amigo virava café como se fosse cerveja - Agora cala boca, eu quero entrar em coma os próximos quarenta minutos que a gente tem de paz.

- De acordo - Zayn disse, de seu lugar, deitando no sofá. - Você vem dormir comigo ou vai ficar perturbando o Louis? - os olhos estavam tão cerrados que era quase impossível distinguir o âmbar que tingia normalmente a sua íris do preto de suas pupilas; e o topete escuro estava tão bagunçado quanto o de Louis, caindo por todo o rosto dele.

- Ele vai sim, a cama é minha hoje - Louis empurrou as costas de Niall após colocar o copo com um restinho de café no lixo ao lado da cama. O loiro apenas movimentou o braço descartando o próprio copo, mas resmungou até que ele e Louis estivessem confortaveis na cama deitados um de frente pro outro com pernas entrelaçadas. Como na época que eles matavam aula no laboratório de informática pra dormir.

- Parece que não. Hoje você tem a cama e o irlandês - Zayn respondeu arrastado em meio à bocejos.

Era assim, quase sempre. Niall sem noção alguma de espaço e a culpa era inteiramente sua por mimar demais o amigo. Louis piscou lentamente, o rosto bonito de Niall pouco a pouco ficando mais embassado conforme a sonolência ganhava espaço em sua circulação sistemica. Nem parecia que eles tinham tido aquele momento na sala um tempo atrás, por causa de Harry e a porra do cronômetro.

No final das contas, nem mesmo as cicatrizes horrendas de seu passado eram capazes de abalar uma amizade tão forte quanto a que eles têm - mesmo com todos os conflitos internos. Entre suas piscadas letárgicas, Louis se entregou ao descanso merecido com a sensação de conforto em seu coração pois Niall sempre estaria ali, disposto a se enroscar em um espaço minúsculo e desconfortável apenas para ter certeza de que estava tudo bem, de que ficaria tudo bem. Essa lealdade era uma das coisas mais admiráves, que quase o fazia amar ao Destino.

. . .

Louis podia não ser o homem mais esperto do mundo, nem de perto ele mereceria essa congratulação; mas se orgulhava de ser uma pessoa bem observadora, especialmente quando se tratava de sua garota. Em dois dias, Taylor vinha sendo escorregadia e cheia de desculpas para não vê-lo, ele sabia que eram desculpas porque o horário deles era quase 100% compatível - óbvio, isso não significava que ela deveria andar atrás dele ou algo assim, mas era estranho que surgisse com imprevistos e compromissos de última hora quando ele sabia que não existiam.

Ou pior, era estranho que ela mentisse tão deliberadamente porque com certeza sabia que Louis perceberia o fundamento enganoso por trás de suas desculpas.

Céus, ele nem sabia o que parecia quando começava a pensar dessa maneira um pouco paranóica. Poderia ser o estresse com o excesso de trabalho e estudo associado à falta de alimentação decente e sono. É por isso que respirou fundo algumas vezes, tentando ordenar seus pensamentos, porque a insegurança é natural da humanidade, mas ele jamais seria o homem que descontaria isso na namorada, por isso agiu normalmente.

"Passo te buscar?"

Enviou a mensagem enquanto calçava seus coturnos, pronto para sair do trabalho. Zayn e Niall tinham saído mais cedo porque um paciente VIP de ambos estava solicitando-os em outra cidade - apenas Kevin, outro enfermeiro, também sairia nesse mesmo horário. Havia uma mensagem de sua irmã mais nova, Phoebe, perdida. Louis suspirou, elas estavam virando adolescentes e começando a ter problemas com Doncaster e seus habitantes cabeça fechada, especialmente Phoebe.

"Eu tenho muito orgulho de você, baby. Continue sendo essa garota brilhante e se mantenha firme. x"

Recentemente, a irmã havia zerado o cronômetro, o problema é que a garota era de um internato apenas para garotas. Phoebe havia encontrado com ela em uma festa dada por Thierri, seu melhor amigo. Louis estava preocupado, porque a irmã mais nova e a menina destinada desenvolveram uma espécie de romance adolescente e acabaram sendo pegas, o que resultou em uma separação traumática e muito preconceito venenoso escorrendo da língua dos habitantes de sua cidade natal. E ele não poderia trazer as gêmeas para Londres enquanto elas eram menores pelo fato de que não tinha tempo, e não queria ser um irmão ausente.

