O almoço já tinha ficado pra trás e agora estava sentada na cama dele, enquanto o Chuck se espreguiçava na cama do Taz.
— Meio chato não ter o que fazer... Acho que estava começando a gostar das rotinas de gravações... — Chuck reclama.
— É, mas o pessoal está bem feliz, não com a sua doença, mas com a folga, com certeza.
— Só você que não ganhou uma folga... Tem que ficar aqui comigo... — ele parece realmente pensar sobre o assunto.
— Ei, claro que não! Ficar aqui com você não é trabalho algum, estou de folga hoje também...
— Não sei sobre isso... Mas você poderia estar com o resto do pessoal, tomando alguma coisa e se divertindo.
— E quem disse que não estou me divertindo? Pode ir parando por aí, que essa personalidade não combina nada com você. Estou me divertindo, e se eu quisesse sair, eu apenas falaria. Mas quero ficar aqui, então pare de me fazer ficar falando essas coisas vergonhosas, certo?
— Você também sabe como me fazer sorrir...
— A gente aprende uma coisa ou duas quando passa a conviver com um mestre.
— Mestre? Ah, gostei muito disso... — ele fica de pé e se aproxima de mim. — Meu Deus, a vontade que estou de te beijar é absurda.
— Não tenho objeções sobre o assunto, eu apoio até.
— Gosto muito desse seu lado malvado... Mas vou ter que inventar alguma coisa pra fazer, já que você parece estar focada em ser uma tentação...
— Você que está escolhendo que seja uma tentação, a realidade não está muito distante assim... — já que é pra provocar, vai mais um pouco.
— Ah, eu realmente gosto desse lado seu... — ele sorri. E então parece ter uma ideia. — Acho que já sei o que a gente pode fazer... Vai ser genial!
— Genial? — e os meus planos de provocar até que ele desista vão por água abaixo, não acho que uma coisa genial pode ser sensual.
— Sim! Que tal se eu te ensinasse a tocar baixo?
— Chuck, eu não sou uma pessoa com muita coordenação assim... Nada de genial, isso vai ser é desastroso.
— Que nada, vai ser divertido, você vai ver... — contagiada pela sua alegria, acabo concordando.
— Mas você tem algum baixo aqui no quarto? — olho ao redor e não consigo ver nenhum.
— Claro, sempre gosto de ter um perto, caso eu queira passar um som ou testar algo... — ele vai até o armário e de lá tira uma case grande e de madeira.
O baixo que sai da case é incrível. Eu não entendo muito de marcas, nem de qualidade de som, mas ele é lindo. Simples, mas tinha algo nele. O instrumento é todo negro, e incrivelmente fosco. As cordas brilhantes e aparentemente afinado, já que o Chuck dá uma pequena dedilhada acho que só pra me provocar.
Ele é hipnotizante tocando.
— Vamos lá ao básico? — ele pergunta e quando eu concordo, ele coloca o baixo no meu colo.
— Uau — é o elogio que faço. — Nunca tinha segurado um baixo antes. É bem mais leve do que imaginei que seria... — testo o peso nas mãos.
Ele sorri e nem sei de onde ele tira aquele banco, mas ele o coloca na minha frente. — Cuidado, que esse é o meu favorito... — ele diz e segura a bandoleira. — Agora, você é destra ou canhota?
— Canhota.
— Eu também... Que bom, assim vou poder ensinar uns truques que aprendi com o tempo. Meu professor era destro, e foi complicado no começo, mas pelo menos não vamos ter problemas — ele passa a bandoleira pelo meu pescoço e me ajuda a encontrar a melhor maneira para segurar o baixo.
— Vamos começar com uns acordes mais básicos... — a mão dele se estende sobre a minha, e com todo o cuidado ele vai ajustando os meus dedos sobre as casas.
— Bem longe de mim estar reclamando do momento agora, mas o seu professor também segurava a sua mão assim? — brinco com ele.
— Ainda bem que não... Mas vamos lá ver se você consegue fazer alguma coisa...
Por incrível que pareça, não sou tão ruim quanto pensei que seria. Consigo aprender algumas notas e não tenho dificuldade em dedilhar as cordas. Meus problemas são com as passagens. Meus dedos ficavam sem saber o que fazer.
— Hm, deixa eu te ajudar com as transições... — ele levanta do banco. — Mas pra isso, vou ter que sentar aqui, tem problema? — ele aponta pro lugar atrás de mim.
