SOTURNO

Por WanMoura

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Antologia dedicada ao Desafio proposto pelo perfil @atrocidades. A premissa do Desafio é que todas as históri... Mais

SEDE
A VITRINE DO DESEJO
HIPNOS
A VOZ DA CONSCIÊNCIA
PRENÚNCIOS DE MORTE
USURPADOR
INTOLERÂNCIA
UM MANO NUMA BIKE
OS FILHOS DA TERRA - CAP1
OS FILHOS DA TERRA - CAP2
OS FILHOS DA TERRA - CAP3
VOLTANDO COM A MORTE
A ÚLTIMA SESSÃO - Pt. 1
A ÚLTIMA SESSÃO - Pt.2
EFEITOS COLATERAIS pt.1
EFEITOS COLATERAIS pt.2 -FIM-
HUMOR NEGRO E RANCOROSO
30 MOEDAS DE PRATA
PRESENTE DE GREGO
PÉROLAS AOS PORCOS
BOTAS PRETAS
SÍLVIA WANESSA
NOIVADO ÀS ESCURAS
SOBRE O AUTOR

A TEORIA DO CAOS

27 5 12
Por WanMoura

"Névoa púrpura
por toda a minha cabeça
Agora as coisas não parecem
mais as mesmas
Estou agindo meio engraçado
mas não sei o motivo
Com licença
enquanto beijo o céu
Névoa púrpura
por todos os lados
Não sei se estou subindo
ou descendo
Estou feliz ou triste?
O que quer que seja,
aquela garota pôs
um feitiço em mim..."

- Purple Haze -
JIMMY HENDRIX




Era domingo e, ao contrário do que os outros funcionários da EletroCobre faziam com suas famílias naquele dia ensolarado, Bruno Adriano estava atravessando a Avenida Principal e chegando no canteiro de obras do Prédio Tirirical.

O eletricista carregava na face um olhar vítreo; sob os olhos bolsas de olheiras propagavam seu negrume como uma doença bacteriana. Elas surgiram logo após o divórcio e tinham como companheira um hematoma nascido de um soco. Nada de mais, sabe? Apenas uma briga com o vizinho da frente. De qualquer forma, tudo foi resolvido hoje mesmo. Quando a ex esposa e filho ingrato, que antes pertenciam ao nosso Bruno Adriano, chegarem e encontrarem o novo marido/pai deles no apartamento à frente de onde moravam antes irão vê-lo com um cutelo inserido naquela cabeça calva de Judas. Um dos olhos ( e eles vão vomitar nesse momento, garanto a vocês!) estará fora da órbita, esmagado sob o pé da mesinha de centro. O nariz do vizinho estará tão torto quanto possível, a cartilagem vasando vermelha por uma das narinas; embolada em uma massa de catarro.

Sim, aquilo foi mesmo RESOLVIDO!

Quanto ao problema no canteiro de obras... Sim, havia vários problemas por lá. Ele saiu para resolver no domingo de manhã.

Pernas grossas, mas com um sério desvio na tíbia faziam Bruno parecer um sósia do Corcunda de Notre Dame. Não acredita? E se eu lhe disser que além disso havia duas vértebras deslocadas por um acidente que por pouco não o deixou paraplégico? Elas ficaram a poucos milímetros do pulmão, o que trazia sérias dores diárias. Imagine tentar respirar e sentir o gosto de sangue subir até sua língua, ou a dor de levar um tiro a cada suspiro. Sim, por isso ele se curvava e andava como se fosse enfartar a qualquer momento. Havia também o problema do tabagismo que surgiu logo após a descoberta das puladas de cerca de sua senhora e o flagrante dado no filho de 13 anos num enlace profano com a poodle da família. A quarta cadela a morrer após o inimaginável ato do filho caçula. Bruno era a infelicidade em pessoa, um desgraçado abandonado pela vida.

Ele estava exausto, mas continuava a caminhar. Avançou pelo prédio num esforço digno de um semi deus. Passou por alguns corredores e abriu diversas gavetas. De algumas retirou um pote de graxa, pregos, um alicate, 1kg de arame liso e um martelo de carpinteiro. Refez o caminho até certo ponto e ali começou a empilhar suas coletas.

Voltou ao almoxarifado. Vistoriou outras gavetas.

Desta vez pegou algumas lâmpadas, 30 metros de fios de cobre, uma pistola de pregos e uma furadeira.

Voltou até a pilha de materiais coletados e descansou.

Bruno refez o trajeto por quatro longas horas e quando acabou de coletar tudo o que precisava começou sua tarefa. Isso foi por volta das dez da manhã e o ódio era seu combustível naquele Domingo.

[...]

Alexandre Butanol, para os íntimos: Romeu. O tal, foi o último funcionário a chegar naquela manhã de Segunda Feira chuvosa. Todos o viram entrar no refeitório, o aguardavam ansiosos para ouvir suas tiradas espertas e brincalhonas sobre os feios e desajustados. Ele era o tal galã; as mulheres eram atraídas por aquele queixo quadrado de super herói com a covinha do Clooney e os olhos azuis de um deus grego. O cabelo grisalho era, segundo o próprio, para dar o ar de maduro. O que era estranho, pois, ainda morava com a mãe mesmo com 47 anos pesando nas costas.

Jogou o guarda chuva ao chão junto com a bolsa de ferramentas e antes mesmo de cumprimentar seu fã clube correu os olhos pela multidão e encontrou seu alvo preferido.

— E aí Brunão! Ficamos sabendo que agora além de feio... É corno!

