Fallin' All in You

By KahMonteiro

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Emily Clark sempre acreditou no tempo exato das coisas, como quando você consegue chegar a tempo no ponto de... More

No princípio era uma proposta.
Não tome decisões no calor do álcool
A ressaca, a aceitação e o esbarrão.
A garota da porta vermelha.
Pedaço de coragem num papel.
O roubo do guarda chuva.
Talvez sejamos como Alpacas.
Fogos de artifício, Danny Zuko e Polaroides.
Porque não existe ninguém como Emily.
Elefante branco na sala de estar.
Shawn tem um presente.
Rotina solitária de um compositor.
Moletom, galochas e uma playlist especial.
Terapia de banheira.
Alta dose de dopamina.
Café com sabor de laranja.
Dilemas de um irmão mais velho.
Um café, discos velhos e despedidas.
Terapia do plástico bolha.
O monstrinho verde do ciúmes.
Fritei sua cuca, então você cozinhou meu coração.
A epifania de Emily Clark.
Tempo, tempo, tempo, tempo.
O vôo do passarinho.
Para onde vão os corações partidos?

Canção de hotel.

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By KahMonteiro

"Estamos correndo pelo jardim

Onde nada nos incomodava

Mas ainda somos jovens

Eu sempre penso em você

E em como não nos falamos o suficiente."

Shawn Mendes.

O dia tinha começado agitado, a chegada do resto da equipe e dos meus convidados estava movimentando o estúdio, não tinha uma alma parada ali. Teddy estava terminando de produzir uma das músicas enquanto os meninos tocavam outras e eu afinava um dos violões.

̶ Olá rapazes, como vão? - sorri ao perceber Julia parada na porta, ela parecia animada. - Oi Shawn.

̶ Oi, tudo bem? - me levantei para cumprimentar a loira e em seguida trocar um aperto de mãos com John e Andrew. - Vocês chegaram cedo.

̶ A Julia tem um compromisso a tarde e por isso preferiu vir agora. - concordei com Andrew que explicava tudo enquanto soltava uma mochila no canto da sala.

̶ E então, eu trouxe o resultado de nervous. - ela falou indo até o sofá abrindo a própria mochila para retirar seu material.

Trabalhar com ela era muito fácil, Julia tinha uma facilidade enorme de sentir tudo ao mesmo tempo, ela era como uma grande bola de sentimentos mistos, mas catalogados, o que fazia as letras fluírem na formação dos versos. O resultado da sua produção ficou impressionante e eu sorri tendo certeza de que os meus fãs iriam amar, a música tinha um contraste divertido de uma letra nervosa com uma melodia confiante, era a clássica ironia do que eu sou e do que eu demonstro, e apesar de eu não ter produzido sozinho, eu consegui me identificar cem por cento. O que era para ser apenas uma manhã de arranjos acabou levando o dia todo e Julia cancelou o que eu descobri ser uma entrevista numa rádio, para me ajudar com uma letra nova que eu tinha começado na noite passada.

̶ Eu não sei se gosto desse refrão com essa batida. - expliquei para ela que concordou pensativa.

̶ Parece muito animada parra o que a letra quer dizer. - concordei com ela. - Eu acho que deveríamos pedir uma terceira opinião.

̶ Eu posso ajudar se quiserem. - John se aproximou e eu aceitei sua ajuda entregando a letra e a cifra para ele ler. Ele apenas leu tudo em silêncio, sua expressão tentando criar cada nota em sua cabeça. - Shawn, qual o sentimento que você quer passar?

̶ Exaustão. A letra é sobre estar cansado de tentar entender alguém que não se abre e se essa pessoa não falar sobre o que sente o outro nunca poderá entendê-la, por mais que ele queira, sabe? Então o sentimento é de cansaço. É tipo quando você gosta da garota, e está tudo nas entrelinhas, mas ela mesma não se entende e prefere enfiar tudo para de baixo do tapete ao invés de sentar e falar sobre tudo e então você não sabe como agir, pois está de mãos atadas. - respirei fundo constatando que eu não estava tão diferente. Esfreguei os olhos para tentar fazer mais sentido. - Eu só quero que as pessoas sintam toda a frustração da letra na melodia.

