VERSUS

By abrunacruz

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Jessica Corinne nunca soube lidar bem com suas emoções. Por isso, quando ela e seu melhor amigo decidiram ter... More

PRÓLOGO
α͵
β͵
γ͵
δ͵
ε͵
ϛ͵
ζ͵
η͵
θ͵
ι͵
ια͵
ιβ͵
ιγ͵
Let's be bad together (Especial de Ano Novo)
ιδ͵
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Epílogo
+

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By abrunacruz

2 anos antes...

Me concentrar. Era isso que eu precisava fazer. Havia uma resposta, definitivamente havia uma, eu só precisava me concentrar o suficiente para fazer meu caminho até ela.

O problema é que era muito mais difícil de fazer isso com um tic tac infernal de uma caneta ecoando na minha cabeça.

— Quer parar?

Thomas ergueu seus olhos entediados, suspirando. Ele havia passado a última hora jogado na minha cama, fazendo completamente nada, mas ainda tinha a atitude de me olhar como se eu devesse algo a ele. Eu tinha certeza de que era o contrário.

— Digo o mesmo.

Revirei os olhos e juntei toda a força que eu tinha no corpo para não comprar essa briga.

— Onde fica essa segunda mesmo?

— Carolina do Norte.

Assenti, voltando para a minha infinidade de papéis, listas de vantagens e desvantagens etc.

— Muito longe. - fiz a anotação no papel ao mesmo tempo em que falava em voz alta. Ele me acompanhava pelo canto dos olhos. - Universidade de Ohio? Pelo amor de Deus! - exclamei incrédula, marcando um asterisco nela e não dos bons. - Por que você sequer se inscreveu para esse lugar?

— Porque você me encheu o saco até que eu me inscrevi em todas as instituições educacionais nesse país. - respondeu, seco e grosso.

Eu podia sentir sua irritação crescendo, porém continuaria a ignorar.

Claramente ele não dava a mínima para o futuro, mas eu sim. Eu faria tudo funcionar. Se ele queria ser um imbecil e agir como uma verdadeira criança agiria, o problema era todo dele!

— Universidade Internacional da Flórida?! - li, surpresa. Minha caneta encontrou aquelas palavras rapidamente, desenhando um belo risco durante toda sua extensão.

— Por que riscou ela? - ele questionou, só então parecendo estar acordado para a vida.

— Miami, Thomas? Sério? As pessoas são... Elas são felizes lá. - tentei fazer uma gracinha, mas a carranca dele continuou no mesmo lugar, então desisti rapidamente. - É uma universidade inferior a UCLA, que está aqui do lado e tem muito mais para oferecer sem te obrigar a mudar para outro estado.

— Eles têm um dos melhores programas de natação do país, Jess! Não é o tipo de universidade que você simplesmente risca fora.

— Um bom programa não faz de uma universidade uma boa opção. - ele balançou a cabeça, pronto para falar algo, mas eu continuei. - Você por acaso tem a intenção de se tornar um nadador profissional? Porque o tempo está passando.

— Isso realmente não te interessa.

— Não? Eu sou sua namorada, como é que isso poderia não me interessar?

— Eu não sei, Jess! Você ignora tudo que eu tenho a dizer, todas as minhas vontades e só agora vem me perguntar sobre o que eu quero para o futuro? Depois de encher a porra do meu saco por meses e fazer todas as decisões por mim?

Resisti fortemente contra a vontade de revirar os olhos com todo aquele drama.

— Menos, tá bom? Se você não fosse tão relaxado, eu não precisaria ficar correndo atrás de um milhão de coisas para garantir o seu, o meu e o nosso futuro. Juntos, como nós sonhamos há anos. E eu não ouvi nem um mísero obrigada nesse processo todo.

Ele riu e balançou a cabeça, assentindo. Mais falso, impossível.

— É claro. Obrigado, Jess, por tomar todas as decisões da minha vida, por não dar a mínima para o que eu penso, por tentar controlar cada passo, cada respiração minha. Muito obrigado! - exclamou. - Você já parou para pensar por um segundo sequer que o que seja melhor para nós dois talvez não seja o melhor para mim?

— Sério? Estou ouvindo isso do mesmo cara que já implorou para me ter de volta tantas vezes que eu perdi a conta?

— São duas coisas diferentes. Eu te amo e quero passar o resto da minha vida do seu lado, mas não a custo do meu livre arbítrio para tomar decisões que dizem respeito a minha vida.

— Livre arbítrio?! - questionei, chocada. - Você se lembra do dia que me perseguiu até a casa dos meus avós, não lembra?

Eu achava, no mínimo, estranho que ele viesse com esse papo de liberdade e decisões quando se tratava dele, porém se esquecia completamente disso na minha vez.

— Primeiro, eu não te persegui. Só fui atrás alguns dias depois. E segundo, para de virar tudo para o seu lado! Eu já cometi uma infinidade de erros, mas você também, Jess. E eu tô cansado de deixar você tomando as rédeas de tudo relacionado a esse relacionamento e nós dois. Por isso, estou te demitindo.

Não pude conter a risada que seguiu aquela frase.

— Me demitindo? Quando é que você me contratou? Porque temos uns pagamentos atrasados aí...

Ele ignorou as minhas gracinhas.

— Você entendeu. De agora em diante, você não escolhe mais para quais universidades eu me inscrevo, muito menos para quais eu considero ir. Você não me diz mais que horas estudar nem quando descansar. Nós não saímos só quando você quiser. Eu posso me cuidar sozinho.

O encarei por alguns segundos, duvidando completamente daquilo com base em toda a experiência que eu tinha em Thomas Evans. Porém eu também estava cansada de fazer tudo por ele e só receber palavras mal agradecidas em retorno, então decidi deixar que ele se afogasse - metaforicamente, porque fisicamente era algo difícil de acontecer -. Só um pouquinho para que eu voltar com tudo para salvá-lo e, quem sabe, ganhar alguns verdadeiros obrigada aqui e ali.

— Tudo bem. A vida é sua.

Eu sorri. Ele também.

Nenhum de nós tinha ideia do quão mal aquilo iria acabar.


Atualmente

Calor. Era tudo que eu conseguia pensar no momento, calor. E, infelizmente, os graus altíssimos de Los Angeles não tinham nada a ver com aquilo.

Na minha mente, só havia espaço para o toque dele, em todos os lugares, os beijos dele, o sabor dele, ele. Tudo que ele, Thomas Evans, representava. E, ali, ele representava calor, muito calor.

Isto é, até a realidade me puxar fria e duramente para o seu abraço.

— Quer parar de pegar minha comida?! - April brigou, estapeando a mão de Jude para longe do seu prato.

— Custa dividir? Eu não estudo aqui, eles não vão me alimentar.

Discretamente, eu suspirei de frustração, encarando do outro lado da mesa o dono do par de olhos azuis que vinha fazendo minha cabeça girar ultimamente, em todos os sentidos possíveis da palavra. Aquela troca era mais do que suficiente para que eu soubesse que a mente dele estava tomada com as mesmas imagens que vinham atormentando a minha, dia e noite. Os extremos de dor e prazer que o tesão acumulado pode nos dar são realmente incríveis... Com todo respeito.

Nós dois sabíamos que existia um jeito muito simples de tornar aquilo apenas prazeroso, mas o universo parecia ter outros planos. Um hóspede curioso no meu quarto, um bando de garotas afobadas na busca de um objetivo, rapazes que pareciam não conhecer os grandes benefícios de algumas batidas na porta antes de entrar e mais um milhão de coisas que vinham nos impedindo de passar mais que quinze minutos juntos. E quinze minutos nem começavam a cobrir tudo que eu precisava para finalmente dormir em paz.

Thomas foi o primeiro a desviar o olhar, o que me deu uma pequena dose de felicidade. O sofrimento dele era sempre um pouco maior que o meu e isso me dava um poder que quase fazia a brincadeira valer a pena.

— Devia ter pensado nisso antes de largar a faculdade.

— Vamos ter essa discussão de novo?

