Perseguindo Estrelas

CAPÍTULO OITO

Parece até com um ensaio fotográfico, mas só é Harry Schofield parado no degrau da minha varanda.

Harry não se vestia tão bem e eu gostava disso.

Gosto de ver a camisa marrom para fora da calça, a velha jaqueta acolchoada, a faixa de couro com o símbolo de uma estrela no pulso esquerdo, e o converse verde (o tal sapato que não precisa de cadarços) já faziam parte dele. E aquele jeans preto... eu sempre achei que Harry ficava melhor de preto. Como daquela vez que eu passei por ele à um mês atrás disposta a elogia-lo seja qual fosse a cor da sua camisa. Era preta. Eu o elogiei e ele sorriu, a cabeça virada para baixo meio envergonhado. Qual não foi a minha surpresa ao passar por ele no dia seguinte pela escola e vê-lo de camisa preta e no outro dia também.

Kim se espremeu comigo na janela.

— A beleza dele precisa ser estudada, não acha? — Kim imitou um rosnado de leão, ou o que ela achava que parecesse ser o rosnado de um leão. Involuntariamente deixei escapar um riso abafado. —  Ele veio no melhor estilo selvagem e agressivo. Uau.

— Eu nem reparei. — Digo tentando parecer indiferente.

Kim me empurrou de leve e a expectativa dela deixar algo quieto morreu. O que Harry faz aqui? Ele está segurando uma caixa branca redonda. Kim tem alguma coisa a ver com isso, eu tenho certeza.

— Como não? O reforço visual da sua entrada aumentou e você não percebe por quê? — Kim  desabotoou o primeiro botão da blusa verde e se abanou  teatralmente. — Olha só, ele é lindo, perfeito e todos os elogios que existem nesse mundo são dele.

Soquei de brincadeira o braço de Kim, ela nem se importou. Kim juntou as mãos e olhou para o céu.

— Deus, eu nunca te pedi nada. Desce aqui, vamos conversar. Arruma um desses pra mim. — Ela deixou a janela. — Vamos descer, Izza.

O quê? Para quê?

— Nossa pizza chegou. — Kim respondeu a pergunta que eu não fiz. Essa é a parte boa de sermos amigas desde sempre, poder se comunicar só com o olhar.

— Eu não pedi pizza nenhuma.

E meus pais não estão em casa. O único dinheiro que eles deixaram foi para algum tipo de emergência e o pacote não inclui pizza chegando na calada da noite.

— Eu pedi. — Kim colocou a cabeça para fora da janela. — Espera ai, Harry! — Ela gritou. — Já vamos descer. Vem, Izza.

Kim pegou minha mão e me puxou para fora do quarto.

— Espera Kim, me solta — puxei minha mão de volta. — Preciso trocar de roupa.

— Você está ótima e cheirosa, agora vem.

— Minha blusa está descosturando. Viu?

— Ele nem vai perceber, anda Izza.

Antes de abrir a porta tive meu primeiro mini ataque cardíaco por ter errado um degrau da escada. E é tudo culpa da Kim. Tapei o buraco da minha blusa cruzando os braços e me juntei ao lado de Kim na porta.

— Oi, Isabella. — Harry me cumprimentou com um sorriso discreto no canto da boca.

— Oi. — Foi tudo o que eu falei.

Depois silêncio. Nem Kim quis abrir a boca.

— Enfim, eu vim entregar a pizza que pediram. — Harry disse.

— Não tenho dinheiro para pagar. — Eu não consigo acreditar que falei isso em voz alta. Senti meu rosto queimar e cutuquei o braço de Kim discretamente, ela pareceu entender.

— Eu pago. — Ela disse. Kim se virou pra mim com um olhar cúmplice e entrou. — Vou pegar seu dinheiro lá dentro, já volto.

Harry me entregou a caixa.

— Espero que gostem. — Ele sorriu. — Sua amiga pediu metade atum e metade quatro queijos.

— Gosto de atum. — Falei. — Kim acertou dessa vez não gosto de pizzas que vem com muito recheio. E você?

— Eu? — As sobrancelhas de Harry se juntaram.

— É, você. Qual sua pizza favorita?

— Eu geralmente compro de sabores variados. Gosto de experimentar um pouco de cada, sabe. — Balanço a cabeça, não era essa a resposta que eu esperava. Eu quero o nome de um sabor, qualquer um. — Sabe Isabella, você está se saindo muito bem nas aulas de teatro.

Ele presta atenção em mim. Harry Schofield presta atenção em mim. Queria ter o poder de parar o tempo, se bem que o tempo parou para mim naquele momento. O que eu ia falar pairou no ar, e eu ainda estava tentando assimilar que ele havia acabado de dizer.

Solto o ar e a confusão sai visivelmente do meu rosto.

— Quase tão bem quanto você. — Eu disse.

O sorriso de Harry se alargou, surpreso. Um momento depois Kim apareceu na soleira da porta.

— Harry, me desculpa. — Disse Kim. — Eu usei todo o dinheiro que tinha para pagar o táxi quando vim pra cá.

Ele pareceu pensar por alguns segundos.

— Tudo bem. — Harry disse por fim. — Eles podem descontar do meu salário. Eu digo que me distrai, e deixei a caixa cair em alguma poça de lama por ai. Ou outra coisa. Até chegar lá, eu penso em algo.

— Não precisa fazer isso. — Falo pra ele. — Você pode levar uma bronca por nossa causa.

— É só uma bronca, Isabella. — Harry disse. — Não é como se eu fosse ser expulso da pizzaria por causa disso. E, vinte e um dólares a menos no meu salário não vai fazer falta.

— Ainda assim eu faço questão de pagar. — Insisto.

— E eu ajudo ela a pagar. — Kim se ofereceu, achei digno da parte dela. — Harry, você não quer ficar e jantar com a gente? — Ela convidou como se estivesse na casa dela.

— Não posso. — Ótimo, Harry é sensato. — Tenho muito trabalho ainda hoje.

— Que horas seu turno acaba? — Kim perguntou.

— Oito e meia. Mas como sou eu quem fecha tudo, saio depois das nove.

— Combinado, então. — Kim vibrou ao meu lado. — Pode vir depois das nove.

— Tudo bem, até lá então. — Harry olhou para mim com aquele belo par de olhos verdes. Os olhos são comuns, mas ao mesmo tempo tem um brilho diferente. São tão claros que eu seria capaz de pular para dentro deles e nunca mais voltar. — Tchau, Izza.

— Tchau. — Murmurei.

Quando Kim e eu voltamos para o quarto, eu estava disposta a acorrenta-la, pendura-la de cabeça para baixo e tortura-la.
Mas eu só queria que ela me explicasse o que tinha acontecido lá em baixo com Harry.

Obrigada por terem lido
Espero que tenham gostado!

Ah, e não se esqueçam de comentar, adoraria saber o que acharam do capítulo.

Beijinhos de gliter meus amores 😘😘