Tornar-se Janeiro (em pausa)

Od bexxxm

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Recomeços sempre foram complicados para mim. Geralmente eles são consequências de dois possíveis cenários: al... Více

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 32

Capítulo 31

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Od bexxxm

Eu podia senti-lo atrás de mim.

Eu conseguia escutar até mesmo seus batimentos cardíacos e sua respiração ofegante no meu pescoço fazia com que meu cérebro em completo pânico mandasse um único recado: você precisa dele todo, agora.

A versão mais resumida é a de que Oliver havia virado o meu corpo em uma mesa de madeira e antes que eu pudesse protestar as suas mãos já estavam dentro da minha calcinha.  A longa versão dos fatos deixaria mais claro que não houve nenhuma vontade da minha parte em protestar contra aquilo.

No toque dos nossos lábios a abstinência causada pela distância se mostrava poderosa demais. Quando finalmente fiquei nua e senti que ele estava da mesma forma, tentei me virar para senti-lo mais próximo, no entanto, mesmo que por um segundo ele deixasse meu corpo decidir as coisas, no próximo suas mãos já estavam me pressionando de volta na mesa.

Eu não poderia ter previsto aquilo quando o encontrei na saída dos fundos do Bar 21, certo?

Afinal, seu cabelo estava um pouco maior e a barba havia desaparecido. Seu rosto indicava um garoto com poucas horas de sono, mas o cheiro da sua colônia era tão real quanto o último orgasmo que ele me proporcionara em uma varanda.

Ele estava tão lindo quanto eu lembrava e devo dizer que em meus momentos de loucura pensei ter esquecido do real formato do seu rosto. Respirei aliviada ao perceber que eu ainda recordava cada detalhe. Eu garanto isso, todos os detalhes: barba ou não; insônia ou muito sono; cigarro ou whisky; colônia cítrica ou arrogância - eu conhecia cada detalhe daquele homem que finalizava seu cigarro me olhando como se fosse me matar.

Faça, Oliver. Eu mereço.

Talvez seja esse o pedido que eu deveria ter feito ao invés de direcionar o assunto para uma solidão que provavelmente só eu estava sentindo. Eu ainda queria lembrá-lo de como um dia eu pedi por sua distância e ele me provou que eu estava na realidade implorando o contrário.

Eu queria ter levado a sua carta para aquele dia de trabalho. Eu queria jogá-la na sua cara ou ao menos ter a oportunidade de pedir que ele a amassasse e deixasse apodrecendo na terra. Eu pediria mesmo sabendo que aquela terra seria a mesma que eu não tinha absoluta certeza se ele deveria estar pondo seus pés ou não.

Esteja tão mal quanto eu estou, Oliver.

Peça para eu ficar mesmo me pedindo para ir embora, eu sussurrei baixinho, não permitindo que ele me ouvisse.

Então, ainda encostado na parede em que expunha um cartaz indicando que o bar estava fechado, ele jogou o cigarro no chão e me chamou com seus dedos. Eu não tinha opções, sabia disso. Eu nem queria ter opções.

Atravessamos a porta juntos e com um chute ele conseguiu fechá-la.

Em um piscar de olhos, ali estávamos: quase transando em uma mesa de um bar vazio demais para contar nossas histórias após um expediente cansativo.

Mas aquilo não era exatamente correto, certo? Mesmo que a madeira encostando no meu corpo nu fosse extremamente excitante, mesmo que eu o amasse, mesmo que meu desejo, de alguma forma, tenha crescido mais ainda com a distância.

Não era certo, mesmo que eu quisesse desesperadamente ser sua novamente.

Eu ainda assim era a peça de um jogo, a garota com nome de mês que carregava um celular na bolsa ao invés dos seus habituais livros, aqueles que ela parecia ter esquecido nas prateleiras de uma casa em que não vivia mais.

Não éramos mais os mesmos da nossa primeira vez juntos. Ele não parecia estar perdido em suas decisões, pelo contrário, ele parecia mais do homem que eu achei que ele era no minuto em que meus olhos encontraram com o verde dos dele pela primeira vez.

