VERSUS

De abrunacruz

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Jessica Corinne nunca soube lidar bem com suas emoções. Por isso, quando ela e seu melhor amigo decidiram ter... Mais

PRÓLOGO
α͵
β͵
γ͵
δ͵
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ζ͵
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θ͵
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Let's be bad together (Especial de Ano Novo)
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Epílogo
+

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De abrunacruz

Você já teve que esperar notícias de algum parente ou amigo em estado crítico no hospital? Cada pequeno sinal de movimentação tira sua calma, os minutos passam com uma lentidão de outro mundo e tudo que você quer é ouvir as palavras. Aquelas palavras que irão te fazer suspirar de alívio, levantar com tudo e gritar: "É ISSO AÍ! NÓS VAMOS VIRAR ESSE CAMPUS DE CABEÇA PARA BAIXO".

Pelo menos, essa era a fala que eu vinha planejando há algum tempo. E sim, eu sabia que tinha capacidade de criar algo infinitamente melhor.

Ok, talvez comparar a minha espera e da Ashley com a espera em um hospital não fosse a coisa mais legal a se fazer, mas eu não conseguia pensar em muitas outras coisas que chegassem perto daquela aflição.

Ashley e eu estávamos sentadas quietas, apenas observando toda a movimentação, pois Nikki havia nos proibido de falar mais, visto que passamos uma boa hora fazendo uma senhora apresentação do nosso "projeto". Mantínhamos certa distância porque não queríamos forçar simpatia: não éramos a pessoa preferida uma da outra e já havíamos passado tempo demais juntas nos últimos dias nos preparando para a bendita reunião que levou mais de uma semana para ser confirmada. Isso porque a casa inteira estava cheia de provas e trabalhos acontecendo, eu inclusive, mas tinha minhas prioridades (talvez me arrependesse delas no futuro, com a chegada das notas).

Quando nós terminamos tudo que tínhamos a dizer, acabamos descobrindo que haviam milhares de opiniões, dúvidas e incertezas entre todas aquelas garotas, o que resultou em muita falação e ordem nenhuma. Nós tentamos responder algumas coisas aqui e ali, porém tínhamos que ser honestas: não conhecíamos muitas das respostas, estávamos dando um tiro no escuro e torcendo para que não saísse pela culatra.

Então, depois de muito vai e volta, a Julie sugeriu que todas colocassem um pouco da democracia daquela casa em prática e votassem, cada uma com seu papelzinho e sua caneta, cada uma com a sua opinião, independente de todos os receios. Depois disso, tudo que podíamos fazer era sentar e esperar, pois os nossos posicionamentos já eram bem óbvios. No máximo, pegar uma água na cozinha porque a indecisão naquele ambiente era grande.

— Só mais dois minutinhos, pessoal. Não temos a tarde inteira. – Nikki anunciou e eu tive que conter a vontade de bufar de tédio, optando por olhar a hora no meu celular ao invés disso.

Constatei que eu ainda tinha alguns bons minutos de sobra para não me atrasar para o meu compromisso seguinte. Só esperava que as garotas colaborassem comigo.

Três minutos depois – porque eu contei todos os segundos –, a votação foi oficialmente encerrada e as garotas começaram a contagem. Eu estava confiante. Depois de tudo que havíamos presenciado nas últimas semanas, era difícil acreditar que alguém iria contra o nosso plano. No entanto, eu tinha que manter em mente que estávamos dando um passo gigantesco, que significava bater de frente com uma montanha de ideias erguida durante anos e que nos trouxe até esse lugar, essa casa, a essas pessoas.

Suspirei. Aquela situação era extremamente frustrante.

— Acho que tenho tudo aqui. – Julie murmurou consigo mesma, fazendo com que Ashley e eu nos levantássemos imediatamente em expectativa. – Só tô conferindo. – murchei novamente. Se o assunto não fosse sério, eu a acusaria de fazer algo assim de propósito, já sabendo o quanto me irritaria.

Pelo menos eu não era a única ansiosa. Mina estava a ponto de ser estapeada pela namorada por não sair de cima dela, tentando ver todos os votos e fazer sua própria contagem.

— Vamos lá, Julie! Nós temos pressa! – reclamou.

— Pronto! Eu em...

Ela deu alguns passos e sussurrou apenas para a Nikki o resultado, o que me fez querer revirar os olhos por impaciência. Tive que me lembrar um tanto de vezes que uma atitude ruim não me levaria a lugar algum... Não naquele lugar nem naquele momento. No entanto, poderia sempre repensar isso em outras horas.

— Tá bom. – Nikki disse e então pigarreou, se preparando para o grande anúncio. – O resultado não foi unânime, o que é uma pena, mas... Bem, vocês já sabem que podem se envolver se quiserem, quando quiserem e o quanto quiserem. O sim venceu... Nós vamos fazer isso.

Dessa vez, ela nos mostrou todas suas incertezas ao dar o resultado. Talvez porque os riscos fossem maiores. Não era mais uma briguinha com alguns garotos – que atualmente todas tentávamos ignorar de tão infantis que elas soavam perto disso –, envolvia um milhão de coisas que nós mal conhecíamos e atitudes que não tínhamos certeza se sabíamos tomar. Agora, descobriríamos de uma vez só.

Nós até comemoramos com certa cautela, sem saber se havia realmente algum motivo para isso. Eu gostava de pensar que sim, apesar de duas palavras tomarem a minha mente: e agora? Precisávamos de um próximo passo. Ashley e eu trabalhamos na ideia, pensamos no resultado final, mas adiamos ao máximo o como.

Felizmente ou não, a própria Katy nos deu algo para nos preocuparmos antes.

— Vocês disseram que um dos nossos objetivos é fazer a nossa causa crescer, certo? Para outras casas, universidades... – nós assentimos rapidamente. – Não seria melhor já começar como um grupo grande?

— O que quer dizer? – Ashley questionou. – Se nos dedicarmos a conquista de novas pessoas e não ao problema em si, as chances do que aconteceu esfriar são muito grandes.

— Eu sei, eu sei. É que nós temos algumas pessoas que já nos conhecem, gostam de todas nós ou pelo menos gostavam, já foram nossos parceiros... – ela sugeriu, dando uma olhada bem sugestiva para a Nikki.

— Ah, não! – exclamou, se levantando em protesto. – De jeito nenhum! Eu faço o que você quiser, Katy, mas não vou pedir ajuda para a Lambda. Não precisamos deles, são uns babacas!

— Mas eles não são! A situação toda era idiota, nós também não fomos muito legais com eles, só precisamos passar por cima disso.

— Não dá, esquece! No máximo, eles vão rir da nossa cara por sermos inocentes o suficiente para aparecer na porta deles.

— Vão mesmo, Nikki? Eles já foram muito bons para a nossa casa no passado. Eu sei que nem todos ali vão gostar da ideia, mas se uma minoria nos apoiar, nossos números já aumentam. Será que não somos maduras o suficiente para deixar o orgulho de lado e dar esse passo, ainda que não dê certo? Quer dizer, se até a Jess conseguiu resolver seus problemas com o Thomas, por que nós não conseguimos também?