— Sem problema...
Quando Chuck senta logo atrás de mim, ele demora uns momentos até encontrar uma posição em que seus braços passem pelo meu corpo e aquilo praticamente era um abraço, só que eu acho que estou em desvantagem.
Suas mãos seguram as minhas agora com muito mais firmeza, já que com a proximidade, eu já não tenho total controle sobre os meus movimentos.
— Seu professor também te ensinava assim...
Sinto quando o seu sorriso nasce, já que aqueles lábios quentes estavam roçando levemente meu pescoço. Assim fica difícil caro Charles.
— Com certeza não... Mas ainda bem que estou aqui apenas para te ensinar...
Nem preciso dizer que o meu rendimento e aprendizado vai embora, já que tudo o que eu conseguia pensar era na suavidade da sua boca perto de mim. Ele continuava, ou pelo menos eu acho, a falar sobre notas, ritmo e transições, só que não estava assimilando absolutamente nada.
E então ele começa a rir.
— Você está se divertindo muito mais agora que eu estou errando tudo, não é mesmo?
— Talvez um pouco mais do que eu deveria. Mas não se cobre demais, não esperava que você aprendesse rápido. Ainda tem que praticar um pouco...
— Só se você for meu professor outras vezes...
— Nem precisa falar duas vezes. Fico aqui quantas vezes forem necessárias... — seus dedos passeiam sobre a minha barriga e eu acho que vou infartar.
— Vou cobrar... — não achei que fosse gostar tanto assim de aprender. Vai ver que o meu professor é responsável pelo fato, mas o fato é que eu fiquei com vontade de tocar, não profissionalmente, mas seria um hobby maravilhoso.
E dos jeitos que essas aulas estão evoluindo, acho que demoraria muito a aprender, e isso é do meu total interesse.
— Quem sabe eu até consiga uma vaga na banda hein? pra quando você ficar doente dos banhos de chuva... — brinco com ele.
— Ainda bem que o meu emprego na banda está garantido por um tempinho... Algo me diz que você vai demorar até conseguir ter um repertório completo...
— Nem vem Chuck, você está se aproveitando da situação, claro que eu vou demorar a aprender assim...
— Não estou com pressa — seus dedos voltam a me alisar.
— Estou começando a desconfiar que você já tinha isso em mente quando disse que ia me ensinar a tocar...
— E perder a oportunidade de ficar assim com você? — sua boca fala tão perto da minha orelha que derreto, não é justo aquela voz. — Quer dizer... Você está pensando demais... — mesmo quente até o dedo do pé, o sorriso vem fácil.
— No momento, sei que estou pensando de menos. Só estou sentindo mesmo... — admito e viro um pouco a cabeça, dando mais acesso do meu pescoço a ele.
O hálito que sai suave da sua risada rouca me arrepia. Quando achei que não podia ficar mais arrepiada, a sua língua quente toca a minha pele e me mostra que eu ainda tinha muito mais sensações a serem sentidas, a respiração fica cortada e curta.
A palheta que segurava cai no chão, e nem sei como, mas consigo lembrar que ele disse que aquele é o baixo favorito dele, então, tenho que ter cuidado com ele, então, mesmo com os dedos trêmulos, eu continuo a segurar o instrumento.
— Depois eu que sou a malvada... — digo entre respirações, mal reconhecendo o meu tom.
— Você que começou... — seus braços me apertam um pouco mais.
— Se você tem realmente um amor por esse baixo, melhor tomar cuidado com o que vai fazer agora. Não tenho como continuar a garantir a segurança dele...
— Vou me arrepender disso, mas...
Chuck fica de pé, me deixando logo sentindo a falta do corpo quente dele atrás do meu, e cheio de pressa, retira o baixo do meu colo e o guarda de volta na case, mas não a fecha.
Quando ele olha na minha direção, tenho vontade de mergulhar naquela delícia de olhar. Meu Deus, já estou palpitando em antecipação. Chuck para a alguns passos de mim.
— Vem cá — me chamando com dedinho e tudo... Ele ainda morde o lábio, acho que quer me matar, só pode. — Não confio em mim mesmo com essa cama...
Antes que a gente possa ficar frente a frente, batidas na porta nos fazem voltar para a realidade. O clima que nos rodeava vai embora. Congelamos no lugar e minha mente fica momentaneamente em branco.