Além disso, as brigas intermináveis da April com o irmão estavam ficando difícil de engolir. Quer dizer, eles são irmãos, foram feitos para isso, mas não poderiam nos dar uma folga? Pior era saber que meus próprios pais pensavam em me arrumar um desses... Um inimigo de sangue, essas eram as palavras.

— Aqui, Jude. - eu disse, deslizando meu prato até ele. - Já tô cheia, pode comer e chega de discussão.

Dele, eu ganhei um sorriso aberto e agradecido. Dela, um olhar de desgosto por estar "mimando" ele, de certa forma. Como se fosse possível mimar um marmanjo daquele tamanho.

— É irritante, né Jess? Briguinhas idiotas a cada dois minutos, provocações o tempo todo... É muito irritante, não é? - Mark falou, com um olhar sugestivo para o meu lado.

— Muito! - e só então eu peguei a piada. - Há há, engraçadíssimo, Mark.

No entanto, todos riram, menos eu, orgulhosa demais para algo assim, mesmo depois de admitir todas as burradas que fiz não muito tempo atrás.

Estava pronta para levantar e ir para a aula quando os passos apressados de Ashley chamaram a atenção de toda a mesa. Ela freou quase em cima de mim, respirando com dificuldade, mas com um entusiasmo bonito de ver no rosto. Era 100% contrária à cara que a Mina fazia toda vez que era obrigada a passar tempo na companhia da ex-namorada.

Considerando que Thomas e eu estávamos nos agarrando pelos cantos no momento, eu sentia que devia acreditar no potencial das duas voltarem a pelo menos se aturar, porém não achava que havia algo ali.

— 50 mil! - ela exclamou. Eu arregalei os olhos.

Não era possível.

E todos ao meu redor pareciam concordar com isso.

— Mentira!

— Tá brincando, né?

— Você usou algum programa?

Ashley revirou os olhos para a pergunta da Mina, nem mesmo se dando o trabalho de brigar.

— E é um dos vídeos mais comentados do canal, tá todo mundo revoltado com a história!

— Uh, isso é bom! Isso é muito bom.

Pessoas revoltadas têm grande tendência de se mexer para fazer algo.

— Sim! Bom, eu vou continuar monitorando tudo e divulgando bastante, mas preciso da ajuda de vocês também. Falem para as pessoas, postem nas redes sociais que vai dar certo. Vocês não tem tantos seguidores quanto eu, mas se a história chegar nas mãos certas, quantidade realmente não importa, não é?

Mina revirou os olhos bruscamente ali, mas ficou quieta. Normalmente, eu teria feito o mesmo, porém a Ashley vinha fazendo o possível e o impossível para chamar atenção do mundo com esse vídeo, então não me permiti ser essa pessoa.

— Pode deixar, vamos fazer tudo que está no nosso alcance. Não se preocupe. - Julie se prontificou a dizer, animada com as novidades.

Ashley assentiu e saiu andando, agora mais calma, mas ainda extremamente entusiasmada e todo o clima da mesa pareceu ficar mais leve também. Quando a própria universidade se recusava a nos deixar vencer o que era apenas justo, qualquer pequeno avanço fazia uma diferença gigantesca.

No meio de alguns papos aleatórios, Luke pigarreou, chamando atenção. Ele não parecia tão leve assim.

— Ahn... Eu odeio ser o cara que vai acabar com a felicidade de todo mundo, mas temos jogo esse final de semana.

Ficamos em silêncio.

A temporada havia sido "pausada" por algumas semanas por causa de todas as provas e trabalhos, mas esse período chegou ao fim e agora ela estava de volta. Isso significava: jogos sendo transmitidos no país inteiro e este país inteiro venerava Scott Murray, nosso agressor, que estaria em campo ainda que uma investigação estivesse em andamento. Pelo menos, era nisso que queríamos acreditar, pois semanas haviam se passado e nada aconteceu. Tentávamos manter nossa positividade e esperança lá em cima pela Katy, mas ficava cada vez mais difícil e, sejamos sinceros, falso.

— Não podemos deixar que isso seja um problema... certo? - April questionou, especialmente sendo alguém que havia deixado recentemente.

— Não, é só que... Bom, eu sei que tê-lo jogando lá pode ser uma situação bem desconfortável para vocês; até para mim é. Não quero que se sintam obrigados a ir por minha causa, ok?

— Não nos sentimos obrigados a coisa alguma, não se preocupe. - Julie assegurou, apertando o ombro de Luke em um gesto de carinho.

— Eu vou estar lá de qualquer maneira. - afirmei, dando de ombros. - Quero te ver jogar e isso vale a pena para mim.

Só a ideia de ter que assistir uma multidão ovacionar Scott Murray fazia meu estômago revirar absurdamente, porém eu me recusava a deixá-lo me influenciar daquela maneira, ao ponto de deixar de prestigiar meu melhor amigo.

— Eu também vou. - April murmurou suavemente, ganhando um sorriso animado do Luke.

Sorriso esse que eu não recebi por ir, diga-se de passagem. Mas eles eram fofos demais para que eu me preocupasse com fazer drama.

— Se a April vai, acho que eu também vou. - Jude disse, estragando completamente o pequeno momento e fazendo sua irmã revirar os olhos em um nível que eu não achava que ela tinha a capacidade.

— Eu não sei... - Julie começou, mas não completou.

Até porque eu não dei tempo para que ela fizesse isso.

— Quer saber de uma coisa? Acho que todas nós deveríamos ir, só para mostrar que continuamos lutando e não vamos deixar que um bando de torcedores fanáticos o julguem culpado ou não.

— Olha, eu não quero te desanimar, mas às vezes tenho que trazer um pouco de realidade para esse grupo. - Mark disse. - No meio de tanta gente naquele estádio, a presença de vocês não vai fazer a mínima diferença.

Ouch.

— Mark tem razão. - Thomas afirmou, de ombros baixos.

Eu até concordava, porém tinha certa dificuldade para aceitar um fato como aquele. No meio do meu raciocínio, Jude soltou uma risada abafada enquanto ainda comia a minha comida e se esforçou para engolir antes de falar.

— Imagina que engraçado seria se o cara fosse desmascarado na frente do estádio inteiro que grita por ele. Uau!

Eu arregalei os olhos, praticamente sentindo todas as lâmpadas apagadas se acenderem ao redor da minha cabeça.

— Não, não, não.

— Jess, nem pense.

— Pelo amor de Deus...

E no meio da falação, eu ouvi o estalar de um tapa.

— Jude! - April exclamou. - Não sabe onde você está? Não pode dizer esse tipo de coisa nessa mesa!

— Gente, é perfeito! - eu disse, olhando para eles a minha volta, mas sem realmente enxergá-los, pois tudo que eu via na minha mente eram imagens e mais imagens de todas as possibilidades que aquela ideia me dava.

— Jude! - todos exclamaram, assustando o pobre rapaz que nem sabia o que havia feito de errado. Eu, no entanto, me estiquei na mesa para dar um estalado beijo em sua bochecha.

— Você é incrível!

— De novo, não. - Julie murmurou, apoiando o rosto nas mãos.

— Não sejam dramáticos! - Mina disse. - O que tem em mente, Jess?

Sorri, feliz por ter pelo menos uma pessoa ali com o meu nível de raciocínio.

— E se a gente der um jeito de exibir o vídeo da Ashley e da Katy no telão? Todos vão saber e nós vamos chamar uma puta atenção para a nossa causa! Seja ela boa ou não.

— Ótimo! Agora tudo que precisamos é de um hacker de primeiro mundo. Acho que não vai rolar, né Jess? - Thomas disse, mas eu só pude revirar os olhos para toda aquela negatividade.

— Menos, bem menos. Só precisamos conhecer alguém lá de dentro. Eles não têm alunos estagiando lá? Cuidando dessas coisas? Não é possível que a gente não conheça algum deles!

Assim que eu terminei de falar, vi Mark engolir em seco, mas ficar bem caladinho na dele. Desconfiei no mesmo segundo, achando que tínhamos, sim, um conhecido lá dentro.