Dei um passo para trás, definitivamente não querendo ser parte daquele argumento. E então veio o silêncio.

Todo o resto observava o pequeno debate. Por mais interessante que aquilo fosse, eu também não tirava os olhos do relógio. Agora, sim, eu estava atrasada e tinha que resistir ao impulso de não sair correndo.

— Eles não são maduros. – Nikki disse, engolindo em seco.

— Tudo bem. Então nós só vamos nos mostrar superiores mais uma vez. Vale o risco, não?

Nikki pensou muito e em momento algum passou a responsabilidade pela decisão para nós. Ninguém falou nada também, o que era ótimo, ou uma guerra de opiniões se instalaria naquela sala novamente e eu não tinha mais tempo para isso.

— Vou cuidar disso. – disse por fim, arrancando pulinhos de felicidade da nossa Katy.

Eu nem mesmo tinha opinião sobre o assunto. Tudo que eu pensava era que nós precisaríamos de todo o apoio possível, ainda que viessem de caras... aqueles caras.

Só pude sair alguns minutos depois, quando Nikki encerrou oficialmente a nossa reunião. No entanto, fui parada antes que chegasse na porta da frente.

— Onde pensa que vai? Temos que trabalhar no que vamos fazer a partir de agora, criar cronogramas, prazos e tudo mais. – Ashley disse, me fuzilando com o olhar pelo meu quase escape.

— Ah... Eu tenho um compromisso, coisa rápida. Tô de volta em uma, duas horas no máximo. – respondi, tentando soar simpática.

Eu iria de qualquer maneira, ela nunca me impediria, mas agora que tínhamos algum tempo de trabalho juntas pela frente, eu estava tentando manter uma relação mais ou menos pacífica com ela. Isso estava me custando muitas indiretas e muito rancor por parte da Mina, mas era o melhor a se fazer no momento.

— Você chama isso de coisa rápida?!

— Aham! Tchau!

Contornei seu corpo e corri para fora sem dar a ela a chance de me prender ali de novo. Eu havia feito minha parte, merecia uma recompensa e, sejamos sinceros, não estava pedindo muito.

O sol estava abaixando e um ventinho gostoso tornava a minha maratona um pouco mais confortável, mas ainda suada e cansativa. Por azar – já que as coisas estavam indo bem demais até aquele momento –, havíamos escolhido uma cafeteria afastada do campus. Em épocas de provas, elas ficavam especialmente cheias e não queríamos correr o risco de dar de cara com algum conhecido, ainda que não estivéssemos cometendo crime algum.

Eu sabia estar mais de vinte minutos atrasada, o que não era nada bom, porém não me surpreendi ao entrar no estabelecimento e encontra-lo sentado tranquilamente, deslizando o dedo pela tela do seu celular, nem um pouco ansioso pelo possível bolo. Os motivos eram simples: ele me conhecia bem, e não é como se ele tivesse algo melhor para fazer.

Para ser honesta, havia sim uma coisa: estudar, coisa que ele sempre necessitou de alguns empurrões para fazer devidamente. Eu costumava ser a responsável por isso, mas não voltaria a prestar esse papel. Thomas sobreviveu seu primeiro ano inteiro na universidade sem eu para fazer cobranças, criar cronogramas e me matar de encher o saco dele, não precisava mais de mim. Além do mais, era um pequeno detalhe que me fazia crer que não estávamos apenas fazendo o mesmo caminho que já havíamos percorrido incontáveis vezes anos antes.

— Você está atrasada. – Thomas acusou, sem erguer os olhos de seu smartphone.

— Dá um desconto, você sabia da reunião. As garotas me seguraram lá e por muito pouco, a Ashley quase me prendeu pelo resto da noite. – me defendi e ele assentiu. Não estava chateado nem nada, só gostava de dificultar a minha vida.

— Talvez as pessoas compreendam melhor suas escapadas se souberem o que diabos você está fazendo fora, não? – ele questionou, já me encarando e finalmente deixando o celular de lado. Dei de ombros.

Thomas e eu vínhamos saindo escondidos desde o nosso último "encontro oficial", as vezes para um bar qualquer, um passeio no shopping, uma balada ou apenas um café, como era o caso. Esconder aquilo dos nossos amigos não estava sendo necessariamente fácil, porém ainda parecia com a coisa certa a fazer. Estávamos nos dando bem, muito bem. Muitas vezes até melhor do que nos dávamos quando éramos apenas amigos e, ainda que eu me sentisse culpada por isso todos os dias, não gostava da ideia de incluir outras pessoas em nossa pequena bolha.

Pela primeira vez em muito tempo, nós conseguíamos conversar por horas sem entrar em uma discussão besta. Eventualmente o fazíamos, é claro, só pela diversão, mas era diferente. E bom. Poder sentir a falta dele em um dia que não sobrava tempo era, de certa maneira, bom.

— Só mais um pouco. – eu disse, apoiando o queixo em uma das minhas mãos e o olhando de uma maneira que ele não iria resistir. Pelo menos, nunca foi capaz.

Se quer saber, nas inúmeras vezes em que nos encontramos nos últimos dias não houve um beijo sequer. O mais perto que ele chegou foi da minha bochecha. Thomas tentou, muitas e muitas vezes, mas resisti em todas elas. Estava orgulhosa do meu feito porque eu tinha que admitir: não era nada fácil. Se eu parasse para pensar demais no assunto, admitiria também que era quase estúpido.

Lá no fundo, eu só estava tentando não estragar algo que caminhava perfeitamente bem.

Como previ, ele balançou a cabeça e riu.

Antes que pudéssemos dizer qualquer outra coisa, o garçom chegou para anotar nossos pedidos. Eu fiquei com um refrigerante e todo o gelo disponível naquele lugar e Thomas escolheu um suco natural. Porque nós éramos os tipos de pessoas que entravam numa cafeteria para tomar tudo, menos café.

— Não dava pra colocar pelo menos um pouco de açúcar? – ele riu mais uma vez, negando. – Você tá muito saudável ultimamente. No outro dia teve coragem de pedir o cardápio fitness na minha frente... O que aconteceu com a gente?

— Eu preciso me alimentar bem, estar em forma, Jess. Acho que as vezes você se esquece que eu tô no time da faculdade.

— Ah, mas eu não esqueço mesmo. – comentei, descendo rapidamente meu olhar para os braços que aquela camiseta não fazia jus.

Ele sorriu, levemente envergonhando.

— Tá... Eu vou ignorar isso vindo da garota que já me rejeitou tantas vezes nos últimos dias que perdi a conta. – eu estava pronta para protestar sobre aquele comentário, porém ele não permitiu. – Continuando... não vou poder ficar muito hoje, tenho treino daqui a pouco.

— Treino? São quase 19h00.

— Eu sei, mas as estaduais estão se aproximando e...

