Em um minuto eu estava na aula de teatro e no outro eu estava na casa de Harry. Tem uma mesa de madeira escura com duas cadeiras na cozinha.
Harry sentou-se em uma cadeira.
— Eu te vi ontem à noite — ele disse. — Você estava usando uma blusa branca.
— Onde você me viu? — ajeito-me na cadeira, e me inclino um pouco mais sobre a mesa.
Harry balança a cabeça.
— Eu amo você — ele disse.
Nessa hora o mundo a nossa volta pareceu ficar borrado. Só existia Harry e eu, e minhas mãos que não paravam de suar e tremer.
— Eu também amo você.
Não saiu tão natural quanto eu esperava. Na verdade soou como se eu estivesse engasgada. E provavelmente eu estava.
Eu observei Harry abaixar a cabeça e balança-la, os olhos fechados.
Harry riu sem humor e, foi ai que saquei tudo.
— Você não me ama como uma amiga. — Não foi uma pergunta. Foi uma afirmação para mim mesma.
Ele suspirou.
— Não.
Entrelacei meus dedos aos dele, unindo nossas mãos. As mãos de Harry estavam geladas.
— Meu coração tá acelerado — trouxe a mão de Harry para perto de mim. — Sente.
Harry meio sem jeito, eu pude perceber, sentiu meus batimentos. Meu coração acelerou ainda mais, e ele retirou a mão como se tivesse levado um choque.
— Quando percebeu que estava apaixonado por mim? — Perguntei.
— Já faz um bom tempo — ele respondeu. — E você, o que sente por mim?
— Eu amo você — foi tudo o que eu disse.
E eu acordei.
Eram 6:32 min da manhã. Eu dormi com a janela aberta e a luz do dia iluminava meu quarto. Meus pais entraram no meu quarto, conversaram comigo, conversaram entre eles, e decidiram que eu não vou pisar na escola hoje. O dia deve estar lindo, e eu estou aqui enfornada dentro desse quarto, sem conseguir mover o pé (acho que foi o esforço que fiz ontem). Basicamente passei o dia inteiro assim: Acordei, botei o pé pra cima, tomei café, assisti TV, almocei, fiz um resumo sobre A Segunda Guerra Mundial para a aula de História, assisti mais TV, jantei, e dormi.
O dia 14 de fevereiro foi incrivelmente entediante.
Dois dias se passaram sem que eu milagrosamente não visse Harry, nem pela minha janela. As cortinas escuras de seu quarto não voltaram a ser abertas, e eu já estava começando a ficar indignada.
Escuto uma batida na porta e ela logo foi aberta. Era Kim.
— Pobrezinha da minha amiga — diz Kim carinhosa. Ela observou meu pé escondido dentro da bota ortopédica, apoiado sobre uma almofada. — Como está?
— Não sinto mais dor. Deve ser efeito do analgésico.
Kim despenteou o cabelo recém cortado.
— Belo corte — eu disse. — Seu cabeleireiro foi maravilhoso.
— Eu sei. Estou sexy e moderna, não é?
Kim enfiou o cabelo atrás da orelha. Ele não era mais longo o suficiente para fazer qualquer outra coisa além de voltar para a frente dos olhos.
Respiro fundo.
— Vai á algum lugar? — pergunto.
— Vou jantar com o Chad.
— Chad é o... — Não precisei completar a frase, Kim já sabia do que se tratava e eu já sabia sua resposta. — E então como está se sentindo?
— Sensação de dever cumprido. Ah, Izza — Kim puxou a cadeira giratória da mesinha e sentou-se. — Eu não me importo se a gente não se ver de novo depois que acabar essas duas semanas. O que a gente teve foi a vontade da entrega. A vontade de querer estar próximo um do outro.
— Esse vocabulário não combina com você, Kim — eu disse achando graça.
— Tem razão. Estou doida.
— E se você se arrepender depois? — Pergunto.
— Eu só me arrependo do que eu não fiz, Izza.
Ora, o corpo é seu faça o que bem entender.
Eu não sou vidente nem nada do tipo, mas prevejo um futuro incerto para Kim.
— E o que sentiu? — perguntei.
— Não doeu. O que eu senti foi um incomodo — ela respondeu sem vergonha nenhuma. — Foi bom demais.
— Eu só te digo uma coisa: te aconselho a seguir minha filosofia de "antes só do que mal acompanhada".
— Isso não cola comigo, Izza. O que você sabe sobre sexo?
Coro do meu couro cabeludo até o meu dedinho do pé. Recentemente terminei de ler O amante de Lady Chatterley. É bem interessante o modo como o assunto é abordado nesse livro.
Respirei fundo.
— Não vai se atrasar para o seu encontro?
— Que nada, Izza. Trouxe parte da sua matéria da escola. — Kim abre a bolsa vermelha e me entrega uma pasta laranja. São algumas anotações das aulas. — Harry também ajudou.
— Obrigada.
Sorrio aliviada. Harry e Kim salvaram meu boletim.
— Estude ouviu mocinha. Continue sendo meu orgulho. Eu já vou. Sonhe bastante com o seu P.E.
— Tá, legal.
Dou risada.
Kim levanta e sai do meu quarto.
★★★
Às nove e quarenta e cinco eu já estava vestida com roupas confortáveis e dentes escovados. Ligo o laptop, estou acomodada na cama com o pé pra cima, pronta para digitar minha rotina de estudos da próxima semana.
Alguns minutos depois verifico a planilha que fiz e faço uma careta.
Foco, Izza. Foco.
Olho na direção do quarto de Harry, as luzes estavam acesas e ele de pé ao lado da janela. Quase perco o fôlego ao vê-lo com o gorro cinza na cabeça, olhando para mim. Permaneço com o olhar estagnado em Harry e foi inevitável não sorrir quando ele escreveu algo no caderno e me mostrou.
ESCOLA, AMANHÃ?
Pego meu caderno e a caneta, rabisco a resposta, e ergo para que Harry possa ler.
NÃO SEI. TENHO ESCOLHA?
Harry franziu a testa enquanto lia, depois forçou um pequeno sorriso.
QUERIA QUE VOCÊ FOSSE.
Ele respondeu.
Depois ele fechou a cortina e apagou a luz do quarto.
Obrigada por terem lido
Espero que tenham gostado!
Ah, e não se esqueçam de comentar, adoraria saber o que acharam do capítulo.
Beijinhos de gliter meus amores 😘😘