Fallin' All in You

By KahMonteiro

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Emily Clark sempre acreditou no tempo exato das coisas, como quando você consegue chegar a tempo no ponto de... More

No princípio era uma proposta.
Não tome decisões no calor do álcool
A ressaca, a aceitação e o esbarrão.
A garota da porta vermelha.
Pedaço de coragem num papel.
O roubo do guarda chuva.
Talvez sejamos como Alpacas.
Fogos de artifício, Danny Zuko e Polaroides.
Porque não existe ninguém como Emily.
Elefante branco na sala de estar.
Shawn tem um presente.
Rotina solitária de um compositor.
Canção de hotel.
Moletom, galochas e uma playlist especial.
Terapia de banheira.
Alta dose de dopamina.
Café com sabor de laranja.
Um café, discos velhos e despedidas.
Terapia do plástico bolha.
O monstrinho verde do ciúmes.
Fritei sua cuca, então você cozinhou meu coração.
A epifania de Emily Clark.
Tempo, tempo, tempo, tempo.
O vôo do passarinho.
Para onde vão os corações partidos?

Dilemas de um irmão mais velho.

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By KahMonteiro


"Conheço seus olhos num sol da manhã
Sinto que me toca numa pesada chuva
E no momento que você vaga pra longe de mim
Eu quero sentir você em meus braços novamente."


Shawn Mendes

Enquanto Emily estava no banho, eu me certifiquei de procurar algo confortável para ela vestir; separei uma camisa de algodão, uma cueca boxer e outra jockey shorts, caso ela quisesse usar como short. A ideia de convidá-la para ficar aqui foi totalmente de improviso, quando falei que precisaria ir na casa dos meus pais e ela mencionou ir embora, eu apenas não pude lidar com a ideia de deixá-la ir, o que é totalmente insano, mas parece que do ponto que estamos, eu não tenho mais uma rede de segurança que me ampare da queda livre. Emily não sabe, mas tudo o que eu tenho feito desde que voltamos a nos ver, gira em torno dela. Aos pouquinhos, ela foi ocupando um espaço na minha vida que eu não tinha percebido estar vazio há um tempo.

E desde então tudo parece ter ganhado uma graça maior, tem aquele frio na barriga, a ansiedade de quando eu estou perto de vê-la, a saudade antecipada quando eu preciso partir ou o prazer da companhia dela. Sorrir se tornou mais fácil, compor se tornou mais fácil, sentir se tornou mais fácil.

- Shawn, você se perdeu em meio a todas essas roupas caras? - despertei do meu devaneio com a voz dela. - Caramba, eu sei que deve ser muito bom ficar admirando as próprias roupas, cujo o preço alimentaria toda uma nação de algum país pobre do oriente médio, eu também estaria fazendo isso se tivesse suas roupas, mas eu gostaria de me trocar.

- Você me acha tão fútil assim? - sua risada próxima, indicando que ela estava vindo até mim. Eu sabia que ela estava brincando, seu tom zombeteiro indicava isso.

- Não, para um leonino até que você é humilde. - me virei para ela já com as roupas em mãos. - Mas só um pouquinho. - Lily estreitou o espaço entre o polegar e o indicador, gesticulando baixa quantidade.

- O que eu posso fazer se sou irresistível?

- Acho que você quis dizer convencido. - ela retirou as roupas das minhas mãos e voltou para o quarto.

A coisa mais fascinante sobre Emily é sua naturalidade, a forma como tudo o que ela fala ou faz soa espontâneo e como isso passa totalmente despercebido por ela, me deixa encantado, como o fato de nesse exato momento, ela está tirando o roupão de banho bem na minha frente sem um pingo de vergonha. Ela não está se exibindo ou tentando me seduzir, não é algo pensado, ela apenas faz, porque se sente confortável na minha presença, e ter essa percepção me faz sorrir. Assisto Emily se vestir sem pudor, enquanto ela tagarela algo sobre o meu signo ao qual eu não estou dando a mínima, não posso prestar atenção em suas palavras quando tenho a visão de suas mãos deslizando uma cueca minha por suas pernas grossas e cobrindo seu traseiro perfeitamente redondo, subindo até os quadris largos. Não consigo prestar atenção porque meus olhos estudam as gotículas de água que os cabelos molhados deixam sob suas costas e em como elas deslizam com lentidão, passeando sobre alguns sinais espalhados por ali. Emily continua tagarelando, enquanto esfrega a toalha nos cabelos para secá-los, até mesmo a forma como ela faz isso é fascinante.