— As estaduais?! Você passou para as estaduais?! – exclamei na voz aguda que eu tanto odiava, mas eram as ESTADUAIS que poderiam leva-lo para as NACIONAIS!

— Sim...

AH MEU DEUS!!!

Eu não esperei que ele completasse sua frase, só joguei meus braços e corpo sobre a mesa para cima dele. Por sorte, ela era pequena e redonda ou eu teria feito alguns estragos. Ele me abraçou de volta, porém não tinha metade do entusiasmo que eu carregava.

— ... mais de um mês atrás. – completou, confuso.

Me afastei na mesma hora.

— Como assim mais de um mês atrás? – perguntei.

— Jess, a primeira eliminatória já até passou... – ele explicou calmamente para a garota que se mantinha de pé com a boca aberta a sua frente.

— O quê!? Onde é que eu estava para não saber disso? Aliás, por que você não me contou? Por que não me convidou para assistir?! – questionei, me sentando brava e frustrada.

Era bom que ele tivesse uma ótima desculpa porque as chances de nós já termos tido o tão temido diálogo na época eram bem grandes.

— Foi naquela semana que você estava super focada no caso da Katy e na reunião que teriam com a coordenação, pouco antes do nosso encontro. Eu não comentei nada porque achei que alguém tivesse te falado, sei lá... De qualquer maneira, a primeira fase não era aberta ao público.

Cruzei os braços, fazendo o bico de uma criança emburrada. Aquela explicação estava longe de ser suficiente.

O garçom escolheu esse momento para trazer nossas bebidas, provavelmente concluindo que éramos um casal de loucos, pois em um segundo eu estava abraçando-o e no outro, queria chutá-lo.

— Isso é uma palhaçada! Como espera que a nossa amizade retorne quando não me conta algo assim?

— Eu sei, eu sei. Me desculpe, eu devia ter comentado. – disse, se inclinando em minha direção. Quando não recebeu nenhuma resposta, ele pegou um dos meus braços e puxou para cima da mesa, segurando na minha mão. – Vamos lá! O que eu preciso fazer?

— Eu não te digo mais o que fazer, Thomas. Não vou cair nas garras do meu controle excessivo novamente.

Ele sorriu compreensivo e apertou minha mão.

— Que tal um convite para a piscina, então? Eu vou estar sozinho lá, você tá com calor...

Revirei os olhos.

— Sabe que nós temos uma piscina em casa, não sabe? Por que eu me daria o trabalho de atravessar o campus para ir em outra? – questionei, debochada. A resposta dele foi simples:

— Porque a outra tem a minha presença.

Eu ri bastante, nem um pouco a fim de deixar um ego desse tamanho passar livremente. Fiz piadas, zombei tanto que até esqueci do que que me incomodava segundos antes. No entanto, quinze minutos depois, assim que terminamos nossas bebidas, eu me vi atravessando a porra do campus ao lado dele.

O prêmio de trouxa do ano definitivamente seria meu.

Para ser honesta, os primeiros 40 minutos me fizeram acreditar que, no final das contas, aquela havia sido uma ideia muito boa. Thomas me emprestou uma bermuda leve que eu dobrei até virar um short mais ou menos decente e uma regata que eu só amarrei, me fazendo ficar parecendo um molequinho. A outra opção era ficar de calcinha e sutiã, mas esse passo eu não daria. Não naquele momento.

Enquanto isso, ele ficou com sua sunga, óculos, touca e um relógio para cronometrar o tempo. Era um pouco injusto, porém uma vez que ele entrou na água, foi possível ignorar.

Eu fiquei em uma das beiradas apoiada, eventualmente dando pulinhos para lá e para cá, brincando comigo mesma, enquanto ele ia e vinha, tão rápido que ficou chato tentar acompanhar. Apesar de todas as tentativas dele no decorrer dos anos, eu nunca me tornei uma boa nadadora. Sabia o suficiente para sobreviver em algum acidente, mas o desespero provavelmente faria a maior parte do trabalho.

Estava respondendo algumas mensagens da Ashley aborrecida pela minha demora – que nem havia completado duas horas ainda, diga-se de passagem – quando senti uma mão agarrar meu tornozelo. Eu sabia que era ele, tinha plena consciência de que estava segura, mas isso não me impediu de gritar pelo susto e tentar chutá-lo para longe, movimento que a água dificultou bastante.

— Vai assustar a tua mãe! – exclamei quando ele subiu, aparecendo com um sorriso besta na minha frente.

— Não preciso porque a minha mãe sabe se divertir quando está numa piscina. Vem! – disse, já me puxando e só me dando tempo o suficiente para jogar meu celular de qualquer jeito na beirada, ato pelo qual eu o faria pagar mais tarde.

— Eu só estava acalmando a Ashley, pelo amor de Deus. E eu brinquei bastante ali sozinha.

Ele riu.

— É, eu vi. Vi também todas as suas tentativas fracassadas de boiar. Pensei que eu já tivesse te ensinado isso.

— Belo treino você fez se ficou me assistindo o tempo todo. – cutuquei, apenas porque ele havia ofendido minhas técnicas flutuantes. – Eu sei boiar, tá legal? Só tô um pouco enferrujada.

— Ah, é? Vai lá então. – ele disse, se afastando e parando de braços cruzados para me observar bem.

Como se eu soubesse o que estava fazendo, eu respirei fundo, me esforçando para manter aquele ar ali, e joguei meu corpo para trás. Eu sou delicada como uma mula, então tudo que eu consegui foi começar a afundar e me debater toda em poucos segundos.

— Isso foi... Realmente impressionante. – ironizou depois de me ajudar a ficar de pé e estável novamente.

— Você sabe que eu sou péssima na água. – admiti. Na verdade, esse era um dos poucos fatos sobre mim que eu não tinha problema algum em negar. Thomas sempre foi o peixe da nossa relação e sempre seria.

— Vem aqui. Vou te ensinar pela vigésima vez. – falou, voltando a se aproximar. Dessa vez, vindo até um pouco perto demais para o gosto da pessoa que se encontrava constantemente tentando resistir a ele.

Eu tinha que dizer que aquela minha improvisação de look para piscina fazia um ótimo trabalho. Ali, tão perto de um Thomas sem camisa, molhado, com a respiração ainda rápida pelo cansaço, o que dava para o seu peito um movimento extremamente... Isso não vem ao caso. O meu ponto é: eu nunca permitiria que nosso terceiro primeiro beijo neste ano acontecesse enquanto eu estava vestida assim. Me chame de frescurenta, mas eu tinha coisas maiores em mente.

— Se eu morrer afogada hoje, quero que saiba que a culpa é toda sua. – eu disse com o sorriso mais ameaçador que eu tinha.

— Você pode morrer de muitas maneiras, Jessica Corinne, mas sabe que eu nunca permitiria que se afogasse comigo por perto.

Minha boca foi mais rápida que o meu cérebro e se abriu, pronta para falar algo muito esperto, porém eu não tinha nada.

