Hoje é o primeiro dia de aula do Renato na escola de teatro. Ontem ele contou aos pais dele a novidade. Não preciso nem dizer que foi a maior confusão. O Renato teve ate que dormir na casa da avó dele. O Thiago está chateado comigo, disse até que a briga de ontem foi culpa minha. Acho que toda a família está me culpando por essa briga e isso está me tirando o sono, fico só pensando que eles não vão mais me querer por perto. Acho que os únicos que nos entendem são a Dani e os avós deles.
Não consigo compreender qual é o problema em deixar pelo menos o Renato tentar ser ator, que é o sonho dele. Que custa dar uma chance? Ele precisa ser feliz, se ele escolher outra profissão que fizer ele infeliz de que vai adiantar?
Estou me arrumando para ir para livraria, como estou de férias pude dormir um pouquinho mais. Quando já estou com tudo pronto meu telefone começa a tocar. Olho no visor e vejo que é o Renato, deve estar no intervalo dele.
- Oi, meu amor. – Falo.
- Bom dia, princesa.
- Como está sendo o primeiro dia?
- Incrível! Você não imagina o quanto. É diferente de tudo o que eu já fiz.
- Que bom, meu amor. Seu tom de voz diz tudo.
- Sim, eu estou muito feliz, princesa. Graças a você.
- Você acha que sua família ainda está com muita raiva de mim.
- Eles não estão com raiva de você, só estão um pouco chateados porque acham que você não deveria estar me incentivando a ser ator.
- Mas é uma tentativa, amor.
- Eu sei, nós sabemos, mas eles não entendem.
- Agora estou me sentindo mal por isso.
- Não se sinta, há muito tempo eu não me sentia tão feliz e empolgado com alguma coisa como estou agora, você me trouxe de volta a vida!
- Que bom ouvir isso. – Falo e uma lágrima cai dos meus olhos.
- Agora não fica triste. Já já as coisas se ajeitam.
- Está bem, vou tentar.
- Isso, assim é que se fala. Vou te buscar na livraria mais tarde para a gente tomar um sorvete e eu te contar como foi meu dia.
- Agora estou ansiosa.
- Até mais tarde. Te amo.
- Até, te amo.
Ele desliga e eu consigo me sentir mais leve, mais feliz. Vou caminhando para o centro e aos poucos vou me sentindo mais leve, que bom que ele me ligou, serviu para aliviar meus pensamentos ruins.
- Bom dia , menina! – Seu Juan me cumprimenta.
- Bom dia, seu Juan, como o senhor está?
- Bem, minha filha, muito bem.
- Que bom.
-Agora, você não está muito bem. Cadê aquele brilhinho que você tem nos olhos? Aquele moleque não te fez nada não, né? Porque se ele fez...
- Não, não seu Juan! – Eu o interrompo.- Não é isso, o Renato não me fez nada.
- Então o que foi?
- É uma longa história.
- Bom, a livraria está vazia e nós temos a tarde toda.
Solto um suspiro e começo a falar. Vou contando tudo a ele, inclusive sobre as coisas que passam pela minha cabeça e que estão me atrapalhando. Ele me escuta e vez ou outra fala alguma coisa. Quando termino de falar ele me encara e fala.
- Olha, Camila, a única conclusão a que chego é a de que você ama o garoto. Ele tem muita sorte de ter encontrado alguém como você, que luta por ele, pelos interesses dele. Isso é raro. Quanto a família dele, a única coisa que posso te dizer é para ter paciência, muita calma. Tudo vai voltar ao normal uma dia.
- Obrigada. O senhor não sabe como foi bom poder me abrir com o senhor. Isso estava me sufocando.
- E a sua mãe, minha filha? Você não conversa com ela?
- Sim, converso. Mas ao menor sinal de problema no meu namoro com o Renato ela vai querer que eu termine. Ela tem medo que isso possa atrapalhar minha vida, meu futuro. Ela não queria nem que eu namorasse.
- Eu entendo o lado dela, mas ela não vai conseguir te proteger sempre. Um dia a vida vai te bater e você não vai ter como fugir. Apenas tenha calma.
Por volta das 16:30 começamos a nos preparar para fechar a loja. Seu Juan vai me contado as histórias da vida dele, os lugares que conheceu. Fico pensando que um dia quero ir a todos esses lugares com o Renato. Ouço o sino da porta tocar e penso que é o Renato, mas não, é o Thiago.