— Não acho que seja simples assim, Jess. - Julie comentou.

— Eu definitivamente não acho que vá ser simples, só... possível. O que você acha, Mark? Você sempre tem uma opinião. - questionei, apoiando o queixo na mão e encarando-o diretamente.

Ele me encarou de volta, já ciente das minhas desconfianças. Mark e eu havíamos passado o último ano grudados, sabíamos identificar muito bem as reações um do outro.

— Eu não sei se quero me envolver nisso. - disse, tornando aquela conversa só nossa, ainda que todos estivessem ouvindo.

— É por uma boa causa.

— Eu sei, Jess, e só por isso estou considerando a ideia. Mas o que você quer fazer é grande, maior do que qualquer pegadinha que vocês e os rapazes tenham feito nos últimos meses, pode nos trazer consequências sérias.

Eu assenti.

— Tenho consciência disso e, ainda assim, eu faria. Pelo bem da Katy e de sabe-se lá quantas outras garotas, eu faria.

Nós trocamos alguns olhares por alguns segundos, sem nenhum argumento para acrescentar. E a decisão era toda dele.

Algum tempo depois, Mark suspirou e olhou ao redor, finalmente nos tirando da nossa bolha.

— Talvez eu conheça alguém lá dentro.

Mina e eu fomos as únicas a sorrir, o resto parecia temer a ideia. Luke em especial tinha uma carranca no rosto, provavelmente arrependido de ter trazido o assunto à tona.

— Isso é loucura. - ele disse e April, em um gesto de afeto que nenhum de nós havia visto até então, fez um carinho em seu braço para confortá-lo.

— Eu sei que é, Luke. Mas se der certo....

— E se não der, Jess?! Tem noção de tudo que eu tenho a perder?

— Eu ten...

— Tem mesmo?! - me interrompeu, frustrado de uma maneira que eu havia visto poucas vezes em anos de amizade. - Tem noção que, se descobrirem que eu estou minimamente envolvido em algo assim, posso ser expulso do time? E que, se eu for expulso do time, eu perco minha bolsa? E que, se eu perder minha bolsa, tenho que dar adeus à UCLA porque não tem cenário algum em que eu ou meus pais consigam pagar as mensalidades?

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele saiu da mesa frustrado. Engoli em seco. Aquilo definitivamente não havia entrado nos meus planos.

— Vai ficar tudo bem. Eu vou ir falar com ele e vai ficar tudo bem. - afirmei, pronta para segui-lo, mas April foi mais rápida.

— Acho melhor eu ir. - ela disse. Considerando o quão próximos eles estavam nas últimas semanas, fui obrigada a concordar, deixando-a ir em meu lugar.

— Mal começamos e já está dando errado. O que isso te diz, Jess? - Julie perguntou, com toda sua preocupação estampada no rosto.

— Que teremos que nos esforçar mais para dar certo. Só isso.

— Tudo bem. Comece convencendo as outras garotas que essa é uma boa ideia e depois os rapazes. Se conseguir fazer isso, eu mergulho nessa de cabeça. Pode ser assim? - propôs.

— Essa ideia é ótima! Eu vou me incluir aí. - Thomas disse.

Eu assenti, sorrindo. Já havia convencido tantas pessoas de tantas outras coisas, podia fazer essa última vez. Porque, se der certo - e vai dar -, Scott Murray cai e, depois dessa queda, o resto simplesmente vem.


Para a surpresa de todos nós, inclusive a minha, convencer todo mundo foi extremamente fácil. Para ser sincera, fácil não era a palavra certa porque não houve dificuldade alguma. Tudo que precisei fazer foi começar pela Katy.

— Nossa, isso é genial! - ela disse na ocasião, sorrindo. - Completamente maluco e arriscado, mas incrível! Ele merece essa exposição, Jess. Ele merece muito pior.

Com a empolgação da Katy, não houve uma única pessoa naquela casa que se atreveu a ir contra a ideia. Por fim, a Nikki ficou responsável por deixar os rapazes a par dos próximos acontecimentos. Não queríamos realmente saber se eles gostavam da ideia ou não, já que o projeto todo pertencia unicamente a nós, eles só davam o apoio, porém era importante que não odiassem por completo ao ponto de perdermos até isso.

Tudo que posso dizer é que, menos de 48 horas depois, eu me vi com 100 dólares a mais no bolso.

— Foi muito bom fazer negócios com vocês. - disse para o Thomas e para a Julie, ambos me encarando com cara de poucos amigos.

— Eu falei para você não enfiar dinheiro na história! Ela sempre ganha. - ele brigou e eu ri. Era verdade.

— Ah, não enche!

— Não briguem. Se vocês se comportarem direitinho, eu compro uma comida gostosa para nós três com o dinheiro.

— Eu tô com fome agora. - Julie disse, mas eu balancei a cabeça para os lados, negando.

— Agora não. Tenho que ir atrás do Mark. Eu fiz minha parte, chegou a vez dele.

Ela abaixou os ombros, decepcionada. Thomas, pelo contrário, deu um passo animado à frente.

— Vou com você. - afirmou. Eu assenti.

— Acho que eu vou também. - Julie prosseguiu, fazendo com que ele engolisse em seco.

— Tem certeza, Julie? Nós só vamos ficar procurando pelo Mark, acho que você tem coisas melhores para fazer, não? - ele argumentou e eu quis socá-lo pelo discursinho que só serviria para deixar ela desconfiada.

Julie era uma pessoa desconfiada por natureza, realmente precisávamos piorar tudo? Ela ergueu os ombros e estufou o peito, o encarando como quem queria duelar... ou algo assim.

— Thomas Evans, vocês podem ter acabado de retomar essa amizade, mas é melhor ir com calma. Eu cheguei primeiro, meu amigo. Não no passado, porém cheguei primeiro no presente e é isso que importa. Não pense que vai tirar minha amiga de mim tão facilmente.

Pisquei algumas vezes, confusa com a defesa gratuita.

Hesitante, ele assentiu, talvez se segurando para não acabar corrigindo-a. Não era exatamente na nossa amizade que vínhamos investindo tempo nos últimos dias.

— Eu não tenho intenção alguma de fazer isso. - respondeu educadamente, segurando a risada.

— Vamos logo. - mandei antes que alguém falasse mais alguma besteira.

Depois de algumas tentativas, Mark atendeu às nossas ligações e pediu que o encontrássemos perto do dormitório que ele dividia com o Luke. E falando em Luke, ele ainda odiava a ideia, mas aceitou que era uma alternativa e tanto se tratando da situação em que estávamos. No entanto, estava se mantendo o mais afastado possível de tudo para evitar se envolver e ser castigado por isso. Porque, de acordo com ele, alguém com certeza seria castigado.

— Espero que vocês saibam que não vão comigo. - ele disse assim que chegamos perto, se referindo ao "arranjo" do nosso plano.

'Nosso plano' já era um termo levemente equivocado. Mark sabia ser misterioso e tentava deixar a coisa toda o mais "coberta" possível. Nós só sabíamos que a pessoa que ele conhecia que tinha chances de conseguir transmitir o vídeo era um contatinho que o devia um favor. Além disso, ele não era um hacker - o que seria muito legal! -, só um estagiário como qualquer outro.

— Por quê?! - questionei, já frustrada. - Nós estamos aqui como representantes da Kappa Kappa Gamma e da Lambda Chi Alpha, temos que saber em quem vamos confiar com informações tão preciosas.

Ele revirou os olhos. Muito rude, por sinal.

— Conta outra, Jess.

— Eu vou ter que concordar. - Julie me apoiou. - Mark, não podemos ficar no escuro assim.

— Quanto menos pessoas souberem, melhor. Vocês acham que o Luke está exagerando, né? Gente, nós vivemos em um país que vai a loucura por causa do futebol americano, esse jogo vai ser transmitido em todo o Estados Unidos. Acham mesmo que vão ficar felizes com um ataque desses? No território deles?