̶ Entendi. Me empresta? - ele pediu a caneta que Julia segurava e ela prontamente o entregou. Observamos o homem riscar algumas coisas por cima da cifra então ele puxou um violão. - Que tal isso? - ele dedilhou a melodia com os ajustes que acabara de fazer e aquilo era exatamente o que a letra pedia. Tinha exaustão, mas também certa urgência em cada nota.

̶ Eu gosto, é exatamente o que a letra pede. - Julia falou, animada com a nova melodia.

Passamos toda a tarde focados nessa música, eu precisava terminar ela hoje, pois não conseguiria reunir os dois ali tão cedo. Scott terminou de me ajudar com mais alguns arranjos e logo fomos gravar, tendo ainda um solo especial do John com a guitarra. Quando terminamos, ambos se despediram indo embora, mas eu continuei no processo de produção de outras músicas.

Os dias estavam se passando um tanto de pressa, ou talvez fosse minha empolgação com o trabalho que não me fez perceber as horas se arrastar, cada dia era um passo mais próximo do meu álbum, eu estava tão orgulhoso do que eu e todos ali estávamos fazendo, era tudo tão diferente do que eu já tinha feito antes, como um novo sopro. Pela primeira vez, eu não me sentia escrevendo as mesmas coisas sobre as mesmas experiências, eu me sentia finalmente virando a página.

Já estávamos na metade do mês e eu tinha que ir até Nova Iorque para uma reunião com o presidente da gravadora, um evento pré Grammy e a primeira prova da roupa que eu usaria no met gala, fora a gravação de um especial em homenagem ao Elton John, esse ultimo me deixava nervoso só de pensar sobre. Aproveitei o atraso do meu voo e resolvi mandar mensagem para Emily, a gente não vinha se falando tanto nos últimos dias e eu sentia uma saudade absurda dela.

"Você está podendo falar?" - enviei e enquanto ela não respondia fiquei olhando as publicações do instagram.

"Na verdade eu estou um pouco ocupada agora, a gente pode se falar depois?" - eu sabia que ela estava me evitando, desde a nossa chamada de vídeo onde ela contou sobre o ex-namorado ter a procurado, eu tinha percebido que ela quase nunca estava disponível para conversar comigo, as hipóteses que se criavam na minha cabeça só me deixavam mais irritado, então resolvi ignorá-las, jogando tudo para um canto lá no fundo do meu consciente.

"Tudo bem, eu estou indo para ny, me mande uma mensagem se quiser conversar."

"Boa viagem, Shawn, se cuida s2" - isso foi tudo o que eu recebi dela. Emily definitivamente estava estranha. Mandei uma mensagem para a minha mãe e desliguei celular indo em direção ao portão ainda na primeira chamada do meu voo, eu aproveitaria essas horinhas para tirar um cochilo.

(...)

Minha chegada à Nova Iorque não foi tão conturbada, estava bastante frio na cidade que nunca dorme e talvez por isso eu não tenha encontrado tantos fãs no aeroporto. Atendi as poucas pessoas que já me esperavam ali e segui até o carro que me levaria até o presidente da gravadora, nós tínhamos um jantar marcado para que eu, juntamente com Andrew, o adiantasse algo do processo de produção do álbum, por isso eu tinha duas das músicas prontas salvas no meu celular, ele fazia questão de ouvir algo finalizado, e era isso o que me deixava ansioso. A gravadora sempre me deu carta branca para trabalhar minhas músicas da forma que melhor me coubesse, o que não significa que as coisas não precisem passar por um processo de avaliação, ou seja, eles precisavam estudar as músicas sempre que prontas. Respirei fundo assim que o carro estacionou em frente ao restaurante, Andrew já me esperava lá, junto com o chefe.

O decorrer do jantar foi mais tranquilo do que eu pensei, o homem gostou do que ouviu e me pediu para continuar seguindo com o meu trabalho, conversamos sobre todo o processo que eu estava tendo para produzir o álbum e de como era bom ter outros nomes conhecidos nos créditos das composições e produções. Andrew ainda tratou a respeito do orçamento de uma viagem que faríamos no próximo mês para um estúdio na Jamaica, eu apenas ouvia tudo enquanto comia.