"Phoebe, você é uma irmã fantástica ok? o problema está neles, não em você"

Enviou uma segunda mensagem para Phoebe, apenas para o caso. Ele não gostava de como as coisas estavam em Doncaster.

"Já estou em casa, Lou"

Foi a resposta simplória que recebeu de Taylor, e lhe arrancou outro pequeno acesso de insegurança. Louis ficou os dedos no cabelo, tentando entender se havia algo acontecendo, algo que ele tenha feito; parecia um idiota com o celular em mãos, sentado no extenso banco do vestiário, ombros tensos e olhar baixo, os dedos permaneciam pairando sobre a tela, enquanto pensava em como abordar esse distanciamento. Não seria por mensagem, obviamente, Louis apenas precisava respirar.

Respirar fundo.

Era isso que ele precisava, ordenar seus pensamentos e não ser um idiota impulsivo. Apesar de não saber lidar muito bem com algumas crises, Louis também não costumava ignorar tudo que acontecia ao seu redor, não continuava a vida fingindo que algumas situações eram inexistentes. Exceto àquelas de seu passado, que configuravam um quebra cabeças quase impossível de montar, e desgastavam demais sua saúde e energia.

"Vem dormir comigo, preciso contar algumas coisas.

Pilote com cuidado, amo você"

Ela mandou, em seguida. Louis arqueou a sobrancelha, desconfiado.

"Eu amo você, 15 min." Respondeu, por fim.

Louis levantou-se do banco desconfortável, mexendo os dedos dos pés nos coturnos. Dessa vez não vestia sua inseparável jaqueta, e sim um conjunto de três casacos quentinhos sendo o primeiro deles o seu pijama - nos últimos dias ele mal dava contra de encontrar sapatos, quem diria achar suas blusas de frio, o bom e velho moletom gigante cobria perfeitamente suas várias escolhas de casaco que não combinavam entre si. Levantou ambas as mãos com o objetivo de massagear as têmporas e drenar um pouco daquele estresse todo que lhe fazia ter dor de cabeça. E ele quase conseguiu, até que seus músculos travaram todos simultâneamente: Harry morava com Taylor.

O garoto não costumava ser um pensamento recorrente em sua cabeça, era mais como uma memória distante, hora aparecendo e em seguida desaparecendo em meio à tantos outros problemas. Ele tinha visto Harry algumas vezes, a primeira delas ao visitar a namorada após um final de semana em Doncaster sua mãe - o professor estava com uma pasta cheia de papéis soltos, trancando a porta da frente e equilibrando um copo de café na mesma mão, e deu tudo errado. Por sorte, a pasta tinha ido para um lado e o café explodido do lado oposto ao chocar com o piso da varanda. Louis ouviu um "caralho' baixinho, enquanto Harry abaixava, ainda sem percebê-lo.

Louis, como o homem educado, abaixou e juntou o copo de café que tinha rolado até a ponta de sua bota. Harry vestia um jeans claro, camiseta de banda, vans vermelhos e uma jaqueta tão fina que Louis não tinha certeza se ele não passaria frio mais tarde, especialmente quando a cidade tinha um tempo tão volátil. Não tinha sido exatamente constrangedor, ele com o copo em mãos, pigarreando e assustando o garoto, que levantou tão rápido quanto um gato ao cair. Harry encarando, apenas por um milésimo inescrutável de segundo, com os olhos cor de jade arregalados e a mandíbula frouxa frouxa pelo susto.

Harry parecia um homem tão imaculado, mesmo com a vestimenta despojada ele mantinha uma aura de alinhamento e organização, efeito esse que desaparecia assim que o jovem professor abria a boca e meia dúzia de palavras escapavam dela.. Louis sabia, lá no fundo, que isso era uma reação à ele e não falta de dicção da parte do outro. Era apenas consequência de seu comportamento hostil inicial.

- Oi - ele tinha dito, com as bochechas levemente rosadas. A mão grande e cheia de anéis massageando o próprio couro cabeludo em nervosismo, a segunda vez em que eles se encontravam e Louis já havia notado esse tique nervoso. O professor arregalou os olhos assim que olhou diretamente para o enfermeiro, negando com a cabeça e olhando para seus vans.