Ficamos em silêncio. Sabíamos de tudo aquilo, mas eu em especial optava por não focar naquela parte ou teria medo de seguir em frente. Assim como eu tinha naquele segundo.

— O que viemos fazer aqui então? - Thomas perguntou e Mark sorriu.

— Vão me acompanhar para a aula. Eu tô meio solitário, sabe? Luke está o tempo todo treinando, na aula ou com a April, não tem tido muito tempo para mim. - disse o rapaz que há algum tempo atrás implorava para que eu o salvasse do Luke.

— É sério? Porque eu tenho mais o que fazer. Jess, por que você fica me enfiando nessas roubadas? - Julie reclamou. Eu encolhi os ombros, culpada.

— Eu tentei te avisar. - Thomas disse com um sorriso vitorioso.

Apesar de passarmos todo o caminho questionando, Mark fez questão de não soltar informação nenhuma, o que me deixava extremamente frustrada. Eu entendia que aquilo deveria ser para o nosso bem, porém ficar no escuro em uma situação como aquela era impossível e eu ainda tinha alguns dias para encher o saco dele.

Quando deixamos ele, Julie desistiu de lutar por mim e partiu, me dando um tempinho a sós com o Thomas.

— E aí, como você está? - perguntou, passando um de seus braços sobre os meus ombros.

Não fazíamos muito aquilo por ali, mas a maior parte do campus estava em aula (inclusive nós deveríamos estar) e haviam momentos, momentos como esse, em que simplesmente não nos importávamos.

— Cansada, animada, com medo... Mas tô bem, muito bem. Como você está?

— Eu vou bem.

Nós andamos por alguns minutos em silêncio, só aproveitando a companhia um do outro. Eu me sentia bem ali. Apesar de querer fazer coisas bem mais restritas do que uma caminhada no campus, não conseguia deixar de apreciar o quanto momentos como aquele faziam toda a diferença.

Nós dois tínhamos aulas onde deveríamos estar, mas jogamos essa preocupação para o fundo de nossas mentes por um tempo.

— Você acha que nós estamos fazendo a coisa certa? - o questionei com a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesma o tempo todo nos últimos dias. Ele suspirou, pensando um pouco. - Por favor, não me diga que não sabe.

Eu realmente acreditava na sinceridade dele quando dizia aquilo, porém não deixava de ser agonizante e frustrante de se ouvir.

Thomas riu rapidamente.

— Eu acho que vocês estão fazendo a coisa certa. - afirmou. Por dentro, eu senti um grande alívio. Não que a aprovação dele fizesse toda a minha preocupação ir embora, mas ajudava. - Às vezes, penso que não gostaria que vocês dessem um passo tão grande quanto esse porque sei o quanto é arriscado, especialmente com Luke frisando tanto isso, porém acredito que seja só eu com medo de que alguém decida te punir por isso ou algo assim. No final das contas, toda vez que paro para pensar no assunto, concluo que eu gostaria de fazer a mesma coisa no seu lugar, no lugar das outras garotas.

Sorri, feliz pelo "final das contas" existir em sua fala.

— Então você concorda com o Mark? Sobre nos deixar no escuro?

Ele assentiu.

— Vocês estão mais seguras assim.

Franzi o cenho.

— Por que veio aqui então? Poderia ter me pagado outro dia. - perguntei, pegando todo o clima delicado e meio romântico que estávamos até então e jogando no lixo de uma vez só.

— Eu queria encher o saco da Julie um pouco... E ganhar um tempinho com você. - desconfiada, eu o encarei de lado, ainda que sentisse um bom número de convenções sociais querendo que eu suspirasse e murmurasse algo parecido com "aaaawwwnnn". - Não me olhe assim, eu sempre fui um namorado muito romântico. Você era a ogra da relação.

— Ei!

— Tô mentindo?

— Não, mas... Cuidado com as verdades.

Ele virou os olhos e riu, me puxando para beijar o topo da minha cabeça. Eu tinha um sorriso aberto e nada falso nos lábios, mas não deixei que ele visse.


Um milhão. Esse poderia facilmente ser o número de pessoas que me cercavam. É claro que, além de mentira, era fisicamente impossível. 100 mil? Talvez. Um milhão? Nem fodendo. No entanto, era essa a impressão que eu tinha.

Provavelmente era só o resultado de muitas pessoas eufóricas em um mesmo espaço, pessoas que pareciam simplesmente não ter condições de ficarem paradas por mais que um par de segundos. Não podia culpá-los, era um grande dia. Definitivamente um grande dia para todos nós.

Hoje, havia uma quantidade extremamente de Kappas ali, especialmente se você considerar que a maior parte da nossa casa não está minimamente aí para futebol americano. Porém, ninguém queria perder a exibição do vídeo e eu estava suando frio por causa disso.

Por isso e por eu não ter ouvido um 'a' do Mark e seu amante misterioso há mais de 24 horas. Por tudo que eu sabia, a coisa poderia muito bem nem rolar mais. Bom... Eu gostava mais dessa possibilidade do que a de tudo dar errado. O problema é que haviam tantas, mas tantas possibilidades e todas elas circulavam na minha mente, uma tão frustrante quanto a outra, se aproveitando de cada pingo da minha sanidade.

— Ele tá chegando?

Dei de ombros. Eu não tinha ideia e odiava isso.

— Vocês precisam se acalmar. - April afirmou, porém não tinha a capacidade de se manter quieta no mesmo lugar.

— Você que o diga. - Mina respondeu, a encarando de lado.

— Preciso que vocês se acalmem para que eu possa acreditar que não existem motivos para me preocupar.

— Mas existem. - Julie disse simplesmente e ninguém falou nada porque era apenas a verdade. Uma verdade muito preocupante, mas talvez séria demais para ser suavizada.

— Vocês vão passar o jogo inteiro com essas expressões de velório? - Mark perguntou tentando se manter sério e falhando logo ao rir das nossas caras.

Para quem havia dado tantos avisos sobre o quanto aquilo que íamos fazer era perigoso, ele parecia estranhamente relaxado. E feliz. E positivo sobre a coisa toda.

— Cadê o cara? - Nikki questionou, frustrada com a falta de companhia do meu amigo.

— Lá dentro. - Mark respondeu tranquilamente.

Ela arregalou os olhos.

— Como?!

— Gente, esse é o trabalho dele... Ele está aqui há horas.

— E por que estamos aqui esperando?

— Tá aí uma resposta que eu não tenho. - murmurou, dando de ombros.

Ela buscou então a resposta da pergunta em mim, mas eu estava tão perdida quanto qualquer uma ali.

— Mark, nós precisamos saber quem é esse cara, qual é o plano, o que devemos fazer ou esperar... - Julie falou, tentando colocar em palavras o que a Nikki devia estar sentindo no momento.

Ultimamente, ela vinha se expressando mais do que o normal, deixando de dar prioridade para toda aquela calma e sensatez de sempre. Às vezes, eu não conseguia deixar de pensar que a situação da nossa irmandade era refletida diretamente na maneira como a Nikki reagia as coisas. Infelizmente, o significado disso não era muito animador.

Mark suspirou.

— Achei que já tivesse deixado isso claro para todo mundo. - disse sem entusiasmo algum para repetir tudo. - Não vai rolar. Ele vai fazer o que tem que fazer, nós vamos apreciar as consequências e então seguir em frente. Ok?

— Você realmente acha que eu vou confiar a segurança e reputação da Kappa Kappa Gamma nas mãos de alguém que eu nunca vi? Não sei nome, endereço, intenção...

Ela ia continuar falando, mas a visão da Katy se aproximando a parou. Até porque ela não só se aproximava, vindo também com um grande sorriso e o entusiasmo que não víamos há algum tempo.

— Boa tarde! Estão prontos? Porque eu mal posso esperar! - exclamou, com um toque de maldade no tom.

— Tudo pronto. - Mark respondeu, sorrindo. - Só estou discutindo uns últimos detalhes com a Nikki. - continuou, voltando a encará-la atento.

Ela suspirou, facilmente rendida.

— Tá tudo pronto. - repetiu.