Assim que cheguei no hotel e pude finalmente descansar, eu me senti esgotado, então só mandei uma mensagem rápida para a minha mãe e fui tomar um banho, apagando assim que encostei a cabeça no travesseiro.

Acordei sentindo uma fome absurda, era como se eu não comesse há dias, então pedi o café da manhã ali mesmo e fui checar minhas mensagens enquanto esperava. Uma da minha mãe, duas do meu pai, uma do Matt e uma da Aaliy, mas nenhuma da Emily. Não é como se ela tivesse a obrigação de me mandar algo, nós não tínhamos nenhuma promessa juramentada de nos falarmos todos os dias, mas ainda assim eu sentia uma vontade absurda de conversar com ela.

"Lily, tá podendo falar?" - resolvi arriscar já que o horário de Nova Iorque era o mesmo de Toronto.

"Hey Shawn, aconteceu algo?"

"Me diz você, eu te fiz algo? Falei alguma coisa que não devia?"

"Não, claro que não."

"Então, por que você está me evitando?" - batuquei os dedos na tela do aparelho esperando que ela respondesse, a mensagem indicava que ela estava digitando.

"Você pode falar por face time?"

"Só um momento." - sem esperar mais, abri o aplicativo, iniciando uma chamada de vídeo e aguardando que ela atendesse a chamada, o que não demorou muito.

"Oi." - encarei uma Emily agasalhada no sofá, a região a baixo dos olhos estavam fundas, indicando cansaço, os cachos presos no alto da cabeça e os grandes óculos espelhando a tela.

̶ Você está péssima. - comentei para quebrar o gelo e ela apenas soltou uma risada nasal. - O que faz em casa a essa hora?

"Pedi uma folga na redação, estava me sentindo muito cansada por conta de uma noite mal dormida." - ela explicou dando de ombros. - "Como você está?"

̶ Estou bem, mas estava preocupado com você. - confessei enquanto ia abrir a porta para receber o carrinho com a minha refeição. - Por que esteve me evitando, Lily?

"Eu não estive te evitando." - a encarei com o meu melhor olhar de descrença a vendo suspirar em seguida. - "É só que o Daniel me procurar me deixou confusa."

̶ Eu não estou acreditando que você vai ceder as palavras falsas desse cara, Emily. - falei me sentindo irritado de repente.

"Eu não vou ceder nada, Shawn, eu só me sinto confusa com o fato de não ter sentido nada."

̶ Como assim? Você mesma disse que era confuso e que não sabia definir porque tinha namorado ele e blá blá blá.

"Pois é, era o que eu queria explicar, é confuso justamente por isso, como eu posso não sentir nada perto do cara que era meu namorado até quase um mês atrás?"

̶ E por que você não me contou isso antes?

"Porque caso você não lembre, você estava todo apressadinho para ir a uma festa e eu que não iria atrapalhar a noitada do senhor Mendes com os meus problemas." - agora ela quem parecia irritada.

̶ Emily. - soltei o ar de uma vez passando a mão pelo meu rosto. - Você ainda não respondeu porque essa conversa com o Daniel te deixou estranha comigo.

"Eu não sei, Shawn."

̶ Foi pelo o que aconteceu no seu apartamento? Porque eu já te pedi desculpas e...

"E eu já te desculpei." - ela me interrompeu antes que eu pudesse concluir a frase. - "Será que a gente pode só esquecer isso? Eu não quero que fique um clima estranho entre nós dois, estávamos indo tão bem."

̶ Se é o que você quer, eu já esqueci. - concordei bebendo um gole do meu café em seguida. Não, eu não queria esquecer coisa alguma.

"E o que você vai fazer hoje?" - ela perguntou se ajeitando no sofá. Apoiei meu celular no bule de café para poder comer enquanto falava com ela.

̶ Hoje eu vou encontrar a Hailey.

"A Hailey? Vocês voltaram?" - ela perguntou e eu pude notar um tom incomodado nas suas palavras, mas tratei de afastar qualquer ideia antes mesmo delas chegarem.

̶ Nós temos a primeira prova das nossas roupas do met gala, eu te falei que nós vamos juntos representando a mesma grife. - expliquei e ela assentiu. - Depois acho que eu vou cortar o cabelo, aproveitar que estou em ny e a minha cabeleireira mora aqui.