- Espero que você esteja muito feliz! – Ele entra gritando comigo.
- Como assim, com o que? – eu pergunto.
- Graças a você a minha família está se destruindo. Minha mãe só sabe chorar, meu pai e meu irmão brigaram feio e tudo por sua causa.
- Eu não fiz nada por mal. Eu não podia era ver o Renato infeliz.
- E para isso precisa deixar minha família infeliz?! Meu avô não quer mais falar com o meu pai, você sabia disso?!
- Eu não sabia .. – Falo e começo a chorar.
- Você não passa de uma garota pobre e aproveitadora, que pensa que meu irmão um dia vai ter fama e te levar junto com ele! Mas escuta bem, um dia o Renato vai cair na real e ver que você não vale a pena!
- Fora daqui, saia da minha loja agora! Você está proibido de entrar aqui!
- Eu vou, mas isso não vai ficar assim, sua imunda!
Ele sai e eu só consigo chorar. E o meu choro vai aumentando e a dor também.
- Oi, boa tarde.- Ouço a voz animada do Renato. Quando ele me vê para no mesmo lugar.- O que está acontecendo, Juan?
- Nada! – Falo antes que o senhor Juan se manifeste.
- Aconteceu sim e eu não vou ficar calado! - Seu Juan fala.
- Seu Juan, por favor! - falo.
- Não vou ficar calado. O seu irmão veio aqui e disse coisas horríveis com ela. Culpou ela por todos os problemas que estão acontecendo com a sua família.
- Isso não vai ficar assim! Eu vou acabar com ele.
- Não! Nós vamos lá e vamos esclarecer tudo com uma boa conversa. Vamos pôr tudo em pratos limpos. Vamos no meu carro.
Como o seu Juan conhece a família do Renato há muito tempo ele segue direto para a casa dos avó do Renato e pede a presença dos pais e do irmão do Renato para conversar. Preciso segurar o Renato para não fazer besteira.
- O que está acontecendo aqui? – O pai do Renato pergunta.
- Vim aqui para tentar resolver toda essa briga que está acontecendo entre vocês. – Seu Juan fala.
- Olha, Juan, tenho muito respeito pelo senhor, mas creio que os problemas da minha família não lhe dizem respeito. – O pai Renato fala novamente.
- Aí é que você se engana, Rogério. A partir do momento em que o Thiago foi à minha loja e xingou a Camila na minha frente isso me diz respeito sim!
- O que?! Meu filho jamais faria isso.- Elisa fala.
- Não só faria como fez. – Juan fala.
- Você fez isso, Thiago? – Seu Miguel pergunta.
- Fiz. Não disse nada demais, apenas a verdade. Ela está destruindo nossa família.
- Eu não acredito, Thiago! Será que nós não te ensinamos nada?! Nós ficamos sim chateados pelo fato de a Camila ter ajudado seu irmão a estudar teatro, mas em nenhum momento culpamos ela pelos nossos problemas. – Rogério Fala.
- Mas minha mãe só chora e o vôvô não fala mais com o senhor.
- Eu não falo porque acredito que os pais tem que incentivar seus filhos, independente de qualquer coisa. Eu sempre apoiei meu filhos.
- A menina Camila não tem culpa dessas coisas e ela foi muito ofendida hoje. Eu não vou permitir isso.
- Pede desculpa, Thiago. – Elisa fala.
- Mas mãe...- Ele fala.
- Agora, Thiago!- Rogério Fala.
- Desculpa, Camila.- Ele diz de cabeça baixa.
-Tudo bem... – Falo.
- Agora parem com isso vocês são uma família. Que feio Miguel, negar a palavra a seu genro. E você Rogério querer obrigar seu filho a seguir uma profissão que ele não quer. Deixem para brigar por problemas sérios! – seu Juan fala.
- Sinto muito, meu filho, Camila. Tudo que faço é porque quero o seu bem – Rogério fala.
- Eu também sinto muito, só não quero que meu neto seja infeliz. – Miguel fala.
- Que bom.Agora vamos voltar a viver a vida normalmente. Camila e Renato venham comigo, ouvi dizer que tinham um sorvete combinado para hoje. – Seu Juan fala.
Na sorveteria com mais calma nós conversamos sobre tudo. Seu Juan nos acompanha e nos faz rir também. Espero que as coisas melhorem agora depois dessa conversa e que a paz foi selada.