- Você tem as três marias. - solto antes que possa pensar.

- O que? - ela enrola a toalha nos cabelos e faz menção de se virar para mim, mas eu a impeço.

- As três marias do cinturão de órion, você as tem nas costas.

- Mintaka, Alnilan e Alnita você quis dizer? - ela virou o rosto para o lado de forma que eu pudesse ver seu sorriso presunçoso.

- Sabichona, é claro que você sabe. - Emily gargalhou baixo.

- Minha mãe sempre me contava histórias de como as três estrelas se alinham perfeitamente no céu, claro que a maioria ela criava da própria cabeça.

- Sei... - toco a região onde três pequenas pintinhas marrons estão perfeitamente alinhadas quase próximo ao ombro direito.
- São lindas. - a pele dela se arrepia com o toque dos meus dedos.

- Shawn... - a ouvi suspirar quando eu encostei meus lábios naquela região num beijo cálido, seguido de outro e depois outro subindo por seu ombro e depois para a sua orelha, mordendo o lóbulo. Não estava nos meus planos causar arrepios nela, mas sua pele estava tão macia e cheirosa que parecia efeito magnético atraindo minha boca. Girei seu corpo para que ela ficasse de frente para mim, seus seios se esmagando contra o meu peito fez um aperto agônico incomodar na minha calça. Ela estava excitada. E eu também. - Você vai se atrasar.

- O que são alguns minutos? - puxei sua cabeça em direção a minha, chocando nossos lábios em mais um beijo lascivo.

- Por mais que eu goste da ideia, eu não quero fazer você se atrasar para o almoço com os seus pais, eles devem estar com saudades e ansiosos por te ver. - ela beijou a ponta do meu queixo e depois meus lábios num selinho rápido. - Anda, vai se arrumar.

- Você vai ficar bem aqui?

- Claro, tenho uma cobertura inteira para desbravar, muitas gavetas para olhar, talvez eu ache o seu diário. - arregalei os olhos instantaneamente, o que fez uma gargalhada alta escapar de sua garganta. - Eu estou brincando, Shawn, vou apenas pedir algo para comer e checar alguns emails de trabalho no meu macbook que está na bolsa.

- Eu não me importo se você quiser conhecer melhor o apartamento, fique a vontade para olhar o que quiser. - ela sorriu de uma forma tão doce que foi impossível não retribuir. - Só lamento informar que eu não tenho um diário.

- Oh que pena. - ela forçou um suspiro tristonho. - Eu adoraria descobrir os segredos de Shawn Mendes.

Depois de me arrumar e pescar as chaves e carteira na mesinha de centro, me despedi de Lily e desci até a garagem, onde o meu jipe estava estacionado. O caminho até a casa dos meus pais não era tão longo, mas o suficiente para que eu pudesse aproveitar a liberdade que era estar no volante ouvindo alguma música e sentindo o vento entrar pela janela. Uma melodia agitada tocava no rádio, enquanto eu batucava os dedos no volante seguindo a melodia, a letra era sobre uma garota livre e automaticamente isso me fez sorrir. Incrível como estar apaixonado nos torna idiotas que associam tudo a pessoa amada.

Estacionei próximo a calçada da casa amarela, eu ainda tinha as chaves mesmo não morando mais ali, acho que no fundo mamãe sempre compreendeu a minha dissociação de casa e lar, pois não importa o quanto eu ame ter o meu próprio canto e o quanto eu ame a minha privacidade, era entrar aqui e sentir o cheiro do assado da dona Karen que me trazia a segurança do lar.

- Oi, alguém em casa? - chamei quando percebi o silêncio do lugar. - Mãe?

- Aqui na cozinha, querido. - a voz dela ecoou longe e eu segui na direção da voz. Ela estava retirando uma travessa da geladeira que eu logo reconheci ser sua famosa salada gelada. - Como foi a viagem?

- Tranquila, não tinha trânsito. - beijei sua testa e abaixei um pouco para receber seu beijo no rosto. - Onde está todo mundo?

- Aaliyah está no quarto dela e o seu pai já deve estar chegando da rua.

- Achei que estariam todos aqui, você estava tão empolgada para um almoço de família.