"Realmente, seu cabelo está enorme, ele deixa sua cabeça maior do que já é." - fingi uma expressão indignada enquanto ela ria na maior cara de pau.

Ficamos conversando por mais algum tempo até que ela teve que sair, pois Adam estava ligando, então finalizamos a chamada. Minha conversa com Emily me deu coisas para pensar, era tão confuso o lugar em que estávamos agora, ela era minha melhor amiga e isso estava mais que claro, tínhamos momentos incríveis e conversas que me faziam refletir, com ela eu podia desabafar e até mesmo rir de bobagens, ela não se incomodava que eu a visse com gosma verde na cara ou com marcas de travesseiro no rosto, mas então tinha aqueles momentos... Como a forma em que ela me encarava dentro dos olhos enquanto falava sobre um par romântico de um filme qualquer, ou quando ela cantava alguma música direcionando seu olhar até mim, como se cada palavra que escorregava de seus lábios fossem sobre a gente, ou quando eu me pegava prendendo a respiração enquanto observava ela dançar... E tinha o beijo.

Quando percebi, eu já estava dedilhando o meu violão enquanto palavras se costuravam, criando frases na minha cabeça. Puxei meu caderninho da mochila vendo um papel cair no chão quando o abri, era nossa foto, a mesma que Aaliyah tirou na noite de ano novo, Emily tinha um sorriso genuíno enquanto se mantinha abraçada a mim e observando os fogos, ela estava especialmente linda. Eu só gostaria que pudéssemos conversar sobre o que estava acontecendo e sobre o beijo, mas eu tenho medo que ela fuja, que se sinta pressionada ou acuada, então eu prefiro continuar fingindo que está tudo bem e que o que aconteceu na sala de seu apartamento não passou de um delírio nosso, um momento que passou, quando na verdade eu estou me matando para entender toda essa bagunça.

Resolvi escrever tudo o que eu estava sentindo, por pra fora toda essa confusão e ver no que dava, enquanto as palavras vinham, eu apenas escrevia não me importando tanto com rimas ou melodia, isso eu deixaria para ver depois, no momento eu apenas precisava exorcizar toda essa agonia.

Os dias estavam correndo rápido, naquela mesma semana eu fiz a primeira prova da roupa que eu usaria com Hailey no met gala, por conta de alguns contratempos à prova acabou tendo de ser em seu apartamento, e por isso, eu precisei ir até o Brooklyn, aproveitando a volta para passar na Serafino e dar um jeito no meu cabelo, eu precisa estar mais apresentável para o evento pré-grammy que participaria. Ela aproveitou para fazer um story ameaçando me deixar careca de brincadeira, e isso me lembrou de que fazia um bom tempo que eu não dava sinais de vida nas redes sociais. Pensar que os meus fãs estavam sem noticias minhas e provavelmente preocupados, fez minha consciência pesar, mas eu estava tão mergulhado no meu trabalho, pensando em fazer o melhor para eles e em como eles reagiriam a tudo, que acabei me esquecendo de fazer contato, por isso assim que saí do salão da Serafino, gravei um story rápido, apenas mostrando o meu novo corte de cabelo, eu ainda teria que ir buscar minha roupa do evento e encontrar com Andrew.

(...)

Passei pelo tapete vermelho parando para algumas fotos, eu sempre gostei de ir aos eventos, era divertido por uma roupa bonita, encontrar amigos e colegas de trabalho que muitas vezes, por conta das agendas, eu acabava não vendo com frequência, então os eventos e premiações serviam para isso, fora os prêmios e as bebidas de graça. Cumprimentei algumas pessoas enquanto caminhava até o bar para pedir uma dose de uísque, mesmo não tendo a idade para beber na América, nesses eventos eles sempre faziam vista grossa para artistas maiores de dezoito anos.

Andrew estava conversando com algum colega de trabalho e eu apenas fingia interesse no assunto, era algo sobre planos de divulgação, eu acho. Encarei meu copo como se o líquido âmbar ali pudesse me mostrar qualquer coisa mais interessante, mas acabei desistindo e virando tudo de uma vez, sentindo um rápido queimar na garganta.