— Tá... – fui capaz de balbuciar e ele riu da minha cara. Balançando minha cabeça rapidamente, eu me livrei daquele momento. – Vamos logo antes que eu desista disso.

— Certo... Deixa o seu corpo cair que eu vou te segurar, tá bom? – assenti, apesar de não amar a ideia, e fiz o que ele pediu. – Com calma... – disse lentamente, o que acabava por me irritar mais do que acalmar. Quando meu corpo ficou completamente na horizontal, eu senti suas mãos firmes embaixo e não gostei nada daquilo. Bom... Eu gostei bastante, na verdade, mas esse gostar não me agradava. – Respira devagar, enche o seu pulmão de ar. Acha que tá estável? Posso te soltar? – assenti novamente e ele o fez. Em dois segundos, eu estava toda estabanada tentando ficar de pé novamente.

— Tá louco?! Quase me matou!

— Não seja dramática. Você tá muito preocupada com a sua cabeça.

— É claro que tô! É por onde eu respiro, sabia?

Ele apenas ignorou meu ataque e continuou falando.

— Quando você força ela, acaba tencionando o seu corpo e começa a descer. Outra coisa: você pode respirar. Se estiver fazendo tudo certo, quando seu pulmão esvaziar, seu corpo vai cair levemente, mas nada que inspirar de novo não resolva. Precisa ficar calma. – revirei os olhos, deixando claro que aquela não era uma opção muito viável no momento. – Vamos tentar mais uma vez?

— Vamos... Eu acho.

Nós fizemos todo o processo novamente até que eu me encontrasse deitada, amparada pelos seus braços e com o rosto bem próximo do dele. Tudo isso resultava em uma Jessica nem um pouco calma.

— Vou demorar um pouco mais para te soltar dessa vez, ok? – balancei a cabeça, concordando. – Fecha os olhos. – o olhei com uma interrogação na cara, especialmente pelo seu tom de voz ter mudado drasticamente para um suave e terapêutico, mas ele apenas repetiu: - Fecha os olhos. – então eu o fiz. – Agora respira lentamente e presta bastante atenção no que você está fazendo. Inspira... Expira... Inspira... Expira... Sem pressa. Preste atenção no seu próprio corpo, como ele reage ao movimento da água, como ela reage a ele...

Aquilo era particularmente difícil de fazer porque focar em tudo daquela maneira também me fazia perceber que agora ele estava tão perto que eu podia sentir um pouco de sua respiração bater na minha bochecha. A partir desse momento, tudo começou, literalmente, a ir por água abaixo.

Toda a serenidade e controle que ele havia me ajudado a atingir desapareceram quando eu abri meus olhos e percebi que eu queria muito, mas muito mesmo, beijá-lo naquele segundo. Eu não estava nem um pouco preocupada com a minha instabilidade até que afundei o suficiente para perceber que os braços dele haviam parado de me sustentar há um bom tempo. Então, mais uma vez, eu estava me debatendo para tentar ficar em pé novamente.

Thomas, pego de surpresa pelo meu repentino desespero, agiu rápido, chegando a levar alguns tapas pelos quais eu teria que me desculpar mais tarde. Por fim, ele me ajudou a voltar para a sempre segura vertical com um mínimo de água de piscina no meu estômago. Estava longe de ser o ideal, porém era muito bom.

— Tá tudo bem? – ele questionou, ainda me segurando e claramente prendendo a risada.

Eu assenti, o encarando. Era mentira. Minha garganta queimava e a roupa mais desconfortável do mundo para se estar em uma piscina pesava. No entanto, eu ainda tinha em mente o quão doce ele me parecia no momento e o quão chamativo estavam seus lábios.

Acho que ele leu bem meu olhar porque sua vontade de rir foi embora rapidinho. Eu sentia meu coração querer sair pelo peito e um calor completamente inexplicável para duas pessoas que se encontravam dentro de uma piscina gelada. Não sabia se ele estava no mesmo lugar que eu ou se iria me jogar para longe a qualquer momento e essa dúvida foi a única responsável por me manter imóvel, apenas sentindo sua respiração agora ainda mais próxima.

Foi só quando ele se inclinou para me beijar que eu me lembrei: aquilo não podia, de jeito nenhum, acontecer neste momento. Não nessas roupas, não aqui. Então eu juntei todas as minhas forças e me afastei, sabendo que estava sendo uma verdadeira filha da puta que não sabia o que querer da vida.


Thomas' POV


Dei uma boa olhada na quantidade de livros e papeis que eu tinha na minha frente. Eu estava sentado ali já fazia uma hora e não gostaria de aumentar esse número para duas. Nunca havia sido o melhor estudante desse mundo, tinha a natação para me ajudar a completar aquilo que meu intelecto não dava conta, então para que começar agora, certo?

Relaxei na cadeira e peguei meu celular, percebendo em poucos segundos que aquela não havia sido uma boa ideia. Minha tela de bloqueio mostrou a imagem da Jess sorrindo tentando equilibrar seus próprios livro e papeis enquanto tirava a foto e imediatamente eu me senti culpado por desistir tão fácil. Ela me odiaria se soubesse que sua foto estava ali, mas eu estava tomando todos os cuidados necessários para que ninguém tocasse naquele aparelho além de mim.

Com um suspiro, eu ia voltar para os estudos por pelo menos mais uma hora quando alguém bateu na porta. Eu fiquei feliz até ver que a cabeça que surgiu ao abri-la foi a do Ryan. Ele havia deixado de ser alguém que eu suportava estar por perto há algum tempo.

— Ei, posso entrar? – perguntou, já dentro do quarto.

— Agora eu não tenho muita escolha, né?

Ele riu, nem aí para o fato de que eu não estava nem um pouco animado com a presença dele.

— Eu preciso de um favor, cara. – disse, se sentando em uma das camas. – Um grande favor.

— Ah, não, Ryan! Lembra da nossa discussão aquele dia? Você não me pede mais favores, eu já te fiz muitos deles. Chama outra pessoa, eu tenho que estudar.

— Eu preciso especificamente de você agora.

Eu joguei minha cabeça para trás, grunhindo em protesto. Por que eu fui o escolhido? Com tantos caras naquela casa merecendo o castigo.

— Tá bom, Ryan. Fala logo.

— Bom, é sobre a Nikki. Ela meio que me chamou para sair no sábado e eu aceitei. Espero que você esteja bem com isso porque se não estiver, não vai importar muito. Ela já me irritou muito no passado, você sabe, mas é a Nikki! Eu preciso que isso dê certo, Thomas!

Fiquei parado por alguns segundos, assimilando aquele momento. Estava dividido entre ficar ofendido pela audácia dele de não se importar e a surpresa pelo convite da Nikki. Aquilo não me parecia certo. Ela chamar o Ryan para sair? Não, definitivamente não soava certo.

— A Nikki te chamou para sair?! Tipo em um encontro? – questionei.