Eu conseguia compreender todas aquelas preocupações e questionamentos. Se para eu, que tinha muito pouco haver com a paçoca não gostava, para ela, que tinha uma casa inteira sob o seu controle o tempo todo, devia ser algum tipo de tortura.

Yay! Vamos lá.

A felicidade da Katy com aquele acontecimento em particular era tanto que ela nem se importava com detalhes como saber o que diabos iria acontecer. Além disso, acompanhar tudo de casa nunca foi uma opção, apesar de todas as nossas indicações. Não sabíamos que tipo de ambiente teríamos se o vídeo realmente fosse para o telão. Ashley, como a dona do canal, ficou bem quietinha em casa estudando.

No entanto, eu não deixei de notar que muito de seu rosto estava coberto por um boné e todo o cabelo solto. Estando com ele preso no vídeo, ninguém a reconheceria a não ser que estivesse realmente se esforçando para isso.

Entramos juntas no estádio, porém a Nikki nos deixou para se juntar as cheerleaders. Ela não queria e vinha dizendo há dias que estar no time enquanto tudo acontecia a deixava mal, mas era sensata demais para simplesmente dar as costas à elas de uma hora para outra.

Não nos afastamos muito, ficando perto o suficiente para que ela ouvisse qualquer grito que déssemos dali. Não que estivéssemos planejando gritar muito, mas ainda assim era um conforto.

Era cedo, então tínhamos tempo de sobra para discutir possibilidades de desfecho, como sair correndo dali sem muitos problemas e coisas assim. O tempo todo eu desejei que o Luke aparecesse para pelo menos dar um oi, pois não queria fazer aquilo sem ele, mas isso não aconteceu. Eu sabia que tínhamos a autorização, porém eu não o via desde o dia que tivemos a ideia, havia recebido apenas mensagens através da April e isso era frustrante. E triste. Um pouco desesperador.

Felizmente, os rapazes da Lambda não deixaram de marcar presença, sentando em grupo próximos a nós. Thomas não se aproximou, se contentando apenas com um sorriso e um aceno à distância, dois gestos que me irritaram profundamente, especialmente pela parte da distância. No entanto, fiquei quieta na minha porque eu havia começado aquela brincadeira que, por algum motivo, em algum momento, deixou de ser divertida.

O tempo foi passando e o estádio lotando ainda mais até que não houvesse uma cadeira vazia sequer. Ao nosso redor, estavam todos os tipos de pessoas imaginável, cada uma com seus interesses em particular apenas aguardando pelo momento em que todos compartilhariam um só... Isto é, aqueles que não estão cientes do que estava prestes a acontecer.

Eu não sabia se era a ansiedade ou o medo, mas senti cada minuto e cada segundo dentro deles. Mesmo assim, o tempo voou e, antes que qualquer uma de nós estivéssemos pronta, a banda entrou para começar seu show. Era tudo muito talentoso, muito bonito, porém eu tinha minha mente em outro lugar. Para ser mais específica, em todos os telões que aquele lugar possuía.

— Você sabe quando vai ser? - perguntei para o Mark, só então percebendo que aquela era uma das coisas mais importantes a se saber.

— Não exatamente, mas deve demorar um pouco. Ele precisa encontrar uma brecha.

— Tipo no sistema? - Mina questionou, já impressionada.

— Não... Ele não é hacker, pessoal. Esqueçam isso. Ele tem que achar uma brecha para fazer a coisa toda sem deixar pistas de que foi intencional. - respondeu, levemente sem paciência, no jeito Mark de ser.

— De certa maneira, isso é muito legal. - Katy começou. - Se não sabemos exatamente quando vai rolar, vamos ficar tão surpresos quanto todo o resto. Assim podem não desconfiar tanto da gente.

Eu não achava que isso fazia muita diferença porque não tínhamos exatamente câmeras apontando para o nosso lado, mas guardei para mim o comentário.

— Ô meu Deus, é hoje que a ansiedade toma conta de mim. - Julie choramingou, ganhando um abraço da namorada.

April continuava calada, viajando em seu próprio mundinho, aquele em que provavelmente não havia milhares de fãs de futebol ao redor dela.

Respirei fundo. Precisava manter a calma. Ainda que milhões de baldes de água fria pudessem cair em cima de nós hoje, eu precisava estar calma e no controle.

Logo os jogadores entraram em campo. Katy deu uma leve travada, mas não se deixou abalar por muito tempo, o que era realmente impressionante. Eu duvidava que tivesse a capacidade de fazer o mesmo. E, para ser honesta, gostaria que ela não tivesse porque realmente odiava vê-la em uma situação como aquela.

Quando o jogo começou, eu prestei atenção tempo o suficiente para encontrar o Luke no meio de todos os caras. Ali - e na maioria dos outros lugares -, ele me parecia inabalável. Desejei que fosse o bastante para não permitir que eu estragasse tudo com algo assim.

A partir do momento em que eu garanti que ele estava lá e bem - se não considerarmos a quantidade absurda de rapazes se jogando contra ele -, minha mente e meus olhos começaram a vagar pelo resto do estádio, incapazes de parar e se concentrar em uma coisa só.

Observei a Nikki repetir sua coreografia de novo e de novo, perdendo um pouco de ritmo e animação em cada uma delas. Notei o Thomas me encarando incansavelmente ao mesmo tempo em que trocava algumas palavras com o Ryan e o Joe. Pensei em enviar uma mensagem perguntando qual diabos era o problema dele comigo naquele dia, só para extravasar um pouquinho todo o meu estresse, mas resisti. E não foi nada fácil.

Vi a April falhar uma série de vezes na arte de tentar conter seu nervosismo, especialmente quando uma jogada muito violenta era feita lá embaixo. Eu não precisava assistir o jogo para saber que o Luke estava envolvido em todos. Também notei a Katy perder seu entusiasmo pouco a pouco, assim como a Nikki. Ela vinha se mantendo em movimento e alerta até então, agora estava parada e, provavelmente, se dando conta de todo o cenário.

Enquanto o tempo passava e nada de interessante acontecia, eu observei até as mudanças de expressões dos torcedores, que, depois de mais de uma hora de jogo, se decepcionavam cada vez mais com o UCLA Bruins. Luke que me perdoe, mas eu tinha que admitir que já havia visto jogos infinitamente melhores do que aquela "estreia".

Era quase como se eles sentissem que a carreira do seu jogador principal estava prestes a entrar em uma crise.

Quando o intervalo chegou e nada fora do comum aconteceu, eu comecei a considerar a ideia do rapaz ter desistido de nos ajudar. O que ele tinha a ganhar com isso, afinal de contas? Além do mais, o próprio Mark começava a mostrar seus sinais de preocupação, os quais eu fingi que não via, pois não queria preocupar e estressar ainda mais as garotas.

— Eu preciso comer. - April murmurou aleatoriamente no meio de seu nervosismo interno. A olhamos, esperando que ela desenvolvesse a frase anterior. - Na verdade, eu preciso de um ar, mas o único lugar onde eu talvez consiga isso é perto daquele carrinho de cachorro quente lá no fundo, então eu vou comer.

Nós assentimos e ela partiu, dando passos firmes em direção ao seu objetivo. A admirei por isso. Qualquer coisa era melhor do que aquela situação e aquela posição.

Mas Jess, foi você que incentivou todo mundo com essa ideia maluca. Tá com medinho agora, fofa?

Eu sei que é isso que você está pensando agora. Talvez em um outro tom ou com palavras menos odiáveis.

Veja bem... Você tem razão. E eu me odeio profundamente por concordar. Não me entenda mal, ainda acho a ideia incrível e Deus abençoe o Jude por ela, mas, quanto mais tempo ia se passando e mais perto chegava, maior era a minha consciência do quão complicado algo assim pode se tornar. Eu já tinha tantas coisas desagradáveis para lidar, não gostaria de adicionar mais problemas com a universidade à lista.

— Todos bem? Sobrevivendo até aqui? - Katy se pronunciou, parecendo tentar levantar mais o espírito dela mesma do que qualquer outra coisa.