̶ Vá de vagar, meu jovem, destilados são perigosos. - sorri sem graça para o homem alto de cabelos grisalhos.

̶ Ele tem razão, Shawn, você não pode beber demais aqui. - meu empresário advertiu e eu concordei, soltando o copo vazio na bandeja de um garçom que passava por ali.

̶ Olá rapazes, desculpa atrapalhar a conversa, mas será se eu posso roubar o meu amigo por uns minutinhos? - ouvi aquela voz inconfundível e não contive abrir um sorriso antes mesmo de me virar para encarar a morena que trazia um sorriso gigante consigo.

̶ Mila! - a abracei, me inclinando um pouco para ficar da sua altura e sentindo os braços dela me apertarem.

̶ Shawn! - ela arrastou meu nome num gritinho agudo que só ela sabia dar, o que me fez rir. - Eu estava com muita saudade de você, Canadá.

̶ E eu de você. - me virei para encarar os homens que nos observava. - Senhores, se me dão licença. - eles apenas concordaram e eu deixei Camila me arrastar pelo braço.

̶ Te livrei de uma conversa chata, não foi? - afirmei num gesto de cabeça, rindo de sua careta.

̶ Obrigado por isso. - ela estendeu a mão para um high-five. - E então, não vai me contar nada sobre o seu namorado novo? - provoquei.

̶ Claro, assim que você me contar sobre a morena misteriosa. - ela falou fazendo uma voz estranha, o que me fez rir. - Era sobre ela que você queria me contar? - afirmei sentindo o sangue subir para as minhas bochechas. - Eu sabia. Olhe só para você, está todo bobo. - a morena pegou um canapé e enfiou na boca.

̶ O nome dela é Emily. - falei, brincando com a ponta do meu terno. - Eu a conheço desde muito tempo.

̶ Credo, isso tem gosto de borracha. - Camila puxou um guardanapo da mesa de canapés e cuspiu o que tinha em sua boca. - Por favor, me leve para comer comida de verdade em algum lugar, aí você aproveita e me conta mais sobre a Emily. - ela sorriu insinuosa.

̶ Você é muito curiosa, sabia? - ela deu de ombros e me arrastou para chamar sua mãe para irmos comer, mas ela negou alegando que estava com dor de cabeça, então eu assegurei que Andrew e eu deixaríamos Camila na porta do hotel depois do jantar antes dela praticamente sair nos arrastando.

Saímos pelos fundos do evento para evitar sermos notados, Andrew estava no banco do carona, enquanto Camila e eu íamos no banco de trás do carro, ela estava contando alguns detalhes do seu primeiro álbum que tinha acabado de lançar, eu acabei lhe contando algumas coisas do meu e surtamos juntos quando eu contei que o John Mayer tinha produzido uma música minha com a Julia. Assim que chegamos ao restaurante, fizemos nosso pedido e enquanto esperávamos, Andrew acabou recebendo uma ligação e saiu para atender.

̶ Enfim sós. - ela falou se virando no banco e ficando de frente para mim, o que me fez rir. - Eu adoro o Andrew, mas estou curiosa para saber sobre a Emily.

̶ E o que exatamente você quer saber?

̶ Tudo. - ergui uma sobrancelha para a garota. - Vamos, Canadá, pode começar a falar. - suspirei sabendo que não adiantaria tentar esconder nada dela, Camila não sossegaria até que eu tivesse lhe contado tudo. E foi o que eu fiz.

Contei desde quando nos conhecemos até quando cada um seguiu para um lado, Camila tinha os olhos atentos em mim, mal piscava enquanto eu ia narrando sobre a noite em que reencontrei Emily naquele pub, foi impossível não gargalhar com as expressões da minha amiga quando eu lhe contei sobre o tiro no shot. Assim seguimos com ela fazendo caras e bocas enquanto eu contava os acontecidos até ali.

̶ Então, vocês se beijaram? - confirmei soltando um pigarro constrangido. - E você não sabe o que fazer?

̶ É que ficou um clima estranho entre a gente, entende? - nos calamos esperando que o garçom depositasse nossa comida sob a mesa e esperamos até que ele tivesse se afastado. - Quero dizer, nós nos falamos depois disso e ela disse que estava tudo bem.

