CAPÍTULO QUARENTA

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Meus pés estavam me matando, apesar de ter pego um táxi até aqui

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Meus pés estavam me matando, apesar de ter pego um táxi até aqui. As sandálias deixaram bolhas debaixo dos meus dedões, e suas tiras marcaram meus tornozelos. Me abaixo e me desfaço delas, traçando o resto do caminho carregando as sandálias na mão.

Eu corri pelo parque e encontrei Harry sentado na grama de costas para mim. Ele estava jogando pedrinhas na beira do Rio Avon.

1 círculo.

2 círculos.

3 círculos se formavam na água.

Me aproximei dele e senti uma coisa estranha quando Harry virou o corpo e olhou para mim. Eu estava com o envelope negro em mãos e disposta a contar tudo, não posso deixá-lo ir embora assim.

Encaro Harry exigindo uma explicação. E indo contra tudo o que imaginei que ele fosse fazer, Harry simplesmente revirou os olhos com uma expressão divertida e largou as pedrinhas na grama.

— Porque não me contou? — perguntei estudando seu rosto.

Harry levantou e com o olhar no chão ele percorreu os poucos passos que nos distanciavam um do outro. Harry estava estranho, eu vi nervosismo e algo a mais no seu olhar que eu não pude identificar.

— Me desculpe, Isabella — ele disse. — Eu sei que não sou o Enrique.

— Eu sei disso.

Harry passou os dedos pelos cabelos e soltou um longo e pesado suspiro.

— Eu não fazia ideia de como me aproximar de você novamente. — Ele engoliu em seco, sem deixar de ver meu rosto. — As cartas foram o único jeito que encontrei — ele ri, nervoso.

Se Harry pudesse ouvir como meu coração bateu naquele momento... fiquei até com as mãos geladas.

Isso tudo é tão estranho.

Pensei que Harry havia se aproximado de mim por eu ser a única que o tratava diferente. Na minha cabeça isso soava como: Isabella é minha irmã mais nova. E ele me fez acreditar nisso por anos.

E, é por isso que a única certeza que tive durante todo esse tempo era que Harry nunca perdeu uma oportunidade de me deixar confusa.

— Me odeia? — pergunta ele.

Você só pode estar brincando, Harry!

Faço um não com a cabeça e encolho os ombros. Quero contar-lhe a verdade, mas toda vez que tento me armar de coragem minha língua decide ficar presa e as palavras simplesmente não querem sair.

Faz anos que não te vejo só como meu amigo, Harry.

Harry me encara surpreso, os olhos verdes brilhando. E assim percebo que falei isso em voz alta, e não somente nos meus pensamentos. Escondo o rosto nas mãos, ignorando completamente o modo como ele me olhava sem piscar.

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