— Oi. Achei que ainda estivesse dormindo. — disse Benjamim.
Fiquei absolutamente calada, apenas o observando.
— Eu não consigo imaginar o tamanho da sua dor, mas eu sei que está cansada disso tudo e... — suspirou alto. — Por mais que me doa deixá-la ir, dói muito mais deixá-la ficar e acabar te perdendo. Stella, você não está mais na seleção.
Aquilo de alguma forma doeu ainda mais que um tiro. Contudo, eu sei que o que tenho a dizer vai doer ainda mais.
— Ben... — minha voz quase não tem som. — Eu tenho que te contar uma coisa.
— Não se preocupe, não tentaram mais prejudicá-la. Sua família está segura. E encontramos o culpado pelo tiro.
Nesse momento desisti de lhe falar.
— O cara que atirou em você era um jovem que aparenta ter uns vinte dois anos. Ele foi pego pela guarda perto da floresta no caminho do palácio com um revolver. Ele está na prisão esperando seu julgamento que provavelmente será um enforcamento em praça publica.
— Em que época vocês vivem? — digo vagarosamente.
— Não acha justo? Vida por vida.
— Nunca daria uma sentença de morte para alguém sem saber o porquê ele fez tal coisa.
— Você não entende. Às vezes temos que fazer sacrifícios para proteger quem amamos. Um dia entenderá.
Ele levanta da cadeira indo a minha direção, dando-me um beijo no canto da boca. Acariciou meus cabelos e suspiro.
— Não sabe o quanto me dói ter que abrir mão de você. Queria poder te proteger ter você do meu lado a todo o momento... Queria ter uma vida toda ao seu lado. — sua voz vacila, seus olhos azuis estão lagrimejando. O céu estava desabando naquele momento.
— Desculpe-me. — digo.
— Eu que peço desculpas. Eu te amo Stella. Nunca se esqueça disso.
Ele saio enxugando as lágrimas de seu rosto, me deixando sozinha novamente naquele quarto que agora carregava um ar fúnebre.
Depois de dois dias eu tive alta e já podia ir para casa se quisesse. Mas decidi ver quem fora o atirador que quase livrou minha vida deste inferno.
Dois guardas me acompanhavam pelo longo corredor escuro até a cela que ele se encontrava. O jovem estava de costas para nós, entretanto, ainda puder ver seus cabelos claros. Um estranho arrepio corria por entre meus ossos e uma estranha sensação que eu o conhecia de algum lugar.
— Qual seu nome rapaz? — Pergunto e minha voz ecoa pelos corredores de celas vazias.
— Quanto tempo em, Stella. Nem me reconhece mais?
Ele vira ficando de frente para mim. Tomei um susto e quase cai para trás, se não fosse por um guarda.
— Está bem senhorita Stella?
— Tá sim, está tudo bem. Soldado Wagner pode me deixar a sós com esse delinqüente? — indago friamente.
Ele assente e sai adentrando o corredor de saída.
— Esqueceu que eu êxito não é Stella?
— Você está morto, eu vi você morrer... Isso só pode ser brincadeira.
— Se você não tivesse me abandonado...
— VOCÊ MESMO ME MANDOU IR EMBORA! — gritei. As lágrimas queriam correr livremente, mas me recuso a chorar na frente dele.
Ele fica em silencio ouvindo minha respiração ofegante.
— Você tentou me matar. Por quê?
Ainda em silêncio ele me olha, mas não diz nada.
— POR QUÊ?
Pego na cola de sua camisa e o puxo entre as grades.
— Esse tempo todo Você fingiu está morto. Sabe como isso doeu? Sua irmã estava devastada. Como pode fazer isso comigo?
— Eu não tive escolha.
Soltei-o empurrando para longe da grade.
— Você é uma cobra. Fingiu tudo o tempo todo. Isso foi planejado por você e quem mais? Foram vocês que fizeram as cartas e as ameaças esse tempo todo?
— Stella me escuta. Naquele dia os Blacks me levaram para seu acampamento, me mantiveram preso e depois disseram que tinha um serviço para mim em troca da minha liberdade.
— E esse serviço era me ameaçar e torna minha vida um inferno? — Esbravejo.
— Meu trabalho era apenas matar a garota que tinha que matar o príncipe.
Fico em silencio.
— Seu trabalho é igual o meu. Matar alguém que você ama. Devia me entender muito bem, não é?
— Mas tem uma grande diferença. Eu não tive coragem e nunca terei de machucar alguém que eu amo. E a população foi ameaçada. Você não sabe o que é se sacrificar por alguém além de si mesmo.
Agora as lágrimas corriam livremente.
— Eu não tenho nada haver com os atentados e mensagens de ameaças. Garanto-te, os Blacks estão envolvidos em muita coisa, mas não foram eles quem invadiu o seu quarto e fez aquilo tudo. — disse baixo quase como um sussurro, mas consegui ouvir.
Virei para ir embora, porém digo-lhe por cima do ombro.
— Independente de quem seja, pagará caro por isso. — Respirei fundo tentando-me recompor. — Desculpe, eu consegui sobreviver a seu tiro, mas você não se salvará de seu castigo. Irá voltar para onde nunca devia ter saído. O mundo dos mortos.
Saio em direção ao corredor principal e ouvi quando Josh gritou.
— EU ACEITO MINHA SENTENÇA! E eu também te amo Stella.
Aquele imbecil ainda me roubou um ultimo sorriso, que não durou mais que cinco segundos.