̶ Vocês falaram sobre o beijo? - neguei, esfregando os olhos.

̶ É complicado, Mila.

̶ Simplifique então. - ela deu uma tapinha no meu braço. - Acorda Shawn, é claro que não está tudo bem e que ela também deve ter ficado confusa com o beijo.

̶ E como você pode ter certeza?

̶ Porque eu tenho. - ela revirou os olhos, impaciente. - Agora me diz o que você sente por ela?

̶ Eu não sei... Emily é exoticamente diferente, estar com ela é estar sempre descobrindo algo novo, seja metafórico ou literal. Ela não é a pessoa que eu vou lembrar sempre que ouvir uma música. Não. Ela está presente nas letras de várias músicas que eu ouço, em algum momento eu sempre vou encontrar ela lá, nas entrelinhas, porque Emily é tudo ao mesmo tempo. - tentei explicar para a minha amiga que me encarava com olhos afiados. - Ela é uma linda bagunça cacheada e sempre me parece tentador ir desembaraçando os nós para descobrir um cacho novo no fim. - soltei o ar pesaroso. - Mas nós estamos num clima meio estranho desde que o ex-namorado dela reapareceu, mesmo ela dizendo que não sente mais nada por ele, eu me preocupo que ela tenha o coração partido de novo.

̶ Shawn, você está com ciúmes?

̶ Não é ciúmes, eu só temo que ela sofra, ela não merece nem um pingo de tristeza. Eu não entendo como alguém é capaz de trair, é tão baixo e sujo. - ela concordou. - O dia que eu a reencontrei, ela estava bêbada porque estava tentando esquecer a humilhação que é ser traída, os olhos dela eram tão vazios, Camila, eu não quero ter que ver aquele vazio de novo, porque ela respira vida.

̶ Meu amigo, eu tenho uma noticia para te dar, você está apaixonado. Apaixonado e com ciúmes por medo de perdê-la.

̶ Claro que não, Camila, ninguém se apaixona num curto prazo de tempo.

̶ Pessoas se apaixonam todo dia, Shawn, e se eu bem entendi, você já nutria sentimentos por ela antes de se afastarem.

̶ Sim, mas era diferente, ela sempre foi a garota mais velha por que eu tinha uma queda, mas sabia que ela só me via como amigo, mas agora...

̶ Agora vocês cresceram e as coisas mudaram. - assenti. - Olha, eu acho que você devia ser honesto com ela, se declara logo e conta tudo isso que você sente de uma vez.

̶ Eu não posso chegar assim e jogar tudo no colo dela, Camila, ela é a minha melhor amiga.

̶ Não, seu idiota, eu sou sua melhor amiga.

̶ Camila, você não precisa ficar com ciúmes, eu posso ter duas melhores amigas.

̶ Meu Deus, como você é lento. - ela bateu com a mão na testa. - Shawn, como você me enxerga? O que você sente por mim?

̶ Você sabe que é uma das minhas pessoas favoritas no mundo, quase como uma irmã.

̶ E você sente isso pela Emily? - confirmei, mas ela me encarou tão séria que eu neguei em seguida.

̶ Emily também é uma das minhas pessoas favoritas no mundo, mesmo nós dois sendo tão diferentes, quer dizer, ela é a única pessoa que eu conheço no mundo que não bebe café, quem não gosta de café? E ela faz aquele barulhinho irritante enquanto solve alguma bebida e estala a língua em seguida. - não contive um sorriso me lembrando dela fazendo isso. - Você acredita que ela usa um creme facial e sequer sabe para que serve? - Camila riu, negando com a cabeça. - E ela franze o nariz sempre que está irritada, geralmente isso acontece quando eu a provoco sobre ela ser uma sabichona, o que ela realmente é. Deus, ela consegue ser irritante quando começa a falar de algo aleatório.

̶ Ela parece legal. - Camila pontuou.