- Nós podemos nos cumprimentar, cara - Louis revirou os olhos, bufando. Ele era tão impaciente as vezes. Ou talvez estivesse apenas amargo, Tomlinson era uma pessoa que tendia ao azedume em algumas situações incompreensíveis e além de seu controle. E, no caso, ele ainda mantinha certo desprezo na ponta de sua língua, não para Harry, mas sim pela facécia que o Destino parecia estar jogando consigo.

- Desculpe - Harry murmurou alguns tons mais vemelho, mas olhando diretamente para Louis dessa vez. Ele quase conseguia sentir queimar em sua pele a forma como Harry analisava as manchas sob seus olhos, franzindo as sobrancelhas escuras e pressionando os lábios. As expressões do jovem professor oscilaram com rapidez impressionante, primeiro denunciando sua preocupação, curiosidade, e por fim, fechando-se com certa timidez por encarar tão deliberadamente. Harry era um livro aberto. - Bom dia, Louis. Estou atrasado.

Havia palavras ali, presas dentro daquela boca tímida. Era palpável que o professor queria lhe dizer algo, mas não se sentia confortável. Louis se perguntava por quanto tempo ele se sentiria estranho ao encontrá-lo pessoalmente. Fisiologia de destinados nunca foi seu tópico favorito, especialmente pela gama de exceções e de variáveis, mas quando permitiu que Harry seguisse seu caminho e lhe deu as costas, Louis sentiu - por apenas uma respiração completa - que não haviam densidades diferentes dentro de si mesmo.

Naquele ínfimo momento de encontro, ele sentiu as respirações como sendo apenas uma, e seus pulmões encheram-se da singularidade de ser parte de um todo. Mas logo saiu do estado de torpor, olhando para trás desconfiado a tempo de ver Harry subindo no carro que dividia com Taylor. Louis não queria pensar naquilo, no ar fresco, nem em Harry, então entrou na casa e foi fazer o que deveria.

Agora, muitos dias depois, Louis encontrava-se empacado na saída do vestiário. Ele não tinha medo de Harry, mas sentia-se desconfortável de dividir a casa com o professor e sorver na própria pele os efeitos da marca. Quase um covarde, riu com escárnio de si mesmo.

. . .

Louis sempre pensou consigo mesmo sobre como ele nunca desejou conhecer a pessoa por trás do seu cronômetro caso ele viesse a zerar um dia, não apenas em decorrência de seu passado, mas também como um ato de rebeldia e ódio direcionados à predestinação.

No entanto, houve um momento sim, um dia como qualquer outro, ele tinha saído do hospital e decidido afogar todas as mágoas em álcool porque naquela noite em específico todos os pacientes da área vermelha tinham morrido em decorrência de uma superbactéria resistente à todos os antibióticos que eles tentaram administrar. Zayn e Niall tinham se recolhido, e ele sabia que apesar da amizade aquele era o momento do casal.

Como de costume, o bar estava cheio de universitários, mas ele estava rabugento e amargo demais para dividir uma mesa com aquele pessoal.

Então uma mulher sentou ao seu lado, ela vestia um jeans surrado e folgado com uma camiseta de banda toda cortada deixando seu sutiã em evidência. Era loira, alta, com cabelos compridos e lábios vermelhos como sangue. Talvez ele estivesse um pouco bêbado demais, ou carente demais, ou as duas coisas - mas a forma como ela parecia igualmente amarga e divergente do resto das pessoas era uma coisa que o fazia querer descobrir mais sobre aquela mulher tão linda e forte que fazia o mundo parecer indigno de sua presença.

Eventualmente, as coisas aconteceram. Ele lhe mandou um drink, e ela mandou o pedido mais esquisito do cardápio com um recado "diga-me como se sente quando escolhem por você".

Louis nunca tinha se sentido mal por mandar uma bebida para uma garota, especialmente porque era uma gentileza e uma forma de dizer que estava interessado; mas ele também nunca tinha considerado que talvez alguma delas pudesse se sentir ofendida. Então a criação que sua mãe lhe deu o obrigou a levantar e caminhar até a moça loira e arisca para se desculpar.