- Sim, mas eu imaginei que você fosse estar cansado da viagem, você até esqueceu de ligar para avisar que tinha chegado bem, por isso eu preferi um almoço só para a gente. - sorri sem mostrar os dentes, sentindo minhas bochechas queimarem de constrangimento. As imagens da noite passada voltando a minha mente.

- Sobre isso, me desculpa mãe, eu realmente esqueci.

- Está tudo bem, amor, eu sei que você tem uma vida agitada e precisa descansar no seu tempo livre. - ela parecia concentrada nas suas panelas, então eu apenas assenti enquanto virava um copo com água. Pelo canto do olho vi a minha irmã se aproximar.

- Você chegou à muito tempo? - neguei, escorando o copo na pia.

- A Emily não veio com você? - engasguei com a pergunta da garota.

- O que? Por que ela viria comigo?

- Sei lá, achei que vocês estivessem mais próximos. - ela mexia na ponta dos cabelos de forma desleixada.

- Sim, nós voltamos a nos falar, mas não entendo porque você deduziu que eu a traria para almoçar.

- Não sei, devo ter tido a impressão de que vocês andavam inseparáveis de novo, ou sei lá, devo ter visto em algum lugar. - minha irmã sempre foi sutil como uma mula, claro que essa conversa toda não veio do nada, Aaliyah não dá ponto sem nó.

- De onde você tira essas coisas?

- olhei para a minha mãe e ela estava com um sorriso contido nos lábios. Ela sabia. - As fotos.

- As fotos. - minha irmã repetiu, cruzando os braços. - E então, vocês estão se vendo bastante desde a festa no seu apartamento?

- An... Sim, quer dizer, a gente mantém o contato.

- Claro, claro. - ela estava me sondando, Aaliy sabe que eu não sei lidar com questionamentos, sempre fico nervoso e acabo contando tudo. - Ela dormiu lá no dia das fotos? Ela estava com as suas roupas, não é?

- O que?

- Chega disso Aaliyah, deixe o seu irmão em paz. - mamãe veio em meu socorro e eu respirei aliviado. - Eu fico muito feliz que vocês estejam bem, querido.

- Obrigado mãe, ter a companhia da Emily de volta tem sido muito bom para mim.

- Vocês sempre fizeram bem um ao outro, era questão de tempo até ficarem juntos. - ela me olhou com aquela cara de quem sabe de tudo e sorriu com doçura. - É uma amizade muito bonita.

Meu pai chegou pouco tempo depois e o almoço percorreu tranquilo entre conversas e risadas, o nome de Emily não foi mais tocado durante toda a refeição, o que eu agradeci mentalmente. Depois da sobremesa, ajudei Aaliy a retirar a mesa e arrumar a cozinha, enquanto os meus pais lavavam e guardavam a louça.

Já faziam uns cinco minutos que Aaliyah estava me encarando desconfiada, eu sabia que ela queria perguntar, estava apenas esperando o momento oportuno, mas eu continuava a ignorando. Enviei uma mensagem para a Lily perguntando se estava tudo bem por lá e acabei sorrindo quando ela me enviou uma foto com um prato de macarrão no colo e o polegar erguido em sinal de joinha.

- Vocês transaram. - me assustei com a voz da minha irmã que agora estava sentada bem ao meu lado me encarando com um sorriso presunçoso.

- Meu Deus, Aaliy, quer me matar do coração? Do que você está falando?

- De você e da Emily, vocês transaram.

- De onde você tira essas coisas? E desde quando você fala isso?

- Isso o que? Transar?

- Aaliyah!

- Qual é Shawn, todo mundo transa ou vai transar um dia, quem te vê horrorizado assim até pensa que você não transa.

- Meu Jesus, você é só uma criança, não devia estar falando essas coisas. - ela revirou os olhos, fazendo pouco caso das minhas palavras.

- É sério isso? Não seja idiota, Shawn, falar sobre sexo é a coisa mais normal hoje em dia, tem que ser levado com naturalidade e não como se fosse um grande tabu, além do mais, eu já tenho quase quinze anos, não é como se eu não tivesse aulas de educação sexual na escola.

- Tudo bem, mas eu não preciso ter essa conversa com você e idealizar que em pouco tempo você vai ter um namorado com quem irá fazer coisas.

- A palavra é sexo, Shawn, cresça. - apertei os olhos tentando afastar qualquer mínima ideia da minha irmãzinha com um namorado a tocando cheio de malícia. - Você sabe que está sendo sexista, não sabe?

