▕ B l a i r▕
Dou um cigarro à loira, que estendia a mão com esse intuito. Ela beija o meu rosto com a sua habitual postura educada e alegre e segura o cigarro entre os seus lábios apenas retocados com um pouco de gloss. Imito o seu ato e levo o lume de encontro ao vício. Entrego o isqueiro, que sempre conseguira roubar a Zayn, à Samantha que pedia já com um pequeno beicinho formado. Riu-me da sua atitude acriançada, da qual eu também faço com bastante frequência, e olho atentamente as suas ações. Ai dela que guarde o meu bonito isqueiro acidentalmente.
Com o cigarro fixo entre o seu indicador e o seu dedo do meio, Samantha escreve rapidamente uma mensagem. Obviamente que não olhei durante muito tempo para o seu ecrã, não sabendo por isso do que se tratava ou para quem se tratava. Contudo, a minha vontade era essa mesma.
"Como estão as coisas com o Dylan?"
"Eu e o Dylan somos só amigos, Blair." Sam afirma após libertar o fumo de forma lenta por entre os seus lábios. Notava-se estar relaxada perante a minha pergunta, por isso, decidi ir um pouco mais longe e falar no moreno.
"E como vão as coisas com Louis?"
Os seus olhos arregalaram com a menção do seu nome e quase imediatamente olhou para mim. Parecia surpresa, ainda que já me devesse conhecer melhor. Ela sabe que eu gosto de picar as pessoas e de levá-las ao extremo. Já devia estar à esperar da referência do moreno que eu notei, claramente, que a chamara a atenção.
"Nós também somos só amigos."
"Eu sei que vocês se beijaram."
E aqui estou eu, Blair Wayland, adotando os métodos mentirosos de reter informação do atraente e mental sadomasoquista que eu estou a namorar. Agora que reflito sobre o nome insultuoso que lhe atribui reparo ter melhorado bastante.
"Como sabes que nós nos beijámos? Tu viste?"
Ela questiona notoriamente corada com a vergonha. Samantha fica logo inquieta, mostrando o quão incomodada havia ficado com a minha mentira. Sorrio pelo meu objetivo ter sido bem-sucedido e dou-lhe um pequeno empurrão para que ela ficasse mais à vontade.
"Não, não vi, nem sequer sabia. Apenas tentei a minha sorte, mas agora quero saber."
Samantha dá de ombros, claramente afetada com o meu confronto. Talvez eu tenho exagerado ao ter invadido a sua privacidade ao tentar enganá-la mas admito não ter sido por mal. Eu gostava que ela falasse mais comigo visto que é das poucas pessoas com quem me dou aqui, na universidade. Ainda que fale com mais pessoas, Samantha para além de ser minha colega de quarto, é a minha amiga mais próxima e gostava que ela desabafasse mais comigo.
"Eu e o Louis não somos nada, Blair. Nós apenas nos beijámos, fim da história."
"De certeza que foi só isso?" Eu questiono, com um grande sorriso esboçado.
"Blair, a sério..."
Samantha coloca o seu olhar no cigarro, parecendo pensativa. Olho-a, sem conseguir notar sinais de vergonha ou de timidez, desta vez. Ainda que sem certezas, posso até assumir que Samantha se encontra triste. Chego-me mais para o junto dela e continuo a olhá-la atentamente, tentando decifrar o que a colocara daquele estado. Terá sido algo que eu disse?
"O que foi?"
"Como é que queres que eu confie em ti se tu não consegues confiar em mim?"
"Como assim?" Questiono completamente perdida na conversa.
"Blair, tu estás ciente de ti mesma? Na semana passada, no teu dia de anos, abandonaste-nos a nós, os teus amigos, logo no início da noite."
Samantha deixa o seu pequeno cigarro cair no chão e observo-o apagar-se lentamente provavelmente devido ao contacto com o chão gélido. Refletindo relativamente ao meu comportamento da semana passada. Ela estava dotada de razão sobre o assunto dos meus anos. Eu devia ter dito algo ao meu grupo antes de me ir embora visto que fizeram um esforço para estar comigo naquele dia. Eles podiam ter ido para casa, ter com as suas famílias, ou podiam ter ficado a estudar para as frequências mas ao invés disso eles deliberaram festejar comigo os meus anos. Festejo esse que quase não compareci.
Samantha prossegue.