Minhas coisas já estavam prontas para partir. Não era muita coisa, apenas uma mala média dava conta. Hoje todas as selecionadas estariam dando suas entrevistas para Jerry no Jornal real Jr. Portanto o palácio devia ter apenas os guardas fazendo seu trabalho diário.
Olhei para o quarto que eu estava por um breve momento senti falta dele. Pedi ao guarda que estava comigo para me levar ao meu antigo quarto, ele assenti e anda lado a lado comigo no corredor.
Caminhamos por um tempo até encontrá-lo. Ainda estava do mesmo jeito, devastado.
Dei uma última olhada pelo quarto. Entrei no closet onde apenas restos de o que um dia fora vestido de luxo. Abri uma das gavetas e vi que o fogo não havia chegado até lá, as coisas da gaveta anda estavam intactas, entre elas duas cartas.
— Meu Deus! Como isso é possível?
Achei que tinha guardado todas as cartas dentro da caixa de sapato, mas eu tinha separado as duas cartas principais dentro da gaveta do closet.
Era a carta que supostamente seria da minha mãe e a carta da minha tia afirmando tudo. Mesmo que não valessem mais nada, eu guardaria comigo. Seria meu segredo mais profundo e um desejo parcialmente guardado.
O Guarda que estava comigo chama-me na porta.
— Senhorita Stella, mandaram lhe entregar estas cartas.
Peguei as cartas e fui logo abrindo a primeira que vi. Era de Laura.
30 – maio.
Querida Stella,
Sentimos muito pelo que lhe aconteceu, estamos felizes por você está bem. Também sentimos muito sua falta, nosso trio não é o mesmo sem você. Fiquei sabendo do que aconteceu no palácio que quase tive um infarto! E logo depois descobrimos que você tinha a opção de sair da Seleção, todos de Cagibél ficaram loucos, pois você é a segunda e última representante de nossa cidade.
O Pitter ficou feliz por existir uma hipótese de que você voltará para casa, mas não liga para ele, todos torcem por você. Queremos que você ganhe essa porra toda. Desculpe o linguajar, sabe como sou sem freio.
Olha eu sinto muito por tudo que está passando nesse "inferno de pedra e vidraças", mas se você decidir sair estaremos aqui para te apoiar em tudo. E sobre as cartas, bom eu não estava sabendo de nada. Fiquei triste por me sentir parte da família, mas ter ficado fora desta noticia tão importante para você. Prometi sempre está ao seu lado, bom aqui estou para o que precisar. Não me importo se você é princesa ou plebéia, o que importa é que você é minha Stelinha e sempre vai ser.
Queria ter mandado mais cartas para você, mas a escola tem sido corrida demais, logo agora que arrumei um emprego de garçonete na Hamburg king. O meu irmão arrumou uma namorada, meu pai saiu de casa, minha mãe arrumou um emprego como corretora de imóveis. O Pitter... Bom o Pitter continua sendo o Pitter. Continua se apaixonando pelas pessoas erradas, sabe? Ele até já perdeu a virgindade acredita! Nosso garoto está crescendo, até deu orgulho!
Mas a família dele tem enfrentado muitos problemas, o pai dele voltou a beber, torrando todo o dinheiro da comida. A mãe dele não tem condições de trabalhar, como você sabe. E seus irmãos estão faltando na escola por falta de roupa para vestir e por causa da fome. As coisas aqui continuam as mesmas como você pode ver. Nada de novidades boas aparecem aqui.
Ah, quase esqueci. Não elogie outras pessoas se menos prezando! Isso é ridículo. Do mesmo jeito que aquela Barbie falsificada conseguiu ser moldada daquele jeito, você consegue ser uma princesa sem precisar que te joguem em um molde. Eu vi a cara da desgramada pela televisão e tenho que admitir... Você se parece mais com a rainha do que aquela cobra. Só quem é cego que não ver. A rainha está cometendo um grande erro Stelinha, vai que essa lambisgoia esteja dando um golpe na rainha? Você não pode deixar isso acontecer!
Eu só te aconselho a pensar melhor na sua decisão. Só pensa com calma, espero que você não deixe umas ameaçasinhas de morte de impedirem de ser quem você é. Se tentarem te derrubar, levante! Se tentarem te matar, viva! Mostre para todos que seu sangue é nobre, seja boa, mas não perca seu tempo tentando convencer as pessoas disto.
Acredito em você Stelinha. E estarei te apoiando daqui do meu sofá, se precisar de um ombro pra chorar é só se aconchegar em mim, que eu vou deixar você me molhar com suas lágrimas, depois vou secá-las, te dar um pouco de água para se hidratar depois te dou um empurrãozinho para que você volte mais forte!
Com amor,
Laura.
Quando percebi estava chorando no chão do quarto. Minha melhor amiga sempre me incentivou a tudo. Mesmo que fosse dar errado eu sabia que poderia contar com ela.
Tinha outras cartas, porém vou lê-las mais tarde. Com a ajuda do soldado consegui levantar e decidi que vou continuar na seleção.
Saí do quarto e fui atrás de Benjamin, ele poderia me ajudar a continuar. Estava tão perdida nos pensamento que esbarrei em alguém e só depois percebi que se tratava da princesa falsificada, Symalia.
— Desculpe, não tinha lhe visto.
— Acho que precisa de uns óculos. — ela diz secamente.
— Acho que você precisa de educação.
— Olha aqui garota, você não tem idéia com quem está falando. — apontou o dedo em minha cara.