- Me desculpe, mas é muito mais fácil quando não é a sua irmãzinha que está lhe fazendo pensar sobre a futura vida sexual dela.

- Tudo bem, a gente pode falar da sua se você preferir. - ela deu de ombros se ajeitando melhor no sofá. - Faz tempo que você está transando com a sua melhor amiga?

- Francamente Aaliyah, a mamãe sabe que você fala essas coisas? Aposto que ela não ficaria nada contente em saber disso.

- Tudo bem, mas eu aposto que ela ficaria bastante contente em saber que você está levando a neta da vizinha barra amiga dela, para a cama.

- Aaliyah!

- Shawn! - ela sorriu parecendo se divertir com o meu constrangimento. - Qual é? Eu sou sua irmãzinha querida, nós não temos segredos, lembra? - suspirei derrotado, afundando as minhas costas no sofá. Ela não me deixaria em paz até arrancar toda a verdade de mim.

- A gente se beijou na noite anterior a minha viagem para Nova Iorque. - Aaliy se ajeitou melhor ao meu lado, para ouvir a história. - Não me pergunte como isso aconteceu, só parecia tão certo, sabe? Ela disse que nunca poderia me esquecer mesmo se quisesse e eu me senti o cara mais sortudo do mundo.

- E agora você voltou e vocês ficaram juntos? - assenti sem olhar para ela. - E...?

- E aí que ao contrário do que eu pensei, ela não fugiu. Ela estava lá quando eu acordei pela manhã e ela continua lá.

- Como assim?

- Estávamos juntos quando mamãe ligou, tínhamos acabado de tomar café. Eu pedi para que ela me esperasse voltar. - virei meu celular, mostrando a foto de Emily e seu prato de macarrão, para a minha irmã. - Eu viajo para a Jamaica amanhã e eu não sei como vai ser daqui em diante, mas eu precisava... Eu preciso de mais tempo com ela.

- E vocês já conversaram sobre isso? - neguei, agora encarando a foto estampada na tela do meu aparelho. - Como assim vocês não conversaram?

- Eu não sei, sinto que ela ainda não percebeu a seriedade desses sentimentos. - engoli em seco antes de falar o que eu vinha negando para mim mesmo. - Eu não sei se ela gosta de mim da mesma forma, Aaliy.

- E de que forma você gosta dela? - eu sabia que ela só estava querendo me arrancar uma confissão, porque os meus sentimentos por Emily estavam estampados na minha testa. Ainda assim, não me fiz de rogado.

- Eu estou apaixonado por aquela garota, apaixonado como um adolescente idiota.

- Ei!

- Sem ofensas. - ela estapeou as costas da minha nuca, mas acabou rindo. - E então, você acha que eu devo contar para ela de uma vez?

- E assustar a garota? Claro que não.

- A Camila acha que eu deveria me declarar e ser honesto.

- Isso porque a camila vê tudo como um conto de fadas. Mas você conhece a Emily, você sabe que no fundo só vai assustar ela, você mesmo disse que ela não tem noção ainda dos próprios sentimentos.

- Eu disse que não sei se ela me corresponde.

- Vai por mim, ela não estaria te esperando no seu apartamento se não sentisse nada. - ela piscou e eu acabei a puxando para um abraço.

- Desde quando você ficou tão esperta?

- Desde sempre?! - suspirei, me convencendo de que a minha irmãzinha estava crescendo e que isso era algo do qual eu não tinha controle. Logo Aaliyah iria para a faculdade e seria cada vez menor o nosso tempo livre.

- Como você está, Aaliy? Como tem ido as coisas?

- Entre garotas suspirando no meu ouvido por você e tentando se tornar minhas amigas por achar que terão alguma vantagem, eu vou sobrevivendo.

- Sinto muito por isso, maninha.

- afaguei seus cabelos, me sentindo culpado por causar aquela situação na vida dela. Eu odiava ter de expor as pessoas ao meu redor a minha fama. Não era justo interferir na vida dela dessa forma.

- Quer saber de uma coisa legal? A treinadora me elegeu a co-capitã do time, o melhor foi ela ter deixado claro que estava fazendo isso apenas pelo o meu bom desempenho na última temporada, mas que eu me mantivesse em forma ou estaria no banco. - olhei para a minha irmã e ela tinha um sorriso genuíno no rosto. Era sempre assim quando se tratava do hóquei. - Eu gosto quando as pessoas não me tratam com privilégios só por ser irmã de um cantor famoso.