"Eu sei que tu tens um namorado, é óbvio, ainda que nunca tenhas referido nada relativamente a isso. Apenas gostava que confiasses em mim da mesma forma que me estás a pedir agora."
"Não é assim tão fácil, Sam." Eu murmuro, olhando o cigarro que ainda ardia entre os meus dedos.
"Não tens que dizer quem é, eu não te peço isso. Apenas gostava que partilhasses alguns momentos que tens com ele comigo."
"Sim, tens razão. A minha atitude tem sido muito idiota ultimamente, desculpa-me. De facto, eu devia ter falado mais sobre isto contigo. "
"Não tem mal."
"Estamos bem, então?"
"Estamos sim, Twinkle Twinkle." Samantha sorri e dá-me um pequeno encontrão com o seu ombro, brincando comigo com o intuito de quebrar a tensão que a conversa havia gerado. Sorrio também e acabo por lhe fazer o mesmo. "Mas fala-me sobre ele." A loira insiste.
"Bem, para começar, ele é lindo."
"Já calculava que ias dizer algo desse género." Samantha ri-se. "Diz mais."
"Ele convidou-me para jantar com ele esta noite."
De facto, Zayn surpreendeu-me quando me fizera a proposta. Eu gosto de passar tempo com ele fora da universidade por isso a minha resposta fora dita quase sem deliberação. Os momentos que passo com Zayn fora da instituição, para além de serem mais divertidos e de nos sentirmos mais livres, transmitem mais a noção da realidade de um relacionamento. Noção essa que não conseguimos aplicar quando nos encontramos só os dois no seu dormitório.
"A sério? Isso parece ser mesmo sério."
"Sim. Espero que ele não tenha grandes ideias porque um restaurante de fast food chega para me fazer a sorrir durante uma semana."
"Estás a dizer que a companhia dele é que importa? Oh, que querida..." Samantha interpreta, com um olhar apaixonado.
"Não." Eu franzo a sobrancelha, estranhando a sua observação pirosa. "Apenas estou a dizer que prefiro fast food. Além disso, a comida é mais barata do que num restaurante todo elegante, do qual eu nem sequer imponho."
Samantha acaba por se rir, concordando comigo, embora antes tenha desaprovado o meu comentário com o seu olhar. Acabo por me juntar a ela e riu-me do que dissera anteriormente. Claro que a companhia de Zayn é importante mas se o objetivo é jantarmos, ao menos que seja um hamburger ou um cachorro quente. Somente desejo algo barato e que alimente, ao invés de amostras de comida.
"O Louis disse que estava interessado em mim." Samantha expõe, com o seu olhar posto no chão. "Eu sinto-me atraída por ele mas tenho receio de avançar. Quero levar as coisas com calma mas tenho medo que ele não entenda."
"Eu sei que o Louis não demonstra ter muita maturidade, devido às suas brincadeiras infantis, mas ele é compreensivo e sei que uma conversa séria com ele vos vai fazer bem. Quem sabe, pode ser o começo de algo."
"Achas mesmo, Blair?"
"Sim, acho mesmo." Digo honestamente.
"Obrigada." Samantha abraça-me e não consigo evitar sorrir ao ver a sua alegria. Sei que ela ainda se encontra hesitante perante o meu conselho mas, pelo que conheço de Louis, sei que se ela seguir a minha sugestão ele irá ser indulgente e quase de certeza que a irá deixar confortável.
✖
"A madame ainda está amuada?" Zayn questiona pousando a sua mão quente na minha perna. Os meus braços continuam cruzados e o meu rosto está praticamente espalmado contra o vidro gelado. "Já vi que sim." Conclui.
"Eu queria fast food!" Reclamo sem sequer olhar para ele. Zayn informara-me de que o restaurante iria ser formal. Infelizmente, ele só o fizera quando eu já me encontrava ponta, com as minhas lindas calças de ganga e com a minha maravilhosa camisola branca de lã. De facto, uma roupa muito propícia para um encontro tão formal como o que ia ter.
"Blair, estás ótima!"
"Estás a ver um vestido no meu corpo? Não, então não estou ótima para o jantar."
"Eu acho que estás linda." Zayn tenta beijar-me mas como eu estava demasiado afastada e pelo facto de ele se encontrar a conduzir, acaba por desistir da sua tentativa. "Qual é a diferença entre estares a usar vestido ou estares a usar umas calças de ganga? Vais acabar sem roupa no final do encontro e vais."