— Sim! – respondeu animado, até que um segundo depois sua expressão mudou para a desconfiança. – Não tá com ciúmes, né? Qual é, Evans, vocês não estão juntos faz um tempo e eu já te vi passeando por aí com outra. Não pode querer todas elas.

Arregalei os olhos.

— Você me viu com quem?

— Não reconheci, estavam longe demais. Mas esse não é o ponto: chegou a minha vez! Eu vou sair com a Nikki.

Lá no fundo, eu soltei um suspiro de alívio. Jess me mataria se ele soubesse. Ainda que eu não fosse exatamente o culpado, ela daria um jeito de me matar por aquilo.

— Faz o que você quiser, Ryan. Nikki e eu somos apenas amigos. – pensei melhor. – Eu acho. O que eu tenho a ver com isso?

— Você precisa me dar dicas! Como eu me comporto? Levo algo para ela? Você tinha tudo indo contra você e acabaram por ficar naquele rolo por um ano, alguma coisa deve saber. – explicou e eu assenti, finalmente compreendendo meu papel naquela história. Um papel que eu preferiria não interpretar, é claro, mas decidi dar a ele algo na esperança de ficar livre pelos próximos dias.

Nós ficamos ali por uns bons minutos. Levou tempo para ele entender que ele não precisava fazer mil coisas, agir de tantas maneiras, porque a Nikki era uma garota bem simples, logo, ela gostava de tudo que era trabalhado com simplicidade. Sem grandes emoções, atos exagerados nem nada do tipo.

Quando ele finalmente foi embora, eu fiz algo que não sabia se tinha a liberdade para fazer. No entanto, pensei que se não tivesse, o pior que poderia acontecer era ser ignorado. Viu? Simples.

Você vai sair com o Ryan? Tem certeza?

Voltei a ler alguns textos, mas rapidamente recebi uma resposta.

Sim... Coisas da Kappa. Por que?

Sorri, balançando a cabeça. Eu sabia que havia algo ali. Além disso, percebi que havia um toque de Jessica em mim quando digitei a próxima mensagem.

Entendi ahaha só por curiosidade, ele tá bem animado.

Eu poderia evitar uma leve confusão, porém descobrir que ele teria um jantar "de negócios" não faria o Ryan muito feliz. E seria definitivamente divertido, ainda que eu não estivesse lá para ver.

A conversa parou por ali e eu voltei a me dedicar aos livros. Não por muito tempo, mas consegui revisar bem algumas coisas. Seria o suficiente para sobreviver ao dia seguinte.

Ainda eram 20h00 e eu poderia fazer uma infinidade de coisas. Ir atrás do Luke e do Mark para bater um papo, jogar carta com o Joe no andar de baixo, aproveitar as últimas horas do dia para treinar mais um pouco... No entanto, eu tinha uma só coisa na minha mente. Se estava sendo honesto, teria que admitir que ela era a única coisa na minha mente há um bom tempo.

Eu nunca estive confortável com a distância entre a Jess e eu. Com o tempo, apenas me acostumei porque não me restavam muitas opções. Agora que eu podia estar perto dela novamente, sem muitas brigas, era como se eu quisesse compensar por todos aqueles meses em que ficamos separados. Eu sabia que nunca poderia fazer aquilo, especialmente apagar tanta coisa que eu gostaria que não existissem na nossa história, mas todo esse tempo que estávamos passando juntos as vezes me fazia crer que eu poderia ao menos cobrir tudo. Cobrir com momentos e atitudes melhores.

Me sentindo um completo idiota, eu me joguei na minha cama e abri seu instagram apenas para passar o olho pelas fotos. Ela estava linda em cada uma delas. Nunca iriam suprir a minha vontade de ter ela ali naquele segundo, porém, novamente, não me restavam opções, já que a mensagem que eu enviei nem havia chegado, o que significava que ela estava estudando com o celular desligado para evitar tentações.

Pelo menos eu estava me acostumando a passar vontade, o que não é necessariamente bom, mas teria que ser o suficiente. Eu a machuquei, ainda que as vezes eu prefira deixar esse fato de lado. Não poderia culpa-la por ser receosa, por dar passos extremamente lentos quanto se tratava de mim. Enquanto isso, eu fechava os olhos e ficava sonhando com o momento em que poderia beijá-la e tocá-la como eu realmente queria de novo. Não por muito tempo, já que o resultado não é tão satisfatório quanto pode parecer.

— Não seja chato, Tommy! Todas as Kappa Deltas vão estar lá! – Joe disse pela milésima vez naquela noite. Mais uma e eu provavelmente daria um soco nele. Já estava resistindo há um tempo.

— Eu já te falei que eu tenho compromisso e não vou desmarcar por causa de uma festa qualquer. – murmurei, tentando focar minha atenção no meu jantar e não na criança irritante ao meu lado.

— Festa qualquer?! – questionou, ofendido. – Você sequer ouviu o que eu acabei de te dizer? Kappa Kappa Delta!

— E você me ouviu dizer que eu não me importo? Tenho compromisso.

— Desmarca. – afirmou, sorrindo.

Optei por simplesmente ignorar. Não podia dizer que meu compromisso era com a Jess e não queria ir na tal festa, de qualquer maneira.

Por sorte, Ryan chegou marchando na cozinha, o que imediatamente chamou a atenção de todos. Ele estava voltando de seu grande encontro, aquele que fez questão de espalhar para a casa toda. Sua cara não estava muito boa, mas poderia estar pior e isso me fez acreditar que não havia sido de todo ruim.

Haviam no máximo 10 pessoas naquele cômodo, porém ele fez seu anúncio mesmo assim.

— Se vocês têm algum compromisso amanhã, aproveitem hoje para desmarcar.

— O quê!? – Joe exclamou e eu não pude deixar de rir na cara dele. Não que eu estivesse muito feliz com a notícia.

— As kappas vão dar uma festa na piscina amanhã e nós fomos convidados. Preciso de todos vocês lá.

Delta?

Gamma, Joe.

Por dentro, eu senti um alívio. De certa forma, não teria que desmarcar meus planos.

— Mas elas não podem dar festas. – alguém atrás de mim disse.

— Sem bebidas alcoólicas. – Ryan respondeu rapidamente.

— Mas essa é a melhor parte! – Joe protestou em mais um capítulo do seu drama.

— Pensei que fossem as garotas. – eu disse, segurando uma risada.

— Fica na tua, Evans. – disse antes de sair extremamente chateado com as novidades.

— Bom, vocês estão responsáveis por espalhar a notícia. Kappa Kappa Gamma, amanhã, 15h00. – Ryan informou, também deixando o cômodo e saindo em direção as escadas.

Fui atrás dele imediatamente, sentindo que o jogo havia virado agora que era eu quem corria atrás.

— E aí, como foi?! – questionei, já subindo os degraus com ele.

— Não foi, Thomas. Ainda. – respondeu, claramente chateado com aquilo e nem um pouco feliz com o interrogatório, mas eu merecia e ele sabia disso.

— O que ela queria então?