Enquanto eles respondiam, eu voltei meus olhos rapidamente para a nossa direita, encontrando os olhos azuis do Thomas em cima de mim. De novo.

Revirei os olhos e busquei meu celular.

"Perdeu alguma coisa aqui?"

"Meu coração. Pode devolver?"

Eu parei, encarando a tela, dividida entre rir ou ficar assustada. Ele voltou a digitar logo depois. Lá embaixo, o jogo voltou do intervalo.

"Desculpa, eu não podia perder essa oportunidade. Não termina comigo."

O encarei novamente, agora fora da tela do meu celular, e ele sorriu, segurando uma risada e dando de ombros.

"Não namoramos. Eu não posso terminar o que nunca começou."

"Você sabe que a gente pode mudar isso rapidinho."

Ergui as sobrancelhas, um pouco surpresa. Bem pouco.

"Não seja bo..."

O que aconteceu naquela festa?

— Eu fui violentada... Estuprada... Eu fui estuprada por Scott Murray.

Congelei. Eu e o estádio inteiro, inclusive cada um dos jogadores no campo, todo mundo com os olhos voltados para o telão. Até o próprio Scott Murray, que tirou seu capacete quase que em câmera lenta no momento.

Nesse momento, aquela me parecia uma ideia estúpida.

O vídeo online não começava já naquela declaração, mas havia sido editado para aquele evento em especial, pois não sabíamos quanto tempo teríamos até ele ser tirado do ar. Precisávamos mandar a mensagem principal logo de cara.

Quer falar sobre isso? - a Ashley do vídeo perguntou.

Só ouvíamos sua voz. A imagem era toda voltada para o rosto da Katy e suas reações.

Eu vim aqui pra isso. - respondeu, soltando uma risada nervosa. - Mas é um assunto difícil. E todos os dias eu desejo que minha vida nunca tivesse cruzado com a vida daquele cara.

Ela engoliu em seco.

No vídeo original, havia uma pausa bem longa nesse momento. Ali foi rápido.

Murray é a estrela do time da UCLA. - Ashley afirmou, dando algo com que a Katy poderia trabalhar.

Eu sei. Engraçado, né? O país...

Todos os telões foram desligados.

Por alguns segundos, muito poucos, muito rápidos, eu tive a impressão de conseguir ouvir meu coração batendo desesperado no peito, tamanho o silêncio daquele lugar. No entanto, o burburinho começou logo e seu volume foi aumentando tão rápido quanto. A partir daí, eu tive muita dificuldade para compreender o que diabos estava acontecendo ali.

A primeira coisa que eu fiz foi procurar pela Katy, encontrando-a paralisada ao encarar algo a sua frente. Segui seu olhar e compreendi rapidamente o por quê. Estávamos próximas do campo e Murray também olhava diretamente para ela, carregando mais ódio do que eu achava já ter visto. Isso começou a chamar a atenção do resto das pessoas para o nosso lado.

Até que a mão do Luke encontrou em cheio o rosto dele, fazendo-o se inclinar para o lado por causa da força. Aí todos os olhares se voltaram para os dois rapazes do mesmo time agredindo um ao outro e certamente não da maneira que eles gostavam de ver.

Felizmente (ou não), os próprios rapazes do time foram rápidos para separar um do outro, mas os rostos de ambos já não eram os mesmos. Bufando de raiva, eles se soltaram rapidamente, mas, para a nossa surpresa, não voltaram a se atacar. Luke até teve o impulso de tentar, porém seu plano falhou quando Scott deu meia volta e começou a andar em outra direção. Em nossa direção.

Passos rápidos e firmes, mãos fechadas em punho, o olhar de quem estava pronto para matar quem fez aquilo com ele. Dos lábios saíam uma série de xingamentos que não conseguíamos compreender, mas, honestamente, era melhor assim. Eu fiquei com medo. Por isso, não tinha nem mesmo a capacidade de imaginar a situação da Katy.

Só quando eu concluí que não poderia ficar pior, percebi uma movimentação às nossas costas. Mark foi o primeira a olhar, engolindo em seco logo depois. Eu fiz o mesmo, arregalando os olhos quando percebi que os movimentos de Murray definitivamente haviam chamado atenção para nós agora. Como resultado, um monte de pessoas se aproximavam e eu não fazia ideia da intenção delas, mas a grande maioria não parecia feliz.

Coloquei um dos meus braços ao redor da Katy, assim poderia falar baixinho no ouvido dela.

— Não quero que se assuste, mas acho que nós temos que sair daqui.

Ao perceber toda a movimentação do público, Scott saiu de fininho, dando um jeito de se enfiar no vestiário. No entanto, os olhos dela continuavam cravados no lugar que ele estava antes em uma mistura de medo e ódio profundo.

Julie e Nikki se viraram para me dar apoio no mesmo momento que um corpo bateu no meu, quase derrubando eu e Katy juntas. Me soltei dela, entregando a maior responsabilidade para as garotas a fim de ver o que diabos era aquilo. Me virei para perceber que eu estava literalmente no meio de uma confusão. Um monte de pessoas eufóricas, sabe-se lá com o que, tentavam se aproximar e a única coisa que os separava da gente eram os rapazes, que em algum momento formaram uma espécie de barreira.

Porém, eles não eram tantos assim nem tão fortes. Por isso alguém bêbado demais para se conter caiu para o meu lado. Não satisfeito, ele agarrou o meu braço como apoio para se levantar.

— Tá louco?! - eu gritei, pois já não conseguia ouvir nada além de um barulho muito alto de pessoas falando ao mesmo tempo. O homem de meia idade, calvo, fez algumas decisões ruins ao me ignorar e tentar me escalar novamente, se agarrando à minha blusa. — Me solta!!!

A primeira coisa que eu vi foi o copo de cerveja intacto em sua mão livre. Peguei-o e virei completamente em cima do homem. Eu diria que ele não ficou muito feliz. O banho deu a ele raiva e, sejamos sinceros, esse é o melhor combustível. Em pouco tempo ele já estava de pé, pronto para dar na minha cara, pelo que seus dedos fechados em punho me diziam.

Engoli em seco.

Eu era uma garota forte, porém não o suficiente para escapar ilesa do belo soco que eu levaria se continuasse paralisada ali. Mas eu fiquei. Fiquei tempo o suficiente para ver sua mão se aproximar perigosamente, até que uma parede alta surgiu entre nós, levando o soco por mim.

Thomas envolveu seus braços ao meu redor, me afastando do cara que já nem sabia mais o que estava acontecendo. Ele não era o único.

— O que você pensa que está fazendo? - ele disse no meu ouvido, mas meu corpo inteiro sentiu o arrepio.

Eu sei, aquela era uma péssima hora e, lá no fundo, eu queria matá-lo por se intrometer na minha briga, porém não podia ignorar o fato de que era seu corpo quente colado ao meu e ele sabia que meu ouvido era um ponto fraco.

Thomas virou meus ombros para frente, assim eu poderia ver que um bom número de seguranças abria caminho para nos escoltar para fora dali, uma vez que o público atrás de nós estava extremamente instável. Mark e as garotas estavam tão longe que eu já não as via mais, então o puxei comigo e, um a um, todos os rapazes foram saindo também.

Assim que garantiram que estávamos todos do lado de fora, bem, eles se apressaram para dentro novamente a fim de conter aquela pequena bagunça que nós causamos (detalhes que eles ainda não sabiam).

Antes que eu pudesse me juntar às meninas, Thomas me puxou de volta para si, me olhando de cima a baixo preocupado.

— Ei, eu tô bem. - afirmei, mas as minhas palavras não passavam a confiança que ele precisava, pois ele continuou me inspecionando até chegar no meu rosto. - Eu tô bem.

— Tem certeza? Ele te machucou? Tocou em você? - questionou. A minha vontade de dar esse detalhes no momento era mínima, então esperei que meu gesto falasse por mim.