Quando ela sorriu gentil para ele, e o convidou para dançar, havia um grande ponto de interrogação na sua cabeça - mas era bom, de todas as pessoas em sua vida, nenhuma pareceu tão entregue quanto ela, que não parecia ligar se Louis não era a pessoa que fizera seu cronômetro zerar, ela dançava como se ele fosse essa pessoa, como se ele fosse digno do tempo dela, e daquele sorriso perfeito que lhe era direcionado.

O Destino não era um cinto de caridade, muitas pessoas ainda aproveitavam atividades noturnas como beber, dançar e dormir com estranhos - mas sempre tinha uma linha invisível delimitando a diversão, como se ninguém pudesse ser tão bom quanto aquele que ainda estava por vir. Uma concepção um tanto ilusória mas que drenava o interesse de Louis nas pessoas, homens, mulheres, ou qualquer que fosse a identidade. Esse limite traçado pelo intangível lhe tirava todo o regalo em arranjar uma companhia.

No entanto, não com ela - Taylor, como sussurrara em seu ouvido entre uma música e outra. Ela dançava com Louis, sem nunca tê-lo conhecido, com a leveza de uma risada duradoura, e quando a música acabou, ela estava com o boné dele virado para trás, as mãos em seu ombro com dedos embrenhados no cabelo escorrido e suado de sua nuca - Taylor tinha a pele brilhosa devido à maquiagem e ao calor da dança, e os lábios convidativos entreabertos apenas esperando que Louis os tomasse.

Louis, que raras vezes em sua vida presenciou uma entrega tão intensa, que não desejava nada de volta além do divertimento.

Naquele dia, no meio de um bar cheio de universitários bêbados, foi a única vez em toda sua vida na qual se pegou pensando sobre como seria o homem mais sortudo do mundo se aquela garota fosse sua, com ajuda do Destino ou não.

. . .

Taylor abriu a porta, vestindo uma blusa de manga longa rosa pastel que era um pouco curta e deixava um pedaço de sua barriga à mostra, junto com uma calça moletom cinza e meias daquele tecido fofo que Louis vivia esquecendo o nome. Sempre que saia do hospital, sua visão ficava um pouco embaçada pelo esforço em não errar algo por descuido, então ele não conseguia ler as letrinhas miúdas escritas nas mangas do moletom, nem distinguir qual era o tom de azul que inundava os olhos dela por trás do óculos de grau, e muito menos saber a espessura das mechas que escapavam o rabo de cavalo.

- Oi, amor - ela cumprimentou, igualmente sonolenta, esticando o braço para remover a mochila de seu ombro. Louis permitiu o gesto de carinho, se aproximando dela e segurando seu quadril. Havia a possibilidade de sua cabeça nublada estar dificultando sua percepção, mas além da saudade da preocupação com a namorada, um frio gélido parecia percorrer sua espinha de sobreaviso, com a sensação de densidades diferentes mais forte do que nunca, torcendo seu estômago com as mãos.

- Oi

Normalmente, Louis selaria os lábios. Eles cultivavam o gesto carinhoso como cumprimento desde o começo do namoro. Dessa vez, no entanto, Louis se sentia um pouco desconfortável. não sabia se era pela casa em si, estivera ali poucas vezes depois do incidente do cronômetro, ou se pelo fato de que Taylor havia escolhido lhe ignorar tão fácilmente ao invés de conversar sobre o problema que tanto lhe afligia. E era algo que nunca antes ela havia feito, sempre preferindo ser justa e sincera.

- Me desculpa a ausência - Taylor disse assim que colocou a mochila de Louis na cadeira de luva de baseball que ficava em seu quarto. Virando para ele um pouco apreensiva, os dedos esguios apertando as mangas da blusa. - Tem tanta coisa acontecendo

Louis tirou o casaco de cima, que estava um pouco molhado por conta da umidade, e os sapatos também. Ainda permanecia silencioso e observador diante dos gestos exagerados e da voz com o timbre oscilando repetidas vezes para um tom mais agudo indicando o nervosismo de Taylor. Sabia que não era a pessoa mais altruísta do mundo, mesmo tentando ser bom, mas estava magoado. Os olhos azuis de safira não abandonaram Taylor, enquanto abria debilmente a boca, o movimento lento e de pouca intensidade demonstrando que ele não estava completamente satisfeito com os acontecimentos.