Eu já estava a par de tudo, graças à Jess. No entanto, não sabia exatamente onde aquela festa na piscina se encaixava no plano geral.

— As garotas querem a nossa parceria de volta. – ele falou com desdém. – Só porque precisam da gente para um protesto ou algo do tipo, não entendi muito bem. Eu sou legal, Thomas, então considerei a ideia, mas quem vai ter que conversar com toda a casa vão ser elas, amanhã.

— Isso não é um pouco babaca da nossa parte? – questionei, agora parado com ele em frente ao seu quarto.

— Isso é só uma leve vingança pelas sabotagens seguidas que nós sofremos.

— Pensei que você e a Nikki estivessem se entendendo, quer dizer... Vocês até compartilham o segredo de que casa realmente venceu.

— São dois assuntos separados, Evans. E isso já não importa mais, o que importa é: esteja lá amanhã e garanta que todos os outros rapazes façam o mesmo. – finalizou, passando pela porta e me deixando para o lado de fora.

— Eu não perderia por nada. – sussurrei para mim mesmo.

Poucos minutos depois, eu senti meu celular vibrar incansavelmente pelo grande número de mensagens chegando. Antes de desbloquear, eu já sabia que a Jess estava ciente das novidades e nada feliz com elas. Entre xingamentos e muitos "aaaaaaaaAAAAAaaA", ela condenou o Ryan por ser um moleque insensível e sem noção alguma da gravidade daquele problema. Decidi começar uma ligação para facilitar aquele momento.

— Calma. – eu disse a ela. – Xingar o Ryan não vai te levar a lugar algum. Acredite em mim, eu já tentei em diversas situações.

O que você quer que eu faça? Sente e deixe que tudo seja feito da maneira dele?

Eu demorei alguns segundos para responder, esperando que ela chegasse a mesma conclusão que eu apenas para acabar confirmando.

— Exatamente. É tudo que você pode fazer no momento.

Thomas, eu não acho que você tenha noção da gravidade disso! Deixa eu refrescar sua memória rapidinho: sua casa nos odeia e não vai ver vantagem alguma em nos ajudar. Eu vou ficar surpresa até se eles se derem o trabalho de aparecer aqui amanhã. – ela argumentou, impaciente.

— Nós não somos tão babacas quanto você pensa, ok? É claro que alguém vai querer ajudar, ninguém aqui achou graça do que aconteceu com a Katy.

Ela suspirou e eu podia imaginá-la encolhendo os ombros, desanimada.

Alguém não é o suficiente. Isso é grande... Nós precisamos de toda ajuda possível e não sabemos se vamos conseguir. É assustador.

Eu assenti, mesmo sabendo que ela não podia ver o movimento. Sabia bem que admitir que aquilo a assustava não era nem um pouco fácil para a Jess, especialmente se tratando de mim no outro lado da linha.

— Eu sei... Eu entendo. Todos vão estar lá amanhã, tá bom? Confia em mim.

Ela ficou em silêncio, mas não a culpei por isso.

Poucos minutos depois, eu dei a desculpa de que tinha que estudar para desligar o telefone. A realidade é que tinha trabalhos a fazer e eles não tinham nada a ver com as minhas aulas.

Pode me chamar de trouxa, bobinho ou qualquer que seja a palavra da vez que usam por aí... Eu não podia deixa-la se decepcionar com aquilo. Digamos que eu mesmo seja o cara que já fez isso vezes demais para uma vida inteira. No final das contas, eu sabia o quanto conquistar aquilo a faria bem e se eu podia ajudar de alguma maneira, ainda que besta, por que não?

Foi assim que eu passei as próximas duas horas indo atrás de morador por morador daquela casa para garantir que todos estavam cientes do compromisso de amanhã e que, mais do que isso, estariam lá. A maioria deles foi bem compreensiva, em especial aqueles que não haviam sido diretamente afetados por tudo que houve entre as nossas casas. No entanto, sempre tinham aqueles que precisavam ser seriamente ameaçados para que finalmente se mexessem.

Só quando terminei, pensei que podia finalmente me deitar e dormir em paz, assim como os meus colegas de quarto, que já estavam todos derrubados. Eu esperava que o dia seguinte fosse bom, afinal de contas, estaria perto dela durante grande parte dele. Por outro lado, não é como se eu realmente pudesse estar perto dela como gostaria, primeiro porque ela não permitiria e segundo porque estaríamos cercados de pessoas. Ela não estava pronta para dar esse passo e eu queria respeitar isso... Na maior parte do tempo.

Algum tempo depois, eu percebi que começava a ficar ansioso e preocupado com coisas idiotas, então cortei completamente aquele assunto da minha cabeça, esperando apagar logo.

Já no dia seguinte, eu percebi que minha ansiedade podia atingir níveis realmente altos, o que me parecia ridículo às vezes, quer dizer... Era só a Jess. A mesma Jess com quem eu já saí um milhão de vezes, a mesma Jess que eu namorei durante mais de dois anos.

Não levei muito tempo para perceber que eu estava completamente equivocado. Aquela nunca poderia ser a mesma Jess, pois ela havia crescido e amadurecido em tantos aspectos que eu ainda me sentia um moleque perto dela. Um moleque besta, sem chance alguma, babando na garota mais linda e incrível do mundo.

Revirei os olhos para o meu próprio drama, mas sabendo que havia uma boa quantidade de verdades ali. No entanto, confirma-las me fazia sentir mais ridículo ainda, então eu deixaria que outra pessoa – provavelmente a Jess – as jogasse na minha cara mais cedo ou mais tarde. E todos nós sabíamos que isso com certeza aconteceria eventualmente.

Quando o relógio finalmente marcou 15h00, eu saí recolhendo metade da casa para ir até as meninas. Alguns deles estavam considerando meu comportamento estranho e duvidoso, como se eu tivesse passado para o lado delas, mas ignorei-os. Só queria vê-la logo, especialmente porque não havíamos conversado ainda hoje, e garantir que tudo ficaria bem.

Assim que nos aproximamos da Kappa House, ouvimos música. Seguimos direto para os fundos, onde várias garotas já se encontravam. Toda a piscina estava enfeitada com boias divertidas, haviam algumas mesas com guloseimas e bebidas sem álcool (pelo menos, até a Mina passar por ali) e luzes que deveriam ser acesas mais tarde para todos os lados. Logo os rapazes se espalharam.

Não pude deixar de notar que a Katy não estava ali e, para ser honesto, não achava que a veria hoje. No entanto, a Jess devia estar. Por isso fiquei decepcionado quando não a encontrei em lugar algum.

— Procurando alguém, Tommy? – Mina apareceu, me rondando. Engoli em seco.

— Sim... Sua namorada. Viu ela por aí?

Ela sorriu, maléfica.

— Aham, bem ali no canto, onde você estava olhando até agora. Deixou passar, foi?

Se eu não conhecesse bem a Mina, diria que ela sabia sobre mim e a Jess (se é que havia algo para saber). Porém ela só tinha suas desconfianças. E aquela era a sua maneira de me fazer falar tudo, coisa que eu definitivamente não faria. Bom, se dependesse apenas de mim, até poderia, mas esse não era o nosso caso.