- E eu gosto de te ver animada desse jeito. - ela não precisava saber que eu me sentia mal por saber que muitas pessoas se aproximavam dela apenas para adquirir vantagem.

- A Mishya disse que em breve não será mais a Aaliyah irmã do Shawn Mendes, o astro pop, e sim Shawn Mendes o irmão da Aaliyah Mendes, a capitã de um dos maiores times da superliga de hóquei.

- Continue amiga da Mishya, ela é muito sábia. - Aaliyah gargalhou, se aconchegando mais a mim.

- O sonho da Briar parece um pouquinho mais perto agora, Shawny. - beijei o topo de sua cabeça, apertando mais ela a mim. Aaliy já não era mais o bebê que eu pegava no colo com facilidade, ela estava crescendo e sonhando seus próprios sonhos, isso me deixava melancólico.

Ficamos alí apenas aproveitando a companhia um do outro, enquanto conversávamos amenidades, ela quis saber mais sobre a Emily e eu, então acabei lhe contando alguns dos últimos acontecimentos. Aaliy me contou com empolgação sobre o seu último jogo, ela tinha sido a maior marcadora da partida e eu, claro, me sentia muito orgulhoso da minha garota prodígio.

- E então, você fica para o jantar, querido? - mamãe apareceu na sala, sentando na outra ponta do sofá.

- A gente pode assistir a reprise do jogo dos Maple Leafs que vai passar na TV. - Aaliyah sugeriu animada.

- Eu adoraria, mas não vai dar, eu viajo amanhã para a Jamaica, esqueceram?

- Ué querido, seu vôo é só no fim da tarde, certo?

- Certo, mas é que... - olhei para a minha irmã torcendo para que ela entendesse e me ajudasse a fugir do interrogatório desconfiado. Aaliy ergueu uma sobrancelha confusa para mim e eu revirei os olhos em resposta.

- Shawn, você vai continuar trocando um olhar esquisito com a sua irmã, ou vai me dizer o porquê não pode ficar?

- Eu preciso ir, mamãe, está ficando tarde e eu tenho umas coisas para fazer.

- Que coisas tão importantes são essas que te deixou todo apressado? - dona Karen cruzou os braços, desconfiada.

- Ele tem que fazer as malas. - Aaliyah quase berrou antes que eu pudesse responder. - Acredita que o idiota esqueceu de fazer as malas? - ela sorriu nervosa e eu também.

- Meu filho, quantas vezes eu já te expliquei que você precisa fazer suas malas com antecedência? Nunca se sabe o que pode esquecer ou precisar.

- Tudo bem, mãe, é que desde que eu cheguei, não tive muito tempo. - Aaliy tapou a boca, abafando uma risada e eu a olhei feio.

- Tem certeza que não fica para o jantar? Eu vou fazer macarrão a bolonhesa, é o seu predileto.

- Eu tenho mesmo que ir, na verdade já até estou atrasado. - me levantei depois de beijar a testa da minha irmã e fui abraçar minha mãe. - Prometo que eu volto com mais calma quando chegar de viagem, fico até para dormir se você quiser.

- Tudo bem, querido, só não deixe de dar notícias, eu fico preocupada. - ela me apertou pela cintura, intensificando ainda mais o abraço. Ficamos assim alguns segundos até ela afrouxar o abraço e me acompanhar até a porta.

- Dê um beijo no papai por mim. - meu pai precisou sair logo após o almoço para resolver algumas pendências na rua.

- Darei. - ela me abraçou novamente, dessa vez deixando um beijo estalado na minha bochecha. - Da próxima vez, traga a Emily.

- O que? - minha expressão devia ser a mais assustada no momento, mas a minha mãe apenas abriu um sorriso genuíno e piscou um olho.

- Eu não sou boba, Shawn. Eu não sou boba.

Dito isso, a mulher entrou de volta em casa com toda a serenidade do mundo, enquanto eu permaneci parado alí com a maior cara de idiota. Como eu pude pensar que conseguiria esconder algo da dona Karen? A mulher parecia enxergar até a minha alma.

(...)

O caminho de volta para casa foi tranquilo, eu sentia saudades da minha família a maior parte do tempo, então era bom poder ter esses momentos com eles, mesmo que rápidos para recarregar as minhas baterias.