Todos riram. Exceto...

— Consegue ouvir sua ex trepando com seu EX MELHOR AMIGO? Diz aí, cara!

Os operários gargalharam. Dênis, o supervisor por pouco não se engasgou com o suco denuva que bebericava e um dos engenheiros se queimou com o café expresso. Mas não deixaram de rir.

— Chama ele daquilo lá Bro! — Berrou alguém na multidão. Era Dênis, o Carpinteiro Chefe. Os olhos do homem lembravam duas moedas de um real bem polidas. Parecia um daqueles desenhos animados excitados ao verem uma bela dama de seios fartos e quando ele ria, era como um cão com tuberculose. Mas ele adorava apelidos. Os dos outros, não os dele é claro.

— Sim, claro que farei isso. — disse o galã — Estamos esperando sua resposta... "ELETRICORNO"!

Gargalhadas estouraram.

Bruno nada disse. Levantou, apanhou o capacete e o molho de chave da Central Elétrica, assinou o livro de ponto e sumiu de vista. A sirene então tocou e mais um dia de serviço teve início.

[...]

O eletricista Bruno terminou de checar toda sua arte quando faltavam quinze pro meio dia e com o ribombar das sirenes das viaturas da polícia se aproximando. Já não importava mais.

Bruno apertou o botão cor de sangue acima do painel elétrico principal e tudo o que restou a ele foi observar. Quanto a mim, iniciei a colheita mais adorável desse ano.

Os primeiros a serem atingidos pela minha foice foram o pessoal das estruturas: os técnicos em edificações e os armadores de ferragens. Estavam todos com vergalhões de 3/8" nas mãos fabricando a estrutura de alguns pilares quando algo invisível os possuiu pelas pontas dos dedos, estuprou os músculos e tendões de seus braços, fritou seus pulmões e cozinhou o resto dos órgãos a uma temperatura fatal. Um dos homens esvaziou a bexiga enquanto guilhotinava a língua a dentadas. Todos morreram de pé; as solas das botas fundidas à chapa de aço colocada ali no dia anterior. Havia um fio de cobre soldado nela que levava até o transformador da máquina de solda.

A segunda turma a morrer foram os carpinteiros. Despencaram de vinte metros, há poucos minutos da hora do almoço. Uma queda livre direto para o asfalto do futuro estacionamento onde daqui a exatos sete anos virei buscar o dono da empresa. Os carpinteiros viraram um tipo de massa de ossos e carne estraçalhada. Tudo porque a válvula de uma das pistolas de prego esquentou pelo excesso de graxa e partiu. Um dos disparos acertou um dos olhos de moeda do Carpinteiro Chefe e ele soltou o engate das roldanas do dispositivo que mantinha toda sua equipe a salvo da queda. Ele caiu logo atrás, gritando como uma criancinha até vir de seu crânio um som de plaft! ao encontrar o asfalto.

A terceira equipe a morrer foi a dos engenheiros e supervisores. Também de queda livre, mas desta vez confinados num elevador de carga. Ao chegarem ao térreo naquela velocidade absurda o fêmur de um deles atravessou o ombro esquerdo e o quadril se desintegrou e escapou pelos buracos feito na carne. O homem parecia uma almofada de agulhas com todos aqueles ossos pontiagudos saindo de todo lugar possível. O mais alto deles tinha 1,80m quando vivo... Mas no fim virou um compacto de carne de no máximo 0,70cm enfiado em todo aquele ferro retorcido.

E por fim, e não menos importante, o último a morrer dos inimigos de Bruno (naquele dia) foi o galã de novela Alexandre Butanol.

O Romeu tem que morrer! — gritava Bruno em êxtase.

Alexandre corria segurando um dos braços; estava quebrado e a fratura do osso tinha aberto uma fenda na carne que ia da base do pulso até perto do cotovelo. Um sorriso invertido e vermelho. Cacos de lâmpada brilhavam enterrados em sua face; o olho esquerdo estava cheio deles, sangue brotava dali também.

Alexandre caminhava deixando um rastro de sangue. Foi quando brandi minha foice que ele olhou para trás. Por isso não viu o lampejo do martelo se aproximar como um raio. Quando ouviu o impacto do metal contra sua cabeça ele já estava tombando de costas, braços esticados em uma súplica cega. O borrão que era sua visão não detectou Bruno Adriano e muito menos viu que ele havia trocado o martelo por uma furadeira e um alicate.

Adriano alcançou os joelhos do galã e em cada um fez oito furos com uma broca de aço rápido de 1/4" de polegadas. Com ele não tem esse negócio de avareza, gastou um furo para cada ano que aturou as provocações daquele sujeitinho de merda. Pegou o martelo novamente e abriu uma fenda naquele queixo quadrado e bonito supervalorizado pelas secretárias. O estrondo lembrou-lhe as cascas de amendoim que esmagava sob os dedos nos intervalos do serviço.

Bruno riu e disse: — Nunca mais!

O alicate... Bom, deixo ao seu cargo imaginar em que Bruno usou tal ferramenta e o que fez depois com você sabe o quê.

Aquela segunda feira foi épica. Infelizmente tive que ceifar o Adriano também. Gostava dele. Um bom sujeito. Mas, é que não posso tomar partido sabe? O destino dele foi selado quando a polícia foi envolvida. Eles não estavam pra brincadeira. Afinal, o delegado deles havia sido morto pelo vizinho... Com um cutelo!

TOTAL DE PALAVRAS: 1565

TABELA: VERÃO

PALAVRA / TEMA: AVAREZA

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