Oliver aparentava ter absorvido todo o personagem que eu achei que ele batalhava contra. Suas mãos ainda eram macias, mas pressionavam minha pele como se meu corpo fosse uma arma. Ele esfregava e deixava marcas vermelhas, até o momento em que sentiu que estava na hora de puxar o gatilho e deixar o prazer me consumir.

E não houveram troca de olhares ou de sussurros implorando por mais amor do que já havia. Não houve muito amor também. Eu estaria mentindo se dissesse que foi como das outras vezes, mas também mentiria dizendo que foi ruim.

Antes mesmo de atingir o clímax eu já sabia que haveria um preço a ser pago por aquele momento de pura e extrema luxúria.

Ele era além do Oliver naquele instante, ele era o jovem Madraga, o homem de negócios, o sócio do Alexandre, o irmão da Helena, ele era a pessoa que se distanciava cada vez mais do garoto cheio de sonhos que odiava o pai.

Ele se aproximava cada vez mais do Oliver que causaria um incêndio, eu pensei. Em seguida, olhei ao meu redor, certificando-me que ele não escutou meus pensamentos maliciosos.

Além de tudo isso, eu não era mais a virgem.

Sim, eu ainda era a Janeiro, um codinome de guerra que eu criei para poder fugir de outros homens que um dia me fizeram mal. A verdade é que falar sobre o passado não será algo que facilmente eu farei, se é isso que você espera, meu caro leitor.

Entretanto, não estou aqui para enganar ninguém. Não estou aqui para enganchar sua curiosidade e fazer você ter piedade de mim, ou da Janeiro, depois de tudo que aqui eu já consegui relatar.

Talvez antes do Oliver eu conseguisse retratar melhor o passado. Talvez antes do ditado em latim que fez com que eu me deitasse com ele pela primeira vez, eu ainda estivesse disposta a escrever sem medo.

Talvez seja difícil demais pensar que uma vez escrito, jamais voará. Espero que você entenda que, mesmo querendo colocar tudo isso no papel, a hipótese do meu passado nunca me abandonar é capaz de me enlouquecer de uma vez por todas.

Eu confesso que tentei novamente virar meu corpo para tentar me conectar com seus olhos, como fazíamos. O prazer era grande, entretanto, eu ainda conseguia sentir um gosto diferente em seu beijo, um beijo quente e ao mesmo tempo frio, um beijo que intercalava os nossos gemidos.

Hoje, chego à conclusão de que aquele gosto diferente estava tentando me alertar sobre como eu me sentiria após aquele pequeno momento.

Eu me sentiria assim como eu realmente me senti durante todo o ato: longe dele.

Sem querer ou não, eu afastei o corpo do Oliver e fingi não conseguir respirar. Talvez eu não estivesse realmente conseguindo respirar.

   Talvez, perto dele, eu não precisasse de ar algum.

"O que houve, Janeiro?" - ele disse, provocando um arrepio que percorreu toda a extensão do meu corpo, o mesmo corpo que se aliviava ao ouvir sua voz de novo - "Porra, você não vai me deixar na mão né?"

Então era isso que eu havia definitivamente me tornado na cabeça daquele homem: um brinquedo.

"Nós precisamos conversar, Oliver!" - eu disse, ainda fraca por toda adrenalina que seus toques causaram.

"Eu sei" - ele se aproximou e tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, como costumava fazer - "Precisamos esclarecer algumas coisas."

Eu estava borbulhando, uma mistura com muitas gotas de raiva pelo que ele havia dito e outras de todo o suor e êxtase que ele provocara. Eu sentia ódio por ter gozado em seus dedos e por ele não ter me permitido olhar em seus olhos durante todo o processo.

Como eu cheguei até ali? Meu Deus do céu.

"Oliver, por favor, conte-me a verdade." - eu implorei, quase fazendo um biquinho involuntário com os lábios, segurando toda infantilidade que ainda existia em mim e todas as lágrimas que insistiam em tentar cair.