"Eu estaria melhor com um vestido."
"Eu gosto de te ver assim, simples. A sério amor, não fiques chateada."
"Para a próxima quero um hambúrguer."
"Eu não gosto lá muito de hambúrguer."
"Não gostas de hambúrguer, não gostas de pizza, eu estou a namorar com o homem mais esquisito do mundo!"
"Deixa os meus gostos em paz."
"São gostos de avozinho."
"Deixa-me ser feliz."
Zayn ri-se e continua a sua condução. Na rádio passava uma música animada que ficava bastante na cabeça. Sorrio e massajo a minha bochecha gelada, anteriormente esborrachada contra o vidro. Contrariando a meteorologia prevista para o dia de hoje, a chuva acaba por aparecer e acompanhar a viagem indeterminável até à nossa chegada ao restaurante.
À primeira vista não parecia um restaurante tão elegante como a minha mente imaginara, mas ainda assim havia pormenores no seu interior que lhe davam um ar sofisticado e complexo. As nossas mãos estavam entrelaçadas, o que era estranho por estarmos em público. Olho atentamente o espaço, em tons de preto, branco e vermelho. O pavimento era preto e com discretos brilhantes e havia pequenas velas acesas centradas nas mesas.
Zayn caminha por entre as mesas já ocupadas por diversos casais, fazendo o meu coração acelerar de todas as vezes que olhava para mim. Seguia-o, sem conseguir largar a sua mão, e acabo por assentir à sua decisão.
A mesa que Zayn escolhera não ficava ao lado de uma grande janela com uma espantosa vista para um rio ou para um monumento característico de determinada cidade. O nosso namoro não é um resumo de um livro, é algo real, tendo por isso a nossa mesa ficado num sítio discreto e sem grande coisa a seu redor.
"Estás confortável?"
"Estaria melhor com um vestido."
"E lá vamos nós outra vez..." Zayn revira os olhos.
Uns menus pretos são-nos entregues e os meus olhos deslizam por entre a extensa lista de refeições que o restaurante se propõem a cozinhar. Já prestes a desistir de analisar os itens, devido à minha indecisão, acabo por ver algo motivador.
"Zayn! Zayn! Zayn!"
"Que foi?"
"Eles fazem hambúrgueres!"
"Blair, decerto que é no prato com algo a acompanhar, como salada, batatas fritas ou arroz." Ele explica de forma passiva, deixando escapar um suspiro por entre os seus lábios.
"Não interessa. Eu estou com desejos."
"Fodasse!" Zayn exclama a minha afirmação, quase instantaneamente, com arregalar os Decido então tirar proveito do seu receio e brincar mais um pouco com a situação.
"Achas que foi uma boa maneira de dizer que eu grávida?"
"Não brinques com coisas sérias."
"Mas o meu bebé interior quer um hambúrguer e um cachorro quente."
"O teu bebé interior és tu, minha idiota." Zayn revira os olhos e bate com a palma da sua mão na testa, mostrando de forma indireta que eu era um caso perdido. "Tu tens um bebé interior e tens um bebé exterior. Toda a gente sabe."
"Estás a ser mau." Fiz birra, batendo com os meus talheres na mesa
Zayn alcança as minhas mãos e para-as, dando um sorrio falso aos empregados que passavam perto de nós naquele instante. Um olhar desaprovativo cai sobre mim e devido à proximidade do seu rosto do meu, acabo por o beijar. Zayn retribui embora com muito esforço, devido à posição desconfortável em que estava.
Um aclarar de voz acaba por captar a nossa atenção, interrompendo o nosso afeto. Zayn olha o senhor que se preparava para anotar os pedidos, ligeiramente constrangido. Pouso o meu cotovelo na mesa e tapo a minha boca com a mão para não me rir da situação.
Eu sei o quão infantil sou e sei que por vezes Zayn não tolera este meu comportamento mas eu nunca gostei de um relacionamento sério. Na verdade, relativamente a namoros, nunca fui de extremos. Acho que é necessário a honestidade e a cumplicidade mas, contudo, acho que a diversão e o bom humor são sempre essenciais.
E é assim que eu tento fazer o meu relacionamento com o moreno atraente, que neste momento se encontra envergonhado, à minha frente.