Capítulo 31

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Eu podia senti-lo atrás de mim.

Eu conseguia escutar até mesmo seus batimentos cardíacos e sua respiração ofegante no meu pescoço fazia com que meu cérebro em completo pânico mandasse um único recado: você precisa dele todo, agora.

A versão mais resumida é a de que Oliver havia virado o meu corpo em uma mesa de madeira e antes que eu pudesse protestar as suas mãos já estavam dentro da minha calcinha.  A longa versão dos fatos deixaria mais claro que não houve nenhuma vontade da minha parte em protestar contra aquilo.

No toque dos nossos lábios a abstinência causada pela distância se mostrava poderosa demais. Quando finalmente fiquei nua e senti que ele estava da mesma forma, tentei me virar para senti-lo mais próximo, no entanto, mesmo que por um segundo ele deixasse meu corpo decidir as coisas, no próximo suas mãos já estavam me pressionando de volta na mesa.

Eu não poderia ter previsto aquilo quando o encontrei na saída dos fundos do Bar 21, certo?

Afinal, seu cabelo estava um pouco maior e a barba havia desaparecido. Seu rosto indicava um garoto com poucas horas de sono, mas o cheiro da sua colônia era tão real quanto o último orgasmo que ele me proporcionara em uma varanda.

Ele estava tão lindo quanto eu lembrava e devo dizer que em meus momentos de loucura pensei ter esquecido do real formato do seu rosto. Respirei aliviada ao perceber que eu ainda recordava cada detalhe. Eu garanto isso, todos os detalhes: barba ou não; insônia ou muito sono; cigarro ou whisky; colônia cítrica ou arrogância - eu conhecia cada detalhe daquele homem que finalizava seu cigarro me olhando como se fosse me matar.

Faça, Oliver. Eu mereço.

Talvez seja esse o pedido que eu deveria ter feito ao invés de direcionar o assunto para uma solidão que provavelmente só eu estava sentindo. Eu ainda queria lembrá-lo de como um dia eu pedi por sua distância e ele me provou que eu estava na realidade implorando o contrário.

Eu queria ter levado a sua carta para aquele dia de trabalho. Eu queria jogá-la na sua cara ou ao menos ter a oportunidade de pedir que ele a amassasse e deixasse apodrecendo na terra. Eu pediria mesmo sabendo que aquela terra seria a mesma que eu não tinha absoluta certeza se ele deveria estar pondo seus pés ou não.

Esteja tão mal quanto eu estou, Oliver.

Peça para eu ficar mesmo me pedindo para ir embora, eu sussurrei baixinho, não permitindo que ele me ouvisse.

Então, ainda encostado na parede em que expunha um cartaz indicando que o bar estava fechado, ele jogou o cigarro no chão e me chamou com seus dedos. Eu não tinha opções, sabia disso. Eu nem queria ter opções.

Atravessamos a porta juntos e com um chute ele conseguiu fechá-la.

Em um piscar de olhos, ali estávamos: quase transando em uma mesa de um bar vazio demais para contar nossas histórias após um expediente cansativo.

Mas aquilo não era exatamente correto, certo? Mesmo que a madeira encostando no meu corpo nu fosse extremamente excitante, mesmo que eu o amasse, mesmo que meu desejo, de alguma forma, tenha crescido mais ainda com a distância.

Não era certo, mesmo que eu quisesse desesperadamente ser sua novamente.

Eu ainda assim era a peça de um jogo, a garota com nome de mês que carregava um celular na bolsa ao invés dos seus habituais livros, aqueles que ela parecia ter esquecido nas prateleiras de uma casa em que não vivia mais.

Não éramos mais os mesmos da nossa primeira vez juntos. Ele não parecia estar perdido em suas decisões, pelo contrário, ele parecia mais do homem que eu achei que ele era no minuto em que meus olhos encontraram com o verde dos dele pela primeira vez.

Tornar-se Janeiro (em pausa)Where stories live. Discover now