— Olha só como eu tô cego! Obrigada, Mina. – disse, fugindo dela no mesmo segundo e indo em direção a Julie. – Ei! – cheguei rapidamente nela, que terminava de organizar uma das mesas de uma maneira que apenas ela poderia se dar o trabalho de fazer.

— Que susto!

Sorri, me desculpando.

— Viu a Jess por aí? Tenho que conversar com ela. É meio urgente.

— Hoje? Tem certeza? Ela tá num mal humor do cão, pode não querer nem olhar na tua cara. – disse e eu tive que conter minha vontade de revirar os olhos para dizer que ela com certeza queria me ver.

— Acho que eu vou me arriscar. – falei, forçando um sorriso.

— O risco é seu. – disse, dando de ombros. – Tá no nosso quarto terminando de se arrumar.

Parti no mesmo segundo, despreocupado com o que ela acharia daquilo, pois parecia muito bem concentrada em sua decoração. Ela tinha suas prioridades e eu tinha as minhas.

As garotas com quem encontrei no caminho estavam tão concentradas nos últimos detalhes de sua festa que não deram a mínima para mim ou a minha pressa de subir as escadas até o quarto da Jess. Isso não era muito bom, mas tinha suas vantagens para mim, o cara que não estava com vontade alguma de ter que se explicar para alguém.

Bati na porta e na mesma hora ouvi um "Entra" da parte dela. Foi o que eu fiz. Tarde demais, eu percebi que deveria ter me anunciado porque a cena que me esperava do lado de dentro quase fez meu coração parar ali mesmo. Jess se encontrava em frente a um espelho vestindo apenas a calcinha de um biquíni enquanto tentava e falhava ao amarrar sozinha a parte de cima.

Ela só percebeu que eu não era uma das garotas quando me viu rapidamente pela sua visão periférica e deu um pulo em seu lugar, agarrando a primeira toalha que encontrou para cobrir o próprio corpo. Ela se virou então para mim, me fazendo pensar que eu seria, com razão, chutado para fora daquele quarto, mas sua expressão suavizou quando ela identificou que se tratava de mim parado ali.

— Ah, Thomas, é só você.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a toalha, voltando a ficar novamente só de calcinha e com a parte de cima do seu biquíni jogada em volta do pescoço. Por alguma sorte – ou extremo azar – do destino, seu cabelo cobria quase tudo. Porém não o suficiente para me tornar uma pessoa sã.

— E-e... Asss...

Em algum lugar entre essas letras, havia uma frase lutando para sair.

— Aproveitando que está aqui, amarra esse negócio para mim. – pediu, voltando a se virar para o espelho. – O universo tá tão contra mim que eu me tornei incapaz de amarrar um biquíni, legal, né? Fecha a porta, por favor.

— Uhum. – foi tudo que eu fui capaz de murmurar.

Eu tinha duas teorias:

A primeira dizia que a Jess havia desenvolvido um sério caso de bipolaridade, pois em um dia não queria nem ficar de calcinha e sutiã debaixo da água comigo por perto e agora, pouquíssimos dias depois, desfilava seminua na minha frente sem problema algum.

A segunda era mais triste e muito assustadora. Estávamos nos dando tão bem recentemente que ela estava me vendo agora como um amigo gay ou algo do tipo, logo, não havia problema em ficar daquele jeito comigo em um quarto que me parecia tão, mas tão, pequeno.

— Ei! Que tal mandar esse sangue de volta para cima e vir aqui me dar uma mão?

Eu engoli em seco, fechei a porta e fui até ela, consciente demais sobre cada movimento meu. Quando cheguei perto o suficiente para conseguir fazer o serviço, mas longe o suficiente para nada, sinceramente, porque qualquer lugar dentro daquele cômodo me parecia perto demais, ela já me esperava com o tecido devidamente colocado sobre os seus seios, segurando as cordinhas para mim.

Tomando todo o cuidado que eu tinha em mim para não tocar nela, eu comecei a amarrar a peça.

— Pode apertar mais um pouco? – ela perguntou, me olhando através do espelho e eu tive que me segurar para não dizer: "não posso, não. Vai ficar assim".

— Posso. – o cara educado que infelizmente era parte de mim disse.

Respirando devagar e com uma lentidão exagerada, dei os últimos nós. Nos rápidos segundos em que meus dedos roçaram suas costas, eu senti meu corpo inteiro ficar tenso. Bom... Senti outras coisas também, mas não sabia se queria pensar naquilo.

Assim que terminei, vi suas costas balançarem em um riso. Pelo reflexo do espelho, eu vi que seu olhar estava fixo em mim.

— Eu tô quente, é?

Arregalei os olhos, confuso com o que diabos aquela pergunta deveria significar. Era alguma pegadinha? Seu tom não havia deixado muito espaço para interpretações.

— O q... Como?

— Você tá com medo de encostar em mim. Não vai se queimar, sabe? – ela explicou, com certo humor no olhar. Balancei a cabeça levemente e ri, apenas por puro nervoso. – Nossa, a sua cara tá ótima. O que há com você hoje?

Revirei os olhos.

— Você realmente precisa perguntar? – ela deu de ombros.

Não me pergunte como, mas no segundo seguinte eu me peguei explicando para ela as minhas duas teorias, só porque aquilo era tudo que eu tinha no momento. Quando terminei, ela não conteve seu riso, aproximando seu corpo do meu rapidamente só para me dar um leve empurrão. Eu congelei no meu lugar.

— Uma garota não pode simplesmente mudar de ideia? – disse e, mais uma vez, eu travei.

Tá legal. Eu tenho consciência de que não estava soando como o cara que mais queria tê-la nos braços no momento, cara esse que eu era, mas você tem que compreender de onde isso vem. Havia sido rejeitado e deixado na mão por essa garota tantas vezes nas últimas semanas que banhos gelados e... Bem, outras coisas não funcionavam mais.

Estava apenas cuidando e temendo pela minha saúde.

— Pode... É claro que pode. – respondi, engolindo em seco.

Para a minha surpresa, agora eu estava consciente do quão próximo estávamos e da proporção de pele que ela tinha a mostra em um nível que não achava possível ser atingido. Ela tinha razão, havia algo muito quente naquele espaço mínimo que os nossos corpos ocupavam.

— Então... – ela disse, prolongando a sílaba final e voltando a chamar minha atenção para o reflexo no espelho, por onde ela me olhava com uma expressão extremamente sugestiva. Na verdade, tão sugestiva que eu desconfiava ter dado alguns passos fora da realidade e estar vendo coisas.

— Tá falando sério? – não pude deixar de questionar. – Porque você já me rejeitou tantas vezes em tão pouco tempo... Tá começando a afetar minha autoestima, sabia? Então se isso for algum tipo de brincadeira apenas para cortar o meu barato daqui a pouco, eu prefiro que...