- Eu posso ajudar de alguma forma? - questionou, preocupado. Ele e Taylor sabiam que ela corria risco de ser transferida de área de cobertura desde que a mulher de Ross, o parceiro dela, tinha morrido no parto e ele precisava de licença para se reorganizar e dar atenção à filha recém nascida. E no meio do próprio cansaço ele tinha esquecido disso. - Eu fiquei preocupado... - Acrescentou, com a voz baixa

Os lábios de Taylor tremeram suavemente enquanto ela segurava a mão de Louis. Ela olhava para tantos cantos do quarto ao mesmo tempo que ele ergueu as mãos entrelaçadas para beijar o pulso dela, em sinal de paciência e carinho.

- Eu fui transferida - ela desviou o olhar. - Me desculpa, Lou. Eu recebi a notícia e fiquei tão desapontada que não consegui fazer mais nada, nem levantar da cama nas folgas. Desculpa...

- Nós sabíamos que poderia acontecer - ele falou em tom baixo, apontando a cama com os olhos. - Não queria que você ficasse triste desse jeito. - segurou os pulsos dela com delicadeza, passando ao redor dos próprios ombros, e acariciando a extensão dos braços dela com as mãos. Um claro sinal de conforto antes que ela enroscasse uma perna de cada em sua cintura, pedindo que eles fossem para a cama.

Louis conhecia bem a sensação de ansiar por cuidado, tal como a de não conseguir levantar da própria cama.

- Eu tenho tanto medo, Lou - ela confessou baixinho, com o lábios roçando a pele nua de seu peito, até onde a gola da camiseta permitia. Louis dificilmente dormia com roupa, especialmente com Taylor, porque eles sempre acabavam enroscados um no outro embaixo das cobertas, mas o desconforto ainda estava lá, gentilmente arranhando as paredes de seu tórax e colabando seus alvéolos pulmonares.

- Nós vamos dar um jeito - embrenhou os dedos no cabelo loiro, massageando o couro cabeludo da nuca dela - Eu ainda não posso trocar meus horários, mas vamos pensar em algo.

- Sim, mas não é só isso. Eles me trocaram de região, eu vou pro lado mais perigoso.

- Eu não sei como ajudar, Taylor -

Ela suspirou, e Louis também. Eles tinham acumulado tanta tensão por causa do cronômetro, que esqueceram da possibilidade que os vinha assombrando desde que o parceiro de Taylor teve problemas pessoais que talvez impedissem que ele continuasse sendo policial.

- Eu vou precisar viajar depois de amanhã, nós vamos para um intensivo. É junto com os bombeiros - Taylor disse depois de um tempo.

Louis concordou com a cabeça, e com um som em sua garganta. Ele sentia o coração apertado e não sabia porque, parecia que algo estava para acontecer.

. . .

Harry, por outro lado, não conseguia dormir. Estava deitado na mesma posição - dorsal, com os braços cruzados sobre o estômago, a cabeça em um travesseiro enquanto outros dois rodeavam seu corpo e a coberta enrolada nos pés. Taylor chamava de posição difuntinho, e Harry não poderia concordar mais. Acontecia que a posição lhe permitia encarar o teto cheio de estrelas grudadas que pertenciam ao antigo dono e ele não quis tirar.

O coração disparava no peito. Seria um pressentimento?

.  .  .

hm, olá!
será que alguém me responde hoje? eu sempre fico no vácuo, queria saber se vocês estão bem 

então, me bateu uma insegurança enorme e eu simplesmente apaguei o capítulo e reescrevi ele todinho porque estava achando muito ruim :( desculpem, eu fico tão insegura com a fanfic as vezes...

vou fazer duas perguntinhas:

1. o que acharam do capítulo?

2. o que estão achando do desenvolvimento da história? sejam sinceros

bom, se tem alguém novo aqui, no instagram tommotops91 eu sempre coloco alguns spoilers seja através dos personagens ou de mim, sintam-se a vontade ok

AHHHH e vou colocar as playlists que a @legendarychld fez pro H e pro L de TAT na minha bio, eu achei um mimo 

AGORA SOBRE ÔMEGA, sim ela ainda existe, o que eu consegui salvar dela. Eu posso ir soltando atualizações mas vai ser no tempo de Deus pq to muito ocupada gente, sério...

Até a próxima! Fiquem seguros

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