Assim que entrei em casa, senti um cheiro bom de comida, eu não sabia identificar ao certo o que era, mas meu estômago não demorou a dar sinais de vida.

- Lily? - chamei, notando que estava um silêncio absurdo no lugar. - Emily, você está aí?

- Na cozinha. - ouvi a voz dela e segui o som. Assim que entrei no lugar, vi ela tirar um refratário do microondas e por sob o balcão.

- Que cheiro bom, é lasanha?

- Sim, frango e molho branco. - ela finalmente olhou para mim e sorriu. - Ei, como foi com os seus pais? Estão todos bem?

- Foi incrível, e sim, estão todos bem. - retribui o sorriso me escorando na bancada da ilha. - Você quem fez?

- Você quer a mentira ou a verdade? - ela fez uma careta da minha risada. - Eu pedi no restaurante do senhor Lima, essa é uma receita de família.

- Parece gostoso. - como se entendesse o que eu disse, o meu estômago fez outro barulho, dessa vez mais alto.

- Eu ia te perguntar se você está com fome, mas acho que já tenho a resposta. - ela ria de mim sem nenhum constrangimento. - Você coloca a mesa e eu vou tomar um banho. - Emily girou o pescoço na tentativa de aliviar alguma tensão na muscular.

- Leve o tempo que quiser. - sorri para uma Lily com cara de exausta.

Enquanto Emily foi até o banheiro, eu lavei as mãos e coloquei a mesa, aproveitando para tomar um banho rápido no quarto de hóspedes. Assim que saí, a gente acabou se esbarrando no corredor.

- Eu peguei outra roupa sua, espero que não se importe. - analisei a garota de cima abaixo, vestida em uma das minhas camisas de algodão e um shorts de elástico. Ela parecia tão confortável e íntima que eu me senti instantaneamente feliz.

- Está tudo bem por mim.

Comemos em meio a conversas descontraídas, Emily me contou que aproveitou a tarde para colocar algumas coisas do trabalho em dia já que ela estava aqui desde sexta a noite, e como sempre carregava seu macbook na bolsa, não teve grandes trabalhos para se ocupar. Devoramos mais da metade da lasanha que estava muito boa, a sobremesa foi mousse de doce de leite, também do restaurante do senhor Lima, estava tão saboroso que eu quase comi tudo.

Depois de bem alimentados, fomos para a sala e eu me joguei no sofá, enquanto Emily se sentou entre as minhas pernas, repousando as costas no meu peito. Era o nosso primeiro contato físico desde que eu voltei da casa dos meus pais.

- E então, você quase não falou de como foi com a sua família. - ela entrelaçou nossos dedos distraidamente.

- Eu te disse, foi incrível.

- É, mas você não pareceu tão empolgado e ficou quieto a maior parte do jantar, o que primeiro eu achei que fosse culpa da fome, mas agora já não acho que seja. - suspirei, levando a minha mão livre até os olhos e os esfregando.

- Hoje eu conversei com a Aaliyah. - comecei meio sem saber que rumo tomar. - E ela está crescendo.

- Não acredito que você faz o tipo irmão ciumento que vai pegar no pé dela por conta dos namoradinhos. - ela sorriu parecendo se divertir com o meu tormento.

- Não, não é isso. Quer dizer, é também, mas eu estava falando de outro tipo de crescimento. - apertei nossa mãos entrelaçadas. - É que hoje eu percebi o quão rápido o tempo está passando.

- Shawn...

- Aaliy sempre foi a minha princesinha, eu pedi ela para os meus pais, eu a desejei com todo o meu coração e agora eu sinto que estou perdendo tudo, todas as suas conquistas. Eu não consigo ir aos jogos, eu tenho perdido suas partidas e os eventos escolares, eu sequer estou lá para animá-la quando ela chega chateada com algo da escola ou algum jogo ruim. - bufei me sentindo irritado com toda a situação. - Hoje ela me contou que foi eleita a co-capitã do time de hóquei da escola e ela está tão feliz com essa nova fase, eu sinto que não estou lá o suficiente para ela.

- Mas você está, Shawn. - Emily se virou para me encarar. - Você é o irmão mais velho mais incrível que eu conheço.

- Eu amo cantar, esse é meu sonho e eu estou o vivendo intensamente, mas às vezes sinto que ele tem arrancado muito de mim.