Subi na ponta dos pés e puxei com delicadeza seu rosto para mim, juntando nossos lábios. Ele era um garoto esperto, entendeu rapidamente e voltou a me abraçar pela cintura, só deixando o beijo acontecer. Lento, calmo, envolvente, o oposto completo ao momento que havíamos acabado de viver, porém mais intenso ainda. Daqueles que apagavam o resto do mundo, tirava os pés do chão e minha cabeça do lugar.

— AAAAAAAAAAAAAH MEEEEEEEEEEEU DEEEEEEEEEEEEUS!!!

Definitivamente tirava minha cabeça do lugar.

Nos afastamos tão rápido que eu senti certa tontura pela troca repentina de clima, como se aquilo fosse fazer a Julie pensar duas vezes e dizer: "ah, não, vi errado". E, dessa vez, eu só tinha a mim mesma para culpar.

— Que beijo foi esse?! - Julie perguntou, ainda falando em seu tom mais agudo, enquanto se aproximava da gente.

Aquilo parecia ser justamente o que a Katy precisava para sair do seu transe, porque agora seu rosto só mostrava surpresa e animação. Mina e Mark nos olhavam como se tivessem acabado de confirmar suas maiores confianças e, Nikki, que em algum momento havia se juntado a elas, sorria, também nem um pouco surpresa.

— Aaahhh... - Thomas tentou falar, mas logo me olhou, implorando por ajuda. Infelizmente para ele, eu também não tinha resposta.

— Não acredito que isso finalmente aconteceu! E eu estava aqui! Vi tudo! - continuou a falar, absurdamente animada.

— Tão inocente, tadinha. - Mina disse, acariciando o cabelo da namorada.

— Que foi? - ela perguntou, mas eu avistei meu amigo em uma oportunidade perfeita de sair dali.

— Luke! - exclamei, correndo na direção dele. Todos me seguiram.

Não havia sangue, o que era bom, mas seu olho ficaria roxo durante alguns dias.

— Vocês estão bem? - ele perguntou, dando uma boa olhada para cada um.

Nós assentimos. Estávamos bem. Poderia ter sido pior.

Quando terminou sua revista, ele franziu o cenho, confuso. Deu mais uma olhada e a preocupação apareceu.

— Que foi? - questionei.

Ele me encarou com cara de poucos amigos.

— Cadê a April?

Eu abri a boca para falar, mas não consegui porque travei. Imediatamente minha mente fez uma retrospectiva atrás do último momento em que a viu e começou a explodir de preocupação a partir daí.

— Ô meu Deus, ela ficou lá dentro. - Mina concluiu e todos nós nos viramos para o estágio, mais imponente que nunca.

— É sério? - perguntou, soltando uma risada incrédula que não tinha nada de divertida. - Vocês realmente deixaram ela lá dentro?

— Nós não deixamos ela lá dentro, não. - Mark respondeu, ofendido. - Ela se afastou da gente antes da confusão toda.

— Obrigado, pessoal. Realmente muito obrigado. - disse, todo trabalhado na ironia, indo novamente em direção a entrada.

— Ei, eu vou com você! - afirmei, seguindo-o.

— Não vai, não! Nenhum de vocês! O jogo foi cancelado e logo todo mundo começa a sair, então vocês vão embora sem mais confusões por hoje, tá legal? Eu aviso assim que encontrar ela.

Sem me dar chance alguma de discordar, ele correu atrás dela, me deixando ansiosa para trás.


Bufei, balançando a cabeça em frustração pela quantidade de pensamentos que corriam pela minha mente. Todos ruins e negativos, me fazendo sentir, no mínimo, muito boba. E fraca.

— O que foi dessa vez? - Thomas resmungou ao meu lado, respirando fundo na busca de toda sua paciência.

Ele foi o único que restou. O resto deles olharam para o meu repentino mau humor e decidiram que não queriam lidar com ele, então saíram para comer alguma coisa e comemorar o plano que deu certo. Agora voltávamos para a minha casa, lugar onde eu só gostaria de me sentar e esperar pela ligação do Luke. Ele havia mandado uma mensagem de texto vários minutos atrás dizendo que já estava com ela, mas não deu mais detalhes, só prometeu ligar novamente depois e eu precisava dessa ligação.

— Só tô questionando aqui na minha cabeça o por quê de você ter se intrometido entre eu e o cara.

Ele começou a rir. Quando eu não fiz o mesmo, ele ficou preocupado.

— É sério? Assim, de verdade?

Dei de ombros. Eu tinha meus motivos para crer que queria entrar naquela discussão.

— Eu sei me defender sozinha, Thomas. Muito bem, por sinal! Você não precisa ficar se intrometendo. - eu disse, abrindo a porta de entrada. Ele me seguiu casa adentro e escadas cima.

— Você viu o tamanho daquele cara? Viu o estado dele? Ele estava prestes a te acertar.

Assenti. Era verdade, mas esse não era o meu ponto.

— O que eu tô tentando dizer é que eu não preciso de você, entendeu?

— Eu não entendi, não! - respondeu. - Talvez queira me dizer algo assim em outro momento, tipo um em que você não tenha acabado de me dar um puta beijo na frente de todo mundo. Isso deve ter me deixado meio burro.

Drama queen.

Nós entramos no meu quarto, agora vazio, e ele fechou a porta.

— Eu só não quero que você fique bancando o meu herói, tá legal? Não é seu papel! Eu me enfio nessas situações com certa frequência e, de alguma maneira, sempre dou um jeito de sair. É como a minha vida anda. Não precisa ficar me salvando, bancando o protagonista gato dos filmes de romance que sempre estão lá na hora certa. Se pensar bem, isso é melhor para você! Não quero colocar esse peso sob os seus ombros.

— É, eu teria que pensar muito bem. - disse, parando por alguns segundos. - Você só tá descontando em mim sua raiva pela situação do Luke e da April, não é?

— Não! Eu realmente me preocupo com o que acabei de te falar. - falei, encolhendo os ombros.

— Tenho certeza que sim, mas, Jess... Tá tudo bem. Foi até melhor que ela não estivesse no meio de toda confusão, você conhece a sua amiga, ela iria realmente se assustar com aquilo tudo.

Revirei os olhos.

Ele estava certo, definitivamente, porém não era sobre a minha culpa que eu queria conversar e sim sobre a dele. A minha culpa já ficaria me perseguindo por dias o suficiente.

— Não é disso que eu tô falando!

— Então me diz do que está falando, Jessica Corinne! Porque de todas as coisas que nós dois poderíamos fazer juntos nesse quarto, sozinhos, discutir é a menos divertida.

Parei por um momento. Era verdade. E eu havia passado os últimos dias imaginando dezenas de formas diferentes para realizá-las.

Suspirei, me sentindo boba mais uma vez.

— É verdade. - engoli em seco. - Quer jogar algo?

Thomas ficou confuso e surpreso por alguns segundos, mas conseguiu dar a volta por cima, sorrindo descaradamente para mim.

— Claro, o que você tem em mente?

— Uno. - respondi simplesmente.

Ele hesitou.

Strip uno? - questionou, temeroso.

— Só uno.

Andei até a escrivaninha, procurando o baralho em uma das gavetas. Eu estava sendo ridícula. Completamente ridícula e sabia disso. Mas aquele já havia sido um dia lotado de fortes emoções, eu não sabia o quanto mais poderia lidar.

Me sentei na cama de Julie, a de mais fácil acesso, e comecei a embaralhar as cartas. Ele se sentou à minha frente, deixando transparecer toda sua confusão. Eu até senti pena, pois eu mesma estava me irritando por razões completamente imbecis.

— Com quantas cartas começa mesmo? - questionei, me esforçando para focar toda a minha atenção no monte de cartas.

— Jess. - ele me chamou.

Essa era a hora que nós poderíamos fazer aquela brincadeira em que eu deixo ele me chamar e finjo não ouvir até que a situação se tornasse ridícula, mas levantei os olhos na mesma hora, totalmente sem paciência para o jogo.

— Sim?

— Tudo bem?

— Tudo ótimo.

— É que você me parece um pouco estranha. - ele disse, com medo da minha reação e com razão.