— Só pode ser uma brincadeira... — Chuck resmunga baixo e quando solto uma risada, percebo que me acalmo um pouco. — Pode en...
Antes que ele complete a frase, a porta já está sendo aberta e ali do outro lado estão os três integrantes da banda. Gosto de ver como eles vão entrando e se espalhando pelo quarto sem a menor cerimônia, mesmo ainda me sentindo um pouco alterada.
— KitKat! Então era aqui que você estava! — Taz vem pra perto de mim e bagunça meu cabelo.
— Viemos passar um tempo com o moribundo aqui... Bart estava começando a ficar preocupado com o irmãozinho dele...
— Claro que não, conheço esse charminho dele... — o irmão dá de ombros e então percebe a case aberta. — Está compondo?
— Não... Na realidade estava tentando ensinar a Catarina... E antes que vocês comecem a brincadeira, ainda está longe dela ocupar o meu lugar...
— Confiamos nas suas habilidades KitKat, não desista! — Chuck arruma um travesseiro e joga com força no amigo.
Basta alguns segundos dentro do quarto para que o clima mude drasticamente. Fica mais fácil respirar, mesmo com as risadas que dou presenciando os momentos de descontração dos meninos. Mesmo eles não falando nada sobre isso, vou começando a achar que a minha presença ali não é mais necessária.
Levanto e vou deixar que eles tenham os seus momentos de privacidade.
— Então meninos, acho que não preciso mais ficar de olho no Chuck, vocês já podem fazer isso... Vou ver se estão precisando de mim.
— Não precisa ir embora, gostamos da sua companhia — Fred fala e eu me sinto tão bem que quase desisto de sair.
— É, pode ficar o quanto quiser KitKat...
— Obrigada pessoal, gosto muito da companhia de vocês também, mas fica para uma próxima rapazes. Olha, mas não hesitem em me chamarem caso precisem de algo. A produção sabe como me encontrar...
— Tudo bem então Catarina. Valeu por ficar de olho nele — Bart me agradece eu sorrio em resposta.
Aceno em despedida para todos, e espero não dar muito mole para o Chuck. De costas, escuto as risadas e também a voz do Chuck.
— Espera Cat!
Claro que paro de caminhar e me viro para ver o que ele quer. Não sei se eu que demoro para virar, ou ele que é rápido demais, mas só sei que quando giro o corpo, Charles está bem perto de mim, quase colado.
Mais uma vez, nem de longe essa é uma situação ruim, mas não estamos à sós.
— Obrigada por passar o dia comigo, foi muito bom, dadas as circunstâncias... — ele diz simplesmente e me abraça. Seu corpo curva um pouco em cima do meu, e ele repousa o queixo no meu ombro.
Dizer que aquele gesto me pegou completamente desprevenida é eufemismo.
E não só me pegou de surpresa, acho que os meninos também ficaram um pouco espantados com o abraço. Eles estão olhando diretamente para nós. Sem saber o que fazer com os braços, eles continuam do lado do meu corpo.
Taz assim que bate o olho, ergue uma sobrancelha, e então parece lembrar de alguma, pois abre um sorriso enigmático.
Já o Fred é mais discreto com a sua análise e não fica encarando muito. Mas vejo quando ele morde o lábio e então prefere olhar para alguma coisa na sua mão do que para nós.
Só que a expressão do Bart não consigo decifrá-la. E não sei se fico aliviada ou preocupada.
— Realmente queria um pouco mais daqueles beijos, mas ainda bem que fomos interrompidos... — Charles diz num sussurro em meu ouvido. Minha pele arrepia e espero que os meninos não percebam o quanto eu fiquei vermelha. — Até mais Cat! — ele diz agora com a voz normal e então se afasta de mim como se nada tivesse acontecido.
— Até! — é tudo o que eu consigo falar.
Onde é que eu tenho que ir pra conseguir uma aula dessa minha gente?! Ah, Chuck... Até mesmo sem troca de salivas, você ainda consegue arrancar tudo isso de mim homem do céu? kkkkkkkkkkkkkk
E então, o que estão achando pessoal? Não dá pra negar que agora temos muitos olhos que talvez vão prestar mais atenção nesses dois... As coisas só tendem a complicar.
Mas é isso por essa semana, se gostaram do capítulo, não se esqueçam de deixar aqui o apoio de vocês! Até a próxima semana ;*