- Ei, você não deveria pensar assim. - ela afagou meu braço, me passando apoio. - Se você não fosse um cantor famoso, você seria um universitário e estaria tão atolado de trabalhos da faculdade, preocupado com as contas da república ou com o seu colega de alojamento, que você também não estaria lá por ela, entende? Não importa se você é cantor ou estudante da universidade de Toronto, Shawn, não é a sua presença física que define o seu apoio e cumplicidade com a Aaliyah. É o seu afeto.

- Eu sei, mas ainda assim não posso deixar de sentir esse vazio por não estar sendo o irmão que ela merece. - me ajeitei melhor no sofá. - ela está prestes a ingressar no ensino médio e logo os campeonatos renderão oportunidades a ela e os olheiros estarão de olho na minha irmãzinha, então ela entrará para a faculdade e tudo será ainda mais difícil.

- E você estará lá por ela, não importa em que parte do mundo esteja, você se orgulhará da sua irmã e mostrará todo o seu apoio a ela. Shawn, eu nunca vi uma relação de irmãos mais bonita que a de vocês, não ache nem por um momento que o seu sonho está entre vocês dois.

- Eu só não quero que ela pense que eu a estou deixando para trás. Ela é a pessoa que eu mais amo no mundo.

- Me responde uma coisa: você apoia os sonhos dela?

- Totalmente! O maior sonho dela é ir para a Briar, ela quer jogar pela universidade. - não contive o sorriso besta de orgulho enquanto falava. - Você precisa ver ela falando sobre, é tão bonito vê-la sonhar.

- Deve ser a mesma coisa que ela sente quando ouve você falar da música. - sorri, entendendo onde ela queria chegar. - Não se cobre tanto, vá aos jogos quando puder, vista a camisa da sua irmã e sonhe os sonhos dela com ela, mas o mais importante ela já tem; ela tem o seu apoio e amor, e ela sabe disso.

- Você é incrível, sabia?

- O que posso fazer? É o meu charme. - cerrei os olhos para ela, girando nossos corpos no sofá, ficando por cima enquanto lhe dava um ataque de cócegas. - Para Shawn!

- Não sei, você anda muito convencida. - Emily continuava gargalhando alto e esse era um dos melhores sons que os meus ouvidos já tinham escutado. - Me diga, Lily, quem é o seu crush da música?

- Harry Styles. - ela respondeu entre risadas e eu intensifiquei as cócegas.

- Resposta errada. - continuei as cócegas, rindo da risada escandalosa da garota.

- Harry...

- O que disse? Eu não ouvi.

- Ai... Harry... Shawn...

- Quem?

- Você... Você é... Para Shawn... - parei os movimentos, apoiando meus cotovelos no sofá, enquanto ouvia o som melodioso da respiração descompassada de Emily.

- Assim está melhor. - aproximei meu rosto do dela. - Bem melhor.

- Isso é trapaça. - ela envolveu o meu pescoço com os braços e eu descansei um pouco do meu peso em cima dela. Emily entreabriu um pouco as pernas e dobrou o joelho esquerdo, fazendo eu me encaixar ali.

- Não. Isso é trapaça. - ela sorriu, me puxando para um beijo ardente.

Ficamos ali, trocando caricias hora ousadas hora inocentes, até Emily pedir para ver um filme, mas claro que na metade ela já estava babando na minha camisa. E antes de acordá-la para ir para a cama, eu apenas observei sua respiração suave e as bochechas coradas, desejando gravar cada pedacinho dela na mente para levar comigo durante o tempo em que eu estivesse fora. Eu sequer tinha partido e já não via a hora de voltar.

Encarei a andorinha bem delineada no dorso da minha mão e sorri com a ironia de que agora ela fazia mais sentido do que nunca.






VOLTEEEEEEEEI!
Desde já eu peço desculpas por possíveis erros, estamos trabalhando para melhor atendê-los. Gente, vocês não sabem o parto que foi para soltar esse capítulo, mas eu estava ansiosa para voltar com a história.
Então, me digam o que acharam do capítulo e continuem tendo paciência que aos pouquinhos a gente vai voltando. Aliás, aproveitem os dias de glória do nosso casal, porque os de lutas estão chegando.
É isso, espero que gostem e não esqueçam de votar e deixar suas opiniões, é muito importante.

Beijos <3

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