̶ Ela é, provavelmente vocês se dariam muito bem e ela entenderia todas as suas referencias cinéfilas e ainda te faria refletir sobre todos os filmes de um ponto de vista diferente. Ela adora filmes antigos, principalmente as comédias românticas dos anos oitenta. - sorri sentindo uma saudade repentina da garota de cabelos cacheados. Emily parecia estar em tudo, como no caminho para cá quando passamos em frente a uma loja de objetos retro, e lá estava a imagem dela dançando na minha mente, eu sabia que ela adoraria o lugar, porque mesmo com um espaço de tempo sem nos vermos, eu ainda podia reconhecer seus gostos, ainda era capaz de identificar o que lhe irritava e a fazia perder o equilíbrio e talvez por isso que o choque da realidade dos fatos não tenha sito tão grande, fazendo com que apenas três palavras escorregassem por meus lábios. - Oh meu Deus.

̶ Shawn?

̶ Eu estou apaixonado. - verbalizar só deixava tudo mais real e assustador. - Isso não pode estar acontecendo. - ela ia falar alguma coisa, mas antes que pudesse formar qualquer frase, foi interrompida pela volta de Andrew que disse estar morrendo de fome. Acabamos comento enquanto conversávamos mais sobre o álbum dela, o que me ajudou a desanuviar um pouco.

Deixamos Camila em seu hotel e seguimos para o meu, o caminho inteiro eu só conseguia pensar no par de olhos castanhos acinzentados que às vezes pareciam ler minha alma, era tudo tão confuso, contar para ela que eu estava apaixonado não me parecia o certo, não quando eu mal sabia identificar como tudo isso começou, por outro lado, se eu fechasse os olhos ainda podia sentir o gosto de seus lábios nos meus. Emily tinha um encanto próprio, ela era tão forte e ainda assim eu sentia como se uma represa fosse se quebrar dentro dela a qualquer momento, fazendo um turbilhão de sentimentos transbordarem. O som de sua risada me fez viajar até um tempo atrás.

̶ Para Shawn, para. - ela gritava as gargalhada enquanto eu corria atrás dela com uma pistola de água pelo jardim da minha casa.

̶ Eu vou te pegar, Lily, você não tem para onde correr. - corri para lhe atirar mais água, mas no caminho acabei escorregando e caindo na piscina. Assim que subi a superfície, vi Emily na borda, ela parecia me chamar, preocupada.

̶ Você está bem? Quer que eu chame a tia Karen? - a garota perguntou com um tom de desespero na voz.

̶ Por favor, Lily, me ajude a sair, eu acho que bati a cabeça. - estendi a mão para a garotinha inocente que não pensou duas vezes em me ajudar, mas ao contrário do que ela imaginou, eu é quem a puxei para dentro da água.

̶ Shawn, seu idiota. - ela gritou assim que subiu a superfície, afastando os cabelos molhados do rosto. Eu apenas ria enquanto ela se aproximava com um olhar mortal. - Agora você vai ver só uma coisa. - Emily falou tentando me empurrar para debaixo d'água, mas eu acabei me esquivando. E então ficamos ali um jogando água no outro enquanto riamos iguais dois idiotas.

̶ Você se sente melhor? - Andrew perguntou me tirando da minha bolha de lembranças.

̶ Como?

̶ Eu notei que você esteve mais aéreo esses dias, mais calado, principalmente aqui, por isso deixei que você tivesse um momento a sós com a Camila, achei que te faria bem conversar com ela um pouco, ter privacidade. - sorri com as palavras dele. Eu me sentia grato pelas pessoas a minha volta, tanto minha família quanto meus amigos e parceiros de trabalho, todos eles eram tão queridos e solidários comigo.

̶ É, foi legal conversar com ela, a Camila sempre tem histórias engraçadas para compartilhar, além de um bom ouvido. - ele concordou enquanto observávamos o motorista estacionar na porta do hotel.

̶ Vá descansar, amanhã você tem um dia especial, afinal não é sempre que se canta para o Elton John. - sorri esfregando as mãos para afastar o frio. - Nervoso?

̶ Cento e dez por cento. - sorri tentando descontrair, recebendo duas tapinhas no ombro enquanto entravamos no hotel.

̶ Boa noite, Shawn. - Andrew me cumprimentou quando chegamos ao seu andar.

Eu me limitei a apenas acenar com a cabeça, mas eu sabia que a noite estava longe de ser tranquila e que eu mal dormiria.









Quase esqueci de agradecer a vocês pelo carinho que eu tenho recebido, tá sendo incrível. Espero que gostem do capítulo.

Beijos <3

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