— Por que não pular em você e transar agora me faz estranha? - questionei de volta, fazendo-o perder sua fala por alguns segundos.

— Você sabe que não é isso. - falou quando seu choque se dissipou. - É que... Bom, você tem me mandado todos esses sinais há um tempo e nós dois nos frustramos tanto com o universo, só achei que aproveitaríamos um pouco melhor nosso tempo juntos. Sozinhos.

Suspirei, abaixando o olhar para as minhas mãos. Não era justo partir para a grosseria só porque eu tinha vergonha demais de admitir, eu sabia disso. Tinha que tomar decisões melhores, mais maduras, a fim de fazer aquilo dar certo.

— Tá! - exclamei, batendo nas minhas próprias coxas. Foi uma atitude idiota, mas eu precisava daquela "acordada". - Eu tô com medo, tá legal?

Ele engoliu em seco.

— Medo do que? - encolhi os ombros. - Jess, sabe que eu nunca te machucaria.

— Eu sei, eu sei! É mais complicado do que isso. Eu sei que você não me machucaria... fisicamente.

Depois disso, nós experimentamos alguns segundos de silêncio, tempo o suficiente para ele tirar suas conclusões.

— Não sei o que dizer... Eu já fiz todas as promessas que poderia. - ele murmurou. Eu assenti.

Eu merecia um belo parabéns por ter transformado um tesão acumulado por semanas num clima frio e receoso, de verdade. Porém, agora que havia começado, eu continuaria.

— Não quero que você fique fazendo promessas e todo aquele blá blá blá, só estou dizendo que tenho medo. E não posso simplesmente deixar de sentir medo. Ainda que na maior parte do tempo eu realmente queira simplesmente pular em você e fazer tudo aquilo que nós dois temos vontade, não consigo. Não se tratando de alguém com que eu me importo tanto.

— Você fez isso com o Nick. - ele falou automaticamente, se arrependendo logo depois.

Exatamente. - eu concordei ríspida e lentamente, esperando que assim o infeliz entendesse.

— Ahhh...

— Cada novo passo nosso me deixa nervosa porque eu espero o tempo todo que um de nós falhe, tenho dúvidas sobre tudo e minha mente me leva a pensar que talvez não devesse ser assim. Não costumava ser assim, certo? - ele negou com a cabeça. - Você se sente assim também?

Seus olhos ficaram nos meus por um tempinho, em um misto tristeza e conformismo, enquanto ele esticava os lábios em um sorriso. Logo sua cabeça foi para os lados novamente, negando.

— Não. - ele enfatizou vocalmente. - Na maior parte do tempo, eu só consigo pensar no quão sortudo sou por ter essa segunda chance, em como vou fazer tudo dar certo dessa vez e... Bem, em você. Eu penso muito em você. E toda vez que penso em você, sinto que estamos no caminho correto, mesmo com a quantidade absurda de obstáculos que colocamos nele.

Sorri, levando uma das minhas mãos ao seu rosto com carinho. Lá no fundo, existia uma Jessica com náuseas pelo romance barato, mas a que comandava estava encantada com o pequeno discurso. Simples, básico, porém funcionava muito bem ao me fazer tirar da cabeça todos os temores e dúvidas que às vezes me faziam pirar.

Se Thomas podia ter aquele olhar positivo sobre nós dois depois de tudo que passou na minha mão, eu também deveria ter aquela capacidade. Nós dois merecíamos aquilo. Nós dois engolimos alguns sapos para chegar até aquele momento e merecíamos borboletas e prazeres, não questionamentos infinitos.

Então eu decidi que, pelas próximas horas, seríamos apenas nós dois, juntos. O resto do mundo ficaria do lado de fora e, lá, estavam tudo aquilo que nos impedia - ou melhor, me impedia - de estar ali de corpo e alma, sem preocupações.

Me coloquei de joelhos sobre a cama e aproximei meu rosto do dele, roçando de leve nossos lábios.

— Onde é que nós paramos da última vez mesmo? - sussurrei e ele abriu os olhos em surpresa.

Surpresa porque ele sabia que eu não me referia a última vez em que estivemos naquele quarto. Eu ia bem mais longe, em um dia que eu gostava de pensar que havia sido espetacular por finalmente ter minha vingança e em um dia que eu jamais imaginaria o cenário atual em que eu me encontrava. Ainda assim, gostava muito dele.

Quando percebi que ele estava maravilhado demais para formar frases, eu apenas passei reto pela boca e fiz meu caminho mais ao sul.

Tudo estava bem, por enquanto. Me permiti me entregar a ele da mesma forma como ele se entregava a mim há tanto tempo e não me arrependi por um segundo. Só aproveitei todas as sensações, os sentimentos, as borboletas sem fim e até as risadas de nervoso.

Porque, não importava quanto tempo passasse, eu percebi que conseguia ansiar pelo toque dele como se fosse a primeira vez, conseguia descobrir novos prazeres e reencontrar outros que eu não tinha ideia de quanta falta fizeram. Eu e ele, nós ficaríamos bem. Se todas as noites fossem remotamente tão intensas quanto aquela, ficaríamos muito bem.



Nota da autora: e vocês? Estão tão bem quanto o Thomas e a Jess? Espero que sim. Eu diria que estou até melhor por finalmente conseguir trazer esse capítulo para vocês! Agora, vamos ao textão (que ficou textão meeeesmo, desculpa gente). Trouxe eles aqui porque não queria adiar mais ainda a leitura de vocês.

Primeiro: cena restrita. Não teremos. Conversei muito com algumas de vocês sobre a possibilidade de rolar e queria muito conseguir trazer algo do tipo, mas sempre deixei claro que só postaria se ficasse bom o suficiente aos meus olhos. Infelizmente, não ficou. E depois de passar semanas preocupada, me sentindo extremamente mal por isso, eu larguei mão. VS nunca foi pensada para ser restrita, eu só me animei com a ideia recentemente e agora tô tentando ficar em paz e tranquila em relação a isso. Espero que vocês fiquem também.

Segundo: eu comecei recentemente a me proibir de dar prazos para vocês só porque não conseguir cumprir eles e falhar com vocês é outra coisa que me fez muitíssimo mal nos últimos meses. Eu peço mil desculpas por demorar tanto, mas garanto que tô fazendo o que posso. Faço faculdade (terceiro ano, o próprio inferno), trabalho, acabei de tirar a carteira (amém), faço iniciação científica, ballet e escrevo. Esse último é, de longe, o meu preferido, mas ainda não tô numa posição da minha vida em que posso dar prioridade a ele - e talvez eu nunca vá estar kajsklasj rindo de tristeza.

Enfim, o meu ponto é: quando eu tenho um tempinho para ficar na minha, eu só quero tirar o atraso no sono ou assistir uma série de boinhas. Nessa brincadeira, às vezes eu fico uma, duas semanas sem nem abrir o arquivo da história e, conforme o tempo passa, eu sinto que tô desconectando dos meus próprios personagens, da minha própria versus, o que me deixa bem mal, mas, nesse momento, não existe muito que eu possa fazer.

Depois de falar esse monte, eu só queria deixar algo claro: eu não vou desistir dessa história nunca na minha vida! Posso demorar mais três meses, mas o próximo capítulo vai chegar. Vocês sempre perguntam se as aniversariantes de tal mês vão ganhar capítulo adiantado e eu vou continuar dizendo que vão sim, oras. Nem que eu atrase um ano e tenha que enviar o capítulo diretamente pra todo mundo de uma vez alksjlkasj

Eu vou continuar tentando, tá, pessoal? Sei que não "devo" satisfação pra ninguém, mas gosto de dar porque eu, como leitora, gostaria de receber. E é uma forma pequenininha de agradecer por não desistirem de versus e por serem pacientes mesmo estando ansiosíssimas pelo final (que isso, sim, eu continuo afirmando que tá chegando). Enquanto eu tiver o apoio de vocês, nós vamos ficar muito bem também.

Beijoooos! Eu espero ver vocês logo.

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