Merda. Eu queria me entregar, não é verdade? Eu queria que ele fizesse o que quisesse comigo, mostrasse qualquer lado dele que ele achasse necessário. Era o que eu merecia, certo?

Eu tive a oportunidade, a declaração, o entrelaçar de dedos. Eu já tinha tido o suficiente e mesmo assim joguei tudo fora.

Eu queria levantar a bandeira branca, não é mesmo? Eu queria ir ao inferno com aquele homem, mesmo que significasse sujar essa mesma bandeira com meu próprio sangue.

Ele concordou com a cabeça enquanto passava gentilmente um de seus dedos nos meus lábios, que de imediato abriram-se e desejaram engoli-lo, outro ato que ele não permitiu pois, no próximo minuto, já estava fechando o cinto da sua calça e acendendo outro cigarro.

"Venha para casa, Janeiro." - ele disse, colocando uma de suas mãos no meu rosto, talvez por respeito, talvez por ódio, talvez segurando a tensão dentro da sua cueca, talvez por saber que eu diria sim de qualquer forma.

Dessa vez, eu concordei com a cabeça, larguei sua mão e me ajoelhei.

Minhas mãos ainda adolescentes abriram o seu cinto e retiraram a sua calça novamente. Meus dedos frágeis tremiam ao tocar a sua pele, mas mesmo assim eu permiti que eles mergulhassem novamente em toda luxúria que ainda restava entre aqueles dois seres perdidos no mundo.

   Esse é o inferno então? eu pensei ao sentir suas mãos empurrando a minha cabeça e apertando o meu cabelo.

* *

Venha para casa, ele disse. Não foi um frio "venha para a minha casa" e nem um "venha para a nossa casa" que poderia ser considerado a luz no fim do túnel. Foi um simples convite, uma abertura de porta, um tesão acumulado.

Então eu obriguei o meu corpo a segui-lo mesmo sabendo que aquilo não seria difícil de fazer. A parte difícil ainda estava por vir e as humilhações não parariam por ali.

Mas eu jurei.

Jurei para o meu reflexo no espelho do seu banheiro que jamais me colocaria naquela posição novamente. Eu jamais amaria outra pessoa, faria uma nova amiga, tomaria um café com leite ou serviria cerveja em um bar.

Acorde, Janeiro, você está vivendo, eu disse.

Não é um processo fácil e as cicatrizes nunca vão sair do seu corpo. Demora e machuca. O seu coração não vai parar de bater porque você pediu. Seu sangue não parará de circular.

Aceite. A existência e si nunca foi leve, ela suga toda força que você achou que um dia havia encontrado dentro de si. É como areia nos olhos, só para de incomodar quando alguém é capaz de assoprar.

Todos merecemos muito mais do que a existência, você sabe muito bem disso. Chegou sua vez de assoprar e ter medo faz parte.

Assopre e saia da droga de sonho que você acredita estar vivendo. Monstros são reais e a fome no mundo também. Existem pessoas que possuem menos que você e ainda assim conseguem ser melhores.

Sim, todo mundo te abandona, Janeiro. Seus pais biológicos, os adotivos, a cinquentona Eliza e, principalmente, aquele lugar que você nem tem coragem de escrever sobre.

Você é fraca, Janeiro. Você nem é a Janeiro. Você é a garota que sangrou em um homem que disse que te amava e te proporcionou mais um dos lares provisórios que você tanto lamenta perder.

Você é a mulher que ajoelhou e chupou esse mesmo homem após ele te tratar como uma de suas prostitutas. E ah, além disso, você é a mulher que faz parte de um plano para colocá-lo na cadeia por um crime que você nem tem certeza que ele cometeu.

"Janeiro, acorde!" - uma mão percorreu meu rosto em uma tentativa gentil de me ligar ao mundo real.

Isso mesmo, Janeiro, acorde.

Você não é melhor do que o Oliver.

* *

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Obrigada por acompanhar!❤️

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