Enquanto eu tagarelava minhas idiotices, observei seus olhos deixarem os meus no espelho para que ela pudesse se virar de frente para mim e definitivamente colar o seu corpo ao meu. Só isso foi necessário para que eu perdesse de vez a minha fala. Porque queimava. Ah, como queimava. E o sentimento não era nem um pouco ruim.

A próxima e última coisa que eu vi foi seu sorriso antes de me puxar pela nuca e selar também os nossos lábios. A partir daí, eu não tive dificuldade alguma para reagir. Finalmente estávamos onde a minha mente esteve esse tempo todo e agora eu sabia exatamente o que fazer.

A tomei pela cintura, garantindo que nossos corpos estivessem o mais próximo possível e aprofundando o beijo, tudo na tentativa de fazer valer todos aqueles momentos em que sonhei em tê-la exatamente assim, mas não pude. Não precisei de dois segundos completos para concluir que valia a pena, que cada novo toque dela compensava todo e qualquer espaço de tempo longe e eu sabia que estava completamente perdido por causa disso.

Quando me dei por mim, já estávamos na beirada da sua cama e tivemos que nos separar para que ela pudesse se deitar no beliche sem nenhum acidente. Observei enquanto ela encostava suavemente sua cabeça no travesseiro, espalhando seus fios de cabelo através do tecido, com a respiração entrecortada e por um momento eu perdi meu ar. Não houve um momento em que eu esqueci o quão linda ela era, porém olhá-la daquela maneira, com um sorriso leve nos lábios rosados, bochechas coradas e um olhar profundo que poderia facilmente enxergar minha alma, eu não tinha palavras. Realmente não tinha palavras para o que aquilo significava.

— Dar uns amassos em uma cama de verdade... Acho que não fazemos isso há um tempo. – ela disse, felizmente me tirando da minha bolha antes que eu começasse a babar nela ou algo do tipo.

— E a culpa é de quem, Corinne?

— Acho que você não quer entrar nessa discussão agora, Evans.

Eu parei. Ela tinha razão. Aquela conversa tinha potencial para chegar em lugares em que eu não gostaria, especialmente enquanto eu tinha seu corpo sob e tão próximo ao meu.

Fui eu quem tomei a atitude de beijá-la dessa vez, já sentindo certa abstinência da sua boca, seu gosto, sua língua, do deslizar ansioso das suas mãos pelos meus ombros, a inconstante indecisão entre tirar ou não tirar minha camiseta, basicamente cada pequeno aspecto de estar com ela que me fazia esquecer completamente da existência de um mudo exterior a nós dois... E eu não poderia me importar menos.

Por isso, eu não saberia responder – muito menos chutar – por quanto tempo ficamos ali, apenas na companhia um do outro. Eu sabia que as horas corriam de forma impressionante quando estávamos juntos, porém naquela situação em particular, nós parecíamos ter batido algum tipo de recorde.

— Jess.

A voz repentina que não pertencia a mim nem a garota embaixo de mim somada ao som da maçaneta virando me fizeram levantar imediatamente sem nem pensar. A falta de racionalidade me fez esquecer de que eu estava em um beliche, trabalho que a cama de cima tratou de fazer quando minha cabeça foi diretamente de encontro a ela.

Alguns centímetros abaixo, Jess se dividia entre segurar o riso, se preocupar com a minha possível fratura craniana e com a pessoa do lado de fora da porta, que não entrou graças ao meu cuidado em trancá-la mesmo quando não conseguia nem pensar direito. Parece que eu tenho pelo menos um pouco de senso de preservação, afinal de contas.

Levei a mão até a área atingida, orgulhoso de mim por não ter feito som algum de dor, pois o impacto já havia feito o suficiente.

— Machucou? – ela sussurrou.

Estava pronto para dizer algo do tipo: "que pergunta! É claro que machucou! Não ouviu o barulho que essa merda fez?", mas fui interrompido pela voz da agora-identificável April.

— Jess? O que foi isso? Abre a porta.

Com essas perguntas, ela pareceu acordar para a vida abruptamente, me chutando para fora da cama em que estávamos.

— Para baixo da cama, agora! – ela ordenou, mas eu fiquei parado, pensando na possibilidade dela estar realmente falando sério. Não foi uma boa ideia, pois logo depois vieram seus braços fracos, mas ardidos me empurrando para baixo. Decidi cooperar, porém já planejando uma briga para o nosso futuro por esse momento, e me enfiei debaixo da cama da Julie, a única que poderia me esconder de verdade.

— Tô indo! – disse, correndo para a porta depois de se certificar que eu não poderia ser visto. – Foi mal, eu estava trocando de roupa. – justificou enquanto eu ouvia os passos apressados da April dentro do quarto, parecendo não dar a mínima para o que a Jess poderia estar fazendo sozinha e trancada ali.

Ouvi a porta do closet ser aberta às pressas e então roupas e mais roupas serem jogadas no chão.

— Não tem nada aqui!

— O que você tá procurando?

Silêncio.

— Isso! É de algo assim que eu preciso, algo que destaque a minha pele, que me faça parecer bonita sem nem me esforçar. Por que eu não tenho algo assim?

Franzi o cenho. Era difícil compreender o diálogo quando me privavam da minha visão.

— Do que você tá falando? O seu é lindo!

— Não é! – me assustei com o movimento do colchão acima de mim, sinalizando que ela havia sentado. – É preto e sem graça. Como que eu vou me destacar em uma casa cheia de garotas maravilhosas com um biquíni assim?

Jess aproveitou para se sentar na mesma cama, mas do lado contrário, me dando uma oportunidade de vingança que eu nunca me permitiria desperdiçar.

— Por que você precisa se destacar? O seu objetivo não era sempre se escon... – agarrei um dos seus tornozelos, a fazendo engasgar. – ...conder.

— Agora é diferente...

— Estamos falando da presença do Luke? – Jess perguntou, tentando me chutar para longe. No silêncio, imaginei que a April assentia. – Você sabe que, para o Luke, você já se destacou, né? Só precisa existir ali. Mas fico feliz que tenha superado suas desconfianças em relação a ele.

Enquanto ela suspirava, eu me esforçava para fazer cosquinhas no pé da Jess, lugar que eu sabia bem o quanto ela odiava.

— Eu não sei não... Por que vocês chamaram ele em? Eu perdi minha tranquilidade. E qual é o problema das suas pernas que não param de se mexer?

No mesmo segundo, elas pararam. Para o meu azar, foi pisando rudemente na minha mão e prendendo-a ali. Ela sabia jogar.

— N-nada, só uma coceira. Você pode pegar esse meu biquíni, se quiser. Ia exibir ele por aí, mas eu não acho que mereçam me ver nele.

Ouch.

— Tem certeza? Você tem outro?

— Eu tenho vários, não se preocupe. Sou uma garota da praia. – e então ela deu uma última apertada na minha mão contra o chão, quase me fazendo exclamar algo de surpresa. – Vem, vamos trocar. No banheiro.

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